FESTAS CÍVICAS ESCOLARES EM PORTO UNIÃO NO ESTADO NOVO
Zuleide Maria Matulle
Introdução
O
presente texto tem como objetivo instigar uma reflexão sobre as determinações
traçadas pelo Estado, através de um olhar micro histórico, isto é, a cidade de Porto
União, no norte de Santa Catarina por meio da questão das festividades cívicas.
Este trabalho
busca, ainda que brevemente, perceber que
tipos de escola, de ensino e de sujeitos estavam em discussão nas décadas de 1930 e 1940, durante o
período do Estado Novo. Para isso, escolhemos como pano de fundo as festas cívicas escolares, uma vez que elas estiveram
diretamente ligadas às “práticas educacionais vigentes na época, pois à
instituição escolar cabia a responsabilidade de promover, nos jovens, os ideais
do novo regime” (SILVA, 2011, p. 97).
As
festas cívicas não são novidade no Estado Novo. Elas foram utilizadas por
diferentes regimes, como pela Primeira República, Governo Provisório e pela
Ditadura Militar, como estratégia de propaganda para o exercício do poder. No
entanto, sua força foi maior em governos que exerceram “maior censura no
conjunto de informações e utilizou manipulações que procuravam bloquear toda a
atividade espontânea” (BENCOSTTA, 2006), como foi o caso do Estado Novo.
As festas cívicas ultrapassaram os muros da escola,
fizeram circular conceitos e conhecimentos na sociedade. Pelas ruas e praças
das grandes e pequenas cidades reuniam-se estudantes, professores, autoridades,
imprensa e familiares, em suntuosas homenagens, por exemplo, a Semana da
Pátria, ao Dia da Bandeira, e ainda, ao aniversário de Getúlio Vargas. Essas
comemorações fizeram parte do processo de construção e consolidação de uma
única identidade nacional. Elas deixaram heranças duradouras em todos nós,
muito revelam o que somos e o que pensamos hoje.
Como fonte, selecionamos o jornal O Comércio, fundado em 11 de junho de 1931, e produzido em Porto União e
com circulação no sul do Paraná e planalto norte catarinense. Essa fonte
fornece ao pesquisador a pluralidade de informações, a vida cotidiana da sociedade, seus usos e costumes, informes sobre questões
econômicas e políticas, etc. O jornal é um documento importante para análise
histórica, pois
ele “registra, comenta e participa da
história, possibilitando ao historiador acompanhar o percurso dos homens (pessoas) no tempo” (CAPELATO, 1998, p.
13).
As reformas na educação...
As décadas de 1930 e 40 são marcadas por duas grandes
reformas no ensino do país. Trata-se da Reforma Francisco Campos e a Lei Orgânica do Ensino Secundário,
conhecida como Reforma Capanema. Essas reformas provocaram modificações no ensino
secundário do país, nível de escolarização entre o
curso primário e o ensino superior, bem como na estrutura da disciplina de História.
Segundo considerações de Dallabrida (2009, p. 185), regulamentada em 1931, a Reforma
Francisco Campos instituiu em nível nacional a
modernização do ensino secundário brasileiro. É característico dessa reforma,
por exemplo, medidas como o acréscimo no número de anos do curso e divisão em
dois ciclos, um fundamental, de cinco anos e outro complementar, de dois anos.
É notável também a seriação do currículo que promovia a progressão dos saberes,
bem como “a frequência obrigatória dos alunos, a imposição de um detalhado e
regular sistema de avaliação discente e a reestruturação do sistema de inspeção
federal” (DALLABRIDA, 2009). Essas medidas romperam com o regime de cursos
preparatórios e de exames parcelados que vinham ocorrendo no Brasil, no Império
e Primeira República, em que aluno realizava apenas uma avaliação final.
Essas modificações procuravam estimular o trabalho progressivo do
aluno, uniformizar e controlar a educação no país. Buscava-se produzir
“estudantes secundaristas regulados e produtivos, em sintonia com a sociedade
disciplinar e capitalista que se consolidava, no Brasil, nos anos de 1930”
(DALLABRIDA, 2009, p. 185). Com a Reforma verificamos, grosso modo: a expansão do
sistema educacional, a regulamentação e centralização no Ministério da Educação
e Saúde Pública, passando a exercer maior intervenção nos assuntos relacionados
à educação.
Em 1942, entra em vigor a Reforma Capanema implantada
pelo Ministro Gustavo Capanema. Essa reforma é fruto do Estado Novo, a fase da
centralização política e do autoritarismo. O interesse pela educação, bem como
pela disciplina escolar de História, intensificou-se. Capanema organizou o ensino
industrial, instituiu o SENAI, reformou o ensino comercial. Entretanto, a educação secundária
foi aquela em que o Ministério deixaria sua marca mais profunda e duradoura. O Decreto de 9 de abril de 1942, organizou o ensino
secundário em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial, com três
anos. Este último ciclo oferecia aos
estudantes duas opções: o Clássico, voltado mais para as letras e humanidades e
o Científico voltado mais para a Matemática e as Ciências.
