Renan Birro e Priscila Viegas

A EDUCAÇÃO PRECOCE PARA UM INEXORÁVEL FIM:
A MORTE NA OBRA DOUTRINA PARA CRIANÇAS (1274-1276) DE RAMON LLULL (1232-1315)

Renan Marques Birro
Priscila Viegas dos Santos



Na tradição filosófica da Idade Média, o tema da morte é bastante comum, assim como na filosofia clássica. Cícero (106-43 a. C.), por exemplo, declarou que “toda a vida filosofia é um comentário sobre a morte” (CÍCERO, Disputas Tusculanas, I, XXX, 74,). A filosofia cristã, por sua vez, deu grande importância à morte, sobretudo após a carta Paulina aos Coríntios, quando o apóstolo chamou a atenção para a importância de se refletir sobre a corrupção do homem exterior, aquilo que está relacionado ao corpo corruptível em relação ao homem interior, a alma. Dessa forma, a morte não era novidade entre os intelectuais. Porém, os medievais buscaram desenvolver e aprofundar seus conhecimentos a respeito dessa temática (COSTA, 2005: 238).

Neste ínterim, o filósofo catalão Ramon Llull não apenas refletiu sobre o tema da morte em suas obras, como também preservou, desenvolveu e se aprofundou nesta discussão comum aos filósofos, preservando a tradição filosófica que se estendia desde a Antiguidade Clássica até o período medieval e mais além (COSTA, 2005: 238).
        
Não apenas esta tradição foi desenvolvida por Ramon. O autor também desenvolveu um estilo de pedagogia cristã, de maneira que alguns estudiosos o consideram um dos primeiros pedagogos cristãos (PALOU, s/d: 1). Suas obras, verdadeiros manuais pautados na ética e na moral religiosa, descrevem como deveria ser a conduta de todo cristão, uma vez que a conduta dos homens durante aquele período era definida pela religião (MARTINS, 2014: 156).
        
A obra utilizada para este estudo, Doutrina para crianças (1274-1276), encontra paralelos com as demais produções desse filósofo catalão. Como se trata de uma narrativa, modelo de texto que, segundo Dayse Martins (2014), “são importantes como estilo de transmissão das experiências mais simples da vida cotidiana e dos grandes eventos. Em sua essência, a narrativa constitui elemento participante do ato educativo” (MARTINS, 2014: 158). Desta forma, podemos compreender melhor a escolha desse estilo literário para suas obras, pois por meio da narrativa ele poderia alcançar um de seus objetivos: produzir reflexões que combatessem os erros dos infiéis.
        
É necessário conhecermos primeiro as influências do autor e seu contexto para melhor compreender a finalidade da obra. É através do contexto social do autor que podemos obter informações que nos possibilitam compreender melhor o contexto de produção do documento.

 

Sobre a Doutrina

        
Muito devoto, Ramon Llull passou sua vida produzindo textos que continham a essência de suas reflexões sobre Deus e sobre a fé, como forma de indicar o caminho divino às pessoas, fossem elas cristãs ou não. Também podemos observar na obra a preocupação do pai com a educação do filho, não apenas no aspecto religioso, como também com sua vida social. Assim, podemos entender a abordagem do autor ao escrever a obra sobre suas perspectivas: A primeira é de caráter religioso, catequético, o que reforça a ideia já mencionada anteriormente sobre as obras do filósofo serem consideradas um manual pedagógico religioso; a segunda trata do caráter social e moral, trata das coisas materiais, assim como das ciências.  
          
Na obra Doutrina para crianças (1274-1276), Llull afirmou que antes da criança aprender sobre as ciências com seu progenitor, “no princípio o homem deve mostrar a seu filho as coisas que são gerais no mundo para que ele saiba descer até as especiais” (LLULL, 1274: 1)[i], ou seja, ela precisa aprender a ler e entender o que leu.

Deste modo, ela pode receber indicações de livros que mostrem o caminho divino, para assim elevar seus pensamentos a Deus, desejar servir e amá-lo acima de tudo. Ademais, ela não perderia tempo com coisas profanas, pois a vida é curta e “a morte se aproxima de nós todos os dias” (LLULL, 1274: 1)[ii].
        
Educar a criança no caminho divino significa ensinar as virtudes de Deus, isto é, o conhecimento das coisas boas, uma vez que as crianças desde muito pequenas são acostumadas “à boa educação ou à má” (LLULL, 1274: XCI). Para o Filósofo, há dois tipos de educação: a que pertence ao corpo e a que diz respeito à alma. A do corpo está relacionada aos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. E a educação da Alma “é feita nas três propriedades da alma, isto é, na memória, no entendimento e na vontade” (LLULL, 1274: XCI).
        
Conhecer a Deus é o ponto central na Doutrina. Conhecer a perfeição e a eternidade é a maior honra que o homem pode ter, pois segundo o autor, não há nada melhor e mais perfeito que conhecer a Trindade e agradar o Senhor. Satisfazer a alma é cumprir os mandamentos divinos ao se afastar do mal. Menosprezar a glória terrena é o caminho para contemplar a glória sem fim, a eternidade ao lado de Deus, em que “o Paraíso é ver Deus e estar com Ele em glória” (LLULL, 1274: C)[iii].

 

A morte no século xiii

        
Das temáticas pregadas nos sermões[iv], a pobreza espiritual era muito recorrente: um bom exemplo é o sermão sobre a morte do usurário. Nessa época, o pensamento sobre a morte tornou-se mais frequente, ou ao menos mais perceptível. Sendo assim, a Igreja passou a adotar medidas que pudessem atrair os seus fiéis. Uma dessas medidas foi incorporar a temática da morte, que ganhou especial popularidade por meio dos frades medicantes que agregaram a temática aos seus sermões. Assim, “sob pressão da Igreja e por medo do Além, o homem que sentia a morte chegar queria prevenir-se com as garantias espirituais” (ARIÈS, 2012: 113).
        
No século XIV, em meio à crise que o Ocidente europeu passava com o avanço ataque da peste, da fome e constantes guerras, a morte ganhou forma por meio da Dança Macabra, que representava aqueles que se encontravam entre o mundo dos mortos, a ação biológica que igualava a todos.

A mensagem da morte graças aos sermões ficou ainda mais acentuada ainda com a nova forma de expressão que se deu por volta do final do período medieval (final do séc.XV), a saber, por meio da gravura. A mensagem exposta por esses dois meios, a pregação e a gravura, “poderiam reproduzir a ideia da morte com um conceito muito simples, direto e real, de forma nítida e violenta” (HUIZINGA, 2013: 221).
        
Neste ínterim, a Igreja Católica era a maior responsável pelo crescente pensamento sobre a morte e o Além. Logo, a preocupação dos cristãos em relação à morte e o Além são perceptíveis nos indícios históricos desta época, pois a existência de uma vida após a morte causava inquietação e “se revestia de caráter apavorante, pois nem todos, apesar de esperarem a salvação, tinham a certeza de que ela efetivamente ocorreria” (OLIVEIRA, 2012: 1).

As incertezas da vida levavam os medievais a estarem preparados a todo tempo: “o homem medieval utilizava sua fraqueza, tendo como base o medo da morte, da fome, do purgatório e do inferno, para produzir sua força, desejo e motivação de praticar o ‘bem’ afirmando a cada dia a fé em Deus.” (CAETANO, 2012:39). Deste modo, ele estaria preparado e aguardaria a morte em seu leito com mais alivio, diminuindo a pressão relacionada com a passagem do mundo terreno para o além (CAETANO, 2012: 40).

