USANDO BIOGRAFIAS PARA ENSINAR HISTÓRIA INDÍGENA
Kalina Vanderlei Silva
Atualmente, o Brasil vê um crescente
interesse em história e cultura indígenas com a obrigatoriedade do ensino
dessas temáticas nas aulas de história do fundamental e médio. Mas, assim como
ocorreu com a História da África, essa obrigatoriedade trouxe imediatamente à
tona o despreparo dos professores para lidar com tal temática. Não se trata
apenas do desconhecimento do conteúdo, pois isso é facilmente remediável, mas sim
de um desinteresse e uma errônea percepção de que os ‘índios’ são todos iguais
e todos igualmente ‘primitivos’. Assim, a primeira coisa a fazer é acabar com
essa visão generalista e primitivista: as populações nativo-americanas são, e
foram, tão diversas quanto múltiplas, e qualquer tentativa de ensinar sobre
elas deve começar desse tópico.
E muitas são as ferramentas que podem
ser usadas para esse fim: o já clássico recurso aos filmes têm a seu dispor
interessantes títulos como Apocalypto
(EUA, 2006), e A Nova Onda do Imperador
(EUA, 2000); títulos, claro, que requerem toda uma crítica e o apoio de fontes
bibliográficas antes de serem apresentados aos alunos. Toda uma discussão
poderia ser feita sobre esse recurso. No entanto, aqui pretendemos apresentar
um outro, o trabalho com biografias.
A biografia histórica é um gênero que
ultrapassa a própria história enquanto disciplina, entrando na literatura. Na
verdade, a biografia é um gênero – literário poderíamos dizer – de difícil
definição: escrito por jornalistas, historiadores, ficcionistas. Na
historiografia, especificamente, a biografia teve seus altos e baixos: Com o
surgimento da história analítica e estrutural no início do século XX, ela foi
relegada a um gênero de segunda classe. E mesmo com as incursões biográficas de
grandes nomes da História Cultural, como Georges Duby com Guilherme Marechal
(Rio de Janeiro, Edições do Graal, 1988),
e Jacques Le Goff com São Francisco (Rio de Janeiro, Editora Record, 2001) e São Luís (Rio de
Janeiro, Editora Record, 1999), a
retomada do interesse foi tímida e desigual. No Brasil, por exemplo, a
narrativa biográfica permaneceu como gênero jornalístico por muito tempo. Só
com a ascensão da História Oral no último quartel do século XX, a biografia foi
retomada como método de pesquisa, importada da Antropologia, influenciando
depois também a História Política.
Por outro lado, e quase sem relação com
a atual importância da biografia tanto como gênero narrativo quanto como método
de pesquisa historiográfico, o interesse do grande público nas vidas de
personagens, em geral famosos, de outros períodos, sempre foi e continua a ser
grande. Um fenômeno visível no grande número de títulos lançados por diferentes
editoras brasileiras, trazendo séries de biografias de ‘personagens célebres’. Como
exercício poderíamos entrar hoje em uma livraria e buscar obras sobre
biografias. Depararíamos logo com alguma seção dedica ao tema ‘biografias e
memórias’: prateleiras com obras as mais diversas, desde autobiografias e
livros de memória, até relatos jornalísticos das vidas de ‘personagens
célebres’. Mas se buscarmos na seção de História também encontraremos tais obras.
Essa quase onipresença de livros de biografia se deve, em primeiro lugar, ao
‘culto ao herói’ tão clássico na história. De fato, a historiografia
positivista e conservadora valorizava o personagem célebre, transformado em
herói, e defendia que alguns indivíduos, considerados pilares do brilhantismo
humano teriam marcado indelevelmente a história da humanidade (Um exemplo dessa
visão é a obra de Will Durant, bastante difundida no Brasil). A essa
historiografia se opôs uma história das estruturas, materialista histórica ou
seguidora dos Annales, que acreditava
que o indivíduo não tinha importância na definição dos rumos da história. Essas
duas visões opostas ainda influenciam o ensino de História no Brasil: a
perspectiva da história sem indivíduos está presente na elaboração de livros
didáticos, enquanto a cultura popular e a mídia associam à História
determinadas datas comemorativas e personagens célebres. Esta visão é repassada
por muitos professores de História, em comemorações do 7 de setembro, do 15 de
novembro, da abolição da escravatura associada à Princesa Isabel, entre outras
efemérides.
Enquanto isso, entre os historiadores
profissionais, desde o crescimento da influência da Nova História francesa que
revalorizou a História Política e a História Narrativa, houve uma releitura da
biografia histórica. Georges Duby, um dos principais expoentes dessa
historiografia, afirmou que o estudo do ‘grande homem’ poderia ser tão
revelador do contexto histórico como o estudo dos acontecimentos e das
estruturas. Uma de suas obras mais famosas, Guilherme
o Marechal, é uma obra historiográfica, escrita em tom de narrativa de
ficção, onde a vida do personagem central – um personagem histórico – é usada
como ilustração dos valores da cavalaria medieval e de suas estruturas sociais.
A partir dessa releitura, o gênero
biográfico passou a ser empregado como mecanismo para explicar toda uma
sociedade. Segundo Giovanni Levi, esse tipo de biografia torna o indivíduo
representativo do meio em que viveu. E é justamente essa visão que possibilita
que o personagem seja utilizado como ilustração do contexto histórico.
Por outro lado, historiadores à parte,
por trás do interesse do grande público e da mídia pelas biografias ainda existe
uma boa dose de veneração ao herói, comum a todas as sociedades. A escrita de
biografias, nessa perspectiva, dá continuidade ao culto aos heróis históricos,
tirando alguns do anonimato, transformando-os em protagonista da história, e
excluindo alguns outros, que são jogados no esquecimento.
Aqueles indivíduos que têm seus nomes
registrados pela história normalmente são representativos de determinado
discurso, pertencente a um grupo social específico. Muitas vezes, vemos a luta
de representações de diferentes grupos representada pela inclusão de
determinados personagens históricos. Por exemplo, durante muito tempo a história
oficial do Brasil, escrita pelos grupos dominantes, excluiu personagens como
Zumbi ou Chica da Silva. Mas com o crescimento da consciência étnica das
minorias negras no século XX, que reivindicaram seus próprios heróis, tais
personagens passaram a ter mais espaço na História.
Dentro dessa perspectiva, que Roger
Chartier chama de luta de representações, é que entendemos o processo de
construção de heróis e mitos históricos, e o processo de exclusão de
personagens símbolos de grupos que perderam a guerra das representações. Esses
‘derrotados’ são postos no anonimato. No entanto, a luta de representações é
algo frequente e contínuo, e grupos antes derrotados, podem começar a ter mais
visibilidade em determinados momentos. Lembremos que a história no mundo todo é
escrita dessa forma, tendo assim cada região, cada país, cada minoria, seus
heróis particulares. E é por isso que, agora que o ensino da História Indígena
se torna uma obrigatoriedade no Brasil, é o momento de trazermos as biografias
de heróis indígenas para sala de aula.
