IDENTIDADE QUILOMBOLA:
OLHARES SOBRE AS PRÁTICAS NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA ‘BOM SUCESSO’
Ana Lourdes Queiroz da Silva
Josué Viana da Silva
Ana Lourdes Queiroz da Silva
Josué Viana da Silva
Introdução
Buscamos, como ponto
de partida, refletir sobre a importância do currículo oficial na construção da memória
e identidades étnico-raciais, numa escola de ensino fundamental da comunidade
quilombola de Bom Sucesso (MA). Do ponto de vista histórico, a memória dá
ênfase à continuidade, duração e estabilidade, não como uma forma de violência
simbólica ou imposição institucional, mas como forma de ratificar a coesão
afetiva de um grupo, através da adesão afetiva (POLLAK, 1992, p.3). Neste
ensejo, o conhecimento incorporado ao currículo jamais poderá ser dissociado
daquilo que os sujeitos se tornarão como seres sociais. (SILVA, 2009, p. 102).
Neste contexto, vale ressaltar a Lei Federal nº. 10.639/2003 que em sua essência traz à tona a obrigatoriedade de um debate, silenciado por propostas reprodutivistas, que remetem a discursos orientados para datas festivas e comemorativas, que celebram os mitos de origem nacional, enaltecendo identidades dominantes e tratando as "identidades dominadas como exóticas e folclóricas" (SILVA, 2009, p. 101). Consoante a este aspecto, vale mencionar os quilombos, historicamente referendados como redutos de negros fugitivos, revoltos e à margem de uma sociedade que lhes tira o direito de identidade.
Neste contexto, vale ressaltar a Lei Federal nº. 10.639/2003 que em sua essência traz à tona a obrigatoriedade de um debate, silenciado por propostas reprodutivistas, que remetem a discursos orientados para datas festivas e comemorativas, que celebram os mitos de origem nacional, enaltecendo identidades dominantes e tratando as "identidades dominadas como exóticas e folclóricas" (SILVA, 2009, p. 101). Consoante a este aspecto, vale mencionar os quilombos, historicamente referendados como redutos de negros fugitivos, revoltos e à margem de uma sociedade que lhes tira o direito de identidade.
A reflexão sobre estes
fatos permite-nos reconhecer a importância do currículo como um importante
instrumento de controle social, que envolve disputas ideológicas e estratégias
de manutenção ou silenciamento do discurso de elites simbólicas, responsáveis
diretas pela forma como esta visão, lateral ao discurso, a identidade, será
construída, articulando memória e história.
Diante do exposto, emerge a questão: qual a importância do currículo oficial para a construção das identidades raciais? A partir deste desafio, este estudo se propõe a investigar importância do currículo oficial na construção da memória e identidades étnico-raciais, tendo por base uma escola de ensino fundamental da comunidade quilombola de Bom Sucesso (MA).
Diante do exposto, emerge a questão: qual a importância do currículo oficial para a construção das identidades raciais? A partir deste desafio, este estudo se propõe a investigar importância do currículo oficial na construção da memória e identidades étnico-raciais, tendo por base uma escola de ensino fundamental da comunidade quilombola de Bom Sucesso (MA).
Para tanto, é
fundamental a compreensão da construção do currículo oficial tanto como
instrumento de controle, seleção, organização, redistribuição e silenciamento
da memória e identidade de africanos e afrodescendentes quanto possibilidade de
rupturas epistemológicas que permitem a valorização da história e cultura
desses sujeitos, conforme preconiza a Lei 10.639/2003.
A lei supracitada e suas diretrizes curriculares preconiza a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira, com vistas no combate das propostas de visão culturalmente hegemônica, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A partir de então, pensar em identidade racial, é deixar a transversalidade do assunto e tomá-lo como questão central da produção de um discurso de conhecimento, poder e identidade dentro de um currículo proposto, sobretudo no resgate e manutenção da memória e identidade de comunidades consideradas minoritárias: os quilombos. Contudo, observam-se ainda, nos currículos propostos, ideias folcloricamente engessadas, distanciadas e terapêuticas, de um documento que está longe de movimentar e relacionar memória e história para a consolidação da identidade do negro dentro das comunidades quilombolas. Urge, desta forma, a necessidade de reflexões e debates sobre a influência do currículo escolar para a construção da memória e identidade do negro dentro das comunidades quilombolas, historicamente registradas como antros de negros rebeldes, silenciados pela marginalidade imposta por uma sociedade elitista.
