Zuleide Matulle

FESTAS CÍVICAS ESCOLARES EM PORTO UNIÃO NO ESTADO NOVO

Zuleide Maria Matulle



Introdução

O presente texto tem como objetivo instigar uma reflexão sobre as determinações traçadas pelo Estado, através de um olhar micro histórico, isto é, a cidade de Porto União, no norte de Santa Catarina por meio da questão das festividades cívicas. Este trabalho busca, ainda que brevemente, perceber que tipos de escola, de ensino e de sujeitos estavam em discussão nas décadas de 1930 e 1940, durante o período do Estado Novo. Para isso, escolhemos como pano de fundo as festas cívicas escolares, uma vez que elas estiveram diretamente ligadas às “práticas educacionais vigentes na época, pois à instituição escolar cabia a responsabilidade de promover, nos jovens, os ideais do novo regime” (SILVA, 2011, p. 97).

As festas cívicas não são novidade no Estado Novo. Elas foram utilizadas por diferentes regimes, como pela Primeira República, Governo Provisório e pela Ditadura Militar, como estratégia de propaganda para o exercício do poder. No entanto, sua força foi maior em governos que exerceram “maior censura no conjunto de informações e utilizou manipulações que procuravam bloquear toda a atividade espontânea” (BENCOSTTA, 2006), como foi o caso do Estado Novo.

As festas cívicas ultrapassaram os muros da escola, fizeram circular conceitos e conhecimentos na sociedade. Pelas ruas e praças das grandes e pequenas cidades reuniam-se estudantes, professores, autoridades, imprensa e familiares, em suntuosas homenagens, por exemplo, a Semana da Pátria, ao Dia da Bandeira, e ainda, ao aniversário de Getúlio Vargas. Essas comemorações fizeram parte do processo de construção e consolidação de uma única identidade nacional. Elas deixaram heranças duradouras em todos nós, muito revelam o que somos e o que pensamos hoje.

Como fonte, selecionamos o jornal O Comércio, fundado em 11 de junho de 1931, e produzido em Porto União e com circulação no sul do Paraná e planalto norte catarinense. Essa fonte fornece ao pesquisador a pluralidade de informações, a vida cotidiana da sociedade, seus usos e costumes, informes sobre questões econômicas e políticas, etc. O jornal é um documento importante para análise histórica, pois ele “registra, comenta e participa da história, possibilitando ao historiador acompanhar o percurso dos homens (pessoas) no tempo” (CAPELATO, 1998, p. 13).

As reformas na educação...
          
As décadas de 1930 e 40 são marcadas por duas grandes reformas no ensino do país. Trata-se da Reforma Francisco Campos e a Lei Orgânica do Ensino Secundário, conhecida como Reforma Capanema. Essas reformas provocaram modificações no ensino secundário do país, nível de escolarização entre o curso primário e o ensino superior, bem como na estrutura da disciplina de História.

Segundo considerações de Dallabrida (2009, p. 185), regulamentada em 1931, a Reforma Francisco Campos instituiu em nível nacional a modernização do ensino secundário brasileiro. É característico dessa reforma, por exemplo, medidas como o acréscimo no número de anos do curso e divisão em dois ciclos, um fundamental, de cinco anos e outro complementar, de dois anos. É notável também a seriação do currículo que promovia a progressão dos saberes, bem como “a frequência obrigatória dos alunos, a imposição de um detalhado e regular sistema de avaliação discente e a reestruturação do sistema de inspeção federal” (DALLABRIDA, 2009). Essas medidas romperam com o regime de cursos preparatórios e de exames parcelados que vinham ocorrendo no Brasil, no Império e Primeira República, em que aluno realizava apenas uma avaliação final.

Essas modificações procuravam estimular o trabalho progressivo do aluno, uniformizar e controlar a educação no país. Buscava-se produzir “estudantes secundaristas regulados e produtivos, em sintonia com a sociedade disciplinar e capitalista que se consolidava, no Brasil, nos anos de 1930” (DALLABRIDA, 2009, p. 185). Com a Reforma verificamos, grosso modo: a expansão do sistema educacional, a regulamentação e centralização no Ministério da Educação e Saúde Pública, passando a exercer maior intervenção nos assuntos relacionados à educação.

Em 1942, entra em vigor a Reforma Capanema implantada pelo Ministro Gustavo Capanema. Essa reforma é fruto do Estado Novo, a fase da centralização política e do autoritarismo. O interesse pela educação, bem como pela disciplina escolar de História, intensificou-se. Capanema organizou o ensino industrial, instituiu o SENAI, reformou o ensino comercial. Entretanto, a educação secundária foi aquela em que o Ministério deixaria sua marca mais profunda e duradoura. O Decreto de 9 de abril de 1942, organizou o ensino secundário em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial, com três anos. Este último ciclo oferecia aos estudantes duas opções: o Clássico, voltado mais para as letras e humanidades e o Científico voltado mais para a Matemática e as Ciências.  

Nessa reforma verificamos que a formação escolar dos estudantes teve como aspecto central o patriotismo. Para Capanema o ensino secundário deveria ser “um ensino patriótico por excelência”. Um ensino capaz de dar ao adolescente “a compreensão dos problemas e das necessidades, da missão, dos ideais da nação e bem assim dos perigos que a acompanham, cerquem ou ameacem”. Um ensino que seja capaz “de criar, no espírito das gerações novas a consciência da responsabilidade diante dos valores maiores da pátria, a sua independência, a sua ordem, e seu destino” (HORTA, 2010, p. 59). Trata-se de uma educação voltada aos interesses do governo vigente em um contexto de transformação.