Além da produção de mitos e heróis, a
discussão sobre biografias levanta ainda uma outra questão: a importância do
indivíduo na História. Questão que se torna mais importante ao abordarmos os líderes
famosos. Os líderes realmente dirigem os rumos da história, como querem os
positivistas? Ou o indivíduo não tem nenhum controle sobre o processo
histórico, como defendem as correntes mais estruturalistas?
Sobre essa questão, acreditamos, como Isaiah
Berlin, que aqueles que são chamados de grandes
líderes, chegam a essa posição apenas por saberem prever os anseios do
povo. Ou seja, o líder de talento não é um indivíduo acima do povo, mas um
personagem tão inserido em seu contexto histórico que consegue prever, entender
e canalizar os desejos e medos de sua sociedade. Dessa forma, ele não
direciona, mas representa os rumos tomados pelo processo histórico.
Quase na mesma perspectiva estão os
artistas e cientistas de gênio. Hoje se acredita, por exemplo, que Einstein
apenas unificou uma série de ideais já elaboradas em seu tempo. Mas talvez aí
mesmo residisse seu talento. Além disso, através da análise de discurso
percebemos que nenhum autor é criador único das ideais que expõe, mas apenas
põem em palavras ou imagens elementos que já existem no imaginário coletivo de
sua sociedade. Essa é a razão de seu sucesso: eles unificam e reproduzem
imagens que andavam soltas em sua época.
Algumas correntes da historiografia se dedicam
a tentar resgatar o que chamam de ‘pessoas comuns’, trazendo suas trajetórias
de vida para os anais da história. Assim, acontece com a História Oral, a Micro
História, e a História Social que se diz ‘Vista de Baixo’. Correntes que buscam
pelo homem e a mulher comuns, acreditando que eles são mais representativos de
seus contextos históricos que os personagens célebres.
Alguns historiadores dessas correntes
conseguiram mesmo transformar seus homens e mulheres em personagens famosos. É
o caso de Menochio, personagem que Carlo Ginzburg retrata em O Queijo e os
Vermes (São Paulo, Companhia das
Letras, 2006), e Martin Guerre, personagem resgatado por Natalie Zemon
Davis em O Retorno de Martin Guerre (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987). Em todos os casos, esses
personagens se tornaram célebres a partir da escrita biográfica de suas vidas
por historiadores que adotaram uma forma mais literária de escrever, e não são
construções do tipo heroico, elaboradas ao longo de um processo histórico.
Por outro lado, o herói histórico, o
personagem tornado célebre, pode ser entendido como uma construção que responde
aos anseios mitológicos das sociedades modernas, representando por exemplo uma
jornada que é icônica para toda sua sociedade: caso dos processos de independência.
E todas as culturas possuem esses anseios mitológicos. Na verdade, algumas
correntes da Psicanálise acreditam que a perda de significados dos mitos nas
sociedades modernas é responsável pelo aumento das neuroses. Mas podemos
observar essa questão por outro lado: a história dos ‘grandes homens’, dos
‘personagens célebres’, e mesmo a proliferação das biografias históricas tenta
responder a essa ausência de heróis mitológicos, criando heróis históricos que
terminam por se tornar, eles mesmos, mitos modernos. Assim, personagens como
Che Guevara, Alexandre Magno, e mesmo Hitler, são mitos historiográficos com
diferentes funções nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Entretanto, não podemos esquecer que a
construção desses mitos historiográficos não é aleatória, mas tem um forte
sentido político, visto que são os grupos sociais no poder que escolhem quais
indivíduos do passado se tornarão heróis oficiais. Assim nascem, por exemplo,
os heróis nacionais, escolhidos por uma escrita oficial entre personagens que
estejam em conexão com as aspirações daqueles no poder, no momento que aquela
versão da história é escrita.
Nisso, o interesse pelos personagens
célebres se mantém forte. A história escrita desde a Antiguidade Clássica na
Europa escolhia os líderes como personagens biográficos, fato que no
Renascimento foi confirmado, acrescentando-se outras figuras de vulto como
artistas e condottieres. Na
historiografia positivista, apenas os líderes e grandes conquistadores que
representavam os discursos nacionais dominantes recebiam essa honra. Atualmente
novas considerações são acrescentadas, por exemplo, aquela apontada pelo crítico
literário Harold Bloom, acerca dos gênios
da humanidade. Para Bloom, a humanidade produziu uma série de gênios que se
expressaram através da literatura e que com suas obras representam tudo de
melhor já produzido na história. Que sua lista de gênios inclua poucas mulheres
e gire em torno basicamente de pensadores europeus não parece ter diminuído a
aceitação de sua obra.
Em tudo isso percebemos as razões do
contínuo interesse em biografias históricas, e de sua importância não apenas
para a História, mas para a Antropologia e mesmo a Psicanálise. E são esses
fatores, a atração que o culto ao herói oferece, o fascínio pelas vidas de
celebridades, que podem ser usados como ferramentas de ensino. Uma biografia
bem escrita pode ser lida como um romance histórico, e a própria
contextualização do cenário no qual o personagem se insere, quando bem-feita, apela
para nosso gosto por viagens por lugares e cotidianos distintos do nosso. Esses
elementos estão por todo lugar, em seriados de televisão, em filmes, em
romances históricos, e acreditamos que podem ser levados com sucesso para sala
de aula.
Mas aí nos deparamos com outro problema:
onde estão as biografias sobre personagens indígenas? Onde estão os heróis
indígenas? Se hoje não é difícil encontrar obras sobre heróis negros, apesar de
todo o racismo ainda remanescente em nossa sociedade, a situação muda quando se
trata de personagens históricos indígenas. Personagens de ficção como Iracema e
Peri vêm à mente mais rapidamente do que líderes como Canindé, que empreendeu
guerra contra os colonizadores no século XVII. O fato de que a maioria das
fontes coloniais e imperiais não se dão ao trabalho de nomear os personagens
indígenas não ajuda.
A situação melhora consideravelmente
quando expandimos nosso horizonte para fora do Brasil. Em diferentes países
americanos como o México e o Peru e mesmo nos Estados Unidos, a história
indígena, mesmo que muitas vezes marginal à história oficial, tem preservado a
memória de personagens como Sacagawea, a mulher Shoshone que guiou os primeiros
exploradores europeus a ‘descobrirem’ a costa oeste dos Estados Unidos no
século XIX, Touro Sentado, líder Sioux que comandou a resistência contra o
exército norte americano no final do século XIX, e mesmo a Malinche, a guia de
Cortez nas primeiras expedições espanholas contra o Império Asteca. E muitos,
muitos outros, entre homens e mulheres de diferentes culturas.
Cientes das dificuldades, todavia, dos
professores e alunos brasileiros em acessarem fontes confiáveis e de qualidade
escritas em outras línguas, e acreditando que as biografias heroicas podem ser
uma poderosa ferramenta no despertar para a diversidade cultural na história,
trazemos aqui as biografias de três personagens indígenas que podem ser
trabalhadas em temas como a conquista da América e a expansão dos Estados
Unidos. As três integram o livro Pequeno
Dicionário de Grandes Personagens, de nossa autoria, em parceria com José
Maria Neto e Karl Schurster, lançado pela Editora Altabooks em 2016.