Nessa reforma verificamos que a formação escolar dos estudantes teve
como aspecto central o patriotismo. Para Capanema o ensino secundário deveria
ser “um ensino patriótico por excelência”. Um ensino capaz de dar ao
adolescente “a compreensão dos problemas e das necessidades, da missão, dos
ideais da nação e bem assim dos perigos que a acompanham, cerquem ou ameacem”.
Um ensino que seja capaz “de criar, no espírito das gerações novas a
consciência da responsabilidade diante dos valores maiores da pátria, a sua
independência, a sua ordem, e seu destino” (HORTA, 2010, p. 59). Trata-se de
uma educação voltada aos interesses do governo vigente em um contexto de
transformação.
Nas novas instruções a disciplina de História e os
conteúdos de História do Brasil foram entendidos como instrumentos que poderiam contribuir para o
desenvolvimento do projeto nacionalista, ou seja, importantes à formação do povo, bem como sua unidade
cultural. Para Capanema, por exemplo, havia “ensino de matérias que
formam o espírito do cidadão, do patriota. Essas matérias serão ensinadas na
Geografia e História do Brasil” (HORTA, 2010, p. 159). O discurso de Capanema
nos faz perceber o papel desta disciplina: despertar o tão importante
sentimento de pátria, espírito cívico e patriótico, forjando a Nação.
Exaltar a pátria e formar o cidadão: as festas cívicas
que agitaram as escolas, ruas e praças de Porto União
O Estado Novo investiu na educação, entendida como uma
das principais dimensões estratégicas para viabilizar o projeto nacionalizador.
A educação, bem planejada segundo os ideias do regime e disseminada em todo o
país é capaz de garantir a ordem e a disciplina. Para Bomeny, por exemplo, a
educação:
“talvez seja uma das traduções mais fiéis daquilo que
o Estado Novo pretendeu no Brasil. Formar um “homem novo” para um Estado Novo,
conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade, fortalecer a
identidade do trabalhador, ou por outra, forjar uma identidade positiva
no trabalhador brasileiro”. (BOMENY, 2011, p. 139).
Mais
que isso, o Estado
Novo é particularmente interessante no que diz respeito a ações do Estado no
sentido de “orientar o ensino de História para a formação moral e política”
(FONSECA, 2011, p. 72). Podemos destacar, como parte dessa estratégia, a
posição de relevo que episódios e personagens da história do Brasil alcançaram:
como Tiradentes, por exemplo, e a produção de livros didáticos e cartilhas com
versões orientadas da história da nação. Financiado pelo Departamento de
Propaganda do governo, o mercado editorial brasileiro publicou inúmeros livros
com conteúdos cívicos e biografias de Getúlio Vargas, que revelam o patriotismo
exacerbado do regime e a escola como uma instituição
ideal para a formação cívica.
Importante destacar que, aqui, entendemos a escola e
o ensino não apenas como a relação educativa que envolve professor-aluno e
métodos de ensinar na sala de aula da escola formal. Entendemos que refletir sobre educação escolar é refletir sobre um
organismo vivo. Todos se envolvem com ela seja para aprender ou ensinar. Ela
não ocorre separada dos interesses presentes em
determinado período histórico. Está ligada a uma totalidade social,
econômica, política e cultural. Para Chervel (1990, p. 187), por exemplo, grandes
objetivos da sociedade, em diferentes períodos, “não deixam de determinar os
conteúdos do ensino tanto quanto às grandes orientações estruturais”.
Entendemos
que o
ensino ocorre nos mais diversos espaços e práticas educacionais. É o que as festas cívicas sugerem. Essas festividades podem ser destacadas
como instrumentos transmissores dos valores do regime vigente, cumprindo um
papel educativo, pois constituem tempo de atividade educativa, tempo de
aprender. Concordamos com Fonseca (2011, p. 73) quando explica que a festa
cívica “constitui exteriorização dos valores inscritos no ensino de uma
história nacionalista e, ao envolver a escola, cumpre seu papel educador, de
acordo com os interesses de seus organizadores”.
Por meio dos desfiles e festividades, que se
iniciavam na escola, o espírito cívico e patriótico atingia as crianças, os
jovens e adultos, cumprindo o objetivo de despertar na população a imagem de um
país harmônico, coeso, administrado por um chefe competente. Claro que nem tudo
o que foi proposto na legislação educacional ocorreu na prática. Não podemos
desconsiderar o fato de que os sujeitos fizeram usos diferenciados dessas
festividades, poderiam “existir queixas antes dos desfiles, diferentes paixões
e sentidos que não atendiam a um único objetivo, aquele que atendia aos
interesses políticos (BENCOSTTA, 2006). Entretanto, a análise desses eventos
pode revelar um pouco sobre as representações de escola, de ensino e de
sujeitos que estavam em pauta nas décadas de 1930 e 1940.
No calendário de festas cívicas há várias datas
comemoradas com ênfase em todo país como, por exemplo, o dia 10 de novembro em
comemoração ao aniversário do Estado Novo, o Dia do Trabalho, o Dia da Árvore,
o Dia da Juventude e o Dia da Raça. Também faz parte desse calendário cívico o
Dia da Bandeira (19 de novembro), a Semana da Pátria (7 de setembro) e o
aniversário de Getulio Vargas (19 de abril). Como não possuímos espaço para
analisar pormenorizadamente todas essas datas, escolhemos discorrer, neste texto, sobre as três últimas, pois elas
aparecem com ênfase nas páginas do jornal.