Nesse contexto, o pensamento sobre a morte saiu da perspectiva do contato com o passado e os ancestrais para ser pensado como algo do futuro. “A morte como fato, o trespasse, só representa uma etapa, um momento em um sistema de relações complexas entre este mundo e o Além, entre os vivos e os defuntos” (LAUWERS, 2002: 245). Assim, a preocupação quanto ao por vir após a morte causava medo, a saber, um profundo receio de ser destinado ao inferno, ganhou mais importância no século XIII do que a causa de morrer.

O momento do trespasse, portanto, era representado como um momento de espera, um ritual coletivo, uma cerimônia publica compartilhada pela família e pela sociedade. A angústia dos cristãos era maior se determinada pessoa não estava pronta para morrer: a maior preocupação era a salvação da alma.

A morte é um dos fatores primordiais que leva a humanidade a busca constante do mistério da alma, uma perspectiva religiosa que se formula ao longo da existência; pois a alma não pode entrar no “reino dos céus” por outro caminho se não aquele determinado pela religiosidade de cada individuo que se conduz pela fé. (CAETANO, 2012: 29).

O ritual de passagem, o momento do trespasse, passou a ser significativo para a sociedade medieval, pois acreditavam que aqueles que não tinham uma boa passagem voltavam do mundo dos mortos e ficavam a vagar, eram considerados fantasmas maléficos, em que “apresentam para a comunidade dos vivos o perigo de uma mácula.” (SCHMITT, 1994: 17).

Desta forma, analisar a morte de maneira mais global nos leva a observar algumas noções comuns, compartilhadas pelo autor da obra Doutrina para Crianças. Ramon Llull, para descrever os mistérios da morte, usou algumas noções simbólicas, tal como: alma, corpo, inferno, paraíso, salvação e danação. Sendo assim, por meio da analise semântica como meio de traduzir as ideias expostas pelo autor com base em seu contexto, traçaremos esse caminho para compreendermos a forma como a morte é representada pelo autor.     

 

A alma e o corpo

        
A fé era um dos fundamentos do medievo. O medo, por sua vez, foi um dos fatores mais relacionados com a crença no divino. O medo da morte não era um medo sem controle, mas que pesava quando se tratava da morte da alma, a maior preocupação. Pois, “para la teología cristiana, el hombre está compuesto de cuerpo y alma, los cuales permanecen unidos hasta la llegada de la muerte biológica, en cuyo momento se separará alma y cuerpo” (MIRALLES, 2009: 292).       
        
A morte física não era tão temida, mas a morte espiritual, a morte da alma que passou a incomodar aqueles que se encontravam distantes da fé católica.  Desta forma, para muitos, o morrer não significava apenas a morte do corpo físico, mas implicava no que estaria por vir. A “morte domesticada”, como ficou conhecida até a Alta Idade Média e caracterizada como o sono prolongado, ganhou a partir do século XII e XIII uma visão diferenciada. A leitura antiga da morte tornou-se grosseira e foi considerada como o rompimento entre o corpo e a alma. 
        
A morte biológica não era a maior preocupação, mas a danação após o fim desta vida. A mensagem cristã acentuava que “o homem, para ter uma boa morte, deveria controlar e disciplinar os desejos do corpo” (CAETANO, 2012: 11). O medo de não estar pronto para a derradeira hora guiava o homem medieval no cotidiano. O ato de voltar-se para Deus, assim, levava o homem medieval às “manifestações de piedade, praticando todas as normas consideradas sagradas, inibindo as fantasias, a luxuria e ‘todos os desejos da carne’.” (CAETANO, 2012: 32).
        
Para Ramon Llull, temer a morte corporal era algo natural. Mas o temor da morte por medo de servir a Deus era o pior temor que se podia ter, pois a morte a serviço de Deus é uma honra e louvor, um produto do Espírito Santo; esta noção ganhou muita força com as Cruzadas, quando a morte em nome de Deus garantia a salvação e honras terrenas e celestiais. Ser um soldado de Cristo e padecer na terra era, em última instância, sinais de desprendimento do material, de entrega total ao Salvador e de esperança na vida em gozo eterno. Ao tomar o Filósofo, assim ele advertiu seu filho:

Filho, sabes por que a morte é temível? Porque não podes fugir dela e não sabes quando ela te levará. Assim, se temes a morte, que não pode te matar, mas somente teu corpo, temerás a Deus, filho, que pode colocar teu corpo e tua alma no fogo perdurável (LLULL, 1274: XXXVI)[v].
        
A seleção de palavras interligadas entre si sobre determinado tema é comum no campo semântico, que se busca compreender o significado da palavra e sua relação com o tema central proposto dentro de um discurso. Portanto, a alma e o corpo foram associados à morte em diferentes aspectos.

A alma é o princípio imaterial que sobrevive à dissolução corpórea. A alma é simultaneamente parte integrada ao corpo e objeto de juízo divino, razão pela qual ele pode castigá-la ou recompensá-la. Ainda que o corpo tenha sido também destinado à salvação, ele se tornou corruptível e impulsionador do homem ao pecado, não mais sendo digno do ato remissor crístico. Em Tomás de Aquino, por fim, a alma foi considerada a forma corporis, i.e., aquilo que confere vitalidade ao homem (SCHÜLER, 2002: 36; SALVATI, 2003: 14).

A alma, desta feita, é uma parcela da essência humana que não morre; mas o corpo, enquanto matéria, voltará ao pó (Gn 3,19) para que a alma consiga se libertar e viver a eternidade para a qual ela foi criada. Porém, esse destino eterno que ela seguirá dependerá do caminho que o homem escolher seguir durante a vida, manifesto através do corpo. O homem pode, então, seguir o caminho da obediência aos mandamentos divinos ou o caminho do pecado. Desta forma, essa relação entre corpo e alma, podemos considerar, dentro deste discurso, como uma relação de associação em que um está ligado ao outro. 
        
A morte é, nesses termos, a separação do corpo e da alma, do corporal do espiritual. O autor apresentou duas mortes: “a morte corporal aproxima a alma virtuosa de Deus, que vai para o Paraíso quando o corpo morre. E a espiritual que existe na alma pecadora aprisiona o corpo para suportar o eterno fogo infernal, e o submete a infinitos trabalhos.” (LLULL, 1274: LXXXVIII. 1)[vi].

La muerte corporal no es más que la disolución de la carne que vuelve a la tierra de donde fue tomada. Sin embargo, el alma esperará al juicio final- momento en el que volverá a unirse a su cuerpo mortal- y recibirá el premio o castigo que le corresponda por sus buenas o males acciones durante su vida terrenal. (MIRALLES, 2009: 293).

A questão do corpo era presente, principalmente porque estava vinculado ao pecado sexual durante Idade Média. Ele foi considerado a prisão da alma e, quando a morte chegasse, a alma se libertaria desse cárcere pecaminoso; desta forma, o homem deveria cuidar da alma, e o cuidado com a alma garantiria a salvação dela.

Santo Agostinho também compartilhava a ideia da existência de duas mortes. Segundo Isabel Mira Miralles, Santo Agostinho considerava que a morte espiritual era ocasionada pelo pecado e por isso era mais temida. Porém, para o justo, a morte da carne significava o ganho de uma vida melhor na verdadeira pátria celestial, pois a vida é passageira (MIRALLES, 2009: 295).

É possível ainda relembrar os conselhos sobre a morte herdados pelos medievais do apóstolo Paulo. Na Carta aos Filipenses, ao comentar das provações que enfrentou e certamente ao temer o abandono da fé cristã por receio da perseguição, afirmou que

Segundo minha intensa expectação e esperança, de modo que em nada serei confundido; antes, com toda confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho (Fl 1,20-21. O grifo é nosso).

