Jorge Cunha

ENSINO DE HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

Jorge Luiz da Cunha



Introdução

Em uma recente participação em um evento para docentes da Educação Básica, no Rio Grande do Sul, fui convidado para falar sobre qualidade de ensino. Orientei minha fala sobre a necessidade de centralizar, ou melhor, devolver a centralidade da educação – da qual o ensino é apenas uma das tesselas deste mousaikón (peças deste mosaico) – para o conhecimento.

No final da produtiva manhã, num aprazível local e diante de uma incomparável paisagem, terminamos com as tradicionais trocas de impressões e perguntas.

Uma das perguntas me marcou, e inspirou profundamente:

- Professor, em que medida suas colocações sobre o conhecimento, sua importância  para a educação e seus efeitos humanizadores não podem ser entendidas como uma ideologia? Ideologia, lugar-comum, que o senhor colocou como oposta ao conhecimento.

Minha resposta:

- A questão não está no que eu disse! Que está ancorado no que eu penso, no que eu acredito sobre educação, sobre conhecimento, sobre humanização, sobre ensino. Transformar o que eu disse e o que vocês ouviram, refletiram e discutiram comigo, em ideologia, não depende de mim. Depende e diz respeito a vocês! Isto é, ideologizar é utilizar minhas colocações como definitivas e reproduzi-las como se fossem um lugar-comum, uma doutrina a ser multiplicada sem acrescentar um ponto ou uma vírgula. Sem questionar, sem refletir, sem criticar.

- Transformar ou não em ideologia minhas palavras, conceitos e teorias não me diz respeito, diz respeito ao modo como cada um de vocês vai usar o que ouviu, refletiu e concluiu. Mas, é importante ressaltar que fazer isso é renunciar ao fundamento da própria condição e existência humanas, é renunciar a qualquer traço pessoal. É recusar-se a ser pessoa, pensar, ter opiniões, tomar decisões, mover a própria vida criticamente e, no limite, é  contribuir para a ‘banalização do mal’, como afirma Hanna Arendt(1998).

Prosseguindo na reflexão ancorei as afirmações de minha resposta na estreita relação entre a ideologia e o lugar-comum.        Aceitar acriticamente qualquer teoria, qualquer conjunto de ideias, é torná-las doutrina, e:

a partir daí, é de certo modo uma arma do poder; repetindo, despudoradamente, certos temas, contribui para imprimir ideias, valores, álibis, que acabam por funcionar, na cabeça do público, com uma verdadeira ‘natureza’ mental; lugar-comum é, finalmente, aquilo que ‘vai de si’, aquilo a que Brecht chamava (criticando-o) o ‘Grande Uso’; a gregaridade não é inocente, porque é facilmente manipulada. Distanciar estas repetições, observá-las, desmistifica-las, é portanto uma forma de combate social. Há na crítica do lugar-comum um gesto de ‘dissidência’ que justifica socialmente o intelectual, o escritor, o artista de hoje: os ‘dissidentes’, ... ‘os que pensam de outra maneira’; e ‘pensar de outra maneira’ torna-se necessário sempre que o conformismo do pensamento e do discurso (é a mesma coisa) deriva do poder. (BARTHES e BOUTTES, 1987, 276-277).

Para não transformar qualquer ideia ou teoria em ideologia, necessita-se permanente vigilância, para reconhecer, criticar, dialetizar: ou seja, não é destruir (tarefa impossível), é exorcizar:

Assim, o que se lê no lugar-comum é uma certa  tragicidade: uma necessidade (lógica, histórica) que só se pode vencer se for reconhecida. Por um lado, é fácil ver o que o lugar-comum dá aos homens: o poder de falar; mas, por outro lado, também se vê que o lugar-comum os vincula aos instrumentos de poder e consagra a divisão cultural, portanto social, das linguagens. É ainda no espaço desta ambivalência que se deve situar o trabalho das vanguardas (noção que também é histórica, como lugar-comum). A vanguarda, em qualquer arte, é a força que rejeita o lugar-comum e, pelo fato de toda a nova linguagem tender a solidificar-se, confina com o grito: para cobrir a voz do conformismo é preciso gritar: é a vanguarda. Enquanto a sociedade (seja qual for o seu regime político) estiver ameaçada pelo triunfo do lugar-comum (que inferno, se não se ouvisse outra coisa!), a vanguarda continuará a ser necessária.(BARTHES e BOUTTES, 1987, 277)

Creio que a questão que este relato traz à tona é profundamente pertinente para a discussão que se trava sobre o Ensino de História na Brasil contemporâneo, para o qual a Educação História pode contribuir produtivamente.

Portanto pretendo apresentar aqui algumas reflexões introdutórias sobre os conceitos historicamente desenvolvidos de ‘conhecimento’ e de ‘ideologia’ e sua relação com o ‘ensino de história’ e seu papel humanizador ressaltado por diversos autores pesquisadores da ‘Educação Histórica’.

Conhecimento

Para evitar cair em lugares comuns e reproduzir versões que já foram exaustivamente repetidas e que se encontram a disposição de qualquer internauta minimamente habilidoso, vou introduzir a questão sobre ‘conhecimento’ a partir de um relato mais literário do que filosófico, mais histórico do que assertivo.

O conceito fundamental sobre ‘conhecimento’ encontra-se na origem da Civilização Ocidental (Civilização Grega Romana Judaica Cristã Ocidental). Fundamentalmente, na forma como os gregos antigos - cultura seminal da civilização ocidental - trataram de responder a ‘pergunta ontológica’: - quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Dito de outra forma: - qual o sentido e o significado da existência humana?

Ao contrário das culturas tão ou mais exuberantes e complexas que os antecederam ou que com eles conviveram, os gregos, desde aproximadamente 3.000 anos antes de nosso tempo, ultrapassaram a tradicional formulação mítica (atemporal e transcendente) como resposta para a ‘pergunta ontológica’.

Considerando que somos humanos porque somos racionais, nossas perguntas contem nossa qualidade essencial, isto é, são marcadas pela racionalidade humana. Sendo assim, uma resposta para uma pergunta racional somente pode aceitar uma formulação igualmente racional. Essa lógica simples colocou por terra a aceitação de qualquer mito como resposta.

E qual foi, então, a resposta dos gregos para nossa questão ontológica?

- Nós seres humanos existimos para que no transcorrer de nossas existências terrenas, no pleno uso de nossa liberdade e vontade próprias, possamos agir no mundo para nos tornarmos plenamente humanos. E esta é a única condição de possibilidade de nossa realização e felicidade.

Esta resposta é humana! Pois, ninguém pode realizar esta tarefa a não ser cada um de nós. Ninguém a realizara, ou sequer pode realizá-la, por qualquer um de nós. Contudo, é preciso ressaltar que não é uma tarefa isolada e solitária, pois, na concepção grega, para o ser humano há apenas um mundo possível, o mundo sociopolítico, o mundo da Pólis (AUSTIN e NAQUET, 2002; CASTORIADIS, 1987).

Além disso, esta resposta envolve um conceito de liberdade e de vontade próprias. Conceitos que fundamentam a autonomia não como algo dado ou presenteado por alguma autoridade ou pelos deuses, mas construído processualmente na medida em que é exercitado:

A auto-transformação da sociedade diz respeito ao fazer social - e, portanto, também político no sentido profundo do termo - dos homens na sociedade e nada mais. O fazer pensante e o pensar político - o pensar da sociedade como se fazendo - é um componente essencial disso (CASTORIADIS, 2007, p. 418).

Esta autonomia, assim entendida, leva a necessidade da ação, como ação política em detrimento de uma disposição humana meramente especulativa que, invariavelmente, conduz a destinação da condição humana a espaços ideais e transcendentes.

Esta disposição política e crítica é condição para  elevar-se do sensível ao inteligível, não apenas conhecendo as condições objetivas da existência de si (de seu corpo e de todas as relações possíveis com a materialidade dos contextos de sua existência), mas significando tudo através do conhecimento desta humana existência.