Nas novas instruções a disciplina de História e os conteúdos de História do Brasil foram entendidos como instrumentos que poderiam contribuir para o desenvolvimento do projeto nacionalista, ou seja, importantes à formação do povo, bem como sua unidade cultural. Para Capanema, por exemplo, havia “ensino de matérias que formam o espírito do cidadão, do patriota. Essas matérias serão ensinadas na Geografia e História do Brasil” (HORTA, 2010, p. 159). O discurso de Capanema nos faz perceber o papel desta disciplina: despertar o tão importante sentimento de pátria, espírito cívico e patriótico, forjando a Nação.

Exaltar a pátria e formar o cidadão: as festas cívicas que agitaram as escolas, ruas e praças de Porto União

O Estado Novo investiu na educação, entendida como uma das principais dimensões estratégicas para viabilizar o projeto nacionalizador. A educação, bem planejada segundo os ideias do regime e disseminada em todo o país é capaz de garantir a ordem e a disciplina. Para Bomeny, por exemplo, a educação:

“talvez seja uma das traduções mais fiéis daquilo que o Estado Novo pretendeu no Brasil. Formar um “homem novo” para um Estado Novo, conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade, fortalecer a identidade do trabalhador, ou por outra, forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro”. (BOMENY, 2011, p. 139).

Mais que isso, o Estado Novo é particularmente interessante no que diz respeito a ações do Estado no sentido de “orientar o ensino de História para a formação moral e política” (FONSECA, 2011, p. 72). Podemos destacar, como parte dessa estratégia, a posição de relevo que episódios e personagens da história do Brasil alcançaram: como Tiradentes, por exemplo, e a produção de livros didáticos e cartilhas com versões orientadas da história da nação. Financiado pelo Departamento de Propaganda do governo, o mercado editorial brasileiro publicou inúmeros livros com conteúdos cívicos e biografias de Getúlio Vargas, que revelam o patriotismo exacerbado do regime e a escola como uma instituição ideal para a formação cívica.

Importante destacar que, aqui, entendemos a escola e o ensino não apenas como a relação educativa que envolve professor-aluno e métodos de ensinar na sala de aula da escola formal. Entendemos que refletir sobre educação escolar é refletir sobre um organismo vivo. Todos se envolvem com ela seja para aprender ou ensinar. Ela não ocorre separada dos interesses presentes em determinado período histórico. Está ligada a uma totalidade social, econômica, política e cultural. Para Chervel (1990, p. 187), por exemplo, grandes objetivos da sociedade, em diferentes períodos, “não deixam de determinar os conteúdos do ensino tanto quanto às grandes orientações estruturais”.

Entendemos que o ensino ocorre nos mais diversos espaços e práticas educacionais. É o que as festas cívicas sugerem. Essas festividades podem ser destacadas como instrumentos transmissores dos valores do regime vigente, cumprindo um papel educativo, pois constituem tempo de atividade educativa, tempo de aprender. Concordamos com Fonseca (2011, p. 73) quando explica que a festa cívica “constitui exteriorização dos valores inscritos no ensino de uma história nacionalista e, ao envolver a escola, cumpre seu papel educador, de acordo com os interesses de seus organizadores”.

Por meio dos desfiles e festividades, que se iniciavam na escola, o espírito cívico e patriótico atingia as crianças, os jovens e adultos, cumprindo o objetivo de despertar na população a imagem de um país harmônico, coeso, administrado por um chefe competente. Claro que nem tudo o que foi proposto na legislação educacional ocorreu na prática. Não podemos desconsiderar o fato de que os sujeitos fizeram usos diferenciados dessas festividades, poderiam “existir queixas antes dos desfiles, diferentes paixões e sentidos que não atendiam a um único objetivo, aquele que atendia aos interesses políticos (BENCOSTTA, 2006). Entretanto, a análise desses eventos pode revelar um pouco sobre as representações de escola, de ensino e de sujeitos que estavam em pauta nas décadas de 1930 e 1940.

No calendário de festas cívicas há várias datas comemoradas com ênfase em todo país como, por exemplo, o dia 10 de novembro em comemoração ao aniversário do Estado Novo, o Dia do Trabalho, o Dia da Árvore, o Dia da Juventude e o Dia da Raça. Também faz parte desse calendário cívico o Dia da Bandeira (19 de novembro), a Semana da Pátria (7 de setembro) e o aniversário de Getulio Vargas (19 de abril). Como não possuímos espaço para analisar pormenorizadamente todas essas datas, escolhemos discorrer, neste texto, sobre as três últimas, pois elas aparecem com ênfase nas páginas do jornal. 

Então, vamos a elas. O Dia da Bandeira era especial para o Governo e deveria ser celebrada em público, com hasteamento do Pavilhão Nacional e desfiles pelas ruas das cidades. Esse culto, que teve início em 1908, era significativo para o Estado Novo, pois era visto como um instrumento capaz de fomentar a coesão nacional. Tanto é, que Getúlio Vargas proibiu a ostentação de símbolos estaduais. Na Constituição de 1937, no que se refere à Organização Nacional, observamos no Art. 2° que “A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais são de uso obrigatório em todo o país. Não haverá outras bandeiras, hinos, escudos e armas. A lei regulará o uso dos símbolos nacionais” (BRASIL. Constituição, 1937).