Na realidade, a situação também foi expressa em outras cartas paulinas, como em Coríntios. O esforço do Apóstolo não é um mero reviver externo da vida mortal e a morte de Cristo, mas a participação e, de maneira metafórica, a experimentação do sofrimento crístico - ou seja, tomar a Cruz. A renúncia total, inclusive da própria vida, que garante a verdadeira vida, a saber, a vida eterna. “É a lógica paradoxal da cruz de Cristo que marca indelevelmente o apóstolo: da morte nasce a vida” (BARBAGLIO, 1989: 433).

Ao retomar o Filósofo e seu contexto, Ramon Llull aconselhou seu filho a pensar na morte para assim desdenhar os desejos mundanos: não se sabe quando a hora irá chegar, pois, pior que morrer uma vez, é morrer todos os dias no fogo infernal. Da morte corporal o homem não pode se livrar, mas a “morte da alma” é evitável. O homem foi criado para honrar a Deus, e pensar na morte o inclinava a viver para servir a Ele.

Filho, a ti convém morrer, queiras ou não. Logo, como tens que morrer, queiras morrer para honrar aquele Senhor que te criou, que te deu tudo quanto existe, que pode te dar o fogo perdurável, que quis te dar a glória que não tem fim e que por teu amor quis morrer. (LLULL, 1274: VIII. 16)[vii].

Nesses termos, o autor escreveu que a morte dependeria da postura de cada indivíduo, pois não exige exatamente uma morte cruel, já que a mais temível se tratava da morte da alma, a segunda morte que destinará a condenação para a eternidade. Essa reflexão, que o autor direcionou ao seu filho, pode ser analisada, segundo o conceito de representação, como uma manifestação discursiva de noções ideológicas de um grupo – ou campo – imposto ao outro, que aparenta um grau de universalidade fundado na razão. No entanto, tal relação é elaborada segundo um ponto de vista social, ou seja, da Igreja e dos seus pensadores. Esta é a razão pela qual o filho deveria morrer para honrar a Deus e em condições para tanto; caso contrário, a recompensa seria o fogo perdurável que representa o segundo lugar no Além, o Inferno. Essa razão é descrita segundo o interesse do autor que seria de convencer seu filho a desejar o caminho da honra a Deus.

 

O além: inferno e paraíso


Até a Alta Idade Média a “Geografia do Além”, como foi chamada, estava dividida em duas dimensões: o Paraíso e o Inferno. Mas, a partir do século XII, um novo lugar foi criado: o Purgatório. Os homens bons iriam para o Paraíso, e o segundo lugar, o Inferno, era destinado aos perversos. O Purgatório, por sua vez, surgiu como um lugar de penitência, “uma vez que este local era visto como um espaço temporário no pagamento dos pecados veniais” (ZIERER, 2008: 23).
        
Jean-Claude Schmitt, em seu livro Os vivos e os mortos na sociedade medieval, descreveu a forte influência da Igreja sobre a sociedade leiga e sobre os religiosos, que despertou uma moral religiosa que alertava sobre o mal do pecado, os castigos e as penitências, assim como sobre a salvação.

Foi nesse contexto, segundo o autor, que o imaginário sobre o Purgatório nasceu, no século XII, uma vez que “todo cristão podia esperar ser salvo, mas com a condição de sofrer depois da morte castigos reparadores cuja duração e intensidade dependiam” (SCHMITT, 1994: 18), sobretudo, das práticas religiosas e das boas ações daqueles que estavam vivos. Nesse caso, o morto dependia das preces, missas e esmolas dos vivos, principalmente seus familiares e amigos, que deveriam agir dessa maneira pela salvação da alma do defunto.

Mas quem se dedicou especialmente sobre o nascimento do Purgatório foi o medievalista Jacques Le Goff. Com o nascimento e a criação desse novo espaço espiritual destinado aos pecadores veniais que ainda poderiam ser redimidos, foi preciso uma categorização de cristãos em quatro grupos, segundo as leituras de Agostinho.

Assim, o primeiro grupo daqueles que tem apenas o pecado original seria composto pelas crianças, que não estavam relacionadas a nenhum dos três lugares do além: Paraíso, Inferno ou Purgatório. Para o Paraíso iriam os bons; o limbo seria o espaço destinado à morada dos justos da Antiga Aliança e das crianças mortas sem batismo; o Inferno era dedicado aos maus; já “os não inteiramente maus e os não inteiramente bons terão de passar pelo Purgatório antes de seguir para o Paraíso” (LE GOFF, 1995: 263). No século XII, essas quatro dimensões se reduz apenas ao Inferno, Paraíso e Purgatório.
        
O Purgatório era o espaço sine qua non para o pagamento das penitências; mas Llull demostrou que sua vontade era que seu filho alcançasse a salvação da alma sem passar pelo jugo do Purgatório. Desta forma, ele escreveu que seu filho cumprisse as penitências apontadas pelos padres todos os dias, para que seus pecados fossem perdoados e assim ele pudesse receber a bem-aventurança do Paraíso, lugar para onde vão os santos. E “por isso, enquanto estás neste mundo, filho, faz penitência, pois no outro século será dada a sentença da glória eterna ou o fogo infernal.” (LLULL, 1274: XXVI, 4)[viii].
        
No discurso do Filósofo catalão, o Inferno foi representado como um lugar no centro da terra, uma espécie de caldeirão com óleo fervendo, com cheiro forte (provavelmente de enxofre), fechado e preenchido pelos gritos dos sofredores, de onde ninguém pode fugir. Assim, Llull aconselhou que seu filho meditasse sobre esse lugar para que ele pudesse temer a Deus e se afastar das práticas pecaminosas que poderiam levá-lo para lá.
        
O Inferno era o lugar para onde iriam os maus, ou seja, aqueles que não deram atenção à palavra do Senhor e dedicaram seus dias a uma vida de prazeres terrenos. O discurso sobre a existência desse segundo lugar no Além, o Inferno, tornou-se constante durante os séculos XII e XIII, pois a sociedade vivia um apogeu econômico e muitos cristãos se desviavam da fé para viver os prazeres que o dinheiro podia proporcionar, o pecado da ambição chegou a ser considerada a raiz de todo caos que a sociedade enfrentava, como esta escrito em I Timóteo 6,10: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”.

Diferentemente dos demais pregadores da época, Ramon dedicou-se a tratar na obra também sobre o paraíso, o lugar dos salvos. Oposto ao inferno, o Paraíso era simbolizado pela possibilidade de contemplar a face de Deus. Llull escreveu para seu filho, para que ele nunca parasse de pensar nessa bem-aventurança. Mesmo que quisesse, ele não conseguia encontrar palavras para contar a maravilha da Glória do Paraíso, um local indescritível. Analogamente, ele sugeriu que seu filho meditasse sobre o Inferno, para assim temer a Deus, e aconselhou que ele refletisse sobre o Paraíso para comparar a riqueza que estaria por vir.

Amável filho, considera freqüentemente esta Glória da qual te falo, para que ali estejas, e relembra o breve tempo desta vaidade mundana, pela qual muitos homens perdem a Glória celestial; faz esta consideração, comparando o bem-estar deste mundo com a Glória do outro século, para que entendas como o sábio mercador é aquele que, por um dinheiro, sabe ter maior tesouro que toda a bem-aventurança deste mundo.( LLULL, 1274: C. 8)[ix].

Os discursos não são textos transparentes, pois eles carregam diferentes intenções e estratégias que variam de acordo com cada autor. Desta forma, podemos observar nas palavras do beato a intenção de tentar convencer não apenas seu filho sobre a escolha do caminho que leva o homem a salvação, mas todos aqueles que leriam a obra, como já exposto anteriormente, pois se tratava de uma obra com clara intenção de atuar como um manual pedagógico religioso. 