O ‘tornar-se plenamente humano’ estabelecido como meta não é, contudo, um ponto de chegada, mas um motto, um estimulador deste processo. Processo provocado pela disposição do espírito humano para questionar, que surgiu como resultado da dessacralização do mundo (VERNANT, 1972, p. 41). Há, sem dúvidas, uma inter-relação profunda entre a secularização do pensamento e o surgimento do conceito ocidental de conhecimento:

Com a secularização, todos os mistérios do mundo, suas razões e significados mais profundos, bem como  sua organização e funcionamento, se tornaram acessíveis à interrogação e ao questionamento dos homens. Deixa de haver, segundo este processo, uma razão ou uma entidade extra-social atuando por detrás do universo humano. O olhar do homem sobre o mundo se torna fundamental. A realidade deixa de ser aceita passivamente, mas é interrogada, examinada, protestada, aceita ou rejeitada. Este processo permitiu que a humanidade pudesse não somente criar as suas próprias instituições, mas em especial, passasse também a interrogá-las. (ROTOLO, 2012, pp.117-118).

O fundamental nesta formulação do que é o conhecimento é entender que nenhum ser humano nasce com esta habilidade, que apesar de ser essencialmente humana não é inata, não é própria da condição material com a qual surgimos neste mundo. Nós somente nos tornamos humanos no transcorrer de nossas vidas, na relação e na proporção direta com a qualidade e a intensidade de nossas relações sociais.

Sendo assim, como não nascemos humanos, mas podemos nos tornar humanos, é necessário que as comunidades sociais (família, aldeia, cidade e na modernidade o Estado) onde nascemos e crescemos organizem e disponibilizem as estruturas necessárias para nossa humanização.

A estas estruturas os gregos chamaram Paidéia – traduzida tradicionalmente para o português como ‘formação do homem grego’(JAEGER, 2001). Estas estruturas deveriam dar conta da formação do humano em seus aspectos físico, intelectual e moral. A formação física resulta da disponibilização de condições seguras de alimentação, abastecimento de água potável, proteção e segurança, saúde, e, inclusive uso do tempo ocioso através do esporte e do lazer. A formação intelectual foi atribuída aos ‘amigos do conhecimento’, os filósofos, que deveriam utilizar-se de todo o conhecimento já produzido em todos os campos do conhecimento humano, como matéria-prima para a reflexão crítica, os questionamentos e o salutar e humanizador exercício de criação e formulação de novas e originais respostas. Finalmente, a formação moral se daria especialmente nos espaços públicos: - na Ágora onde a Eclésia se reunia e os cidadãos discutiam os problemas da Pólis, propunham e decidiam sobre suas soluções; nos tribunais onde a discussão das mais cruciais limitações humanas levava dialeticamente ao conhecimento de suas maiores qualidades.

Nossos conceitos modernos de educação e de ensino desenvolveram-se vinculados a tradição da Paidéia. A retomada de seus princípios é um ponto de partida importante para a reflexão sobre as causas de nossos problemas neste campo.

O conhecimento histórico

Não há reflexão humana, como o conhecimento concebido pelos gregos, se não houver neste conjunto universal de interesses também o interesse, a reflexão, e o contínuo perguntar-se sobre as ‘ações humanas realizadas no passado’.

Heródoto (485 – 420 a.C.), em oposição aos seus antecessores, anuncia em sua obra a intenção de oferecer aos seus contemporâneos a possibilidade de, através da narrativa de fatos reais e verdadeiros, refletirem sobre quem são e qual o sentido de suas existências, isto é, considerar os fatos gravados pela memória histórica como uma alternativa necessária para o conhecimento sobre o humano (HERÓDOTO, 1952):

A palavra ‘história’ (em todas as línguas românicas e em inglês) vem do grego antigo historie, em dialeto jônico. Esta forma deriva da raiz indo-europeia wid-, weid, ‘ver’. Daí o sânscrito vettas ‘testemunha’ e o grego histor ‘testemunha’ no sentido de ‘aquele que vê’. Esta concepção da visão como fonte essencial do conhecimento leva-nos à ideia que histor ‘aquele que vê’ é também aquele que sabe; historein em grego antigo é ‘procurar saber’, ‘informar-se’. Historie significa pois ‘procurar’. É este o sentido da palavra em Heródoto, no início de suas Histórias, que são ‘investigações’, ‘procuras’ (LE GOFF, 1984, 158).

Colocando de lado a profusa discussão desenvolvida por historiadores e filósofos, especialmente a partir do século 19, sobre o que é ‘história’, creio que é possível resumir a posição em que nos colocamos,  e da qual nos nutrimos para pensar o ‘ensino de história’ na educação básica, através da oposição entre história e filosofia da história. Importante ressaltar que filosofia da história não deve e não pode ser confundida com a necessária teoria da história (RÜSEN, 2010, 25-51; RÜSEN, 2013, 53-66; RÜSEN, 2015, 59-71).

Na opinião de Le Goff (1984, 159) o conceito de historicidade representou um papel de primeiro plano na renovação epistemológica da segunda metade do século 20, ao obrigar a inserção da própria história numa perspectiva histórica, que implica no movimento que liga uma prática interpretativa a uma práxis social:

A supressão da historicidade através da filosofia da história é o paradoxo do fundamento epistemológico da história. (...) O discurso filosófico faz desdobrar a história em dois modelos de inteligibilidade, um modelo de acontecimentos (événementiel) e um modelo estrutural, o que leva ao desaparecimento da historicidade: ‘O sistema é o fim da história porque ela se anula na lógica; a singularidade é também o fim da história, porque toda a história se nega nela. (LE GOFF, 1984, 159).

Não há dúvida de que ao refletir sobre esta oposição entre história/historicidade e filosofia da história é possível reconhecer também a oposição entre conhecimento e ideologia/ideologização, como colocamos acima:

Lutar contra as confusões grosseiras e mistificadoras entre os diferentes significados, não confundir ciência histórica e filosofia da história. Partilho da desconfiança da maior parte dos historiadores de oficio, perante essa filosofia da história ‘tenaz e insidiosa’ que tem tendência, nas suas diversas formas, para levar a explicação histórica à descoberta ou à aplicação de uma causa única e original, para substituir o estudo pelas técnicas científicas de evolução das sociedades, sendo essa evolução concebida como abstração baseada no apriorismo ou num conhecimento muito sumário dos trabalhos científicos. (LE GOFF, 1984, 159).

A ciência histórica fundamenta-se: (1) - em uma práxis metodicamente estruturada na experiência do historiador e dos destinatários de suas narrativas sobre os fatos humanos registrados na memória oral, documental ou monumental (RÜSEN, 2010, 100-108),  “O pensamento histórico faz-se científico ao se submeter, por princípio, à regra de tornar o conteúdo empírico das histórias controlável, ampliável e garantível pela experiência”(RÜSEN, 2010, 101); (2) - em uma relação com as normas ou referenciais plausíveis e aceitáveis quanto a vinculação dos fatos humanos acontecidos no tempo passado com o presente, isto é, o referencial que legitima as práticas de pesquisa e as formulações explicativas do historiador (RÜSEN, 2010, 108-118)      ; (3) - na metodização da relação com as ideias a partir da prática narrativa histórica (que não se confunde ou coincide com a narrativa literária),  pois ao historiador cabe organizar suas ideias - alicerçadas em suas práticas científicas – de forma a atribuir sentido a suas teses e oferecer ao destinatário de seu trabalho condições para também atribuir sentido a sua existência individual e coletiva, a partir dos princípios da recuperação do passado, como história, no presente  (BAUMGARTNER, 1979, 259-289; RÜSEN, 2010, 118-126).