A preocupação era fortalecer a Nação, direcionar a população para a Pátria, unindo-o debaixo de um único pendão. Essa ideia pode ser observada no discurso proferido por Bernardete Muniz, aluna do Colégio São José, de Porto União, na solenidade do Dia da Bandeira, em 1941. O Jornal reproduziu o seguinte trecho desse discurso:
  
Brasileiros! Duas palavras a Nossa Bandeira. Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros, ao encerrar a sua brilhante oração a Bandeira, diz: Bendita, sejas, exclama ainda a mocidade brasileira, no dia de hoje. Bandeira do meu Brasil! Com a pobreza de minhas palavras, quero cantar-te: Como és linda, quando te agitas ao sopro da brisa! És bela como o límpido firmamento, e pura como a açucena dos vales. Simbolizas a riqueza do Brasil, e seu brilhante porvir. O teu verde representa as nossas florestas, as nossas campinas, e os nossos arvoredos, esperanças dos filhos não (ilegível). O teu azul celeste é o nosso céu e os nossos mares, e, no dizer do poeta, o teu Cruzeiro do sul é a nossa história. És o símbolo de uma nação, a insígnia de um povo. Em resumo: representas o passado, o presente e o futuro deste país rico e majestoso. Bandeira! Surgiste naquela manhã dourada do 15 de novembro de 1889, em que, como Deodoro e nos próceres da campanha republicana ás demais nações americanas, completou no Continente o quadro democrático [grifo nosso] (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).

O discurso da aluna representa bem a ideia expressada na Constituição de 1937. A aluna destaca, por exemplo, que a Bandeira Nacional “És o símbolo de uma Nação, a insígnia de um povo”, que transmite uma ideia de unidade. Sobre a importância do Dia da Bandeira para o Estado Novo, é importante destacar que Vargas decretou a queima pública dos pavilhões regionais. Essa ação buscava, “evitar a valorização de regionalismos e dar maior ênfase ao nacional, era importante aguçar o sentimento de brasilidade, de amor e respeito pela Pátria” (SILVA, 2011, p. 88). Esse primeiro evento ocorreu na capital Federal, em novembro de 1937, no mesmo mês da implantação do Estado Novo, no Dia da Bandeira.

As festividades eram compostas de desfiles pelas ruas principais das cidades, hasteamento solene da Bandeira, vocalização do Hino Nacional, cações e poesias, bem como atividades esportivas. A programação era extensa e nesses dias de festa as ruas centrais das duas cidades ganhavam vida logo pela manhã. O jornal O Comércio descrevia todo o ritual em longos textos, ricos em detalhes e adjetivos.

Em 30 de novembro de 1941, por exemplo, com o título: Ecos da solenidade do Dia da Bandeira, na primeira página, o Jornal destacou que ao amanhecer do dia 19, a cidade apresentou-se em festa, “vendo-se, então, não só nas repartições públicas, mas também, à frente de inúmeras casas comerciais, e em outras de moradia familiar, o Pavilhão Nacional, que, ao sopro da forte brisa, tremulava, meigo e soberano” (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).  

Com a ajuda da natureza, que proporcionou um dia magnífico, as solenidades comemorativas do Dia da Bandeira tiveram excepcional brilhantismo. Segundo nossa fonte:

Às nove horas, procedeu-se, na Praça Hercílio Luz, ao hasteamento solene da Bandeira, estando aí presentes todas as autoridades locais, professores e alunos do Colégio São José, Grupo Escolar Balduino Cardoso, os associados do Clube de Ginástica, representantes de várias associações classistas, do clero, da imprensa, além de extraordinário número de exmas. famílias. A seguir levou-se a efeito imponente desfile escolar, cujos componentes percorreram as principais ruas desta e da visinha cidade de União da Vitória, causando a organização, ordem e disciplina justos louvores do público (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).


O Dia da Bandeira, nas décadas de 30 e 40, era dia de estudantes, familiares, a população em geral, nas ruas das cidades em confraternização. As festas escolares tornaram-se “momentos especiais na vida das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o culto à pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes” (SOUZA, 1998, p. 259). Era hora de exercitar o patriotismo esperado pelas autoridades.

Outra festa cívica levada a efeito em todo país pelo Governo é o Dia da Pátria, ou Semana da Pátria. No período republicano foi a data cívica mais importante e ainda hoje é a mais comemorada nas escolas. Trata-se de uma data que diz respeito a um evento histórico específico, um rito histórico de passagem “entre o mundo colonial e o mundo da liberdade e da autodeterminação, como explica Da Matta (1997, p. 54).

Comemorações Cívicas - foi o título que o Jornal utilizou para publicar, na primeira página, os resultados das festividades referentes ao Dia Independência Política em Porto União, iniciadas no dia cinco. O jornal destaca que a solenidade teve início no Ginásio São José e:


[...] tiveram estas, excelente êxito, o que demonstrou, mais uma vez, a grandeza e a utilidade desse novel estabelecimento de ensino secundário, que tem à sua frente, como verdadeiros guardas, as vontades inquebrantáveis do Frei Bertino e do Inspetor Elpidio Silva. A essa solenidade, que constou do hasteamento da Bandeira Nacional, na fachada principal do edifício do Ginásio, vocalização de hinos, e canções patrióticas, e de ambos os discursos, estiveram também, presentes as alunas do Colégio Santos Anjos [...] À noite, e promovida pelas autoridades escolares de Porto União, realizou-se importante marcha, em que tomaram parte, empunhando vistosas lanternas luminosas, todos os alunos do Ginásio São José, do Colégio Santos Anjos e do Grupo Escolar Professor Balduino Cardoso, que, debaixo duma ordem que bem alto fala da disciplina que se mantém nos nossos estabelecimentos escolares, ofereceram a cidade momentos de intensa vibração cívica (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).