O medo do Inferno era mais comum do que a vontade de descansar no Paraíso e receber as bem-aventuranças. Porém, Llull apresentou ao filho mais informações sobre a recompensa celestial do que do fogo perdurável, para que assim ele amasse a Deus a cima de todas as coisas e desejasse de todo coração o Paraíso em vez de temer o Inferno. Llull externou seu desejo maior, a saber, que seu filho fosse tão reto aos olhos de Deus a ponto de ir diretamente para o Paraíso. Essa leitura é notada pela pontual menção ao espaço intermediário: “[...] outro é o Inferno que é chamado Purgatório, no qual o homem faz penitência porque não a cumpriu neste mundo” (LLULL, 1274: XCIX. 1)[x]. Essa é uma das poucas vezes que o Filósofo fez referência à existência do terceiro lugar do Além e praticamente igualado em desprestígio ao comum espaço dos pecadores.

Amável filho, assim como é boa coisa considerar a Glória do Paraíso para que o homem ame a Deus, é boa coisa considerar as penas infernais para que o homem tema a Deus, que pode dá-las a quem quiser. Logo, como tu temes a Deus, desejo mostrar que deves cogitar as penas infernais de diversas maneiras. (LLULL, 1274: XCIX. 2)[xi].

Para os que viveram dignamente, obedecendo os mandamentos, está o Paraíso, de onde vem a verdadeira recompensa. Tal recompensa viria com salvação da alma que incentivava as pessoas a se tornarem cada vez mais devotas, isto é, a se prepararem para morte: “Saibas filho, que a morte natural não rende frutos nem recompensa, aquele que ama não sabe morrer e quem tem medo de morrer não está em estado de salvação” (LLULL, 1274: VIII. 20)[xii].
        
De acordo com o Filósofo, o que lhes garantia tal recompensa pela vida devota a Deus era o que Cristo fez pelos homens. Em suma, Deus tornara-se homem, passara pelas tentações mundanas, e vencera cada uma delas, como nos quarentas dias no deserto, ao sofrer a tentação satânica. Por fim, Jesus foi levado à morte, ressuscitou e teve seu corpo glorificado. Para ser exato, ele estava na glória com o Pai, pois este mundo de pessoas impuras e corruptíveis não seria digno de tê-lo.

Na ascensão do Filho de Deus está significada a ascensão e a elevação que o teu corpo terá no céu, filho, no dia do juízo, se fores neste mundo um servidor, amante e louvador do Filho de Deus. Pois assim como o Filho de Deus veio a este mundo tomar a nossa natureza e se elevar aos céus com ela, subirão aos céus todos os corpos daqueles e daquelas que neste mundo foram Seus servidores, que acreditaram na Sua encarnação e choraram para honrar Seus honramentos. (LLULL, 1274: XI. 2)[xiii].

O desejo de estar com Ele no Paraíso e a ciência de que o tempo na terra era curto levou os homens da Idade Média a praticar a piedade, aspirando pelo descanso eterno ao lado do Salvador. Llull alertou seu filho neste sentido ao escrever: “Filho, se desejas te elevar lá onde está Jesus Cristo, eleva teu pensamento e teu desejo a Ele, desce tua lembrança à vileza de onde vieste e à falta na qual estás neste mundo para que sejas estimado no outro.” (LLULL, 1274: XI. 6)[xiv]
        
A vida, portanto, é dominada pelo pensamento da morte, e uma morte que não é o horror físico ou moral da agonia, mas a ausência de vida, o vazio da vida, cuja incitação envolve a razão a não se apegar a ela, existindo uma relação estreita entre o bem viver e o bem morrer. (CAETANO, 2012: 37)
        
O medo de não estar pronto para deixar este mundo era compartilhado entre os homens e servia para ajustar as atitudes sociais. Na Doutrina para Crianças de Ramon Llull percebemos a preocupação de um pai com a educação de seu filho, tanto na dedicação quanto pelos temas evocados: a devoção a Deus e a salvação da alma são os focos principais do autor.
        
A morte seria a prática mais honrosa para o homem que dedicou seus dias à obediência divina e sacrificou os desejos da carne. O Além é o lugar preparado para as pessoas que temeram ao Senhor, uma recompensa eterna para aqueles que obtiveram a salvação da alma. Mas para aqueles que temem a morte corporal e se orgulham das práticas profanas está reservado o fogo infernal:

A peça essencial do sistema não foi o Paraíso, mas o Inferno. A Igreja Católica para incitar os fiéis a trabalhar por sua salvação, apresenta-lhes mais o medo do Inferno que o desejo do Paraíso. Diante da morte, eles temiam menos a própria morte do que o Inferno (LE GOFF, 2002: 33).

A existência do inferno pregada nos sermões tornou-se um pensamento vivo que permeou o imaginário dos cristãos. Por temer o castigo infernal era preciso se esquivar do mal num constante embate traçado entre suas vontades de seguir a vida de devoção a Deus e a vida de prazeres terreno.

Tal imbróglio motivava a preocupação da vida após a morte, o Além, lugar para onde iam as pessoas pouco após morrer, numa consequência da vida terrena: os bons seguiam o caminho do bem, o Paraíso, e os maus iam para o Inferno. Assim, “a vida aqui em baixo é um combate, um combate pela salvação, por uma vida eterna; o mundo é um campo de batalha onde o homem se bate contra o Diabo, quer dizer, em realidade, contra si mesmo” (LE GOFF, 2002: 22).

Curiosamente, a morte corporal não causava tanto estranhamento aos medievais, uma vez que a taxa de mortalidade foi alta durante todo este período. Talvez este fator tenha propiciado uma interação maior entre os vivos e os mortos, como bem alertou Jean-Claude Schmitt. Para este autor, a aproximação entre as sepulturas e as casas intensificou a relação entre os vivos e seus defuntos. Porém, a existência do Inferno e a incerteza da salvação sacudiam o indivíduo no momento final da vida. O caminho que a alma do defunto iria seguir era um elemento basilar nas preocupações humanas.

A aflição por conta dos dias de terror e a possibilidade de um futuro de tormento assombravam os homens e mulheres da Idade Média. Esse temor representava o sentimento diante da morte. Essa insegurança caracterizava a sociedade medieval, e por isso o beato alertou seu filho sobre a necessidade de seguir o caminho de retidão na terra abandonando o pecado. O amor pelas coisas mundanas proporcionava prazer e tentava os homens para além do recomendado pelos clérigos e pela Igreja, mas não eliminava do pensamento a preocupação com a salvação, pois,

Assim como todos os anjos e todos os santos as glória, com cantos de muita doçura e numa grande procissão, saíram para honrar Nosso Senhor Jesus Cristo quando ascendeu em glória, os demônios saem do inferno com um olhar muito horrível quando os homens pecadores passam deste mundo para outro, de tal maneira que os colocam e os atormentam no fogo perdurável. (LLULL, 1274: XI. 4)[xv].

A recompensa após a morte: salvação e danação

        
Diferente dos demais pregadores que buscavam lembrar seus ouvintes a cerca do inferno para assim eles aprenderem a se afastar do mal, Llull se preocupou em abordar junto ao filho sobre a grandeza da salvação e as bem-aventuranças aos homens que temeram a Deus e viveram seus mandamentos aqui na terra, pois acreditava que o homem que aprendesse a amar e temer a Deus ainda quando criança saberia se esquivar do mal, do pecado que levaria o homem à danação sem fim. Essa afirmação do autor está com base na passagem bíblica do livro de Provérbios que diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Pv 22 : 6).
        