O Senhor dos Quatro Cantos do Mundo: Pachacutec Inca,
Imperador Inca (século XV)
Em meados do século XV, Cuzco, um reino
de proporções medianas no coração da Cordilheira dos Andes, se viu ameaçado por
um inimigo poderoso, o numeroso e militarista povo cancha. Diante da invasão
iminente, o governante cuzquenho, Inca Viracocha, hesitou perante o inimigo e
se retirou da cidade, deixando-a nas mãos de seu filho, Inca Urco, que, no
entanto, não possuía qualidades nem para administrá-la, nem para defendê-la.
Desesperados, os nobres e administradores locais se voltaram para outro dos
filhos do rei, Cusi Yupanqui, pouco mais que um adolescente. Esse príncipe não
apenas aceitou o desafio, mas montou uma estratégia que terminou por derrotar
os canchas. Sua vitória tornou-se uma das mais importantes da história inca,
pois foi a partir dela que a expansão de Cuzco começou. Uma vitória que o
elevou também ao posto de governante absoluto de Cuzco, o de Inca, e lhe
permitiu, ao ser coroado, assumir um novo nome, mais afim a suas pretensões:
Pachacutec, o transformador do mundo.
O Inca Pachacutec Yupanqui foi um
fundador de impérios e um reformador cultural. Reinou sobre uma terra no teto
das Américas, um vale rico a três mil metros de altitude encravado nos Andes,
atualmente no centro do Peru. Essa região viria a ser, a partir de seu reinado,
o coração de um dos maiores impérios que o mundo já conheceu e o maior das
Américas, o Império Inca ou, como seus habitantes o chamavam, Tahuantinsuyo, o
reino dos quatro cantos do mundo.
Até o reinado de Pachacutec, seu povo,
os quéchua, ou incas como ficariam mais conhecidos, não possuía um império.
Viviam na cidade-estado de Cuzco, situada no fértil vale do rio Urubamba, que
viria a ser depois o centro e capital do império. Nas vizinhanças de seu vale,
diversos outros povos disputavam poder e tentavam se expandir. Pachacutec
conseguiu unificar esses povos sob o comando de Cuzco e ampliar seu governo
para limites muito além de seu vale.
O Tahuantinsuyo foi, em seu auge, um
estado centralizado, militarista e altamente burocratizado, apesar da ausência
da escrita. Os incas unificaram tradições andinas e litorâneas, adaptando as
mais variadas contribuições culturais como a metalurgia, a cerâmica e o
comércio de caravanas, aprendidas de estados e povos mais antigos dos Andes e
do litoral peruano, conseguindo dominar ambientes tão distintos como o seco e
frio altiplano andino, a floresta tropical amazônica e o deserto mais seco do
mundo, o Atacama.
Segundo a história oficial de seu
império, lembrada por guardiões de memória chamados quipucamayos, a cidade de Cuzco fora fundada por um rei lendário,
Manco Capaq, a quem haviam sucedido doze ou treze incas, sendo Pachacutec o
nono dessa lista. No entanto, Manco Capaq é um personagem mitológico, símbolo da
migração do povo quéchua para o Vale de Cuzco, provavelmente oriundo das
margens do Lago Titicaca. Na verdade, Pachacutec, se não foi o primeiro Inca
governante, foi certamente o primeiro a reinar sobre um Império, sendo seus
antecessores meramente senhores de um reino de pequena extensão. Assim, a
despeito dessa história oficial, que ele próprio mandou compor, foi o próprio
Pachacutec o fundador do Tahuantinsuyo.
Segundo, ou sétimo, dos filhos do Inca
Viracocha, o futuro unificador, então ainda chamado de Cusi Yupanqui, havia
sido um jovem hábil, porém nunca a primeira opção de seu pai para a sucessão do
trono, preterido em favor de seu irmão, Inca Urco. Mas devido à inabilidade
deste, conseguiu ascender ao trono aproveitando a invasão dos canchas. Depois
disso reinou por cerca de 30 anos, nos quais, além das conquistas militares,
investiu em modificações culturais, como a elaboração da história oficial inca
e a reforma da educação em Cuzco. Esta última medida feita em benefício da
casta inca, única a ter acesso às instituições de ensino; um grupo descendente
dos antigos governantes e que começava a se transformar em nobreza de sangue.
Pachacutec também ordenou a reorganização da língua quéchua, distinguindo-a em
língua da nobreza e língua popular, em uma atitude que fortalecia a separação
entre os grupos sociais e a hegemonia da casta inca sobre os povos conquistados
e a maioria da população quéchua.
Além disso, ele interveio na religião,
instituindo o culto ao deus Viracocha, criador milenar nos Andes, em conjunto
com a divindade máxima dos incas, Inti, o Sol, de quem acreditava que sua
linhagem descendia. Transformou o culto solar no mais importante do nascente
império, passando a realizar todas as principais cerimônias, inclusive a de
coroação, no Coricancha, o templo do Sol em Cuzco. Por outro lado, como
Viracocha era uma deidade pré-incaica, cultuado por diversos povos andinos, sua
oficialização junto a Inti facilitou a aceitação da religião oficial entre os
povos conquistados.
Mas Pachacutec queria que Cuzco fosse o
centro do Tahuantinsuyo, o centro do mundo conhecido, ao mesmo tempo em que
tentava torná-la o centro de uma cultura universal, a quéchua-inca. Para tanto,
após reformar o Coricancha, obrigou que o mesmo oferecesse espaço também para o
culto aos deuses dos povos conquistados, convertendo a capital em uma cidade
sagrada para todo o império.
Por outro lado, era necessário fazer
com que a estrutura urbana de Cuzco dignificasse sua situação de capital dos
quatro cantos do mundo. Quando Pachacutec assumiu o poder, ela era uma cidade
mediana, mas à medida que o império crescia com as conquistas militares,
crescia também sua população. O Inca empreendeu então um plano de reconstrução,
começando pelo Coricancha, que foi restaurado em sólidas muralhas de pedra com
interior coberto de ornamentos de ouro. A reconstrução incluiu ainda obras de
saneamento e fornecimento de água na cidade e em vilarejos da região. E até
hoje algumas cidades no vale ainda são abastecidas com água canalizada pelo
sistema incaico. A reestruturação de Cuzco durou cerca de 20 anos, e terminou
por lhe conferir o traçado urbano de um puma, animal sagrado para os incas.
Pachacutec investiu também na
agricultura, construindo depósitos e armazéns para guardar excedentes das colheitas
e alimentar a crescente população do império. Estas obras não foram feitas
apenas em Cuzco, mas estendidas a todo o Tahuantinsuyu. Além disso, dedicou-se
a organizar a administração, a burocracia e o calendário, garantindo que sob
seu governo o Império Inca se tornasse um dos mais bem administrados de todos
os tempos, baseando sua economia na agricultura das vilas isoladas, os ayllus, e nos tributos pagos em
trabalho, principalmente a mita com a
qual foram construídas as grandes obras monumentais sobre os Andes.