Então, vamos a elas. O Dia da Bandeira era especial
para o Governo e deveria ser celebrada em público, com hasteamento do Pavilhão
Nacional e desfiles pelas ruas das cidades. Esse culto, que teve início em
1908, era significativo para o Estado Novo, pois era visto como um instrumento
capaz de fomentar a coesão nacional. Tanto é, que Getúlio Vargas proibiu a ostentação de símbolos
estaduais. Na Constituição de 1937, no que se refere à Organização Nacional,
observamos no Art. 2° que “A bandeira, o hino, o escudo e as
armas nacionais são de uso obrigatório em todo o país. Não haverá outras
bandeiras, hinos, escudos e armas. A lei regulará o uso dos símbolos nacionais”
(BRASIL. Constituição, 1937).
A preocupação era fortalecer a Nação, direcionar a
população para a Pátria, unindo-o debaixo de um único pendão. Essa ideia pode
ser observada no discurso proferido por Bernardete Muniz, aluna do Colégio São
José, de Porto União, na solenidade do Dia da Bandeira, em 1941. O Jornal
reproduziu o seguinte trecho desse discurso:
Brasileiros!
Duas palavras a Nossa Bandeira. Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros,
ao encerrar a sua brilhante oração a Bandeira, diz: Bendita, sejas, exclama
ainda a mocidade brasileira, no dia de hoje. Bandeira do meu Brasil! Com a
pobreza de minhas palavras, quero cantar-te: Como és linda, quando te agitas ao
sopro da brisa! És bela como o límpido firmamento, e pura como a açucena dos
vales. Simbolizas a riqueza do Brasil, e seu brilhante porvir. O teu verde representa as nossas florestas, as
nossas campinas, e os nossos arvoredos, esperanças dos filhos não (ilegível). O teu azul celeste é o nosso
céu e os nossos mares, e, no dizer do poeta, o teu Cruzeiro do sul é a nossa
história. És o símbolo de uma nação, a
insígnia de um povo. Em resumo: representas o passado, o presente e o
futuro deste país rico e majestoso.
Bandeira! Surgiste naquela manhã dourada do 15 de novembro de 1889, em que,
como Deodoro e nos próceres da campanha republicana ás demais nações
americanas, completou no Continente o quadro democrático [grifo nosso] (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).
O
discurso da aluna representa bem a ideia expressada na Constituição de 1937. A
aluna destaca, por exemplo, que a Bandeira Nacional “És o símbolo de uma Nação,
a insígnia de um povo”, que transmite uma ideia de unidade. Sobre a importância do Dia
da Bandeira para o Estado Novo, é importante destacar que Vargas decretou a
queima pública dos pavilhões regionais. Essa ação buscava, “evitar a
valorização de regionalismos e dar maior ênfase ao nacional, era importante
aguçar o sentimento de brasilidade, de amor e respeito pela Pátria” (SILVA,
2011, p. 88). Esse primeiro evento ocorreu na capital Federal, em novembro de
1937, no mesmo mês da implantação do Estado Novo, no Dia da Bandeira.
As
festividades eram compostas de desfiles pelas ruas principais das cidades, hasteamento
solene da Bandeira, vocalização do Hino Nacional, cações e poesias, bem como
atividades esportivas. A programação era extensa e nesses dias de festa as ruas
centrais das duas cidades ganhavam vida logo pela manhã. O jornal O Comércio
descrevia todo o ritual em longos textos, ricos em detalhes e adjetivos.
Em
30 de novembro de 1941, por exemplo, com o título: Ecos da solenidade do Dia da
Bandeira, na primeira página, o Jornal destacou que ao amanhecer do dia 19, a cidade
apresentou-se em festa, “vendo-se, então, não só nas repartições públicas, mas
também, à frente de inúmeras casas comerciais, e em outras de moradia familiar,
o Pavilhão Nacional, que, ao sopro da forte brisa, tremulava, meigo e soberano”
(O COMÉRCIO, 1941, p. 01).
Com
a ajuda da natureza, que proporcionou um dia magnífico, as solenidades
comemorativas do Dia da Bandeira tiveram excepcional brilhantismo. Segundo
nossa fonte:
Às
nove horas, procedeu-se, na Praça Hercílio Luz, ao hasteamento solene da
Bandeira, estando aí presentes todas as autoridades locais, professores e
alunos do Colégio São José, Grupo Escolar Balduino Cardoso, os associados do
Clube de Ginástica, representantes de várias associações classistas, do clero,
da imprensa, além de extraordinário número de exmas. famílias. A seguir
levou-se a efeito imponente desfile escolar, cujos componentes percorreram as
principais ruas desta e da visinha cidade de União da Vitória, causando a
organização, ordem e disciplina justos louvores do público (O COMÉRCIO, 1941,
p. 01).
O
Dia da Bandeira, nas décadas de 30 e 40, era dia de estudantes, familiares, a
população em geral, nas ruas das cidades em confraternização. As festas escolares
tornaram-se “momentos especiais na vida das escolas e das cidades, momentos de
integração e de consagração de valores – o culto à pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos
bons costumes” (SOUZA, 1998, p. 259). Era hora de exercitar o patriotismo
esperado pelas autoridades.