A salvação é a virtude de Deus para aqueles que escolheram ter as sete virtudes[xvi] humanas, inspiradas pelo Espírito. E o homem que pensa ter a salvação por seus próprios meios está tão errado quanto aquele que pensa na danação por suas escolhas danosas. Mas o dom da salvação, segundo Llull, foi dado por Deus para aqueles que são humildes ao reconhecer seus erros e mesmo assim escolheram o caminho da misericórdia.
        
Desta forma, podemos entender que a preocupação do autor era que seu filho escolhesse o caminho da salvação, como podemos observar no excerto a seguir:

Deus te deu a vontade livre para que sejas amante da salvação e desames a danação. Logo, assim como Deus deu ateu corpo todos os membros que pertencem ao corpo do homem, e deu à alma todas as potências que lhe convém, deu à tua vontade livre tudo o que pertence para desejares a salvação e odiares a danação, para que desejes receber a salvação tão somente pelos dons de Deus (LLULL, 1274: LIX. 8)[xvii].

Para explicar sobre a nobreza de ser salvo, Ramon escreveu para seu filho sobre a escolha do filho de Deus, que aceitou vir ao mundo como homem para padecer a morte mais angustiante e assim salvar a humanidade. Porém, Llull deixou claro que nenhum homem é digno de salvação por suas obras, pois Deus dá a salvação segundo sua vontade. O homem que se aproxima de Deus pelo interesse da salvação é hipócrita, ou seja, age de maneira oposta à salvação, assim é necessário que Deus deseje salvá-lo por meio de sua misericórdia.
        
Em suma, o caminho da salvação é uma escolha que o homem deve fazer, pois, segundo a citação acima, o homem é livre para escolher o caminho que deve seguir. Por isso, Llull, ao escrever sobre as virtudes, lembra as recompensas daqueles que escolhem ou o caminho da salvação ou o caminho da danação. No entanto, seu maior interesse era que seu filho não desperdiçasse seu tempo com coisas passageiras e preparasse a si próprio para a salvação em Cristo.

***

Com a popularização dos discursos sobre a morte, assuntos como o Paraíso, o Inferno e o Purgatório tornaram-se as ideias-chave, sobretudo a segunda. O destino da alma após a morte começou a inquietar a sociedade e, assim, a danação eterna que esta no inferno foi descrita por Llull como a perda da glória do Paraíso. O beato desejava que esse não fosse o motivo primordial que levasse seu filho a seguir o caminho da fé cristã, pois acreditava que o mais importante era amar a Deus.
        
O homem, por mais justo e virtuoso que fosse, ainda seria indigno de receber a salvação. Porém, o pior destino estava destinado àquele que deixou a fé e, por isso, digno da penitência eterna e infernal.
        
A vontade de Llull não era dissuadir seu filho a viver o caminho que ele escolheu pelo temor, mas oferecer explicações racionais, filosóficas e religiosas que guiassem a opção de Domingos, seu filho. A essência era a liberdade do espírito:

Filho, podes sentir em tua alma o livre-arbítrio, o qual Deus deu ao teu coração para que possas fazer o bem ou o mal, e que, por fazeres o bem, Deus tenha razão para te dar salvação, e que pelo mal, sejas impulsionado à tua danação. Mas como a salvação é coisa mais nobre que tua vontade e que o bem que tu podes querer ou fazer por ti mesmo, sem a graça de Deus não podes ter salvação. E como a tua vontade tem poder de querer fazer o mal, tu, todo homem e cada homem por si mesmo, podem eleger a danação sem a ajuda de Deus. (LLULL, 1274: LXVII, 5)[xviii].

Independentemente do caminho escolhido, as consequências eram certas, e assim o beato mostrou para seu filho o que estaria reservado a ele de acordo com o caminho que optasse; Ainda que utilizasse uma ênfase pouco comum, i.e., o enfoque nas recompensas celestiais, ao cogitar as penas infernais, o Filósofo ajudaria seu filho a se manter longe do pecado e, desta forma, temer ao Senhor criador.

O medo de perder a salvação da alma se refletia nas práticas diárias, pois “o homem, para ter uma boa morte, deveria controlar e disciplinar os desejos do corpo” (CAETANO, 2012: 11). Neste intuito, Llull aconselhou seu filho que a fugir dos pecados que levaria a danação através dos pensamentos sobre a grandeza de Deus, além das qualidades intrínsecas do bom cristão, como ter humildade e praticar a caridade, para que em seu coração o pecado não criasse raízes.

Em suma, a morte não era representada pelo momento do trespasse, ou seja, apenas pela transição da situação de vivente para moriens, mas pelo temor cotidiano e constante que esse momento futuro e incerto causava na sociedade. Era preciso se preparar desde a infância para a morte, pedir perdão a Deus todos os dias, ser bom, justo, humilde, fiel, caridoso e prestativo, uma réplica do Cristo encarnado.