Esse sistema de tributos era a espinha
dorsal do Tahuantinsuyu. Nele, o estado não apenas coletava o imposto de todos
os ayllus como reenviava uma
percentagem dos gêneros produzidos em terras estatais para cada vila,
sustentando também as famílias dos trabalhadores enquanto estes estavam
trabalhando nas obras públicas.
Como a agricultura era, muitas vezes,
cultivada em terraços recortados nas paredes de pedra das encostas das
montanhas, ela requeria um considerável esforço de engenharia. E os incas deram
muita atenção ao desenvolvimento da tecnologia que lhes permitia adaptação à
vida nos Andes: construíram não apenas os sistemas hidráulicos de grande
precisão que distribuíam água por todo o vale, como desenvolveram uma
engenharia em pedra apropriada para sua região, vítima de terremotos
constantes. Também investiram no paisagismo e na arquitetura, provavelmente
menos por questões estéticas que religiosas. E em seu governo Pachacutec não
deixou de incentivar essas áreas de saber: foi o responsável pela construção
dos sistemas hidráulicos e silos de armazenamentos, e pelo embelezamento
estético-religioso da Cuzco transformada em puma, além de cidades como Machu
Pichu e Ollantaytambo, sua cidade-palácio de jardins suspensos, cujas
edificações encimavam um morro recortado em terraços cultivados com dálias e
orquídeas.
Atualmente Pachacutec é cultuado como
herói civilizador de Cuzco e do império inca. Na cidade que elevou à glória é o
herói máximo, com direito a estátua em praça pública. Fora do Peru, todavia, é
pouco conhecido, a despeito da fama universal de algumas de suas obras, como
Machu Pichu. Seu governo foi o auge da prosperidade de um dos maiores impérios
da história da humanidade; um império ainda imerso em uma aura de mistério que
nem sempre facilita a compreensão da complexidade e diversidade da América
indígena. Conhecer a vida e governo de Pachacutec é transformar o mistério inca
em História.
A Águia da Rocha de Cacto: Montezuma II, Imperador Asteca
(c.1466– 1520)
Em 1519, uma expedição de aventureiros
espanhóis chegou à grande capital dos astecas, a cidade de Tenochtitlán-México,
comandada pelo capitão que depois seria conhecido como um dos maiores
conquistadores da história, Hernán Cortez. Mas nesse dia, a cidade de
Tenochtitlán abriu suas portas para ele e seus soldados, levando o próprio
imperador a sair em pessoa às ruas para recebê-lo. Ele era Montezuma II, sem
dúvida o mais famoso governante asteca. Uma fama que não se deveu, no entanto,
a seus talentos como administrador ou a suas proezas militares e sim ao fato de
ter ele perdido, para sempre, o Império Asteca.
Originalmente os astecas, ou mexicas,
povo de língua nahuátl, viviam em sociedades não estatais nos desertos do que
hoje é o norte do México e o sul dos Estados Unidos. Mas a partir do século
XII, os nahuátl começaram a migrar para o planalto do México, invadindo um
território de cidades-estados já seculares em levas que foram gradualmente se
sedentarizando ao longo de duzentos anos e criando suas próprias
cidades-estados. Em uma das últimas levas de invasores, já no século XIV,
estavam os mexicas.
Uma de suas lendas mais caras conta que
eles, ainda nômades, haviam recebido ordens dos deuses para se fixarem no local
em que encontrassem uma águia pousada em um cacto. E tal águia teria sido
avistada em uma ilha no meio do grande e insalubre lago Texcoco, no Planalto
Mexicano, em cujas margens seriam construídas as maiores cidades-estados
nahuátl. Entre elas, Tenochtitlán-Mexico, a capital dos astecas.
Em duzentos anos, os astecas erigiram
um império. Militaristas, expandiram seu território conquistando estados e grupos
não estatais em uma vasta extensão espacial, atingindo quase todo o atual
México. Espalharam-se a partir de sua capital, que inicialmente fazia parte de
uma confederação de cidades-estados, mas que acabou rapidamente por se sobrepor
às demais.
A base de sua economia eram os tributos
cobrados aos conquistados e em sua sociedade os guerreiros formavam a casta
mais elevada, seguida por um segmento de comerciantes que começava a ganhar
cada vez mais espaço no final do século XV. A maioria da população era composta
por agricultores que cultivavam as chinampas,
terrenos artificiais construídos sobre as águas do lago. Toda a cidade, na
verdade, foi construída sobre o lago, sendo suas ruas caminhos fluviais. Ela
abrigava escolas de bairros, onde homens e mulheres estudavam, assim como
instituições religiosas de ensino superior, os calmecacs, para formar sacerdotes e sacerdotisas.
Sua cultura, onde a música e a poesia
eram bastante valorizadas, girava quase sempre em torno da morte e da guerra.
Esta era tão apreciada que era promovida sazonalmente: chamada de ‘guerra
florida’, era realizada contra outras cidades-estados com único objetivo de
conseguir prisioneiros para os sacrifícios humanos, parte importante da
religiosidade nahuátl. Para eles, a morte mais honrosa era em batalha ou no
altar sacrificial.
Em começos do século XVI, Tenochtitlan
estava em seu apogeu, mas ainda convivia com seus inimigos mais clássicos, os
habitantes de Tlaxcala, uma cidade-estado, também nahuátl, cujo território se
encravava no coração do império e que fornecia os principais adversários dos
astecas nas costumeiras ‘guerras
floridas’. A rivalidade entre as duas cidades era, inclusive, cultivada.
Situação que progredia em 1519, quando pela primeira vez os astecas tiveram
notícias dos espanhóis. Era então imperador Montezuma II que, seguindo o
costume, havia sido eleito dentre os herdeiros da família real para assumir o
posto de tlatoani, ou imperador. Filho do tlatoani
anterior, Auitzotl, Montezuma, que já havia exercido o cargo de conselheiro no
reinado de seu pai, era filósofo e religioso, talvez mesmo um membro de uma casta
sacerdotal. Devoto e crente de Huitizilpochtli, o deus-sol, acreditava nos
adivinhos e em suas predições que, naquele ano, haviam sido todas, segundo
versões posteriores à conquista, de mau agouro. Segundo uma lenda, ao saber da
chegada dos estrangeiros no sul do império, o soberano os teria identificado
com os presságios e acreditado que Cortez era o semi-deus civilizador,
Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada.
Uma das principais divindades do
panteão meso-americano no tempo de Montezuma, a origem de Quetzalcoatl remonta
a antes da Era Cristã, então uma divindade das águas fluviais da cidade-estado
de Teotihuacán. Sua importância era tamanha que os nahuátl quando adentraram o
Planalto do México, adaptaram-no à sua própria religião. A Serpente Emplumada passou
a ser então uma divindade dos ventos, do planeta Vênus, e da criação da
cultura. Segundo a mitologia asteca, Quetzalcoatl foi o rei de uma cidade
mítica chamada Tula, e governara magnificamente, criando uma idade de ouro para
a região. No entanto, havia sido deposto pelos sacerdotes do deus Tezcatlipoca,
o Espelho-Fumegante, seu arqui-inimigo e obrigado a abandonar o México, tomando
uma embarcação rumo oeste, mas prometendo retornar para reivindicar seu trono,
algum dia.