Outra
festa cívica levada a efeito em todo país pelo Governo é o Dia da Pátria, ou
Semana da Pátria. No período republicano foi a data cívica mais importante e
ainda hoje é a mais comemorada nas escolas. Trata-se de uma data que diz
respeito a um evento histórico específico, um rito histórico de passagem “entre o mundo
colonial e o mundo da liberdade e da autodeterminação, como explica Da Matta
(1997, p. 54).
Comemorações Cívicas - foi o título que o Jornal utilizou
para publicar, na primeira página, os resultados das festividades referentes ao
Dia Independência Política em Porto União, iniciadas no dia cinco. O jornal
destaca que a solenidade teve início no Ginásio São José e:
[...]
tiveram estas, excelente êxito, o que demonstrou, mais uma vez, a grandeza e a
utilidade desse novel estabelecimento de ensino secundário, que tem à sua
frente, como verdadeiros guardas, as vontades inquebrantáveis do Frei Bertino e
do Inspetor Elpidio Silva. A essa solenidade, que constou do hasteamento da
Bandeira Nacional, na fachada principal do edifício do Ginásio, vocalização de
hinos, e canções patrióticas, e de ambos os discursos, estiveram também,
presentes as alunas do Colégio Santos Anjos [...] À noite, e promovida pelas
autoridades escolares de Porto União, realizou-se importante marcha, em que
tomaram parte, empunhando vistosas lanternas luminosas, todos os alunos do
Ginásio São José, do Colégio Santos Anjos e do Grupo Escolar Professor Balduino
Cardoso, que, debaixo duma ordem que bem alto fala da disciplina que se mantém
nos nossos estabelecimentos escolares, ofereceram a cidade momentos de intensa
vibração cívica (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).
O referido
texto mostra uma singularidade nessa festividade. O desfile foi realizado no
período noturno, com lanternas, o que deve ter fornecido a festa ainda mais
brilhantismo e tempo para a organização. Essas festas cívicas eram planejadas
pelas autoridades e os educadores recebiam, com antecedência, as normas a serem
seguidas. Esses professores ficavam encarregados da tarefa de preparar os
estudantes de acordo com os ideais que lhes eram passados. De acordo com Silva
(2011, p. 06) dias antes das festividades o Departamento de Educação já enviava
as circulares com os detalhes que os mestres deveriam seguir. Certamente, destaca
a autora, os alunos passavam a “maior parte do tempo escolar se dedicando aos
ensaios, uma vez que eram muitas as comemorações no decorrer do ano letivo e os
programas a serem executados eram amplos. No dia 7, as festividades seguiram com
a celebração de Missa Campal, realizada pelo Rev. Frei Graciano, Vigário da
Paróquia, e à qual assistiram todas as autoridades civis e militares,
representantes da imprensa, do comércio, das indústrias, das associações
religiosas, recreativas e esportivas, escolares e grande número de fiéis.
Percebemos,
através das páginas do Jornal, que as escolas forneciam ao evento o material humano
necessário para o sucesso das festividades. Os professores e demais
funcionários das escolas eram responsáveis pela preparação dos alunos, estes e seus
familiares engrossavam a solenidade. A sociedade, em geral, se faz presente,
pois trata-se de eventos que estão fora do cotidiano rotineiro, são momentos de
encontro, conversas, como explica DaMatta (1997). Na mesma cena, que reunia variado conjunto de pessoas, “se dava o grande
espetáculo, tudo se transformava num grande teatro de euforia
coletiva” (SILVA, 2011, p. 96).
Além dessas datas, já consagradas, no Estado Novo
percebemos a inclusão de novas datas no calendário, como o aniversário de
Getúlio Vargas e do próprio Estado Novo. Podemos dialogar com Hobsbawm (1997,
p.17-19) quando discorre sobre a invenção de tradições. Para o autor,
geralmente elas ocorrem em momentos de transformações amplas e rápidas. Ele
alerta para o fato de que o propósito principal destas novas tradições “[...] é
a socialização, a inculcação de idéias, sistemas de valores e padrões de
comportamento”. As tradições
inventadas têm como objetivo “[...] inculcar nos membros de um
determinado grupo: ‘patriotismo’, ‘lealdade’, ‘dever’, ‘as regras do jogo’, ‘o
espírito escolar’, e assim por diante”.
Sobre
o aniversário de Getúlio Vargas, a partir de 1940, o dia 19 de abril, passou a
ser comemorado como data cívica nacional. No auge do governo essa data
mobilizava todo o país. Os
alunos trocavam novamente “os bancos das escolas pelos desfiles nas ruas das cidades do país em homenagem ao senhor Vargas”
(BENCOSTTA, 2006, p. 303). Em 27 de abril
de 1941, por exemplo, o jornal O Comércio publicou, na primeira página, um
extenso texto com o título: De como Porto União se associou às festas com que o
Brasil solenizou a data natalícia do Presidente Getulio Vargas.