O referido texto mostra uma singularidade nessa festividade. O desfile foi realizado no período noturno, com lanternas, o que deve ter fornecido a festa ainda mais brilhantismo e tempo para a organização. Essas festas cívicas eram planejadas pelas autoridades e os educadores recebiam, com antecedência, as normas a serem seguidas. Esses professores ficavam encarregados da tarefa de preparar os estudantes de acordo com os ideais que lhes eram passados. De acordo com Silva (2011, p. 06) dias antes das festividades o Departamento de Educação já enviava as circulares com os detalhes que os mestres deveriam seguir. Certamente, destaca a autora, os alunos passavam a “maior parte do tempo escolar se dedicando aos ensaios, uma vez que eram muitas as comemorações no decorrer do ano letivo e os programas a serem executados eram amplos. No dia 7, as festividades seguiram com a celebração de Missa Campal, realizada pelo Rev. Frei Graciano, Vigário da Paróquia, e à qual assistiram todas as autoridades civis e militares, representantes da imprensa, do comércio, das indústrias, das associações religiosas, recreativas e esportivas, escolares e grande número de fiéis.

Percebemos, através das páginas do Jornal, que as escolas forneciam ao evento o material humano necessário para o sucesso das festividades. Os professores e demais funcionários das escolas eram responsáveis pela preparação dos alunos, estes e seus familiares engrossavam a solenidade. A sociedade, em geral, se faz presente, pois trata-se de eventos que estão fora do cotidiano rotineiro, são momentos de encontro, conversas, como explica DaMatta (1997). Na mesma cena, que reunia variado conjunto de pessoas, “se dava o grande espetáculo, tudo se transformava num grande teatro de euforia coletiva” (SILVA, 2011, p. 96).

Além dessas datas, já consagradas, no Estado Novo percebemos a inclusão de novas datas no calendário, como o aniversário de Getúlio Vargas e do próprio Estado Novo. Podemos dialogar com Hobsbawm (1997, p.17-19) quando discorre sobre a invenção de tradições. Para o autor, geralmente elas ocorrem em momentos de transformações amplas e rápidas. Ele alerta para o fato de que o propósito principal destas novas tradições “[...] é a socialização, a inculcação de idéias, sistemas de valores e padrões de comportamento”. As tradições inventadas têm como objetivo “[...] inculcar nos membros de um determinado grupo: ‘patriotismo’, ‘lealdade’, ‘dever’, ‘as regras do jogo’, ‘o espírito escolar’, e assim por diante”.

Sobre o aniversário de Getúlio Vargas, a partir de 1940, o dia 19 de abril, passou a ser comemorado como data cívica nacional. No auge do governo essa data mobilizava todo o país. Os alunos trocavam novamente “os bancos das escolas pelos desfiles nas ruas das cidades do país em homenagem ao senhor Vargas” (BENCOSTTA, 2006, p. 303). Em 27 de abril de 1941, por exemplo, o jornal O Comércio publicou, na primeira página, um extenso texto com o título: De como Porto União se associou às festas com que o Brasil solenizou a data natalícia do Presidente Getulio Vargas.

Verificamos que a comemoração se estendeu até o dia 21, dia consagrado a Tiradentes. O evento teve como programa: 

Missa solene – oferecida em ação de graças pelo Rev. Frei Graciano, digno Vigário da Paróquia, iniciou a Comissão Central o programa, por ela previamente concertado. Seguiu-se a esse ato religioso, a que assistiram todas as autoridades locais, escolares, e mais a totalidade da família católica desta cidade, entusiástica Marcha popular - cujos componentes, após terem percorrido, com vistosas lanternas luminosas, as nossas principais ruas, estacionaram na Praça Hercílio Luz, donde através do aparelhamento eletro-acustíco da prefeitura Municipal, lhes foi oferecida esplendida Hora cívica – falando ai em nome do Governo do Município, o inteligente e culto Professor Estevão Juk, que leu ao micrôfonio, substanciado trabalho de sua autoria, no qual disse, sempre sob vibrantes aplausos da grande multidão, da vida e da obra do preclaro aniversariante. Dessa importante parte do programa, participaram, ainda, o pianista Felício Domit, o violinista João Nito Gaspari, além doutros apreciados elementos do nosso meio artístico e cultural. A seguir, efetivou-se, nos amplos salões do Clube almirante Boiteux, bem organizada Hora de arte – finda a qual, teve início animado baile. No dia 20, na sede do Clube Náutico Iguaçu, realizou-se magnífica Festa esportiva – durante a qual foi servida a farta churrascada (O COMÉRCIO, 1941, p. 01).


De acordo com o programa, no dia 19, houve uma missa solene, marcha popular, hora cívica, hora da arte e animado baile. No dia seguinte, 20 abril, ocorreu a festa esportiva, no Clube Náutico Iguaçu. As competições esportivas foram comuns nas festividades cívicas em todo o país. Mas, devem consideradas para além do espetáculo, pois a educação dos corpos entrava na pauta política desse período.    