Depois da conquista, cresceu o mito de
que Montezuma acreditara que Cortez seria Quetzalcoatl que voltava. Muitas
lendas, no entanto, foram criadas depois da grande destruição causada pela
conquista espanhola, e grande parte da história asteca foi totalmente reescrita
e reinterpretada. Acreditando ser o conquistador uma nova encarnação da
Serpente Emplumada ou não, a verdade é que Montezuma recepcionou Cortez com a
civilidade própria dos imperadores mexicas, no que se tornaria um dos mais
importantes encontros da história da humanidade.
Foi em setembro de 1519 que os
espanhóis e seus aliados tlaxcaltecas chegaram a Tenochtitlan-México, sendo
recebidos com pompa pelo povo, por dignitários e pelo imperador em pessoa. Mas
apesar da recepção amistosa, o choque cultural ficou evidente. Os espanhóis
interpretaram a suave recepção imperial como um atestado de rendição, enquanto
para os astecas a amabilidade era apenas parte da cortesia própria das classes
altas. O imperador já recebera muitas notícias dos estrangeiros desde que eles
haviam aportado meses antes no sul do México. No entanto, curioso ou hesitante,
não havia enviado tropas contra eles, esperando que chegassem a suas portas.
Depois do encontro, ordenou que os espanhóis fossem acomodados em um palácio
especial, mas a entrada de Cortez e seus homens na cidade rapidamente degenerou
em conflito, quando eles atacaram os templos, começando uma guerra que
culminou, dois anos depois, na destruição do império.
Assim como a maioria dos líderes
indígenas, Montezuma subestimara os espanhóis, sendo morto no momento mesmo em
que a guerra foi declarada. Talvez assassinado pelos homens de Cortez que o
haviam feito de refém, talvez morto na revolta pelos próprios astecas. Deixou,
dessa forma, a cargo de seu sucessor a tarefa de combater os invasores. Uma
tarefa que o último dos imperadores astecas, Cuatlemoch, tentou cumprir com
diligência. No entanto, se os espanhóis eram em pequeno número, tinham se
aliado ao poderoso exército tlaxcalteca, velho inimigo de Tenochtitlán, que
terminou por arrasar as tropas do novo imperador. Nos anos que se seguiram, os
europeus conseguiram se impor também sobre seus aliados, graças inclusive à
devastação humana causada pelas epidemias que, sem querer, haviam ajudado a
propagar nas Américas.
A colonização deu força a imagem de um
Montezuma inábil e medroso. Com a derrota dos astecas, sua reputação foi
irremediavelmente comprometida, propagada por escritos dos espanhóis e de
cronistas que nem mesmo o haviam conhecido. Versões muito parciais. De seus
contemporâneos, pouco restou, assim como dele próprio. Mais filósofo que
militar, Montezuma demorou para confrontar seus inimigos, erro que foi fatal a
seu império. Religioso, talvez esperasse sinceramente que aqueles estrangeiros
tivessem ligações com a venerada Serpente Emplumada, divindade criadora e
inspiradora.
O México atual mantém muitos dos mitos
da conquista: Cuatlemoch, o último imperador, é retratado como um bravo e jovem
guerreiro que combateu os espanhóis até o último momento e que morreu sob
tortura; Malinche, a jovem escrava asteca, tradutora de Cortez, é considerada
uma traidora, a despeito da dificuldade de agir de forma diferente. E Montezuma
ainda é lembrado como o frágil, débil, inepto e hesitante imperador que perdeu
o México.
Voz dos Espíritos e ‘Terror’ dos Mexicanos: Gerônimo, Líder
Apache (1829-1909)
Em 1840, alguns cartazes de recompensa,
então um método usual de apreensão de bandidos procurados, foram afixados pelo
norte do México. Mas esses diferiam dos muitos outros de seu gênero pela oferta
que traziam: U$ 100,00 por escalpo de um homem apache, e U$ 50,00 pelo de uma
mulher apache. O governo mexicano, por esse meio, oficializava o extermínio de
todo um povo, pagando para que fossem não apenas presos como bandidos, mas caçados
e escalpelados. Tal política não era novidade, pois continuava a perseguição
iniciada pelas autoridades coloniais espanholas. A oferta do estado foi bem
recebida, seguida à risca e produziu muitas chacinas. Em 1858, como resultado
de uma dessas, um homem viu serem massacradas sua mãe, sua esposa e seus
filhos. Nesse dia, ele jurou que mataria tantos homens brancos quanto
possíveis. Seu nome era Goyathlay, e logo se tornaria um dos guerreiros índios
mais famosos de todos os tempos, amplamente conhecido como Gerônimo.
Goyathlay era um xamã dos apaches
chiricahua, nascido em 1829 no território mexicano que hoje corresponde ao
estado norte-americano do Novo México. Sua posição de religioso lhe
possibilitou aprender as artes de cura, além dos rituais shamanísticos que o
punham em contato com os espíritos da natureza e dos antepassados. Esses
saberes produziriam muitas lendas perante seus inimigos que afirmavam que ele
não apenas adquiria poder das conversas com os espíritos, mas que, por causa
disso, podia escapar de balas.
O apelido Gerônimo pode ser uma forma
ocidentalizada de seu verdadeiro nome, uma tradução para o espanhol, ou ter se
originado da reação de suas vítimas que, aterrorizadas com os ataques de seu
bando, clamavam pelo santo protetor, São Jerônimo. E depois de um tempo, o
próprio Goyathlay passou a usar a oração dos inimigos como seu grito de guerra
particular: Jerônimo!
Ele viveu em uma época das mais
turbulentas para os indígenas da América do Norte. Até o século XIX, os povos
das vastas planícies e desertos setentrionais estiveram relativamente distantes
da colonização europeia no continente. No entanto, este século vivenciaria
tanto a criação dos Estados nacionais, no México e nos Estados Unidos, quanto a
avassaladora expansão deste último sobre os povos nativos do oeste. Além disso,
ambas as nações recém-instituídas não demoraram a se chocar, provocando uma
guerra bem na fronteira dos grupos indígenas do norte.
Os apaches, povo de Goyathlay, eram
nômades caçadores, originários do Canadá e que desde o século XVII ocupavam os
territórios desérticos dos atuais estados do norte do México e sul dos Estados
Unidos. Guerreiros aguerridos, desde cedo travaram conflito com os
conquistadores espanhóis, destacando-se pela resistência que ofereceram à
colonização.