Verificamos
que a comemoração se estendeu até o dia 21, dia consagrado a Tiradentes. O
evento teve como programa:
Missa solene – oferecida em ação de graças pelo
Rev. Frei Graciano, digno Vigário da
Paróquia, iniciou a Comissão Central o programa, por ela previamente
concertado. Seguiu-se a esse ato religioso, a que assistiram todas as
autoridades locais, escolares, e mais a totalidade da família católica desta
cidade, entusiástica Marcha popular - cujos componentes, após terem percorrido, com vistosas lanternas
luminosas, as nossas principais ruas, estacionaram na Praça Hercílio Luz, donde
através do aparelhamento eletro-acustíco da prefeitura Municipal, lhes foi
oferecida esplendida Hora cívica –
falando ai em nome do Governo do Município, o inteligente e culto Professor
Estevão Juk, que leu ao micrôfonio, substanciado trabalho de sua autoria, no
qual disse, sempre sob vibrantes aplausos da grande multidão, da vida e da obra
do preclaro aniversariante. Dessa importante parte do programa, participaram,
ainda, o pianista Felício Domit, o violinista João Nito Gaspari, além doutros
apreciados elementos do nosso meio artístico e cultural. A seguir, efetivou-se,
nos amplos salões do Clube almirante Boiteux, bem organizada Hora de arte – finda a qual, teve início
animado baile. No dia 20, na sede do Clube Náutico Iguaçu, realizou-se
magnífica Festa esportiva – durante a qual foi servida a farta churrascada (O COMÉRCIO, 1941, p.
01).
De acordo com o programa, no dia 19, houve uma missa
solene, marcha popular, hora cívica, hora da arte e animado baile. No dia
seguinte, 20 abril, ocorreu a festa esportiva, no Clube Náutico Iguaçu. As
competições esportivas foram comuns nas festividades cívicas em todo o país.
Mas, devem consideradas para além do espetáculo, pois a educação dos corpos
entrava na pauta política desse período.
Com a ajuda de Lenharo (1986, p. 75) é possível
compreender que o “corpo está na ordem do dia, e sobre ele se voltam as
atenções de médicos, educadores, professores, instituições como o exército, a
escola, os hospitais”. Toma-se consciência de que “repensar a sociedade para
transformá-la passava necessariamente pelo trato do corpo, como recurso para se
alcançar toda a integridade do ser humano”. Estamos falando de mecanismos pelos
quais visava-se a preparação do futuro corpo trabalhador do país. Havia o
interesse de inculcar, na criança, no adolescente o futuro executor de tarefas
disciplinado e satisfeito, que asseguraria o processo de industrialização
iniciado no Brasil.
No Estado Novo a educação
física era tão necessária quanto a educação intelectual. Tomando novamente a
Constituição de 1937, como fonte, especificamente o Art. 131, é possível
perceber que o ensino cívico e a Educação Física eram obrigatórios em todas as
escolas primárias, normais e secundárias. Segundo o documento “não podendo
nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que
satisfaça aquela exigência”
(BRASIL.Constituição, 1937). Percebemos que a juventude, e ainda a
classe trabalhadora, foram vistos pelo governo Vargas como a “menina dos olhos”
da Nação. Investir pesadamente nesses sujeitos, fazê-los amar a pátria e
trabalhar por ela, era construir a unidade da nação, um Estado forte.
Com a documentação e historiografia aqui utilizada
percebemos que procurou-se centralizar e coordenar a educação no país através
das reformas. Desenvolveram-se ações no sentido de disciplinar e canalizar as
massas para a direção imposta pelo regime. A escola foi entendida como locus formador das novas gerações e as
festividades cívicas escolares constituíram-se ativo arsenal pedagógico, transmissores de
uma linguagem coletiva e patriótica. Elas romperam os muros da escola em suntuosos
desfiles que aproximaram a população. Percebemos a educação sendo colocada a serviço do governo de Getulio Vargas, num
contexto de centralização política, censura e violência física e simbólica.
Para finalizar, é
importante destacar que estas páginas nada mais são do que o “resultado” das
primeiras incursões na problemática em torno das festas cívicas e os interesses
do Estado. A análise do jornal O Comércio ainda precisa ser concluída, bem como
um exame mais aprofundado sobre o intelectual ligado ao jornal, a partir de uma
bibliografia específica. Portanto, muito há para acrescentar e também corrigir
neste texto. Deste modo, o diálogo está aberto, pois entendemos que é assim que
o conhecimento histórico pode ser construído, em diálogo com outras
perspectivas, com outros interlocutores. O texto termina, mas sem ponto final...
Fontes
Jornal
O COMÉRCIO, Porto União, 27 de abril de 1941.
Jornal
O COMÉRCIO, Porto União, 10 de setembro de 1941.
Jornal
O COMÉRCIO, Porto União, 30 de novembro de 1941.
Legislação
BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de
10 de novembro de 1937.
_____. Decreto-Lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942.
Lei Orgânica do Ensino Secundário.
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Prezada Zuleide,
ResponderExcluirprimeiramente parabenizo seu trabalho e a busca das informações nos documentos escolhidos. Atualmente estudo uma escola agrícola que foi fruto das Reformas Capanema, mais especificamente da Lei Orgânica do Ensino Agrícola de 1946 e é interessante observar a intensificação e manutenção das festas cívicas nas escolas após o período do Estado Novo que abrangiam não só a comunidade escolar como toda a cidade através de desfiles e apresentações, não é mesmo? Gostaria de saber se você conseguiu estabelecer alguma relação desta proposta de educação e a “absorção” pelos sujeitos, em algum momento você identificou movimentos de resistência a essas comemorações? Algum registro de oposição as atividades por parte dos alunos ou professores nos documentos?