Desta forma, percebemos a importância da reflexão acerca da influência do currículo para a construção da memória e identidade do negro dentro da comunidade quilombola do Bom Sucesso. Na maneira como os materiais didáticos participam para a construção de mecanismos de controle e silenciamento das memórias e identidades neste território e como se articulam memória e história dentro da tradição oral evocada nas práticas pedagógicas.
A lei supracitada e suas diretrizes curriculares preconiza a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira, com vistas no combate das propostas de visão culturalmente hegemônica, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A partir de então, pensar em identidade racial, é deixar a transversalidade do assunto e tomá-lo como questão central da produção de um discurso de conhecimento, poder e identidade dentro de um currículo proposto, sobretudo no resgate e manutenção da memória e identidade de comunidades consideradas minoritárias: os quilombos. Contudo, observam-se ainda, nos currículos propostos, ideias folcloricamente engessadas, distanciadas e terapêuticas, de um documento que está longe de movimentar e relacionar memória e história para a consolidação da identidade do negro dentro das comunidades quilombolas. Urge, desta forma, a necessidade de reflexões e debates sobre a influência do currículo escolar para a construção da memória e identidade do negro dentro das comunidades quilombolas, historicamente registradas como antros de negros rebeldes, silenciados pela marginalidade imposta por uma sociedade elitista.
Desta forma, percebemos a importância da reflexão acerca da influência do currículo para a construção da memória e identidade do negro dentro da comunidade quilombola do Bom Sucesso. Na maneira como os materiais didáticos participam para a construção de mecanismos de controle e silenciamento das memórias e identidades neste território e como se articulam memória e história dentro da tradição oral evocada nas práticas pedagógicas.
Materiais e metodologia
O cenário de
investigação escolhido é a Comunidade Quilombola de Bom Sucesso, localizada na
zona rural do município de Mata Roma, situado a leste do Maranhão. A área
ocupada hoje encontra-se muito próxima de onde se encontrava, no século XIX,
fazenda Lagoa Amarela, sede das operações comandadas por Negro Cosme na
Balaiada. O território conta hoje com 38 comunidades. Todos os habitantes são
de descendência comum: os escravos do Brigadeiro, termo genérico utilizado no
passado para referendar os senhores de escravo. O lócus específico a ser
pesquisado, encontra-se, portanto, na Escola de Ensino Fundamental localizada
na sede da comunidade. A ideia parte do convívio direto com a comunidade em
constantes observações e cotejamento de teorias que transversalizam a produção
e controle de sentidos do discurso (Foucault) e o currículo (Silva) como formas
de controle e violência simbólica.
Nesta pesquisa,
buscamos compreender os efeitos de sentido construídos em torno da identidade
do quilombo a partir do currículo aplicado no Ensino Fundamental, propondo
intervenções que nortearão para o resgate e manutenção da memória na
comunidade.
Propomos a realização
de um estudo de campo, sob a orientação da abordagem qualitativa em pesquisa
educacional (FLICK, 2004), processo que consistirá em uma observação direta de
um grupo em estudo, contemplando entrevistas aos sujeitos, com vistas na
captação de informações e explicações das percepções do entorno social, com
procedimentos que ensejarão a análise de documentos, fotografias, filmagens
etc. No processo de sistematização e coleta de dados utilizaremos técnicas e
instrumentos de coleta de dados com objetivos exploratórios: observações diretas
e entrevistas semiestruturadas, buscando valorizar todo o processo
investigativo, analisando a realidade dos sujeitos envolvidos, no processo das
entrevistas. Dessa forma, as observações e as entrevistas semiestruturadas
serão feitas com um roteiro de perguntas abertas e com registro de gravador, a
fim de compreender os sujeitos pesquisados a respeito de suas práticas
educativas por meio da descrição dos acontecimentos em torno da questão central
da pesquisa. As informações coletadas serão transcritas e apresentadas ao
colaborador para aprovação e utilização para os registros da pesquisa (MEIHY;
HOLANDA, 2007)
Resultados e discussões
Até o momento, com o
início das pesquisas foi possível constatar, através da observação direta e
visita às residências, um apagamento da memória cultural do quilombo de Bom
sucesso, no que tange às festividades e do ensino da história oral pelas
gerações mais antigas. Segundo impressões iniciais dos sujeitos consultados,
falta aos educadores e gestores educacionais, estes últimos encaminhados por
indicação da política local, as informações necessárias para manter viva a
memória da comunidade através dos contos, cantigas e festas.