Chamavam a si próprios cihené, o povo da tinta vermelha. Sua
cultura belicosa, onde o status era adquirido pela guerra, levava-os a saquear
constantemente outros povos e tal era sua hostilidade que um dos principais
heróis chiricahua se chamava ‘matador de inimigos’. Estes, os chiricahua, eram
uma das quatro tribos apaches, juntamente com os mescalero, os lipan e os
jicarilla. Cada uma delas, por sua vez, se subdividia em bandos e grupos
menores. Goyathlay era um chiricahua.
Senhores das emboscadas, temidos por
seus vizinhos, assim que a colonização espanhola foi se aproximando de seus
territórios, mais ou menos em 1600, os apaches rapidamente se transformaram em
inimigos ferozes das autoridades coloniais. E assim permaneceram até a independência
do México, no primeiro quartel do século XIX. Mas o governo mexicano
intensificou ainda mais as animosidades, dispensando uma abordagem mais
‘moderna’ à questão indígena e à expansão territorial, sem os escrúpulos
religiosos antes cultivados pela Coroa espanhola. A modernização significava genocídio.
que foi realizado através da prática de recompensas por escalpos: o extermínio
foi indiscriminado, atingindo homens, mulheres, idosos e crianças. Tal política
empurrou os remanescentes apaches para o norte, para o território que estava em
disputa com os EUA, e que era há séculos ocupado pelos comanche, grupo
tradicionalmente rival.
Perseguidos, encurralados entre o
genocídio sistemático e os inimigos seculares, os belicosos apaches responderam
com a intensificação de sua guerra contra os mexicanos: atacaram cidades,
fazendas e propriedades. Dentre eles, os mais temidos e audaciosos eram os
chiricahua.
Em 1836 o México perdeu o Texas para os
ianques. A partir de então uma
extensa área, que constituía quase metade de seu território, foi sendo ocupada
por colonos norte-americanos. Devido a isto, e na esteira dos acontecimentos
que culminariam pouco depois na Guerra de Secessão, os Estados Unidos
declararam guerra à antiga colônia espanhola, provocando um conflito que durou
de 1846 e 1848 e lhes deu possessão de vastidões desérticas – mas mineralmente
opulentas – que logo se tornariam os estados do Texas, Califórnia, Novo México,
Nevada e Utah. Os indígenas, dentre eles os apaches, foram pegos no fogo cruzado.
Antes de sua independência, em 1776, os
Estados Unidos se constituíam por treze colônias inglesas, com relativo grau de
autonomia umas das outras, estendidas ao longo da costa leste do país. O
interior, além do rio Mississipi, era área não colonizada, pertencente a
diferentes grupos indígenas. Mas com a independência e o crescimento industrial
dos estados do norte, teve início uma expansão relâmpago que se tornou
conhecida como a conquista do oeste. Nela, imigrantes europeus eram trazidos e
incentivados a colonizar as terras a ocidente, o que gerava conflitos com os
povos da região. Mas contra a resistência indígena, levanta-se agora o governo
norte-americano.
Em 1830, o então presidente dos Estados
Unidos, Andrew Jackson, assinou a Lei de Remoção dos Índios que obrigava todos
os nativos da costa leste a migrarem para o oeste do Mississipi. Milhares de
pessoas foram expulsas de suas terras natais, jogadas para regiões distantes já
ocupadas por outros grupos. Os indígenas não se conformaram e diversas
rebeliões explodiram, sendo as maiores a dos sauk, comandados pelo chefe Black
Hawk em 1860, e a dos sioux em 1862. Essa última teve tal repercussão que, como
resposta, o general William Sherman, militar encarregado de reprimi-la, passou
a pregar a extinção total desse povo.
Enquanto isso, a expansão
norte-americana para oeste havia se defrontado com as pradarias: imensas
planícies habitadas por manadas de milhões de bisões que eram o principal
sustento de povos caçadores, como os sioux. Não demorou a que a estratégia de
generais como Sherman e Sheridan – este último autor do lema, índio bom é índio
morto – fosse o aniquilamento dos bisões, presas fáceis, para acabar
indiretamente com os adversários. E logo as caçadas predatórias a esses grandes
mamíferos encheram as pradarias de ossos e carcaças e levaram as manadas à
extinção. Os animais eram metralhados e abandonados aos milhões para apodrecer.
A repercussão sobre os indígenas que se sustentavam deles foi igualmente
avassaladora, obrigando-os a se render ao governo norte-americano.
Em 1860, os apaches, já então em solo
pertencente aos Estados Unidos, iniciaram sua guerra. Fazia dois anos que os
chiricahua eram liderados por Gerônimo em sua cruzada contra os ‘homens
brancos’. Primeiro levaram a guerra aos mexicanos, logo passando a atacar os
norte-americanos, fosse por terem sido empurrados para territórios mais ao
norte, fosse porque suas áreas originais haviam sido incorporadas a este país.
Entre 1861 e 1865, sulistas e ianques
desencadearam a Guerra de Secessão dos Estados Unidos, motivada pela recusa do
sul monocultor em acabar com a escravidão e se submeter à política
industrialista do norte. Este conflito foi um marco na história daquele país
por definir a supremacia do norte industrial sobre o sul agroexportador. Ao
findar, o governo da União se encontrava livre de outros inimigos que não os
índios e passou a direcionar toda sua energia bélica sobre esses.
A política norte-americana para com os
apaches e outros grupos indígenas não diferiu muito da dos mexicanos: depois da
capitulação das tribos, criaram-se reservas,
áreas escolhidas pelo governo onde os índios deveriam viver. Áreas pobres,
limitadas e afastadas das regiões ocupadas pelos colonos. Mas esses iam cada
vez mais para o oeste, aproximando-se dia-a-dia das já muito limitadas reservas
e o resultado dessa aproximação era sempre o mesmo: os indigenas eram mais uma
vez deslocados.
Foi exatamente isso que aconteceu em
1875: o governo norte-americano retirou os chiricahua de seu território no Novo
México, levando-os para uma reserva no Arizona onde já estavam instaladas sete
outras tribos apaches: a reserva de San Carlos, em White Montain. A chegada dos
chiricahua, nômades e belicosos, não animou ninguém, descontentando
principalmente eles próprios que tinham em sua ligação com a terra de
nascimento um preceito religioso. Por isso, em 1876, Gerônimo organizou um
bando de guerreiros e fugiu para a Sierra Madre, no México, passando a saquear
e aterrorizar os mexicanos, e indiretamente, os
norte-americanos, iniciando dessa forma uma série de emboscadas bem-sucedidas.
Nesse período, a fama de Gerônimo como
assassino se propagou assim como sua fama de invencível. E enquanto para os
brancos norte-americanos ele não passava de um assassino de sangue frio –
imagem que vigorou até a segunda metade do século XX –, para os apaches ele
personificava as principais qualidades da tribo: coragem e destemor. Atacar e
saquear os inimigos era prática comum e bem vista entre esses nômades
caçadores.
Mas Gerônimo foi preso em 1877 e
realocado na odiada reserva, onde deveria se dedicar à agricultura juntamente
com seu grupo. Passado algum tempo, porém, voltou a fugir e armar seu bando.