Ensino de história e narrativas (auto)biográficas

A vontade de construir espaços/tempos de possibilidades para que os educandos atribuam sentidos aos conteúdos, das disciplinas a que estão submetidos na educação básica, ao se compreenderem nos contextos sociais e culturais em que estão inseridos (RÖWER, 2014), relaciona-se, sem dúvida, a história de vida dos docentes que são revisitadas, ressignificadas na escrita dos relatórios de pesquisa e nos diário de campo, que acompanharam o desenvolvimento da prática e da pesquisa com relatos autobiográficos durante o ano de 2015. A experiência empírica de utilização de narrativas autobiográficas em aulas de história junto a alunos do ensino médio, que contou com a colaboração de professores de história, foi realizada em três escolas públicas, do município de Santa Maria, Rio Grande do Sul.

A experiência de uso de narrativas autobiográficas foi realizada basicamente através da proposta de escrita de uma história de vida por parte dos alunos envolvidos nas aulas de história, nas duas primeiras semanas do semestre. Os estudantes foram estimulados a realizar esta tarefa a partir de reflexões realizadas em oficinas coordenadas pelos docentes envolvidos, sobre as possibilidades de que os conteúdos da disciplina de história poderiam indicar referências para a compreensão de si. Os relatos autobiográficos foram selados e guardados. A partir daí desenvolveram-se os conteúdos disciplinares das aulas de história segundo os padrões determinados pela gestão de cada escola, os parâmetros curriculares previstos pela legislação e a ‘prática pessoal’ de cada professor envolvido. No final do semestre, após a rememoração da proposta anunciada no início do mesmo, solicitou-se aos estudantes que escrevessem novas autobiografias. Após esta tarefa, retomaram-se os relatos autobiográficos iniciais e solicitou-se que os alunos estabelecessem uma relação entre o primeiro e o segundo texto biográfico produzido e indicassem mudanças de percepção de si e dos contextos de inserção social vinculados.

As concepções sobre a complexidade dos processos educativos e sobre os sujeitos envolvidos nesta experiência de ensino podem ser resumidas da seguinte forma:

1.                 A concepção de sujeito socializado, na estrita relação das influências socializadoras e na constituição das individualidades;
2.                A educação como uma experiência, que em Dewey (1953; 2010), de forma geral envolve reflexão, dotada de significação, em que se percebem relações e continuidades antes não percebidas, em que a aquisição de novos conhecimentos é um resultado natural.
3.                A relação do social com o individual na centralidade do ensino de ciências sociais e humanas, neste caso a história, por meio do desenvolvimento da ‘imaginação histórica’, cujo principal argumento ancora-se na concepção de uma história como narrativa. Collingwood (1981, 252) considera que a imaginação histórica, diferente da imaginação livre de um artista, pode ter como tarefa imaginar o passado, que já não existe mais, de forma a nos ajudar a compreender o presente tornando-o evidência de seu passado, não para justificar nossas existências humanas e seus contextos, mas para potencializá-las para produzir sentidos e significados.
4.                O estranhamento e a desnaturalização (CUNHA e RÖWER, 2014) compreendidos como princípios epistemológicos que caracterizam a histórica como ciência, com a finalidade prática de aprender, compreender e superar o etnocentrismo rumo a um humanismo histórico (RÜSEN, 2013, 253-281; RÜSEN, 2015, 247-273):

As reflexões sobre os princípios do pensamento histórico determinantes para a história como ciência podem, no campo da historiografia, fazer com que a formulação historiográfica de resultados de pesquisa capacite seus destinatários a abordar a interpretação do passado que lhes é oferecida usando seu entendimento próprio, e não meramente pela imposição do entendimento do autor. Assegurar-se-ia, dessa forma, que também os destinatários (potenciais) e o público-alvo da historiografia não sejam excluídos da razão que os historiadores pretendem para si, pretensão que jamais poderiam ter se não supusessem que seus leitores, por princípio a possam possuir (RÜSEN, 2010, 47).

5.                A relação entre conhecimento, sentido e construção de si, apontadas por Josso (2010); a reflexividade autobiográfica destacada por Passeggi (2011a; 2011b) que implica uma autonomia congnitiva e a conscientização de si em organizações dinâmicas de compreensão de si; e, a relação entre biografia e aprendizagem de Delory-Momberger (2006, 2012, 2014) pode ser identificada nos seguintes aspectos: (1) – que os saberes subjetivos e não formalizados influenciam no modo como as pessoas investem e transitam nos espaços de aprendizagens formais e que tornar-se consciente destes saberes, torna possível ressignificar sentidos e projetos de vida em formação (DELORY-MOMBERGER, 2006); (2) – que a compreensão dos significados das experiências de formação e aprendizagem de jovens e adultos em suas construções biográficas individuais, nas suas relações com os outros e com o mundo social torna-se constituidor (DELORY-MOMBERGER, 2012); e, (3) – que a aprendizagem de saberes escolares estabelece uma relação de complementaridade e reciprocidade com as aprendizagens e saberes biográficos, permitindo revisitações de si e outras projeções, ou ainda “biografar-se de outro modo” (DELORY-MOMBERGER, 2014, 136).

O estranhamento e a desnaturalização, como princípios epistemológicos do ensino de história, que incidem sobre si e o outro e que possibilitam compreender e compreender-se de outro modo referem-se à possibilidade de “biografar-se de outro modo”, para retomar Delory-Momberger (2014), e para substanciar a relação aqui defendida entre o campo da pesquisa (auto)biográfica em educação como dispositivo de formação e o ensino de história na educação na educação básica – ensino médio.

Considerações finais

O objetivo central desta experiência com o ensino de história foi construir possibilidades didático-metodológicas de reflexão e conscientização de si na relação entre estrutura e contextos socioculturais e trajetórias de vida individuais. Relatos de si, estranhamentos e desnaturalizações do senso comum, conscientizações e possibilidades de novas reorganizações de si, transpassadas por conteúdos da disciplina de história no ensino médio. A grande contribuição desta experiência foi a compreensão de que este exercício de escritas auto referenciais auxiliou para a aquisição de uma habilidade de aprendizagem de relacionar os conhecimentos escolares da história com a vida vivida em outros espaços e tempos. Além disso, também se problematizaram as diferentes atribuições de sentidos pelos educandos envolvidos nestas atividades; a relação educardor-educando que interfere no próprio processo de escrita; e a necessidade de aprimorar o trabalho de leitura/escrita dos relatos sobre si.

A estrutura da abordagem e as análises dos relatos permitiram formular considerações que podem colaborar na compreensão dos sentidos do ensino de história , e a potencialidade das escritas de si como dispositivos de formação no âmbito escolar. Isto porque as compreensões rumaram para a corroboração da tese de que a utilização de dispositivos de auto e heterobiografia nas aulas de história fomentam estranhamentos de si e do outro e a desnaturalização, quebrando preconceitos e derrubando a alienação/desumanização provocada por processos de ideologização que não raro impregnam os discursos docentes e os conteúdos dos livros didáticos nas salas de aula.

A história, ao desnaturalizar esses elementos constituidores do ser social, que é ao mesmo tempo individual, ao fazer compreender a historicidade, a igualdade e a diversidade humana através dos seus conceitos, temas e teorias, gera reflexões sobre si e sobre o outro, suspensões de saberes, novas compreensões e possibilidades do estabelecimento de outras relações. Em suma uma possibilidade de migração da imaginação histórica para um nível de consciência racional, ‘consciência histórica’, sobre o sujeito, sua constituição e seus contextos.

A Educação Histórica é um marco para o ensino de história, especialmente na educação básica, ao apresentar-se como uma alternativa as ideias e práticas educativas alicerçadas no desenvolvimento cognitivo da aprendizagem associadas à Psicologia da Educação.

Partindo da premissa da existência de uma cognição própria da história fundamentada na racionalidade, a Educação Histórica toma como referência fundamental a epistemologia da história para alcançar, como resultado da prática educativa neste campo do conhecimento humano, um nível de consciência histórica que contribui significativamente para a conquista da autonomia dos sujeitos envolvidos nestes processos educativos.