Com a ajuda de Lenharo (1986, p. 75) é possível compreender que o “corpo está na ordem do dia, e sobre ele se voltam as atenções de médicos, educadores, professores, instituições como o exército, a escola, os hospitais”. Toma-se consciência de que “repensar a sociedade para transformá-la passava necessariamente pelo trato do corpo, como recurso para se alcançar toda a integridade do ser humano”. Estamos falando de mecanismos pelos quais visava-se a preparação do futuro corpo trabalhador do país. Havia o interesse de inculcar, na criança, no adolescente o futuro executor de tarefas disciplinado e satisfeito, que asseguraria o processo de industrialização iniciado no Brasil.      

No Estado Novo a educação física era tão necessária quanto a educação intelectual. Tomando novamente a Constituição de 1937, como fonte, especificamente o Art. 131, é possível perceber que o ensino cívico e a Educação Física eram obrigatórios em todas as escolas primárias, normais e secundárias. Segundo o documento “não podendo nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que satisfaça aquela exigência”  (BRASIL.Constituição, 1937). Percebemos que a juventude, e ainda a classe trabalhadora, foram vistos pelo governo Vargas como a “menina dos olhos” da Nação. Investir pesadamente nesses sujeitos, fazê-los amar a pátria e trabalhar por ela, era construir a unidade da nação, um Estado forte.

Com a documentação e historiografia aqui utilizada percebemos que procurou-se centralizar e coordenar a educação no país através das reformas. Desenvolveram-se ações no sentido de disciplinar e canalizar as massas para a direção imposta pelo regime. A escola foi entendida como locus formador das novas gerações e as festividades cívicas escolares constituíram-se ativo arsenal pedagógico, transmissores de uma linguagem coletiva e patriótica. Elas romperam os muros da escola em suntuosos desfiles que aproximaram a população. Percebemos a educação sendo colocada a serviço do governo de Getulio Vargas, num contexto de centralização política, censura e violência física e simbólica. 

Para finalizar, é importante destacar que estas páginas nada mais são do que o “resultado” das primeiras incursões na problemática em torno das festas cívicas e os interesses do Estado. A análise do jornal O Comércio ainda precisa ser concluída, bem como um exame mais aprofundado sobre o intelectual ligado ao jornal, a partir de uma bibliografia específica. Portanto, muito há para acrescentar e também corrigir neste texto. Deste modo, o diálogo está aberto, pois entendemos que é assim que o conhecimento histórico pode ser construído, em diálogo com outras perspectivas, com outros interlocutores. O texto termina, mas sem ponto final...     

Fontes

Jornal O COMÉRCIO, Porto União, 27 de abril de 1941.
Jornal O COMÉRCIO, Porto União, 10 de setembro de 1941.  
Jornal O COMÉRCIO, Porto União, 30 de novembro de 1941.

Legislação

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novembro de 1937.
_____. Decreto-Lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942. Lei Orgânica do Ensino Secundário.

Referências

BENCOSTTA, Marcus Levy Albino. Desfiles Patrióticos: memória e cultura cívica dos grupos escolares de Curitiba (1903-1971). VIDAL, Diana Gonçalves, (org.). In: Grupos Escolares: cultura escolar primária e escolarização da infância no Brasil (1893-1971). Campinas, SP: Mercado de Letras, 2006.
BOMENY, Helena M. B. Três decretos e um ministério: a propósito da educação no Estado Novo. In: PANDOLFI, Dulce. Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999.
CAPELATO, Maria Helena. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo, SP: Contexto, 1998.
______. Propaganda política e controle dos meios de comunicação. In: PANDOLFI, Dulce. Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999.
CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Revista Teoria & Educação. Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1990.
DALLABRIDA, Norberto. A reforma Francisco Campos e a modernização nacionalizada do ensino secundário. In: Educação, Porto Alegre, v. 32, n. 2, p. 185-191, maio/ago. 2009.
 DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6° Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
FAGUNDES, José; RIBAS, Joaquim O. Monografia de Porto União: Hermínio Milis. Palmas: Kaygangue, 2002. Coleção Vale do Iguaçu.
GASPARI, Leni Trentim. Imagens femininas nas “Gêmeas do Iguaçu” nos anos 40 e 50. União da Vitória. Kaygangue, 2005. Coleção Vale do Iguaçu.
HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Orgs.). A Invenção das tradições. Tradução de Celina Cardim Cavalcante. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
HORTA, José Silvério Baia. Gustavo Capanema. Recife: Fundação Joaquim Nabuco - Editora Massangana, 2010.
FONSECA, Thais Nivia de Lima. História e Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.  
LENHARO, Alcir. Sacralização da política. Campinas: Papirus, 1986.    
RIESEMBERG, Alvir. A instalação humana no Vale do Iguaçu. [S.l.: s.n.], 1973.
SILVA, Cleto da. Apontamentos históricos de União da Vitória (1768-1933). Curitiba: Imprensa Oficial, 2006.
SILVA, Vânia Cristina. Ó pátria amada, idolatrada, salve! salve! Festas escolares e comemorações cívicas na Paraíba (1937-1945). João Pessoa: [s.n.], 2011. Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA.
SOUZA, R. F. de. Templos de civilização: a implantação da escola primária graduada no estado de São Paulo. (1890-1910). Ed. Unesp, 1998.
STENTZLER, Márcia Marlene. Educação em União da Vitória: do projeto para a escola pública como direito de todos à escola normal secundária formando professores. In: IX Congresso Nacional de Educação EDUCERE, III Encontro sul Brasileiro de Psicopedagogia PUCPR, 2009.  