Referências


ARIÈS, Philippe. História da Morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo, I - Tradução e comentários. São Paulo: Loyola, 1989.
BARROS, José D’Assunção. A Nova História Cultural – considerações sobre o seu universo conceitual e seus diálogos com outros campos históricos. Cadernos de História, Belo Horizonte, v.12, n. 16, 1º sem. 2011, p. 38- 63.  
BEREND, Nora. At the Gate of Christendom: Jews, muslims and ‘pagans’ in Medieval Hungary, c.1000-c.1300. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
BIRRO, Renan M. Os escandinavos, as rotas de peregrinação no Ocidente e Oriente e as Cruzadas (sécs. XI-XII). Revista Diálogos Mediterrânicos. Número 8 – Junho/2015. Disponível em www.dialogosmediterranicos.com.br, acesso em 10/09/2015.
BLOCH, Marc. As últimas invasões. In. ______. A sociedade feudal. Tradução de Emanuel Lourenço Godinho. São Paulo: Edições 70.
BONNASSIE, Pierre. Dicionário de História Medieval. 1ª Edição. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1985.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Lisboa: Vega, 1970.
BOURDIEU, Pierre. Sobre o poder simbólico. In:______. O poder simbólico. 2ª ed. Trad. Fernando Thomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 7- 16.
______. A identidade e a representação- Elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de religião. In:______. O poder simbólico. 2ª ed. Trad. Fernando Thomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p.107- 131.
BURKE, Peter. O Que é História Cultural? Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
______. Prefácio. In: ______. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989. Tradução Nilo Odália. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1992, p. 7 - 10.
______. Os Fundadores: Lucien Febvre e Marc Bloch. In: ______. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989. Tradução Nilo Odália. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1992, p. 16- 30.
CAETANO, Dhiogo José. O medo da Morte na Idade Média: uma visão coletiva do ocidente. Belém: LiteraCidade, 2012.
CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo.  Historia e Analise de Textos. In: Cardoso, Ciro Flamarion e Vainfas, Ronaldo (orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 536- 567.
CHARTIER, Roger. Introdução - Por uma sociologia histórica das praticas cultural. In:______. A História Cultural: entre práticas e representações. Col. Memória e sociedade. Trad. Maria Manuela Galhardo. Lisboa: DIFEL, 1990, p. 13-28.
______. O mundo como representação. Revista de Estudos avançados 11 (5), 1991, p. 173- 191.
CHARTIER, Roger. Do social ao cultural. In: ______. A história ou a leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009, p. 33- 43.
COSTA, Ricardo da. A experiência religiosa e mística de Ramon Llull: a Infinidade e a Eternidade divinas no Livro da contemplação (c. 1274). Disponível em: http://www.ricardocosta.com/artigo/experiencia-religiosa-e-mistica-de-ramon-Llull-infinidade-e-eternidade-divinas-no-livro-da, 2006.
______. A meditatio mortis no livro do homem (1300) de Ramon Llull.
______. Amor e Crime, Castigo e Redenção na Glória da Cruzada de Reconquista: Afonso VIII de Castela nas batalhas de Alarcos (1195) e Las Navas de Tolosa (1212). In: OLIVEIRA, Marco A. M. de (org.). Guerras e Imigrações. Campo Grande: Editoria da UFMS, 2004, p. 73-94. Disponível em:<www.ricardocosta.com/pub/amor_crime.html>. Acesso em 29/03/2015.
______. A morte e as Representações do Além na Doutrina para Crianças (c. 1275) de Ramon Llull. Disponível em: http://www.ricardocosta.com/artigo/morte-e-representacoes-do-alem-na-doutrina-para-criancas-c1275-de-ramon-Llull, 2014.
DUBY, Georges. O medo do outro In: __________. Ano 1000, ano 2000: em busca dos nossos medos. São Paulo: Ed. UNESP/Imprensa Ofic\xial do Estado de São Paulo, 1999, pp. 49-69.
DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. A Espanha medieval, fronteira da cristandade. (trad. L. Jean Lauand). Disponível em: < http://www.hottopos.com/mirand10/reboiras.htm>. Acesso em: 21 de janeiro de 2015.
HUIZINGA, Johan. A visão da Morte. In: HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média.  Lisboa: Ed. Ulisseia, 2ª ed. s/d., p. 104-113.
______. O Outono da Idade Média. São Paulo: Cosac Naify3, 2010.
HUNT, Lynn. Apresentação: História, cultura e texto. In: _____. (org.) A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 1-29.
Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio (Ramon Llull). Jaime I, o Conquistador (1213-1276). Disponível em: http://www.ramonLlull.net/sw_instituto/l_br/jaumeconquistador.htm. Acesso em: 30/10/2014.
KARNAL, Leandro e TATSCH, Flávia Galli. A memoria evanescente. In: PINSKI, Carla Bassanezy e LUCA, Tania Regina (Orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p. 9-28.
LANGER, Johnni. A Nova História Cultural: Origens, Conceitos e Críticas. Disponível em www.historiaehistoria.com, acesso em 21/09/2015.
LAWERS, Michel. Morte e mortos. In.: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (Org). Dicionário temático do ocidente medieval, Vol. I. São Paulo: Edusc / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.
LE GOFF, Jacques. A formação da cristandade (séculos 11-13). In.: ______. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005.
LE GOFF, Jacques. Além. In.: ______; SCHMITT, Jean-Claude (Org). Dicionário temático do ocidente medieval, Vol. I. São Paulo: Edusc / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.
LE GOFF, Jacques. Introducción. In.: _______. Los Intelectuales De La Edad Media. Barcelona: Editorial Gedisa, S.A. Muntaner, 1996.
LE GOFF, Jacques. A “bela” Europa das cidades e das universidades, século XIII. In.: ______. As raízes medievais da Europa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
______. A bolsa e a vida: a usura na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 2004.
LEMOS, Tatyana Nunes. Pregação e cruzada: a conversão dos infiéis nos poemas de Ramon Llull (1232-1316) – Dissertação. 2010.
LINS, Juan. A Idade Média, a cavalaria e as cruzadas. 4º Edição.  Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1970.
LOYN, Henry R. Reconquista. In. ______. Dicionário da Idade Media. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997, p. 732-733.
LUCA, Tania Regina de. Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKI, Carla Bassanezy (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 111-154.
MACHADO, Maximiano Lopes. Depois do vendaval o fim das certezas: o paradigma pós-moderno pensado por Ciro Flamarion Cardoso e José Carlos Reis. s/d.
MARTINS, Dayse Marinho. Tempo e narrativa na educação em Ramon Llull: Doutrina para crianças (1274-1276). In. ZIERER, Adriana, VIEIRA, Ana Lívia Bomfim & ABRANTES, Elizabeth Sousa (orgs). Nas trilhas da Antiguidade e Idade Média. São Luíz: Editora UEMA, 2014, p. 155 – 160.
MATEUS, Natasha Nickolly Alhadef Sampaio. A importância da salvação para o homem medieval: Paraíso versus Inferno na obra Felix, O Livro das Maravilhas (1287-1288). In. ZIERER, Adriana, VIEIRA, Ana Lívia Bomfim & ABRANTES, Elizabeth Sousa (orgs). Nas trilhas da Antiguidade e Idade Média. São Luíz: Editora UEMA, 2014, p. 329-334.
MIRALLES, Isabel Mira. Muerte que a todos convidas: La muerte en la literatura hispánica medieval. RLLCGV, XIV. 2008-2009, p. 291-326.
MORRISSON, Cecilia. Cruzadas. L & PM- Pocket Encyclopedia.
ODÁLIA, Nilo. Apresentação. In: BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989. Tradução Nilo Odália. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1992, p. 4 - 6.
OLIVEIRA, Elane da Costa. Um terceiro lugar entre o céu e o inferno: o purgatório. In: Anais dos Simpósios da ABHR. Religião, carisma e poder: As formas da vida religiosa no Brasil. São Luís, UFMA, 2012, p. 01- 08.
PACHECO, Alexandre. As implicações do conceito de representação em Roger Chartier com as noções de habitus e campo em Pierre Bourdieu. Anais eletrônicos da ANPUH – XXIII Simpósio Nacional de História. Londrina, 2005, p. 1-6.
PALOU, S. Carcias. ;Que ano escribio Ramon Llull la "Doctrina Pueril"?.
PASTOUREAU, Michel. El símbolo medieval- Cómo lo imaginario forma parte de la realidad. In: ______. Uma historia simbólica de la Idad Media occidental, 1ª Edição. Buenos Aires: Katz, 2006, pp. 11- 24.
RUCQUOI, Adeline. História Medieval da Península Ibérica. Editora Estampa, Lda., Lisboa, 1995.
RUNCIMAN, Steven. EL REINO DE ACRE Y LAS ULTIMAS CRUZADAS, Vol. III. Madrid: Alianza Editorial, 1999.
______. Historia de las Cruzadas- La Primera Cruzada y la Fundacion del Reino de Jerusalen. Vol. I, 2002.
SALIBA, Elias Thomé. Prefácio. In: DOSSE, François. A História em Migalhas-Dos Annales à Nova História. São Paulo: Editora Unesp, 1994, p. 3 - 4.
SALVATI, G.M. Alma In: Lexicon: Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003, pp.14-15.
SCHMITT, Jean-Claude. Sonhar com mortos In: __________. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
SCHÜLER, Arnaldo. Alma In: ________. Dicionário Enciclopédico de Teologia. Canoas: EdULBRA, 2002, pp.35.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2002 Nº 20.
SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da. Uma proposta de leitura histórica de fontes textuais em pesquisas qualitativas. Revista Signum, 2015, vol. 16, n. 1. p. 131 – 153.
SOUTHERN, R. W. A Igreja Medieval. Penguin Books, 1970.
TYERMAN, Christopher. Introdução: Europa e Mediterrâneo In: __________. A Guerra de Deus: uma nova história das Cruzadas. Vol.1. Rio de Janeiro: Imago, 2006, pp. 19-44.
VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 189 - 241.
VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média ocidental: (séculos VIII a XIll). Tradução Lucy Magalhães. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995. VAINFAS, Ronaldo. Historia das Mentalidades e Historia Cultural. In. CARDOSO, Ciro Flamarion &
VERGER, Jacques. Homens e Saber na Idade Média. Tradução Carlota Boto.- Bauru, SP: EDUSC, 1999.
VENTORIM, Eliane. As idéias políticas e a apologética de Ramon Llull (1232-1316)
sobre a cruzada na terra santa. Dissertação, UFES, 2008.
VIANNA, Luciano José. Ah, Santa Maria, Ajudais aos Nossos, pois Parece que o Encontro já Começou: A Batalha de Portopí na Conquista de Maiorca (1229). In: SINAIS - Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição n.04, v.1, Dezembro. 2008. pp. 56-70.
XARIU, Joaquín. Vida y obra de Ramón Llull: Filosofía y mística. Fondo de cultura económica. Primeira edición electrónica, 2012.
ZIERER, Adriana. Literatura e Imaginário: fontes literárias e concepções acerca do Além Medieval nos séculos XII e XIII. In.: Revista Outros Tempos: Pesquisa em Foco-História. Volume 01, 2008, p.21-39. Disponível em: www.outrostempos.uema.br.