Referências

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BAUMGARTNER, Hans Michel. Erzählung und Theorie in der Geschichte. In: KOCKA, Jürgen und NIPPERDEY, Thomas (Hrsg.). Theorie und Erzählung in der Geschichte. München: DTV, 1979, pp. 259-289.
CASTORIADIS, Cornelius. A pólis grega e a criação da democracia. In: As Encruzilhadas do Labirinto. Os Domínios do Homem. Volume II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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CUNHA, Jorge Luiz da e RÖWER, Joana Elisa. Ensinar o que não se sabe: estranhar e desnaturalizar em relatos (auto)biográficos. In: Educação. Revista do Centro de Educação da UFSM. V. 39, n. 1. Jan/abr. Santa Maria: UFSM, 2014. Pp. 59-80.
DELORY-MOMBERGER, Christine. Formação e socialização: os ateliês biográficos de projeto. In: Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 32, n. 2, maio/ago. São Paulo: USP, 2006. pp. 359-371.
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JAEGER, Werner Wilhelm. Paideia. A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: DIFEL, 1972.



95 comentários:

  1. Consideras que um dos instrumentos importantes para instigar a reflexão sobre a consciência histórica possa ser o trabalho com a noção de regimes de historicidade, conforme a proposição de Hartog?
    Gizele Zanotto

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    1. Sem dúvida Hartog, é uma referência. Contudo é fundamental que docente de história ocupe-se em ultrapassar o que deu tenho chamado de "proselitismo ideológico" isto a transferência de verdades, doutrinas travestidas de conhecimento. Este é um procedimento que nada educa, apenas domestica. O que educa verdadeiramente e garante nossa humanidade é o conhecimento.
      Abraços

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  2. Como instigar o pensar histórico, a consciência história em sala de aula com alunos dos nos anos inicias do ensino fundamental?

    Clarice Bianchezzi

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    1. Eu tenho realizado experiências de ensino também nos anos iniciais do ensino fundamental com o objetivo de desenvolver noções espaço temporais. Um experiência avaliada positivamente foi uma em que reforçamos a importância didática da narrativa. Contar histórias cheias de conteúdos históricos a partir de narrativas autorreferenciais dos próprios alunos: sobre o que lembram de sua história de vida, sobre suas famílias, sobre o que seus familiares contam sobre a família, o bairro, a cidade... os efeitos tem sido muito positivos.

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  3. Parabéns pela pesquisa. Jorn Russen representa um importante marco para a teoria da história já que conflui diferentes e importantes escolas de pensamento que acabam por se complementar. Contudo, de que forma o senhor acredita que a tentativa de subestimar a ideologia ao ponto de contrapô-la ao conhecimento não serve como instrumento de apolitização do ensino de História? Grande abraço


    Ellan Eduardo

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    1. A verdadeira política é a processual, aquela que conceitualmente podemos associar ao conceito humanista histórico ancorado no conhecimento e não na transmissão de informações enquanto verdades (o que tenho chamado de proselitismo ideológico). Aulas de história como doutrinação ou transmissão doutrinária de "verdades" pré-concebidas são apolíticas. A politização da história e do ensino de história se dá pela centralidade do conhecimento como referência para a produção de consciência de si e dos nossos contextos de inserção. Só somos verdadeiramente políticos quando humanos, e humanos porque livres e autônomos, e autônomos porque nos ocupamos através do conhecimentos em continuar humanos.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Professor Jorge Cunha, após leitura acurada do artigo, inclusive o senhor trazendo à baila a Educação Histórica, o que o educador poderá aplicar em sua práxis pedagógica, além do experimento aplicado, em sala de aula?

    Isac Silva de Almeida

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    1. Prezado Isac,
      Creio que o que qualifica o trabalho docente do professor de história é a apropriação de um conceito de história não como mera transmissão de informações sobre o passado, mas a reflexão motivada pelo conteúdo considerado sempre como matéria prima para a formulação de questionamentos e o exercício de criação novas e criativas respostas. Isto também serve para todas as demais disciplinas.
      Abraços

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  6. 1. Repensar o modelos, molduras de como estabelecemos o ensino da história é um desafio para uma sociedade maniqueísta que tem se tornado a nossa. Como equilibrar esse acirramento "ideológico" entre direita e esquerda na prática docente do ensino da História?

    2. Como tornar o processo autobiográfico uma ferramenta de autocrítica e que tornar o indivíduo sujeito de uma história presente?

    Johny Menezes Loiola

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    1. Boa noite Johny,
      Obrigado pela pergunta!
      Essa postura maniqueísta e dual de interpretação da realidade, contamina todas as nossas relações sociais e limita nossa consciência de dignidade humana e sentido de nossas existências.
      Creio que este dualismo entre esquerda e direita que vivenciamos cronicamente em nossa sociedade brasileira é absurdamente conservador. Nada muda, portanto é conservação, se personagens, classes sociais, categorias profissionais, etnias ou gênero apenas trocarem de lugar.
      O narrar-se é interpretar-se, é exercício de atribuição de sentido e significado para nossas existências humanas, individuais e sociais.
      Abraços

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  7. Professor Jorge Cunha, ao final da experiência como foi percebido os conceitos de ideologia e lugar comum, comparando o 1º e o 2º texto elaborado pelos alunos?

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    1. Prezado Isac,
      Nós chegamos ao conceito de ideologia com os alunos envolvidos e com os professores de história das classes envolvidas em nossa intervenção através de alguns textos produzidos pelos alunos que questionamos quanto ao comportamento religioso, determinado pela adesão, pela fé; em contraposição ao comportamento humano autônomo provocado pela razão como ferramenta de produção de conhecimento. A partir destas reflexões sobre os primeiros e segundos textos produzidos como narrativas autobiográficas buscamos juntos, em livros, revistas e na internet os diferentes conceitos de 'senso comum', 'lugar comum' e 'ideologia'.
      Abraços

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  8. Excelente tema, sobretudo diante de uma geração pós-moderna e imediatista, influenciadas pela indústria cultural. Como a produção das autobiografias é capaz de trabalhar a desnaturalização dos fatos históricos? José Janilton Gonçalves da Silva

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    1. Grato José Janilton,
      O estranhamento e a desnaturalização são de si, a partir da reflexão produzida com as narrativas e as escritas de si (autobiográficas) e sobre os conteúdos que passam a ser relativizados, a ser lidos não mais como verdades absolutas, mas como versões, explicações parciais que podem motivar novas perguntas e novos conhecimentos.
      Abraços,

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  9. Boa Noite Professor Jorge,
    Diante de tantas questões que permeiam a atualidade, é desafiador um estudo histórico que seja curioso e interessante para o aluno. Então, como articular um estudo crítico da História pautado na ideia que História não é só estudo do passado, mas também do presente? Na sua opinião, um discurso positivista precisa ser construído nas séries iniciais do ensino fundamental e desconstruído no ensino médio?

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    1. Boa noite Patrícia,
      Grato pela pergunta!
      Penso que podemos, e nós já experimentamos isso, desde os primeiros anos do ensino fundamental ao último ano do ensino médio trabalhar com conteúdos como matéria prima e nossa disposição de estimular a curiosidade, os questionamentos, e a produção/criação de respostas como exercício verdadeiramente ducativo. Desde a formação de conceitos espaço temporais nos anos iniciais ao conhecimento crítico de jovens do ensino médio.
      Um abraço,

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  10. Prezado Jorge Cunha, tenho duas perguntas:
    A) Quais temas da história foram relacionados às autobiografias produzidas pelos alunos?
    B) Em sua opinião, existe uma mudança de paradigma na forma de conceber o ensino de história após a disseminação dos estudos de Rüsen e do conceito de "consciência histórica"?