Conclusão
Diante dos resultados
até agora observados, podemos inferir acerca da importância que o currículo
oficial possui para a construção da memória e identidades étnico-raciais,
dentro da comunidade quilombola do Bom Sucesso. A escolha de materiais
didáticos para cumprimento do disposto no currículo oficial devem assegurar o
cumprimento da Lei 10.639/2003, ressaltando a preservação, reflexão e debates
acerca memória e identidade da comunidade, contribuindo para a emancipação
social, ao articular memória e história oral, nas práticas educativas
realizadas no espaço educativo.
Referências
ARRUTI. José Mauricio.
"Quilombos". In: Raça: Perspectivas Antropológicas. [org. Osmundo
Pinho]. ABA / Ed. Unicamp / EDUFBA, 2008;
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa.
2 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2004;
FOUCAULT, Michel. A
ordem do discurso. 22ª. Ed. São Paulo:
Loyola, 2012;
LOPES, Alice Casemiro
e MACEDO, Elizabeth. Teorias de
currículo. São Paulo: Cortez, 2011;
NASCIMENTO, A. do. O quilombismo. 2. ed. Brasília:
Fundação Palmares, 2002;
MEIHY, José Carlos
Sebe Bom e HOLANDA, Fabíola. História
Oral. Como fazer, como pensar. 1. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2007;
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos
históricos, v. 2. Rio de Janeiro, 1989.
RATTS, Alecsandro J.
P. (Re)conhecer quilombos no território brasileiro; In:FONSECA, Maria de
Nazareth Soares (Org.) Brasil
afrobrasileiro. Belo Horizonte, Autêntica, 2001;
SCHMIDT, Mª Luíza
Sandoval e MAHFOUD, Miguel. Halbwachs:
memória coletiva e experiência. São Paulo: USP, 1993;
SILVA, Tomaz Tadeu da.
Documentos de identidade: uma introdução
às teorias do currículo. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009;
SOUZA FILHO, Benedito
de. Bom Sucesso: terra de preto, terra
de santo, terra comum. Dissertação de mestrado em Antropologia Social.
Belém: UFPA, 1998;
VAN DIJK, Teun A. Discurso e poder. São Paulo: Contexto,
2015.
Olá, gostaria de parabenizar pela escrita do texto, adorei a forma como foram descritas muitas questões em relação ao currículo e a Lei 10.639/03. Gosto bastante das temáticas ligadas a africanidade e a sua pesquisa me fez criar algumas indagações, como: * vocês acreditam que esse 'apagamento' da memória pode (num futuro não muito distante) resultar em um 'apagamento' social, no sentido de que as pessoas deixem de se reconhecer como afrodescendentes ou quilombolas? * Quais as práticas de resistência cultural neste quilombo? * O que levou a seleção deste lugar como objeto de pesquisa?
ResponderExcluirótimo texto, parabéns, trabalho em uma escola particular´e ensino privado e toda baseada no livro, pois os pais pagam uma grana por tais livros, e com isso o conteúdo fica de certa forma limitado, como poderia encaixar um assunto como quilombola nas aulas?
ResponderExcluirAssim: Rosiele Albuquerque Negrão
Pelo que consegui compreender no texto, o descaso para com o ensino na comunidade Quilombola se faz presente, vocês conseguem perceber alguma preocupação por parte das políticas públicas em prol de um ensino de qualidade? A escola e o PPP estão organizados para desenvolver da melhor forma o processo de ensino e aprendizagem na sua opinião? Os professores se esforçam para que o ensino aconteça com excelência (qualidade)?
ResponderExcluirAtenciosamente: José Roberto Wosgrau
Boa tarde. Primeiramente parabenizar pelo trabalho, uma excelente análise. Bom! fazendo uma diagnóstico sobre o ensino da história e a cultura afro-brasileira e africana – nesse caso a identidade quilombola, após a aprovação da Lei 10.639/03, você concorda que se faz necessário para garantir uma ressignificação e valorização cultural das matrizes africanas que formam a diversidade cultural brasileira, mais cursos de capacitação para professores interessados na área dentro do ensino básico? Você considera que a Lei está sendo trabalhada de maneira eficiente no ambiente escolar? Minha pergunta está voltada mais em relação a Lei 10.639/03, sobre o importante papel dos professores no processo da luta contra o preconceito e a discriminação racial no Brasil.
ResponderExcluirElton Junior da Silva Cardoso