TONON, Eloy. 2012: Centenário da Guerra do Contestado. Palmas: Kaygangue, 2012.

24 comentários:

  1. Prezada Zuleide,

    primeiramente parabenizo seu trabalho e a busca das informações nos documentos escolhidos. Atualmente estudo uma escola agrícola que foi fruto das Reformas Capanema, mais especificamente da Lei Orgânica do Ensino Agrícola de 1946 e é interessante observar a intensificação e manutenção das festas cívicas nas escolas após o período do Estado Novo que abrangiam não só a comunidade escolar como toda a cidade através de desfiles e apresentações, não é mesmo? Gostaria de saber se você conseguiu estabelecer alguma relação desta proposta de educação e a “absorção” pelos sujeitos, em algum momento você identificou movimentos de resistência a essas comemorações? Algum registro de oposição as atividades por parte dos alunos ou professores nos documentos?

    Abraço,

    Lívia Carolina Vieira.

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    1. Olá Lívia, obrigada pela participação.
      Bem, eu compartilho a ideia de Bencostta (2006) quando destaca que os sujeitos fizeram usos diferenciados dessas festividades. Ele alerta para o fato de que poderiam existir queixas antes dos desfiles, diferentes paixões e sentidos que não atendiam a um único objetivo, aquele que atendia aos interesses políticos. Estou sempre alerta para essa perspectiva.... Mas, até agora, os documentos utilizados não demonstram manifestações de resistência a essas comemorações. O jornal que utilizo como fonte exalta o brilhantismo dos eventos, a participação de todos os setores da sociedade, a ordem e a disciplina desses eventos, publicou textos que exaltam o regime, os grandes feitos de Getulio Vargas, a brilhante condução do país, etc, etc... Assim, pensei que o jornal poderia tratar essas manifestações de resistência como sentimento anti-patriotismo, destacar a ação de pessoas contrárias aos preceitos legais, aqueles que tumultuam a ordem vigente, como faz em outros assuntos... Mas, também não aparecem nas páginas desse jornal... só há louvores quando o assunto são as comemorações cívicas, o papel das escolas na formação do cidadão, na formação do novo homem para um Estado Novo. Penso que outras fontes podem revelar essa perspectiva. Estou em busca de livro de atas, materiais produzidos pelos alunos, documentos que revelem o ponto de vista dos professores para contribuir com esse debate. Resistências a ordem vigente, a um ensino voltado para o patriotismo, para os valores que se queria do cidadão certamente ocorreram e a pesquisa continua em busca dessas manifestações.

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    2. Muito obrigada pela resposta Zuleide espero reencontrá-la em outra oportunidade.
      Abraços,
      Lívia Carolina Vieira.

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  2. Parabéns pelo trabalho, pois a importância de trabalhar com o aluno no que se refere as festas cívicas escolares, abre um leque de várias atividades a serem executadas onde se ensina desde a formação moral e política até a relação educativa em si.
    Liliane Regina Michalski

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    1. Obrigada pela participação Liliane.
      Acredito ser extremamente importante e enriquecedor discutir essas questões no âmbito da pesquisa. Também acredito que esse tema deve ser discutido nas aulas de História do ensino fundamental e médio, pois é importante que os estudantes entendam como práticas de desfiles e comemorações cívicas foram implantadas, quais eram seus objetivos, a quem importavam. Não sou contra a realização dessas práticas, mas me incomoda o fato de que elas fazem parte do nosso cotidiano, as reproduzimos todos os anos, mas sem muita consciência dos seus significados ao longo do tempo.

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    2. Liliane Regina Michalski - e-mail liliane_michalski@ hotmail.com

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  3. Boa noite Zuleide Matulle, achei o texto ótimo, gostaria de saber seu ponto de vista a respeito do ensino de historia atual, que mesmo sofrendo grandes mudanças, ainda possui resquícios desse ensino "tradicional"?
    ATT: Joelson Batista da Silva Rosa

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  4. Boa tarde Zuleide. Ótimo texto. Gostaria de salientar que sou da época dos desfiles alinhados do período militar e das exaltações cívicas nas escolas. Distancio a vivência do estudo e pergunto: Tirando o modo opressor do governo e a máquina de manobra em massa do governo, a educação não era mais priorizada do que nos dia de hoje? O modo em que saímos de uma quase total repressão para a mais absoluta liberdade não comprometeu também nossa capacidade de nos sentir verdadeiros cidadãos?

    JOCELAINE DA ROSA RODRIGUES

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  5. Boa Noite,Zuleide, parabéns pelo trabalho, acho esses temas que envolvem história e a educação básica muito interessantes, além do que também creio que são pouco explorados pelos historiadores e outras ciências. Como já dito, essas datas de fato são comemoradas na escola para que de certa forma "marque" e "direcione" os alunos, mesmo através de festas. Meu questionamento, é sobre as festas que ocorrem atualmente nestas escolas, entre elas, a mais polêmica é a da "família" ou "festa do quem cuida de mim", mesmo que voltado mais para o pedagógico do que para a história de fato, a senhora acha que esses tipos de eventualidades também podem colaborar para a formação dos estudantes, os fazendo perceber as diferentes configurações de famílias ou de qualquer outro tema que se tem hoje?