    Grata pela atenção
    Caroline Tecchio

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    1. Prezada Caroline,
      Obrigado pelas perguntas.
      A experiência foi realizada no primeiros semestre do ano letivo com turmas de primeiro ano do ensino médio. Os conteúdos desenvolvidos neste ano, como determinado pelos Parâmetros Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul, foram as atividades artesanais e agrícolas feudais e a transição para a modernidade capitalista.
      Creio que a contribuição de Rüsen é muito importante para a mudanças de paradigmas no que diz respeito ao ensino de história e a aprendizagem histórica especialmente por sua crítica ao historicismo que aproxima a História (e consequentemente o ensino de História) das ciências naturais e exatas.
      Abraços

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  11. Boa noite,

    Ainda hoje com todos esses avanços vemos diversos conteúdos sendo transmitidos na forma de senso comum, ou seja, os professores estão criando alunos mecanicistas que apenas reproduzem o conteúdo e não estudantes com senso crítico. A formação do professor para mudar esse aspecto é essencial, o que pode fazer com que ao chegar na sala de aula o professor deixe de lado tudo que aprendeu e passe a reproduzir o sistema? O senhor acredita que para o ensino da história o conceito de aprendizagem significativa é essencial?

    Obrigado

    Vinicius Sales Barbosa

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    1. Prezado Vinicius,
      Obrigado pela questão levantada.
      Eu tenho a impressão que é fundamental uma profunda reforma nos princípios que fundamentam a formação de professores, a partir de uma discussão profundamente ampla sobre os conceitos que alicerçam a formação estes profissionais.
      Um exemplo: - na Alemanha todo professor precisa fazer a graduação específica de sua disciplina e também pedagogia (duas graduações lado a lado). A formação é longa e trabalhosa, mas os resultados ajudam a explicar a formação de uma sociedade que superou o nacionalismo e se apresenta como livre, participativa e democrática.
      Abraços

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  12. Que bela reflexão, principalmente no que se refere a ideologia que vem sendo tão discutido quanto aos planos de educação e seus entraves quanto trata de gênero e sexualidade, é ate onde as pessoas tem usado esses dois temas como campo de criação de uma ideologia. Pensando sobre estranhamento e a desnaturalização, quais outras praticas podem ou são eficazes nisso?

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    1. Prezada Fernanda,
      Os resultados de nossa experiência com narrativas autobiográficas no ensino de história especialmente os textos e principalmente os seminários em que foram discutidos as questões de classe social, etnia e gênero foram recorrentes. Publicaremos em breve mais artigos com mais detalhes.
      Um grande abraço para você.

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  13. Ótimo trabalho para se pensar nas possibilidades de trazer para a Educação Básica as discussões sobre a Teoria da História. Entendo que, apesar de importantíssimas, essas discussões se limitam ao campo do professor que, depois de amparado, irá escolher o melhor viés metodológico para se trabalhar com os estudantes, ou ainda a ideologia que melhor lhe convém. Confesso que uso as ideias de estranhamento e desnaturalização nas aulas com o Ensino Médio, porém, com o Ensino Fundamental, isso é bem mais difícil. Alguma sugestão?
    Atenciosamente,
    Aline Aparecida Pereira Zacheu

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    1. Grato pela pergunta!
      Penso que podemos, e nós já experimentamos isso, desde os primeiros anos do ensino fundamental ao último ano do ensino médio trabalhar com conteúdos como matéria prima e nossa disposição de estimular a curiosidade, os questionamentos, e a produção/criação de respostas como exercício verdadeiramente educativo. Desde a formação de conceitos espaço temporais nos anos iniciais ao conhecimento crítico de jovens do ensino médio.
      Penso que "estranhamentos" e "desnaturalizações" nos acompanham desde nosso nascimento e não podem ser desconsiderados também nos processos educativos.
      Gostei muito de sua pergunta. Obrigado novamente.
      Um abraço,

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Olá Professor,
    Após uma experiência na ministração de um curso intitulado "Perspectivas do Ensino de História" na semana universitária da UECE, utilizamos concepções museológicas para promover as concepções de consciência histórica objetivando as histórias de vidas dos alunos. Onde cada aluno levava um objeto de importância da família para apresentarmos em sala e discutir através das histórias de vida familiar o contexto histórico presente.

    Quais os cuidados ao se fazer esse tipo de atividade com alunos do ensino médio?

    Joilson Silva de Sousa

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    1. Prezado Colega Joilson,
      Obrigado pela questão levantada e parabéns pela experiência que relatou.
      Creio que o cuidado fundamental é o respeito ao aluno através do reconhecimento de sua dignidade humana. E isso um bom docente faz reconhecendo que somente somos humanos, porque autônomos e livres por nossa capacidade de construir, criar conhecimentos novos (novas respostas para interpretação de nossa realidade, do individual ao global). Esse é, com certeza, o melhor cuidado e o verdadeiro respeito ao outro como humano.
      Abraços,

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    2. Boa noite Jorge,

      AO questionamento do colega Joilson é algo que também me inquieta e angustia bastante, visto que no Ensino Médio há uma pressão muito grande devido os pprocessos de vestibular ,ENEM ,etc.A questão é até que ponto atividades tais como a relatada pelo colega podem contribuir para a formação da consciência histórica entre os alunos do Ensino Médio sem,contudo , simplificar ou vulgarizar os conteúdos nesse nível?

      Atenciosamete,
      Leandra Couto

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Prezada Colega Leandra,
      Grato pela observação e questionamento.
      Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler.
      Abraços.

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  16. Boa tarde professor, além da produção de narrações sobre si mesmo como citado no texto em sua história de vida, existe algum outro método para adquirir um conhecimento histórico e ter capacidade de diferencia-lo de uma ideologia ? Gislaine Adelino

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    1. Prezado Adelino,
      Obrigado pela pergunta.
      Conhecimento de um modo geral, isto significa, também o conhecimento histórico é processo, é exercício não é verdade definitiva e conclusa. Portanto, é possível exercitar várias possibilidade para promover conhecimento e consciência histórica. Não há receita, há exercícios e possibilidades.
      Abraços

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  17. "O discurso filosófico faz desdobrar a história em dois modelos de inteligibilidade, um modelo de acontecimentos (événementiel) e um modelo estrutural". Gostaria que me explicasse essa citação. Gislaine Adelino

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    1. Prezada Gislaine,
      Confundir história com filosofia pode implicar num conhecimento como estrutura, como teoria antecipatória/projeto, a exemplo de Hegel (em sua Teoria da História) ou em Marx (em seu materialismo histórico) ou aproximar a história como descrição de uma sucessão de acontecimentos, fatos (o que caracterizou a história política, como história das elites e não a história de todos até o século 20).
      Abraço

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  18. Olá Professor,
    Penso que as discussões sobre Teoria da História são relevantes em qualquer ambiente em que a disciplina História é ministrada, sobretudo quando tal arcabouço teórico é apresentado como o gérmen da construção de um pensamento histórico questionador. Isto posto, é viável e profícuo apresentar aos estudantes do Ensino Médio, ainda que através de trechos, alguns dos textos teóricos comumente discutidos na graduação? Seria esta uma forma de apurar o pensamento crítico dos discentes?
    Obrigado,
    Lucas dos Santos Silva

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    1. Prezado Lucas,
      Gostei muito de sua pergunta e ela já contém a resposta. Concordo com a possibilidade de utilização de trechos, textos e autores que conhecemos em nossa formação de graduação. São material, e sua diversidade, a contradição entre autores, são motivações, provocações para "estranhamentos e desnaturalizações".
      Obrigado. Um grande abraço.

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  19. Alfredo Coleraus Sommer8 de março de 2016 às 14:03

    Prof.Jorge LUis!
    -Gostaria de compreender melhor essa questão da autobiografia como recurso pedagógico?
    -Pelo que pude compreender não como dissociar o ensino de História de um olhar questionador e ideológico,não concorda?
    Grato,Alfredo Coleraus Sommer.

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    1. Prezado Alfredo,
      Grato pela pergunta.
      Penso que ideologia é prescrição. É transmissão de informações (travestidas de conhecimentos) tidas como verdade absoluta. Este é um procedimento de proselitismo ideológico conservador.
      Abraços,

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  20. Como despertar a consciência histórica do aluno sem doutrinalo?
    Caroline Pinheiro de Oliveira

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    1. Prezada Colega Carol,
      Grato pela observação e questionamento.
      Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler.
      Abraços.