Abraço,
Lívia Carolina Vieira.
Olá Lívia, obrigada pela participação.
ExcluirBem, eu compartilho a ideia de Bencostta (2006) quando destaca que os sujeitos fizeram usos diferenciados dessas festividades. Ele alerta para o fato de que poderiam existir queixas antes dos desfiles, diferentes paixões e sentidos que não atendiam a um único objetivo, aquele que atendia aos interesses políticos. Estou sempre alerta para essa perspectiva.... Mas, até agora, os documentos utilizados não demonstram manifestações de resistência a essas comemorações. O jornal que utilizo como fonte exalta o brilhantismo dos eventos, a participação de todos os setores da sociedade, a ordem e a disciplina desses eventos, publicou textos que exaltam o regime, os grandes feitos de Getulio Vargas, a brilhante condução do país, etc, etc... Assim, pensei que o jornal poderia tratar essas manifestações de resistência como sentimento anti-patriotismo, destacar a ação de pessoas contrárias aos preceitos legais, aqueles que tumultuam a ordem vigente, como faz em outros assuntos... Mas, também não aparecem nas páginas desse jornal... só há louvores quando o assunto são as comemorações cívicas, o papel das escolas na formação do cidadão, na formação do novo homem para um Estado Novo. Penso que outras fontes podem revelar essa perspectiva. Estou em busca de livro de atas, materiais produzidos pelos alunos, documentos que revelem o ponto de vista dos professores para contribuir com esse debate. Resistências a ordem vigente, a um ensino voltado para o patriotismo, para os valores que se queria do cidadão certamente ocorreram e a pesquisa continua em busca dessas manifestações.
Muito obrigada pela resposta Zuleide espero reencontrá-la em outra oportunidade.
ExcluirAbraços,
Lívia Carolina Vieira.
Parabéns pelo trabalho, pois a importância de trabalhar com o aluno no que se refere as festas cívicas escolares, abre um leque de várias atividades a serem executadas onde se ensina desde a formação moral e política até a relação educativa em si.
ResponderExcluirLiliane Regina Michalski
Obrigada pela participação Liliane.
ExcluirAcredito ser extremamente importante e enriquecedor discutir essas questões no âmbito da pesquisa. Também acredito que esse tema deve ser discutido nas aulas de História do ensino fundamental e médio, pois é importante que os estudantes entendam como práticas de desfiles e comemorações cívicas foram implantadas, quais eram seus objetivos, a quem importavam. Não sou contra a realização dessas práticas, mas me incomoda o fato de que elas fazem parte do nosso cotidiano, as reproduzimos todos os anos, mas sem muita consciência dos seus significados ao longo do tempo.
Liliane Regina Michalski - e-mail liliane_michalski@ hotmail.com
ExcluirBoa noite Zuleide Matulle, achei o texto ótimo, gostaria de saber seu ponto de vista a respeito do ensino de historia atual, que mesmo sofrendo grandes mudanças, ainda possui resquícios desse ensino "tradicional"?
ResponderExcluirATT: Joelson Batista da Silva Rosa
Boa tarde Zuleide. Ótimo texto. Gostaria de salientar que sou da época dos desfiles alinhados do período militar e das exaltações cívicas nas escolas. Distancio a vivência do estudo e pergunto: Tirando o modo opressor do governo e a máquina de manobra em massa do governo, a educação não era mais priorizada do que nos dia de hoje? O modo em que saímos de uma quase total repressão para a mais absoluta liberdade não comprometeu também nossa capacidade de nos sentir verdadeiros cidadãos?
ResponderExcluirJOCELAINE DA ROSA RODRIGUES
Boa Noite,Zuleide, parabéns pelo trabalho, acho esses temas que envolvem história e a educação básica muito interessantes, além do que também creio que são pouco explorados pelos historiadores e outras ciências. Como já dito, essas datas de fato são comemoradas na escola para que de certa forma "marque" e "direcione" os alunos, mesmo através de festas. Meu questionamento, é sobre as festas que ocorrem atualmente nestas escolas, entre elas, a mais polêmica é a da "família" ou "festa do quem cuida de mim", mesmo que voltado mais para o pedagógico do que para a história de fato, a senhora acha que esses tipos de eventualidades também podem colaborar para a formação dos estudantes, os fazendo perceber as diferentes configurações de famílias ou de qualquer outro tema que se tem hoje?
ResponderExcluirAndré Alves de Lucena
andrelucena0208@hotmail.com
Olá André, obrigada pela participação. A realização de festas em homenagem a família demanda uma reflexão por si só!! Sim, acho interessante a substituição do “dia das mães” pelo “dia da família” que algumas escolas já estão realizando. Entendo que é uma comemoração mais ampla, mais dinâmica onde todos os alunos podem ser contemplados, onde as diferenças não significam exclusão. Escola não pode ser espaço de exclusão.... Acredito, como professora de História, como pesquisadora das ciências humanas, que todas as práticas (desde que bem elaboradas, com objetivos sérios e definidos) que possam contribuir para os alunos perceberem as diferenças são sempre bem vindas. A festa sempre esteve presente na história da humanidade e sempre estará - nos mais diversos setores da vida, portanto, também na escola.