Essas idas e vindas continuaram até 1885, quando empreendeu uma fuga mais
ousada, acompanhado de um grupo maior de chiricahuas para a Sierra Madre. Dessa
vez se defrontou com um duplo obstáculo: enquanto lá as tropas mexicanas
esperavam com ordens de não deixar sobreviventes, do seu lado da fronteira as
tropas norte-americanas davam apenas a opção da rendição incondicional.
Encurralado, o líder chiricahua se rendeu pela última vez em 1886, sendo
transferido com seus guerreiros para a Flórida, bem distante de sua terra
natal.
Uma vez nesse estado, os chiricahua
rapidamente perderam um quarto de sua população para as dificuldades de
adaptação climática e as péssimas condições de vida. Presos em um forte, foram
colocados em trabalhos forçados, o que contrariava o acordo de rendição, e
transformados em atração turística na cidade. Anos depois, os guerreiros foram
transferidos para o Alabama, mas Gerônimo, que passou o resto de sua vida
preso, continuou a ser uma atração turística. Em 1904, já idoso, ganhava
dinheiro assinando autógrafos em uma feira em Sant Louis, quando foi forçado a
desfilar em uma parada do presidente Theodore Roosevelt. Foi nesse ano ainda
que começou a narrar sua vida para um biógrafo, tarefa só concluída no ano
seguinte. Morreu em 1909, com 80 anos, convertido ao calvinismo e apelando para
que Roosevelt permitisse a volta dos chiricahua ao Arizona, o que não
aconteceu. Seu povo só seria libertado em 1913.
Gerônimo passou para a história como o
comandante da última força indígena a se render oficialmente ao governo dos
Estados Unidos e durante muito tempo sua situação de inimigo do estado lhe
rendeu a imagem de vilão: tornou-se a representação, na cultura pop norte-americana, do vilão
arquetípico de faroestes e histórias em quadrinhos a partir da década de 1920.
E somente nas últimas décadas do século XX, sua figura de líder da resistência
indígena começou a ser resgatada.
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Olá Profa. bom dia! Gostaria de saber qual a metodologia adequada para a utilização em sala de aula das biografias indígenas, em particular, no ensino médio e superior?
ResponderExcluirProfa. bom dia! Como podemos incentivar de maneira didática os alunos para uma participação maior nas aulas sobre as diversas culturas indígena no ensino?
ExcluirIvanilson Martins dos Santos
Olá, Eduardo, creio que as biografias podem ser trabalhadas a partir de diferentes métodos: começando com algo tão simples quanto textos retirados da internet; na rede podemos encontrar muitas imagens e mesmo alguns vídos. O importante é tornar essas histórias empolgantes para os alunos.
ExcluirÉ um bom ponto de partida, acompanho o seu trabalho há alguns anos e aproveito a oportunidade para parabenizá-la! Abraços!
ExcluirObrigada, Eduardo!
ExcluirProfessora,boa tarde!Os professores já formados faz anos,que dão aula nas redes publicas de ensino,que ainda ensinam com as ideias positivistas,como faze-los mudarem essa concepção retrograda e eles começarem a ensinar para os alunos,a historia indígena que é essencial para entendermos nossa própria historia.
ResponderExcluirLeonardo Irene Pereira Guarino
Olá, Leonardo, é difícil mudar a metodologia de outras pessoas, se elas não estão dispostas a fazer essa mudança. O que podemos é mudar a nossa e esperar que isso sirva de exemplo.
ExcluirInteressante sua pesquisa, no que concerne o ensino de história indígena. Como dica, seria interessante trabalhar com os alunos entrevista de remanescentes indígenas no estado em que moram, para perceber as permanências/rupturas no que vemos nos manuais escolares.
ResponderExcluirÉvila Cristina Vasconcelos de Sá.
Olá, Évila, concordo com vc sobre a possibilidade de usar entrevistas. Existem muitas maneiras de se trabalhar com os mundos indígenas em sala de aula. O uso de biografias é apenas mais um, que estou trazendo aqui para despertar discussão.
ExcluirA proposta de trabalhar com biografia é muito instigante, pois se pode envolver os alunos em pesquisas possibilitando comparações entre a diversidade de relatos bibliográficos. Nesta mesma perspectiva, como poderíamos usar a literatura indígena, escrita pelo próprios sujeitos indígenas em sala de aula no ensino de História?
ResponderExcluirCom certeza, Clarice! Eu gosto particularmente do trabalho do Daniel Munduruku com a literatura infantil, mas o Brasil possui um quadro muito rico de autores indígenas atuando em variados gêneros. A proposta dos usos de biografias tenta aproveitar a muito comum tendência que temos a heroicizar personagens. O uso de literatura, por outro lado, é bem mais avançado, e engaja a partir de diferentes premissas.
ExcluirPessoalmente, uma das questões que sempre me leva ao questionamento é o por que iniciamos o estudo de história do Brasil a partir do momento em que os portugueses chegaram ao Brasil. Creio que isso ocorre devido ao fato de que os índio sempre foram visto como todos iguais, como foi sitado no próprio texto. Estudamos a sociedade indígena da America Central, porém as raízes do nosso pais ainda é pouca sitada em sala de aula. Mesmo com a garantia por lei desse assunto ser abordado, creio que ainda há uma lacuna a ser preenchida nessa área, talvez por alguns conceitos equivocados, que ainda encontra na nossa sociedade sobre os indígenas, ou por falta de incentivo de alguns profissionais. Gostaria de saber se a autora concorda que o estudo indígena na sala de aula ainda encontra-se pouco sitado e qual a solução para essa problemática?
ResponderExcluirCarla Cristina Sorrilha Rampazzo
Concordo, pois como esperamos que os professores abordem essa temática se eles pouco a estudaram? Além disso, História Indígena é uma denominação muito genérica, pois inclui sociedades e períodos totalmente diferentes. E isso também é pouco compreendido pelos docentes. Antes de nos preocuparmos com como vamos ensinar sobre cultura indígena - essa denominação tão genérica - temos que nos preocupar em como vamos estudá-la.
ExcluirBoa tarde, como vimos em seu texto muitos povos indígenas americanos foram dizimados pelos conquistadores europeus no Brasil também não foi diferente, pois em nosso território havias muitas etnias com diferentes culturas, línguas e etc... Temos algum personagem histórico identificado neste meio? alguma obra literária publicada?
ResponderExcluirAtenciosamente
Leandro da Silva Zimmermann
Olá, Leandro, temos muitos personagens, mas infelizmente pouca informação compilada. Temos chefes de grupos indígenas revoltosos, que combateram os colonizadores no sertão no século XVII, como o chefe Canindé; temos complexos líderes que se uniram à colonização, como Felipe Camarão, que apoiou os senhores de engenho na guerra contra os holandeses. Mas a maioria desses líderes é apenas nomeada pelas fontes, e os outros personagens, mulheres indígenas que educaram as crianças da colonização, por exemplo, permanecem anônimas nas fontes. No século XX a coisa muda um pouco, e já podemos encontrar textos sobre lideranças como o Cacife Raoni, e escritores como Daniel Munduruku.