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  21. Boa noite Prof. Jorge Luis,

    Primeiramente, meus cumprimentos pelo presente trabalho! Me identifiquei com o seu artigo, pois o que busco é justamente esse elo entre o que os alunos vivenciam no seu dia a dia e a prática da história, quanto disciplina. Minha dúvida é: Como posso trabalhar essas questões em sala de aula, e ainda despertar a criticidade dos alunos?

    Att.

    Taciani de Oliveira

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    1. Prezada Colega Taciani,
      Grato pela observação e questionamento.
      Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler.
      Abraços.

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  22. Com o aumento das tecnologias voltadas para a Internet, jovens e adultos estão passando grande parte do dia em contato com redes sociais para mandar mensagens, vídeos, fotos e conversar com outra pessoa. É possível que a diminuição de contato físico, visual ocasionado pela preferência excessiva de um meio mais “fácil” de comunicação possa tornar um indivíduo cada vez menos crítico ou menos formulador de opiniões perante as transformações ocorridas na sociedade em que ele vive? Adriano de Campos.

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    1. Prezado Colega Adriano,
      Grato pela leitura de meu texto, pelo comentário e pela questão levantada.
      Na minha opinião o mesmo que experienciamos hoje com as tecnologias virtuais deve ter sentido quando as culturas do passado foram apresentadas ao aparecimento e difusão da escrita. Isto provocou um deslocamento dos conhecimentos e experiências até então divulgados apenas de forma oral (mesmo que de geração para geração!) temporal e geográfico: temporal porque os textos e informações escritas ficam para além do tempo de vida de seu autor e geográfica porque o texto escrito (em qualquer suporte material) pode ser levado para outros lugares.
      Imagine quando este processo foi acelerado pela invenção do papel e depois da imprensa.
      O que acontece hoje, me parece muito parecido.
      Nós precisamos nos adaptar a esta nova realidade na qual os jovens são mais rapidamente envolvidos do que os adultos (... que o fazem mais lentamente!) e considerá-la em nossas práticas docentes.
      Penso que trazer as tecnologias para o nosso lado e não combatê-las seja a melhor estratégia.
      Obrigado pela reflexão proporcionada por sua pergunta.
      Abraços,
      Jorge Luiz da Cunha

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  23. Boa noite professor.
    Como trabalhar essa questão da ideologia com alunos que pensam e agem de maneira tão diversa? Ou seja, alunos que pensam de forma muito diferente um do outro e que são, de uma forma geral, muito influenciados pelas mídias atuais.
    Vilma Zagonel Pacheco

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    1. Prezada Colega Vilma,
      Grato pela leitura e pelo questionamento.
      Desculpe, mas vou reproduzir aqui duas respostas que talvez possam ajudar a responder:
      - "Na minha opinião o mesmo que experienciamos hoje com as tecnologias virtuais deve ter sentido quando as culturas do passado foram apresentadas ao aparecimento e difusão da escrita. Isto provocou um deslocamento dos conhecimentos e experiências até então divulgados apenas de forma oral (mesmo que de geração para geração!) temporal e geográfico: temporal porque os textos e informações escritas ficam para além do tempo de vida de seu autor e geográfica porque o texto escrito (em qualquer suporte material) pode ser levado para outros lugares.
      Imagine quando este processo foi acelerado pela invenção do papel e depois da imprensa.
      O que acontece hoje, me parece muito parecido.
      Nós precisamos nos adaptar a esta nova realidade na qual os jovens são mais rapidamente envolvidos do que os adultos (... que o fazem mais lentamente!) e considerá-la em nossas práticas docentes. Penso que trazer as tecnologias para o nosso lado e não combatê-las seja a melhor estratégia."
      - "Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler."
      Espero te ajudado e me coloco a disposição.
      Um grande abraço,

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  24. Ainda que haja, por parde do professor de história, uma tentativa de diluir/minimizar em seu discurso ou pratica profissional elementos ideológicos, isto não significa que tais elementos deixarão de existir na essência ou no ser do professor. Tendo isto em vista, a ética e postura dentro da sala de aula tornam-se ainda mais fundamentais, pois é necessário respeitar a opinião ou escolha que os próprios alunos acreditam ser o ideal de acordo com sua realidade, ao professor de história, portanto, fica limitado transmitir seu conhecimento, ainda que eventualmente apareça algum traço ideológico. Como trazer para o aluno, sobretudo em tempos de bipolarização política, discussões que os ajudem a entender mais sobre o seu lugar comum sem, no entanto, transparecer elementos da própria "ideologia" do professor? - João Gilberto Solano

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    1. Prezado Colega João Gilberto,
      Grato pela leitura e pelo excelente comentário.
      Agradeço também sua pergunta.
      Permita-me inicialmente reproduzir uma resposta que já dei antes:
      "Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler."
      Eu pessoalmente penso que nosso cuidado como docente é o de permanecer sempre vigilantes para evitar "Proselitismo Ideológico" que é precisamente o que estamos vivenciando hoje.
      Na verdade, a realidade que vivemos em nosso país atualmente (especialmente esta bipolarização, ... aqui no Rio Grande do Sul nós chamamos isso de "Grenalização"!!) e a divulgação primária e sem fundamento reflexivo e teórico que vivemos hoje é expressão do quanto, nós sociedade brasileira, somos conservadores, a esquerda e a direita: - Aliás, esquerda e direita é uma expressão considerada ultrapassada em qualquer sociedade e cultura mais escolarizada e mais reflexiva.
      Simplificando, acredito que a ação verdadeiramente revolucionária e verdadeiramente humanizadora seja a que rompa com nosso "etnocentrismo" crônico.
      Grato!
      Abraços,
      Jorge Luiz da Cunha

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  25. Como o professor pode estimular em seus alunos para que eles sintam interesse por debates mais complexos tais como a própria epistemologia da história? - João Gilberto Solano

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  26. Boa noite professor Jorge!
    Gostei muito do seu texto por tratar do papel humanizador do ensino de História. Na Apologia da História ou o Ofício do Historiador Marc Bloch dá início ao seu livro com um diálogo imaginário entre um pai e um filho, no qual este pergunta "Papai, então me explica para que serve a história"?. Será que os professores hoje não estão perdidos diante do significado da história? Se eles estão perdidos, como tornar esse conhecimento significativo para os alunos?

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    1. Bom dia, Professor Jorge. Diante da indagação do nosso colega, também fiquei pensando sobre o significado da história no contexto atual.

      Abraços

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    2. Penso que os problemas que nós enfrentamos hoje, no Brasil, quanto a qualidade do ensino e aprendizagem históricas está intimamente ligado a qualidade da formação de professores.
      Uma reforma da formação de professores, de um modo geral, e dos professores de história, de um modo particula, precisa ser colocada em pauta.
      Os conceitos, as didáticas, a submissão ao historicismo que torna a história não uma ciência humana mas um conjunto de conclusões e verdades científicas a serem transmitidas, a "proselitismo ideológico", a confusão entre conhecimento e ideologia, são alguns dos fatos que comprovam isso.
      Aproveito e replico uma resposta que já dei acima, mas que pode ajudar.
      Um grande abraço,
      - "Como você percebeu através da leitura, nós, na experiência relatada não deixamos de lado o conteúdo, pelo contrário tratamos de significá-lo para os alunos, juntamente com os professores, para que o conceito de conteúdo enquanto informação (portanto transferência de "verdades" históricas, ou como tenho dito ultimamente "proselitismo ideológico"!) fosse ultrapassado pelo conceito do conteúdo enquanto matéria prima para a reflexão crítica a partir de um conceito claro de conhecimento como dispositivo de humanização e de construção da autonomia.
      A interferência com narrativas autobiográficas foi realizada com sucesso! Especialmente, por significar aos alunos e professores envolvidos os conteúdos previstos para o ensino médio.
      A propósito, um texto com mais detalhamento sobre esta experiência didática com narrativas autobiográficas, ensino de história e aprendizagem histórica, será publicado em um dossiê da EDUCAR EM REVISTA da UFPR sobre "Aprendizagem Histórica", no primeiro semestre de 2016. Creio que vale a pena ler."
      Grato pela leitura e pelo comentário!