    André Alves de Lucena
    andrelucena0208@hotmail.com

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    1. Olá André, obrigada pela participação. A realização de festas em homenagem a família demanda uma reflexão por si só!! Sim, acho interessante a substituição do “dia das mães” pelo “dia da família” que algumas escolas já estão realizando. Entendo que é uma comemoração mais ampla, mais dinâmica onde todos os alunos podem ser contemplados, onde as diferenças não significam exclusão. Escola não pode ser espaço de exclusão.... Acredito, como professora de História, como pesquisadora das ciências humanas, que todas as práticas (desde que bem elaboradas, com objetivos sérios e definidos) que possam contribuir para os alunos perceberem as diferenças são sempre bem vindas. A festa sempre esteve presente na história da humanidade e sempre estará - nos mais diversos setores da vida, portanto, também na escola.

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  6. Acho realmente muito importante as festas cívicas estarem presentes no ambiente escolar, até porque se temos que ensinar a ler,escrever,somar e dividir entre outras coisas,porque não ensinar a ser cidadão e se sentir parte da história ? Os alunos precisam saber o que houve até o momento atual para que entendam as mudanças e movimentos revolucionários que nosso país enfrenta .

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    1. Olá Larissa, obrigada pela participação. Não sou contra as comemorações cívicas estarem presentes nas escolas. Pelo contrário, vejo muitas possibilidades de utilizá-las em aulas. O que me incomoda é que os desfiles e comemorações cívicas nem sempre são discutidos, nem sempre são refletidos com os alunos, apenas ensaiadas. Vejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa, que permitam relacionar presente passado, que procure por pessoas comuns ao invés de somente os heróis, que apresente outras ideias aos estudantes, que amplie seu campo de visão sobre a sociedade, que os alunos tenham condições de observar permanências e mudanças..... Assim, entendo que as comemorações e datas cívicas ganham mais sentido. É muito grande o leque de discussões que podem ser realizadas com os alunos nos momentos cívicos do nosso calendário. É um ótimo meio de visitar nosso passado recente, proporcionando aos alunos situações desafiadoras que contribuam para o desenvolvimento do pensar historicamente, pensar alem de si e de seu tempo. É importante conhecer os hinos, as datas, os personagens históricos relacionados e esses eventos.... Mas, entendo que nossos alunos precisam ter condições de contextualizar esses eventos. Acredito ser necessário compreender como práticas de desfiles e comemorações cívicas, ainda presentes em nossa cultura, foram implantadas, quais eram seus objetivos ao longo do tempo, a quem importavam, etc. Que os alunos desfilem pelas ruas das cidades em datas cívicas, mas que saibam quais seus significados em diferentes tempos... que tenham alguma consciência do que estão fazendo.... Assim, acredito que estaremos contribuindo efetivamente para a formação do cidadão.

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  7. Professora, nosso país possui feriados de cunho religioso, que por sinal não deveriam o ser, muitos não se identificam ou reconhecem estes feriados. Com relação à datas cívicas, um aluno que não reconhece uma data como, por exemplo, a independência do Brasil ou proclamação da república por ter uma formação anarquista e logo fazer oposição ao Estado e as fronteiras, como a senhora acreditaria ser possível protegê-lo de uma imposição da escola em fazê-lo aceitar algo que não é de sua natureza.

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  8. Quais são as duas grandes Reformas na Educação? E quais modificações elas provocaram no Ensino do país?

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  9. É possível trabalhar as festas cívicas de maneira reflexivas, sem voltar para uma educação mais centralizadora e pouco reflexiva. É possível comemorar uma festa cívica e não voltar aos grande heróis?

    Wesley Lima de Andrade

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    1. Olá Wesley, obrigada pela participação. Sim. É possível trabalhar as festas cívicas de maneira reflexiva. Vejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa, que permitam relacionar presente passado, observar permanências e mudanças, que trabalhe com pessoas comuns ao invés de somente os heróis, que apresente outras ideias aos estudantes, que amplie seu campo de visão sobre a sociedade. Importante destacar que o uso da historiografia é fundamental nesse processo e os personagens históricos ligados a esses eventos também. Mas, podemos ampliar essa discussão com fotografias disponíveis na internet que retratam um contexto nacional e aquelas que estão no arquivo da própria escola. Esses documentos retratam outros estudantes, professores e a massa da população que participaram dos desfiles. Podemos trabalhar também a partir da oralidade. O professor\professora, depois de exposições orais sobre o tema, pode construir um questionário em sala de aula, com os próprios alunos, direcionado aos pais, parentes, responsáveis, vizinhos, etc. Essas pessoas certamente participaram de muitos momentos cívicos nas décadas de 1980 e 1990, e seria interessante e enriquecedor verificar como elas vivenciaram esses eventos e quais suas ideias sobre o assunto. Entendo que assim, com essas poucas iniciativas, as festas cívicas ganham mais sentido, conseguimos fugir do culto aos heróis e dos padrões tradicionais de ensino. Essas poucas e básicas iniciativas proporcionam aos estudantes, em minha opinião, transitar pelo tempo e pelo espaço, entrar em contato com outras ideias, verificar as permanências e mudanças, quais os sentidos das comemorações cívicas ao longo do tempo sem exacerbar a participação dos heróis.