[i] “al comensament deu hom mostrar a son fill les coses qui son generals em lo mon, per que sapia devallar a les specials.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Del Prolech, 1. 
[ii] “la mort sacosta a nos tots jorns” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Del Prolech, 1.
[iii]  “Paradís es ver Deu e esses ab Deu em gloria.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 100.
[iv] Na Idade Média os sermões eram usados como meio de cristianização e de instrução, uma vez que a sociedade era a maioria iletrada. Sendo assim, se fazia necessário usar outros meios que pudessem atingir toda a sociedade, nobres, intelectuais ou iletrados, desta forma os sermões são apresentados como meio mais prático e eficiente para alcançar o objetivo de “produzir na prática comportamentos ou condutas tidas como legítimas e úteis.” (PARMEGIANI, 2008: 22).
[v] “¿Sabs, fill, la mort per que es temable? Per so ocar no li pots fugir e no sabs quant te pendrá: on si la morte, qui not pot auciure mas lo cors, tems, tembrás ja, fill, Deu, qui lo cors e la anima te pot metre en foch perdurable.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 36: 9.
[vi]  “Mort corporal es departiment de cors e danima, e mort espiritual es en lanima quis lunya de Deus; e per assò, fill, son dos morts: la mort corporal, qui acosta lanima vertuosa a Deus, la qual va en paradis con lo cors mor, e la mort espiritual, qui es en lanima pecadora e estoge lo cors a sostenir eternalment foch infernal, e fa esses sotsmesa a infinits trebays. Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 88: 1.
[vii]  “amorir te cové, fill, vulles o no: e donchs, pus que has a murir, vulles murir per honrar aquell senyor quit há creat e quet dona tot quant has, e quit pot dar foch perdurable e quit vol dar gloria qui no ha fi, e qui per la tua amor es vulgut murir. Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 8.
[viii]  “dementre que est viu, fill, em aquest mon fé penitencia; car em l altre segle donada es la sentencia de gloria eternal o de foch infernal”. Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 26, 4.
[ix]  “Amable fill, considera sovin en esta gloria de quet parle, per so que he sies; e remembra lo breu temps d esta vanitat mundana per la qual molt hom pert la celestial gloria; e fé en ta consideracio comparacio de la benanansa daquest mon e de gloria del altre segle, e entén com savi mercader es qui per un diner sab aver major tresor que total a benenansa dquaest mon.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 100, 8.
[x]  “[...] lautre es lo infern qui es apellat purgatori, en lo qual hom fa penitencia per s ocar no la cumplida em aquest mon” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 99, 1.
[xi]  “Amable fill, en axi com es bona cosa considerar en la gloria de paradis per so que hom am Deu, en axi es bona cosa considerar en les penes infernal, per so que hom tema Deu qui les pot donar a quis vol. On, per assò que tu temes Deu, vull mostrar que tu degues cogitar en les infernals penes, en diverses maneres.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 99, 2.
[xii]  “Sapies, fill, que mort natural no ret fruyt ne gazardó, ne aquell qui no ama no sab murir, ne qui no gosa murir no es en estament de salvacio”. Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 8, 20.
[xiii]  “En lascensio del Fill de Deu es significada lasumcio el pujament quel teu cors ferá, fill, al dia del judici, en lo cel, si em aquest mon est servidor e amador e loador del Fill de Deu; car en axi com lo Fill de Deu vench en aquest mon pendre nostra natura e sen pujá al cel ab ella, en axi  pujará en los cels tots los cossos daquells qui son e daquelles, qui en est mon serán estats sos servidors e qui creurán la sua encarnacio e qui plorerán per honrar sos honraments.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 11, 2.
[xiv]  “Fill, si vols pujar là on es Jhesu Christ, puja ta pensa e ton design a ell, e devalla ton remembrament a la viltat d on est vengut e al defalliment en lo qual estás en aquest mon; e menys preá aquest mon, per so que sies preat em laltre.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 11, 6.
[xv]  “En axi com tots los ángels e tots los sants de gloria ab cant de molt gran dolçor e ab gran professó exiren a nostro Senyor Jhesu Christ per fer honrament con pujá en gloria, en axi als homens peccadors con passen daquest mon en laltre ixen los demois de inferna b molt horrible esguardament, per tal que en foch perdurable los meten els turmenten.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 11, 4.
[xvi] “Nestes termos, o Filósofo elencou as bem-aventuranças centrais, que seriam, nesse ponto de vista, oito: Do Ato de Reinar, Da Possessão, Da Consolação, Do Cumprimento, Da Misericórdia, Do ato de ver Deus, Da Paciência e Da Recompensa”. SANTOS, 2014.
[xvii]  “Deus ta donada franca volentat per so que sies amador de salvacio e que desams dampnacio: e en axi com Deus ha donat a ton cors tots los membres quis pertanyen a cors dome e ha dada a la anima totes les potencies que a anima se covénen, en axi ha Deus donat a ton franch voler tot so qui pertany a desirar salvacio e airar dampnacio, per so que desires a reebre salvacio tant solament per los dons de Deu.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 59, 8.
[xviii]  “En ta anima pots sentir franca volentat, la qual Deus ha donada a ton coratge per so que pusques fer be o mal, e que per fer be Deus aja rahó quet do salvacio, e per lo mal sies occasionat a dampnacio. Mas car salvacio es pus noble cosa que ta volentat ne que ls bens que tu pots voler ne pots fer per tu metex, sens la gracia de Deu no pots aver salvacio. E car la tua volentat ha poder de voler e de fer mal, per assò tu per tu metex e tot altre hom per si metex pot eléger dampnacio sens ajuda de Deu.” Ramon Llull, Libre de Doctrina Pueril, Cap. 67, 5.

17 comentários:

  1. Sidinei Sganzerla
    Tendo em vista a tradição cristã que muito contribuiu para a atual educação das crianças e da forte presença desta nas instituições de ensino,pode-se afirmar que ainda estamos sob pleno domínio cristão em nosso sistema de ensino escolar? Sabendo, entretanto, que a legislação brasileira tem o ensino de forma laica e universal.
    Sidinei Sganzerla- Curitiba-Pr

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sidinei, boa tarde. Obrigado pela pergunta.

      A questão é bastante abrangente para uma curta resposta, mas farei o meu melhor. Eu diria que não estamos mais no imperativo cristão, ao menos no Brasil. O Estado é laico e basta observar os principais livros didáticos em circulação no país para verificar que outros paradigmas estão em vigência. Certamente há casos esporádicos de reafirmação do paradigma cristão (exigência de orações em escolas públicas, negação de ensino de História Afrobrasileira e suas religiosidades, etc.), mas não diria que há um movimento orquestrado para tal.

      Renan Birro

      Excluir
  2. Dara Dzovoniarkiewicz.
    Até que ponto a instituição da morte, e do “medo da punição” no imaginário das pessoas desde a Idade Média influenciaram na conduta moral das pessoas? Qual a recorrência disso nos dias atuais?
    Dara Dzovoniarkiewicz - Bituruna/PR

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezada Dara, boa tarde. Obrigado pela pergunta.