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  27. Boa noite professor Jorge!
    Gostei muito do seu texto por tratar do papel humanizador do ensino de História. Na Apologia da História ou o Ofício do Historiador Marc Bloch dá início ao seu livro com um diálogo imaginário entre um pai e um filho, no qual este pergunta "Papai, então me explica para que serve a história"?. Será que os professores hoje não estão perdidos diante do significado da história? Se eles estão perdidos, como tornar esse conhecimento significativo para os alunos?
    Vera Lúcia Caixeta

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    1. Prezada Colega Vera,
      Grato pela pergunta e pela reflexão.
      Eu acabei respondendo sua questão acima.
      Um grande abraço,
      Jorge

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  28. Boa noite Jorge!
    1)Diante o atual modelo de avaliação o conhecimento não estaria profundamente prejudicado, mesmo que houvesse praxis satisfatorias por parte dos educadores?

    2)de uma forma geral o senhor acredita que tenhamos exito em nossa "formação do homem grego" no sentido de formarmos conforme o texto uma criatura plenamente humana?
    Rogerio santos da silva

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    1. Prezado Colega Rogerio,
      Inicialmente agradeço pela leitura e por suas questões.
      Vamos lá!
      1) Sem dúvida alguma é necessário também repensar a forma como avaliamos nossos alunos. A mudança de paradigma do educação e aprendizagem histórica leva necessariamente a uma nova concepção de avaliação.
      2) Eu pessoalmente acredito que precisamos romper com este dualismo hipócrita que caracteriza a sociedade e a cultura brasileiras e isso exige mais educação e mais cultura, mais reflexão e mais abertura para além deste comportamento religioso que nos caracteriza (como brasileiros) mais do que nunca.
      Humanizar-se significa construir-se durante toda a existência, através de nossas relações sociais em todos os níveis, através do conhecimento. Isso romperia o "proselitismo ideológico" e nos tornaria a todos melhores.
      Um abraço,

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  29. Professor. Acredito que que o ensino de história deva ter sentido e significado. Como escreve Gadote significado, que pressupõe o professor saber ensinar fazendo relação da relação teoria e prática não com uma mera transposição didática, ter domínio de conteúdo, usar de novas tecnologias e propor atividades que possibilitem a inclusão dos sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Pergunto. Os estudos de Rusen não ajudariam a ampliar as discussões referente a didática do campo da pedagogia, ampliando-se através da didática da historia com suas noções de orientação nos diferentes tempos possibilitando a visibilidade de um horizonte de possibilidades na melhoria do ensino tanto para professores e alunos?
    Mariseti C.S. Lunckes

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    1. Prezada Colega Marisete,
      Grato pela leitura, comentários e pela questão levantada.
      Nós estamos trabalhando agora com um projeto que está levantando junto aos principais autores da Educação Histórica e da Pedagogia Histórico Crítica (também com Dermeval Saviani e Jörn Rüsen) algumas questões e pelo que já temos, podemos concluir com segurança que estas duas grandes vertentes que caracterizam e levam a reflexão sobre o ensino e aprendizagem histórica são confluentes e não divergentes.
      Por isso, creio que você tem razão e concordo com você.
      Abraços,

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  30. Boa noite professor!
    Sou professor do ensino médio e gostaria de perguntar: diante do que foi colocado, o que o sr. poderia dizer a respeito do caráter ideológico presente na formulação do currícos e demais orientações oriundas das esferas governamentais para o ensino da disciplina "História" na educação básica?

    Att.
    Jorge Luiz Ferreira Lima

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    1. Prezado Colega Jorge Luiz (... gosto deste nome! Risos!)
      Grato pela leitura e pela questão levantada.
      Penso que você tem toda a razão. O que nós vivemos hoje no Brasil e que contamina todos os níveis e aspectos da sociedade e cultura brasileiras, é um dualismo primário sem embasamento teórico e reflexivo. É o reflexo de uma ideologização desumanizante, de um "proselitismo ideológico" que substitui a razão pela adesão, o conhecimento pela prescrição.
      Um abraço.

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  31. Olá bom dia Professor, o que você diria a nós professores em formação acadêmica, diante da discussões acerca dos novos metódos de utilição da teória da História na Educação Basica, apartir do contexto que se encontra no livro Didático. Visando apartir do trabaho que vc realizou na educação basica.

    Att,

    Marislânia da Silva Sousa

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    1. Eu tenho realizado experiências de ensino também nos anos iniciais do ensino fundamental com o objetivo de desenvolver noções espaço temporais. Um experiência avaliada positivamente foi uma em que reforçamos a importância didática da narrativa. Contar histórias cheias de conteúdos históricos a partir de narrativas autorreferenciais dos próprios alunos: sobre o que lembram de sua história de vida, sobre suas famílias, sobre o que seus familiares contam sobre a família, o bairro, a cidade... os efeitos tem sido muito positivos.
      Não se pode desconsiderar os diferentes níveis de apreensão, compreensão, reflexão e criação de novos conhecimentos em todos os anos a Educação Básica.
      Abraços,

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  32. Adorei , a história não esta somente nas coisas do passado pois tudo que vivenciamos é história esse texto mi fez perceber ainda mas como a história é importante em nossas vida.

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    1. Prezada Colega Alana,
      Fico muito feliz com sua observação.
      Muito obrigado.
      Ainda neste primeiro semestre de 2016, a EDUCAR EM REVISTA, publicação da UFPR, vai lançar um dossiê coordenado pela Profa. Maria Auxiliadora Schmidt (Dolinha) sobre Aprendizagem Histórica. Nele há um artigo meu que relata com muito mais detalhes e a reflexão com outros autores sobre a experiência que realizamos com a utilização de narrativas autobiográficas como dispositivos de formação no ensino de história, em classes do Ensino Médio. Creio que você vai gostar!
      Abraços,

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  33. Boa tarde professor!!!
    O que o trabalho referente ao entendimento sobre o papel da História e da conscientização histórica acrescenta na discussão do projeto "Escola Sem Partido" e da BNCC

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  34. Achei o texto muito interessante!!!
    Para você qual a importância de se estudar e aprender o ensino de história?
    Você acha que a (auto)biografia é uma atividade importante que deveria ser passada na educação básica e no ensino médio? Por que?
    Talia da Silva

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  35. Professor a historia e seu arcabouço de teoria da história desde o início a influência de leopold ranke , e outros demais pensadores , e o advento da revolução científica , a ideia dos métodos de pesquisa ,nos remetem ao distancimento da praxcis do ensino de historia em sala de aula , como devemos inspirar os alunos a busca pela consciência histórica.

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  36. Olá professor! Atualmente, o senhor acredita que o professor pode ainda estimular os alunos de acordo com a maneira que ele leciona? É possível adaptar as aulas de história hoje em dia, principalmente no ensino médio, para que o interesse dos alunos possa ser instigado, levando-os a obter o conhecimento? Obrigada.

    Crislli Vieira Alves Bezerra

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  37. Boa noite Prof. Jorge Luis Cunha!
    Sou estudante do ultimo ano em História, gostei muito do seu texto e por tratar do papel humanizador do ensino de História. Minha pergunta para o nobre professor é de como podemos discutir hoje em dia em nosso país e com esta atual situação politica de polarização uma historiografia "pura" sem sermos tachados de "esquerdistas" ou ideologistas comunistas, pois defender a integração de povos e defendermos esta humanização, se torna as vezes impraticáveis.Obrigado!
    Alan Ferreira Soares

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  38. Professor

    Tento em minha prática pedagógica romper com essa lógica imposta de se cumprir o program ,pois penso que seja mais importante levar o aluno a pensar historicamente , instrumentalizá-lo para que tenha condiçoes de ler textos históricos realizar a leitura do mundo com criticidade, no fim, utilizo o conteudo como pretexto para a formação humana, no entanto confesso , que acabo me sentindo pressionada quando vejo colegas da área tão preocupados.Como é possível ao professor de Historia trabalhar com seus alunos História numa perspectiva de formação da consciência Histórica, se somos cada vez mais pressionados a gerar resultados positivos para as avaliações externas?