ExcluirAcho realmente muito importante as festas cívicas estarem presentes no ambiente escolar, até porque se temos que ensinar a ler,escrever,somar e dividir entre outras coisas,porque não ensinar a ser cidadão e se sentir parte da história ? Os alunos precisam saber o que houve até o momento atual para que entendam as mudanças e movimentos revolucionários que nosso país enfrenta .
ResponderExcluirOlá Larissa, obrigada pela participação. Não sou contra as comemorações cívicas estarem presentes nas escolas. Pelo contrário, vejo muitas possibilidades de utilizá-las em aulas. O que me incomoda é que os desfiles e comemorações cívicas nem sempre são discutidos, nem sempre são refletidos com os alunos, apenas ensaiadas. Vejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa, que permitam relacionar presente passado, que procure por pessoas comuns ao invés de somente os heróis, que apresente outras ideias aos estudantes, que amplie seu campo de visão sobre a sociedade, que os alunos tenham condições de observar permanências e mudanças..... Assim, entendo que as comemorações e datas cívicas ganham mais sentido. É muito grande o leque de discussões que podem ser realizadas com os alunos nos momentos cívicos do nosso calendário. É um ótimo meio de visitar nosso passado recente, proporcionando aos alunos situações desafiadoras que contribuam para o desenvolvimento do pensar historicamente, pensar alem de si e de seu tempo. É importante conhecer os hinos, as datas, os personagens históricos relacionados e esses eventos.... Mas, entendo que nossos alunos precisam ter condições de contextualizar esses eventos. Acredito ser necessário compreender como práticas de desfiles e comemorações cívicas, ainda presentes em nossa cultura, foram implantadas, quais eram seus objetivos ao longo do tempo, a quem importavam, etc. Que os alunos desfilem pelas ruas das cidades em datas cívicas, mas que saibam quais seus significados em diferentes tempos... que tenham alguma consciência do que estão fazendo.... Assim, acredito que estaremos contribuindo efetivamente para a formação do cidadão.
ExcluirProfessora, nosso país possui feriados de cunho religioso, que por sinal não deveriam o ser, muitos não se identificam ou reconhecem estes feriados. Com relação à datas cívicas, um aluno que não reconhece uma data como, por exemplo, a independência do Brasil ou proclamação da república por ter uma formação anarquista e logo fazer oposição ao Estado e as fronteiras, como a senhora acreditaria ser possível protegê-lo de uma imposição da escola em fazê-lo aceitar algo que não é de sua natureza.
ResponderExcluirQuais são as duas grandes Reformas na Educação? E quais modificações elas provocaram no Ensino do país?
ResponderExcluirÉ possível trabalhar as festas cívicas de maneira reflexivas, sem voltar para uma educação mais centralizadora e pouco reflexiva. É possível comemorar uma festa cívica e não voltar aos grande heróis?
ResponderExcluirWesley Lima de Andrade
Olá Wesley, obrigada pela participação. Sim. É possível trabalhar as festas cívicas de maneira reflexiva. Vejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa, que permitam relacionar presente passado, observar permanências e mudanças, que trabalhe com pessoas comuns ao invés de somente os heróis, que apresente outras ideias aos estudantes, que amplie seu campo de visão sobre a sociedade. Importante destacar que o uso da historiografia é fundamental nesse processo e os personagens históricos ligados a esses eventos também. Mas, podemos ampliar essa discussão com fotografias disponíveis na internet que retratam um contexto nacional e aquelas que estão no arquivo da própria escola. Esses documentos retratam outros estudantes, professores e a massa da população que participaram dos desfiles. Podemos trabalhar também a partir da oralidade. O professor\professora, depois de exposições orais sobre o tema, pode construir um questionário em sala de aula, com os próprios alunos, direcionado aos pais, parentes, responsáveis, vizinhos, etc. Essas pessoas certamente participaram de muitos momentos cívicos nas décadas de 1980 e 1990, e seria interessante e enriquecedor verificar como elas vivenciaram esses eventos e quais suas ideias sobre o assunto. Entendo que assim, com essas poucas iniciativas, as festas cívicas ganham mais sentido, conseguimos fugir do culto aos heróis e dos padrões tradicionais de ensino. Essas poucas e básicas iniciativas proporcionam aos estudantes, em minha opinião, transitar pelo tempo e pelo espaço, entrar em contato com outras ideias, verificar as permanências e mudanças, quais os sentidos das comemorações cívicas ao longo do tempo sem exacerbar a participação dos heróis.
ExcluirOlá, primeiramente quero lhe dizer que este texto foi um maravilhoso trabalho seu e muito importante para que todos docentes tomem conhecimento. O texto diz que com o Estado Novo queria-se formar um mundo novo, onde se tivesse o sentimento de patriotismo e de nacionalização, deste forma desde então acontecem as festas cívicas nas escolas, mas é possível perceber que a maioria dos alunos não possuem este sentimento e os que tem vão perdendo aos poucos, o que poderia ser desenvolvido pelo professor para que esta situação fosse revertida.