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  10. Olá, primeiramente quero lhe dizer que este texto foi um maravilhoso trabalho seu e muito importante para que todos docentes tomem conhecimento. O texto diz que com o Estado Novo queria-se formar um mundo novo, onde se tivesse o sentimento de patriotismo e de nacionalização, deste forma desde então acontecem as festas cívicas nas escolas, mas é possível perceber que a maioria dos alunos não possuem este sentimento e os que tem vão perdendo aos poucos, o que poderia ser desenvolvido pelo professor para que esta situação fosse revertida.
    Mariana dos Santos Firbida

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  11. Olá, primeiramente quero lhe dizer que este texto foi um maravilhoso trabalho seu e muito importante para que todos docentes tomem conhecimento. O texto diz que com o Estado Novo queria-se formar um mundo novo, onde se tivesse o sentimento de patriotismo e de nacionalização, deste forma desde então acontecem as festas cívicas nas escolas, mas é possível perceber que a maioria dos alunos não possuem este sentimento e os que tem vão perdendo aos poucos, o que poderia ser desenvolvido pelo professor para que esta situação fosse revertida.
    Mariana dos Santos Firbida

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  12. Alfredo Coleraus Sommer10 de março de 2016 às 15:47

    Boa Noite Prof.Zuleide,
    -Gostaria de saber como poderíamos trabalhar as festas cívicas em nossas escolas hoje parece uma coisa que ficou no passado mas acho que diante dos constantes escândalos de corrupção e falta de ética de políticos,governantes etc talvez fosse a hora de revermos isso,não concorda?
    -O importante seria a conscientização das festas cívicas dentro de uma idéia de valores diferenciados ,não lhe parece?
    Desde já ,Grato
    Alfredo Coleraus Sommer.

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    1. Olá Alfredo, obrigada pela participação. Sim. A formação política dos nossos estudantes nunca foi tão necessária. Ética, cidadania, a importância do ser brasileiro (não só na Copa do Mundo), são temas que devem, em minha opinião, ser discutidos e de forma transversal. É fundamental uma orientação voltada para a formação humana, ética acima de tudo.

      Vejo possibilidades de fazer dessas comemorações momentos de aprendizagem significativa. As comemorações cívicas realizadas ao longo do tempo podem ser objeto de estudo na sala de aula. Para além da historiografia sobre o assunto, sem a qual não é possível realizar um bom trabalho, podemos utilizar fotografias de contextos nacionais e locais, contrapondo-os, geralmente encontrados no arquivo da própria escola. Podemos trabalhar também com a oralidade, através de questionários direcionados aos pais, responsáveis, parentes, vizinhos dos estudantes, que podem fornecer outras ideias sobre esses eventos. É interessante buscar as pessoas nesses eventos: Como se comportavam? Como entendiam os eventos? Quais as permanências? Quais as mudanças? Quais os significados desses eventos ao longo do tempo? A quem interessavam? Assim, elas permitem relacionar presente passado, observar permanências e mudanças, trazer as pessoas comuns ao invés de somente os heróis, apresentar outras ideias aos estudantes, ampliar seu campo de visão sobre a sociedade.

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  13. Primeiramente gostaria de parabenizar seu trabalho e dizer que compartilho pelo mesmo amor pelo tema. Eu estudo a nacionalização no periodo vargas por meio da educação, tendo os manuais didáticos como fonte de pesquisa, e acho o tema riquíssimo e de grande importância para entender a fomação da nação brasileira tão discutida nas primeiras décadas da República.
    As comemorações das datas cívicas no Estado Novo tem muito nos revalar sobre a formação do governo Vargas e as suas propostas de governo. Dessa forma gostaria de saber, em sua opinião, como tais comemorações influenciaram naquilo que o governo pretendia de “formar cidadãos novos” para o Estado que se pretendia novo?

    Roberta A. Avanci

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  14. Prezada professora.
    Atualmente, estamos observando um processo de expansão da escola militares em parceria com a Secretaria de Educação dos estados. Como foi colocado em seu texto as mudanças "não ocorre separada dos interesses presentes em determinado período histórico. Está ligada a uma totalidade social, econômica, política e cultural". Pergunto. Ao ser dado ênfase a expansão das escolas militares com sua metodologia pautada em rituais de festas cívicas e homenagens aos heróis da Pátria,a sociedade não estaria legitimando uma educação tradicional e disciplinadora de corpos e mentes?
    Mariseti C. S. Lunckes

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  15. A educação no Estado do Paraná esta em crise! Isto é fato e diversos eventos corroboram para desenvolvermos uma perspectiva bem pessimista nesse sentido, entretanto, o professor deve buscar também mecanismos que provoquem em seus alunos, bem como na sua comunidade, o interesse pela educação de uma maneira geral. Acredito que tais festas cívicas possam ser utilizadas com esse objetivo, ou seja, promover a educação e construir um senso de cidadania adequado na população de uma maneira geral. Isto é preparar os jovens bem como os adultos para a vida em sociedade, sem doutrinação ou encaminhamentos ideológicos, o cidadão precisa estar ciente de que vivemos num contexto democrático, portanto, seja na Porto União da década de 30 ou atual, seja em qualquer cidade do Paraná ou Brasil, eventos de natureza cívica precisam ser resgatados com o simples objetivo de promover educação e cidadania. A pergunta é: Como o professor, em sua singularidade, pode provocar o interesse por este tipo de evento? Quais os modelos possíveis para se realizar uma festa ou algo nesse sentido? - João Gilberto Solano.

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  16. O texto é formidável, principalmente devido a muitas dificuldades que hoje são encontradas no Ensino de História em âmbito nacional. Qual sua opinião a respeito do ensino de historia atual? Que mudanças devem ocorrer ainda? È possivel transforma-lo?

    Josielia Moura Soares

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