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  39. Qual a importância da experiência do uso de narrativas autobibliográficas?

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  40. De acordo com o texto é possível ter alguma diferença entro o ensino de história e a consciência histórica?

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  41. Boa tarde professor!!!
    O que o trabalho referente ao entendimento sobre o papel da História e da conscientização histórica acrescenta na discussão do projeto "Escola Sem Partido" e da BNCC???

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  42. Qual o significado de línguas românicas?

    Ass.: Ivo silva - Licenciando em História.

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  43. Professor Jorge Luiz, qual a diferença entre ciência histórica e filosofia da história?

    Ass.: Ivo Silva - Licenciando em História.

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  44. Abordagem muito interessante, professor. Às vezes, lavada pela vivência em sala de aula, vários questionamentos internos povoam minha mente. Penso. Há espaço para inovação? O senhor já mencionou não existir receitas. Mas, seria o conteúdo humanizado um caminho para criar elo entre aluno e disciplina?

    Att; Andreza Oliveira Aragão

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  45. A internet e das redes sociais estão se tornando importantes aliados na busca do conhecimento e de interação, principalmente entre os jovens. Esse novo mecanismo pode ser utilizado, por exemplo, na construção de autobiografias e do processo educativo?

    Marcia Oliveira da Costa

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  46. Professor Jorge Cunha,

    À luz da experiência do senhor, como podemos trabalhar a questão do conhecimento histórico e da autobiografia explorando a relação inter-classe entre os alunos do fundamental II? Desde já, obrigado pela atenção.

    Eliakin Ramos Moura da Silva.

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  47. Boa tarde prof. Jorge Cunha.
    Desde já quero dar os parabéns pelo seu excelente trabalho.
    A consciência histórica é de fundamental importância para os nossos alunos mas, como o próprio Rusen afirmou, não são todos os conteúdos que conseguem gerar consciência histórica nos alunos. Diante disso, eu gostaria de saber quais conteúdos o senhor vê como importantes para serem dados aos alunos do ensino fundamental 2?

    Agradeço desde já a atenção!

    Natália da Silva Madoglio Martines

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  48. “Collingwood (1981, 252) considera que a imaginação histórica, diferente da imaginação livre de um artista”. Professor é possível o senhor me dá um esclarecimento desse fragmento do texto? Uma vez que não ficou tão claro para mim.

    Ass.: Ivo Silva – Licenciando em História.

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  49. Estimado Professor, na experiência que tenho como educador do Ensino Fundamental 01 tenho observado que os alunos não se “prendem” às aulas da Disciplina de História, como nas outras disciplinas, como por exemplo, matemática. Muitos alunos não têm a consciência de que a História é uma ciência que nos permite ‘‘imaginar o passado, que já não existe mais, de forma a nos ajudar a compreender o presente tornando-o evidência de seu passado” (Collingwood , 1981). O que o senhor sugere que se faça com os alunos do Ensino Fundamental 01 para que eles tenham a consciência histórica e valorizem mais essa Disciplina?

    Ass.: Ivo Silva - Licenciando em História.

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  50. Marcele Lobo Nadalon11 de março de 2016 às 11:07

    Professor Jorge Luiz da Cunha, o secretário da educação do Estado do Rio Grande do Sul, entendeu que somente 50min de aula de história por semana seria o suficiente para o ensino médio e tirou da carga horária os outros 50min. Pergunto: De que forma o professor de história conseguirá potencializar a imaginação histórica para que os educandos consigam produzir sentidos e significados para o presente (consciência histórica) em uma sala de aula onde há 40 alunos, em 50min por semana, sendo que precisa cumprir o plano de estudo da escola?

    Ass: Marcele Lobo

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  51. Boa tarde, parabéns pelo seu texto.
    Ao lê-lo, fiquei curiosa em saber qual foi a sua impressão ao final da atividade realizadas com os alunos? Sabemos que ainda é preciso construir uma noção no ambiente escolar dos alunos em se reconhecer na história enquanto sujeitos históricos, sabendo disso, você percebeu através dessa atividade esse reconhecimento entre os alunos?

    Sabrina Gomes de Oliveira

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  52. Não há como negar a invasão das redes sociais, a internet na vida cotidiana dos acadêmicos, dos alunos de todos os níveis já é uma interação muito comum entre jovens e adultos facilitando a aprendizagem mas também às vezes estimulando a preguiça na busca de pesquisas mas aprofundadas e então pergunto: isso também pode acontecer no processo educacional? ou até onde não prejudica a aprendizagem dos alunos?..

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  53. Não há como negar a invasão das redes sociais, a internet na vida cotidiana dos acadêmicos, dos alunos de todos os níveis já é uma interação muito comum entre jovens e adultos facilitando a aprendizagem mas também às vezes estimulando a preguiça na busca de pesquisas mas aprofundadas e então pergunto: isso também pode acontecer no processo educacional? ou até onde não prejudica a aprendizagem dos alunos?..

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  54. Além dessa ferramenta (auto)biográfica, quais são as outras alternativas que nós professores e historiadores podemos utilizar a fim de potencializar, e na maioria das vezes principiar (sozinhos) essa capacidade de reflexão, argumentação, produção intelectual e crítica de nossos alunos e futuros cidadãos? Tendo em vista a sociedade atual, exacerbada de informações e conteúdo sem aprofundamento, dominada pelas redes sociais e o sistema de educação brasileira, a cada dia formando menos seres autônomos e formadores de opinião , e mais alunos programados exclusivamente para testes avaliativos (Enem, vestibulares etc).
    Karolliny Joally das Neves Miranda

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  55. Boa Noite professor! Como podemos trabalhar essa consciência histórica desde o primario ate o nivel médio com os alunos e ser neutros, não se deixar doutrinar?

    Att. Pedro Wallan Machado Soares

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  56. Prezado professor. Obrigado pela reflexão proposta e apresentação de uma abordagem que ao meu ver, contribui muito para a disciplina.
    Fiquei curioso. No seu entendimento, haveria espaço para aplicação deste método usando a abordagem da História Oral? Há espaço para isto, ou seriam propostas completamente opostas?
    Acredito que novas propostas de assimilação necessitem ser utilizadas, desde que respeitadas as metodologias já comprovadas como auxiliares na construção do conhecimento.
    Obrigado!
    César Rodrigues

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  57. Como instigar os alunos a estudarem os fatos históricos dos assuntos sugeridos para a matéria História no ensino fundamental II?
    Ana Angelica Silva Oliveira

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  58. Não há como negar a invasão das redes sociais, a internet na vida cotidiana dos acadêmicos, dos alunos de todos os níveis já é uma interação muito comum entre jovens e adultos facilitando a aprendizagem mas também às vezes estimulando a preguiça na busca de pesquisas mas aprofundadas e então pergunto: isso também pode acontecer no processo educacional? ou até onde não prejudica a aprendizagem dos alunos?

    Por: Milton Luiz Macedo de Souza

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  59. Olá professor boa noite!!
    Durante muito tempo o ensino de História foi visto como uma disciplina de decorebas e muito distante da realidade dos nossos alunos, com abordagens superficiais e de valorização de grandes personagens, não trazendo para a discussão a participação de todos os sujeitos para a construção da História. Minha pergunta refere-se a metodologia, como desmistificar a visão que muitas pessoas tem sobre História e torna-la mais próxima de cada um de nós no sentido de percebermos que somos sujeitos ativos na construção histórica?

    Tiago Henrique Leal da Silva

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