ResponderExcluirMariana dos Santos Firbida
Olá, primeiramente quero lhe dizer que este texto foi um maravilhoso trabalho seu e muito importante para que todos docentes tomem conhecimento. O texto diz que com o Estado Novo queria-se formar um mundo novo, onde se tivesse o sentimento de patriotismo e de nacionalização, deste forma desde então acontecem as festas cívicas nas escolas, mas é possível perceber que a maioria dos alunos não possuem este sentimento e os que tem vão perdendo aos poucos, o que poderia ser desenvolvido pelo professor para que esta situação fosse revertida.
ResponderExcluirMariana dos Santos Firbida
Boa Noite Prof.Zuleide,
ResponderExcluir-Gostaria de saber como poderíamos trabalhar as festas cívicas em nossas escolas hoje parece uma coisa que ficou no passado mas acho que diante dos constantes escândalos de corrupção e falta de ética de políticos,governantes etc talvez fosse a hora de revermos isso,não concorda?
-O importante seria a conscientização das festas cívicas dentro de uma idéia de valores diferenciados ,não lhe parece?
Desde já ,Grato
Alfredo Coleraus Sommer.
Olá Alfredo, obrigada pela participação. Sim. A formação política dos nossos estudantes nunca foi tão necessária. Ética, cidadania, a importância do ser brasileiro (não só na Copa do Mundo), são temas que devem, em minha opinião, ser discutidos e de forma transversal. É fundamental uma orientação voltada para a formação humana, ética acima de tudo.
ExcluirVejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa. As comemorações cívicas realizadas ao longo do tempo podem ser objeto de estudo na sala de aula. Para além da historiografia sobre o assunto, sem a qual não é possível realizar um bom trabalho, podemos utilizar fotografias de contextos nacionais e locais, contrapondo-os, geralmente encontrados no arquivo da própria escola. Podemos trabalhar também com a oralidade, através de questionários direcionados aos pais, responsáveis, parentes, vizinhos dos estudantes, que podem fornecer outras ideias sobre esses eventos. É interessante buscar as pessoas nesses eventos: Como se comportavam? Como entendiam os eventos? Quais as permanências? Quais as mudanças? Quais os significados desses eventos ao longo do tempo? A quem interessavam? Assim, elas permitem relacionar presente passado, observar permanências e mudanças, trazer as pessoas comuns ao invés de somente os heróis, apresentar outras ideias aos estudantes, ampliar seu campo de visão sobre a sociedade.
Primeiramente gostaria de parabenizar seu trabalho e dizer que compartilho pelo mesmo amor pelo tema. Eu estudo a nacionalização no periodo vargas por meio da educação, tendo os manuais didáticos como fonte de pesquisa, e acho o tema riquíssimo e de grande importância para entender a fomação da nação brasileira tão discutida nas primeiras décadas da República.
ResponderExcluirAs comemorações das datas cívicas no Estado Novo tem muito nos revalar sobre a formação do governo Vargas e as suas propostas de governo. Dessa forma gostaria de saber, em sua opinião, como tais comemorações influenciaram naquilo que o governo pretendia de “formar cidadãos novos” para o Estado que se pretendia novo?
Roberta A. Avanci
Prezada professora.
ResponderExcluirAtualmente, estamos observando um processo de expansão da escola militares em parceria com a Secretaria de Educação dos estados. Como foi colocado em seu texto as mudanças "não ocorre separada dos interesses presentes em determinado período histórico. Está ligada a uma totalidade social, econômica, política e cultural". Pergunto. Ao ser dado ênfase a expansão das escolas militares com sua metodologia pautada em rituais de festas cívicas e homenagens aos heróis da Pátria,a sociedade não estaria legitimando uma educação tradicional e disciplinadora de corpos e mentes?
Mariseti C. S. Lunckes
A educação no Estado do Paraná esta em crise! Isto é fato e diversos eventos corroboram para desenvolvermos uma perspectiva bem pessimista nesse sentido, entretanto, o professor deve buscar também mecanismos que provoquem em seus alunos, bem como na sua comunidade, o interesse pela educação de uma maneira geral. Acredito que tais festas cívicas possam ser utilizadas com esse objetivo, ou seja, promover a educação e construir um senso de cidadania adequado na população de uma maneira geral. Isto é preparar os jovens bem como os adultos para a vida em sociedade, sem doutrinação ou encaminhamentos ideológicos, o cidadão precisa estar ciente de que vivemos num contexto democrático, portanto, seja na Porto União da década de 30 ou atual, seja em qualquer cidade do Paraná ou Brasil, eventos de natureza cívica precisam ser resgatados com o simples objetivo de promover educação e cidadania. A pergunta é: Como o professor, em sua singularidade, pode provocar o interesse por este tipo de evento? Quais os modelos possíveis para se realizar uma festa ou algo nesse sentido? - João Gilberto Solano.
ResponderExcluirO texto é formidável, principalmente devido a muitas dificuldades que hoje são encontradas no Ensino de História em âmbito nacional. Qual sua opinião a respeito do ensino de historia atual? Que mudanças devem ocorrer ainda? È possivel transforma-lo?
ResponderExcluirJosielia Moura Soares