      A influência foi e ainda é forte, ao menos em contextos sociais onde o cristianismo é predominante. Uma excelente resposta para sua pergunta está na obra "Ano 1000, Ano 2000: em busca dos nossos medos", do medievalista francês Georges Duby.

      Cordialmente,

      Renan Birro

      Excluir
  3. O medo da morte era uma forma de controle social? de uma certa forma este medo trouxe o desenvolvimento civilizatório à sociedade, normas para o bem viver: não matarás, não roubarás, não desejarás a mulher do próximo, etc. Mas hoje em dia vemos que alguns pastores ainda usam esta mesma linguagem em seus sermões. Seria esta ideologia um paradoxo? naquele tempo houve a necessidade de civilizar os homens, hoje ao que parece, este mesmo discurso está sendo usado para denegrir, enganar, enfim, piorar a convivência em sociedade.
    Rossiley Ponzilácqua

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Rossiley, obrigado pela pergunta. Boa tarde.

      Eu não diria um controle, mas uma tentativa. Os homens, seja no período medieval ou hoje, continuam a praticar atos contrários aos ensinamentos cristãos. A questão dos ganhos civilizatórios é complexa, ao considerar o relativismo cultural, pois implica que algumas culturas são melhores que outras.
      Dos sermões atuais, o que percebo é a falta de preparo teológico e um certo fanatismo. Digo isso por experiência familiar e de vida: fui criado num lar evangélico uma parcela considerável de meus parentes é evangélica, incluindo pastores, diáconos, etc. Muitas vezes eles desconhecem questões teológicas básicas e noções históricas simples, como interpretar a Bíblia à luz de acontecimentos e contextos de dois ou três mil anos atrás, ou ainda o contexto de produção da Bíblia. Em última instância, o texto sagrado tem sido usado atualmente, na maioria dos casos, como elemento legitimador de políticas extremamente deploráveis nas mãos de indivíduos com pouca capacidade reflexiva, mas de grande alcance social.

      Cordialmente,


      Renan Birro

      Excluir
    2. obrigada em responder,
      Rossiley

      Excluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Boa noite.
    A minha pergunta é mais uma curiosidade sobre o conteúdo para os quais esse livro do Llull foi escrito. Vocês apontam que o livro, além de conter instruções para o filho de Llull, se tratava de um manual pedagógico. Llull, nesse caso, estaria apenas reunindo o que era consenso dentro da Igreja Católica sobre o assunto, ou ele também teria incluído ideias próprias, promovendo uma teoria do trespasse e do além em torno dos locais que ele descreve e dos caminhos para se alcançar o Paraíso e fugir do Inferno?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esqueci de assinar o nome.
      Mayara Faccin

      Excluir
    2. Oi, Mayara

      Podemos dizer que sim, ele compartilhava daquilo que a igreja defendia sobre a questão do que existe no pós morte, mas também incluiu suas ideias. Podemos perceber isso na preferência que ele tinha em descrever o céu, o paraíso, a salvação, enquanto a igreja se preocupava em convencer com o sermão sobre o inferno. Llull acreditava ter recebido um dom especial que ele considerava sua Arte, era o dom de escrever e seus escritos tinham o propósito de propagar o amor a Deus e de Deus, pois assim a pessoa se aproximaria pelo amor a Ele, e não por medo da perdição após a morte.

      Cordialmente,

      Priscila

      Excluir
  6. Acredito que o temor da morte no Medievo seja um eloquente recorte para a abordagem da História das Mentalidades do período medieval no Ensino Médio. Vocês apontariam algum texto teórico que seja atrativo para os discentes da educação básica e que tratem desta temática?
    Obrigado,
    Lucas dos Santos Silva

    ResponderExcluir
  7. No catolicismo "popular" há uma relação de confiança entre os vivos e os santos, o devoto e a divindade. No caso de quebra de confiança os santos são coagidos e sofrem ameaças para atender aos pedidos do devoto. No caso da devoção ao arcanjo Gabriel, cabia a ele avisar ao devoto o dia da sua morte para que ele pudesse se preparar. Será que não necessitamos de pesquisar mais pontuais para mostrar as especificidades desse imaginário em torno da morte e dos rituais fúnebres?
    Vera Lúcia Caixeta

    ResponderExcluir
  8. Alfredo Coleraus Sommer9 de março de 2016 às 18:29

    Caro Prof.
    *Essa culpa cristã do medievo parece ainda bem presente hoje,não lhe parece?
    *Esses valores e o medo da morte e suas consequências são questões que se explicam quando precisamos manter a Igreja no centro do mundo não lhe parece?
    Desde já, grato
    Alfredo Coleraus Sommer

    ResponderExcluir
  9. Numa justificativa para tratar do imaginário da “boa morte” no antigo extremo norte de Goiás, hoje norte do Tocantins, explicitei que o ato de morrer, não pode ser visto apenas como um fenômeno biológico natural, pois ele contém uma dimensão simbólica, ou seja, apresenta-se como um fenômeno impregnado de valores e significados dependentes do contexto histórico em que se manifesta. Nesse sentido, é um objeto da história, com grandes possibilidades de tornar inteligíveis os valores religiosos disponíveis na cultura Ocidental, vindo da tradição judaíco-cristã, ligadas à morte que permaneceram ou se modificaram no século XX e XXI. Nossa proposta é analisar o imaginário da “boa morte” como uma estratégia específica dos “sertanejos” para driblar tanto o imponderável da morte quanto os princípios da oficialidade católica. Nesse processo se inscreve o imaginário como lugar de ressignificações e sentidos. Sabe-se que o imaginário em suas redes simbólicas disseminadas, desconstrói os horizontes das formações sociais oficiais, revertendo imagens. Então, perguntamos: quais são os usos que o crente faz do que lhe passam? O que fabrica com o que lhe é dado? Quais os rituais que fazem parte da arte do “bem morrer” e como eles são resinificados? Será que ainda é possível encontrar resquícios da “boa morte” no antigo norte de Goiás?
    Certeau no seu livro A invenção do cotidiano nos remete às culturas populares que, em sua sabedoria camaleônica, aceita sem aceitar, incorpora subvertendo, reproduz ressignificando e se utilizam de elementos da própria religião oficial para inverter seu funcionamento. Assim, os contos, as lendas são jogos num espaço outro, do passado, do maravilhoso, das origens. Ali estariam as táticas e os discursos estratégicos das pessoas e dos grupos sociais. Tais histórias formalizam as práticas cotidianas de simulação/dissimulação que costumam inverter as relações de forças na sociedade (CERTEAU, 1998). Atentamos, então, para as formas e maneiras como os elementos da fé, da tradição e do dogma são construídos, interpretados e transformados pelos homens e mulheres “sertanejos”.
    Vera Lúcia Caixeta

    ResponderExcluir
  10. Qual era a noção de criança que havia na época da escrita do texto de Llull? Sabemos que a concepção que temos do que é ser criança esta inserida num contexto relativamente recente na história, bem como sobre o que é ser mãe, bom funcionário e etc. Será que a criança abordada no texto não é simplesmente um "adulto" sem a devida instrução? - João Gilberto Solano.

    ResponderExcluir
  11. caroline pasquotto garcia nascimento11 de março de 2016 às 16:08

    Boa noite!Me questionei a respeito do conceito de criança no contexto histórico em que foi escrito este manual pedagógica, sabendo que a criança até pouco tempo era desconsiderada como indivíduo capaz de decidir sobre sua individualidade. Gostaria muito saber.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.