ExcluirBoa tarde Kalina Vanderlei Silva. No texto acima você enuncia vários aspectos sobre iconografia e historiografia indígena. Mas não seria cada qual uma representação de seu tempo? Se a evolução não dá saltos, anda em linha reta, isto não se aplicaria ao ensino de História em cada geração?
ResponderExcluirDesde já obrigado.
JOCELAINE DA ROSA RODRIGUES
O texto se limita a apresentar um tópico para discussão: a possibilidade de usar o culto ao heroi forte em nossa sociedade para despertar o interesse de alunos em diferentes culturas indígenas. Toda generalização é problemática, e é por isso que uso exemplos diferentes, de sociedades diferentes, para mostrar a complexidade e variedade do que chamamos de 'história indígena', sem pretensão de generalizar.
ExcluirBoa noite Professora, gostaria de saber qual seria maior dificuldade dos professores em relação ao ensino da historia da africa e indígena?
ResponderExcluirAtt: Joelson Batista da Silva Rosa
O preconceito, com certeza. Podemos estudar e ensinar sobre qualquer coisa com um pouco de estudo e preparação prévia. Mas quando um professor considera determinado tema como inferior, ou a sociedade da qual ele está falando como sem história, que é o que infelizmente acontece com muitos docentes brasileiros quando deparados com o mundo indígena ou com a África, então nenhuma metodologia do mundo vai ajudá-lo a dar uma boa aula.
ExcluirBoa Noite, como priorizar os estudos dos indígenas brasileiros em sala de aula? Pois ainda encontramos muitas dificuldades em acervos.
ResponderExcluirSim, a falta de material disponível é um grande problema. Meu conselho? Use a internet: apesar da que muito na internet é, com perdão da expressão, lixo, existem vários sites, de museus, bibliotecas nacionais, associações de escritores, por exemplo, que disponibilizam gratuitamente excelente material para o trabalho em sala de aula.
Excluirobrigada pela atenção.
ExcluirParabéns pelo estudo Kalina. Gostei muito da proposta e pretendo utilizá-la para discussão da história indígena nas licenciaturas que leciono. Você se lembra de algo voltado para algum aspecto educacional nas biografias com as quais já teve contato? No seu texto há indícios que encontrarei elementos na biografia de "Pachacutec Inca, Imperador Inca (século XV)", o que me indica?
ResponderExcluirObrigada,
Lívia Carolina Vieira.
Ah, sim, Pachacutec mudou totalmente o sistema educacional do Império Inca. Se esse tema lhe interessa sugiro uma leitura da biografia dele escrita pela grande historiadora peruana Maria ROSTWOROWSKI. Mas os tupi pré-coloniais também tinham uma interessante abordagem relativa à educação infantil (veja Beatriz Perrone Moises. A Vida Cotidiana dos Tupi na Costa. Revista Oceano).
ExcluirPrezada Kalina Vanderlei, trabalho com diários pessoais e por isso tenho interesse na discussão sobre biografia, autobiografia e afins. Logo, a temática de representatividade do sujeito histórico é recorrente em meus estudos. Gostaria que aprofundasse a análise sobre "grandes líderes" feita no texto a partir de Isaiah Berlin, bem como saber qual(is) texto(s) desse autor aborda essa questão.
ResponderExcluirCaroline Tecchio
Esse é um tema que me interessa muito. O texto que usei de Berlin, e peço desculpas pela ausência na bibliografia, foi BERLIN, Isaiah. O Sentido de Realidade: Estudos das Idéias e de sua História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. Mas o autor discute essa questão das lideranças políticas em outras obras. Não tenho espaço aqui, infelizmente, para aprofundar a discussão, mas faço isso em dois textos, meu capítulo sobre biografias no livro Novos Temas nas Aulas de História (http://editoracontexto.com.br/novos-temas-nas-aulas-de-historia.html) e no novo livro, que está sendo lançado esse mês Pequeno Dicionário de Grandes Personagens Históricos (http://www.altabooks.com.br/pequeno-dicionario-de-grandes-personagens-historicos.html). Você pode encontrar ambos on line.
ExcluirGrata pela atenção, um abraço.
ExcluirParabéns pelo texto, Kalina, no seu texto você fala de algumas correntes da historiografia que “se dedicam a tentar resgatar o que chamam de ‘pessoas comuns’, trazendo suas trajetórias de vida para os anais da história. Assim, acontece com a História Oral, a Micro História, e a História Social que se diz ‘Vista de Baixo’. Correntes que buscam pelo homem e a mulher comuns, acreditando que eles são mais representativos de seus contextos históricos que os personagens célebres. Sou indígena, e estudante de história, gostei muito do seu texto, como dito anterior, é instigante, estou até pensando em tema para meu TCC, como posso começar a fazer essa busca pelos personagem de minha comunidade? seria ideal começar pela história oral na comunidade? quais os meios que podem possibilitar essa história?
ResponderExcluirAtt,
Ivanilson Martins dos Santos
Oi, Ivanilson, se você quer trabalhar com sua comunidade, então, sim, talvez o melhor seja começar com entrevistas. A História Oral lhe oferece uma boa base metodológica para as mesmas, mas você precisará fazer uma pesquisa bibliográfica também para compreender melhor as origens da sua comunidade. Existem muitas teses e dissertações já escritas por historiadores e antropólogos sobre diferentes comunidades indígenas atuais, e eu recomendo que você faça uma leitura das referentes à sua. Você pode ler também sobre Micro Historia, ou História Social para ter uma boa base teórica para sua pesquisa. Recomendo o livro Usos e Abusos da História Oral para uma boa introdução à História Oral e questões relativas à memória.
Excluirobrigado professora pela dedicação!
Excluiratt, ivanilson martins dos santos
Bom dia Professora Kalina, parabéns pelo texto e pela proposta metodológica. Gostaria que a senhora comentasse sobre as ações que devemos desenvolver em sala, principalmente no ensino médio, para trabalharmos com a história dos povos indígenas da América, sendo que ao analisarmos os processos seletivos que disponibilizam vagas para as Universidades, inclusive o ENEM, ainda há pouco espaços em suas questões para esse conteúdo tão importante para nossos alunos?
ResponderExcluirPedro Marcos Mansour Andes!!
Pois é, por um lado, existe toda uma pressão para que ensinemos sobre sociedades indígenas, por outro, o próprio Enem não inclui esse tema, o que faz com que o ensino médio se desinteresse por ele. Além disso, se olharmos para a produção disponível para o ensino sobre culturas indígenas, a maior parte é destinada ao ensino infantil. Tenho um trabalho de extensão que foca justamente a metodologia de ensino de história indígena entre adolescentes. O trabalho ainda está em desenvolvimento, mas já trabalhamos com uma metodologia interativa, apresentando vídeos curtos como 'indíos do Brasil, quem saõ eles?' e abrindo o espaço para o debate com os alunos, a partir do qual começamos a desconstruir os mitos e dúvidas apresentados por ele. Não tenho espaço para discutir isso a fundo aqui, mas espero publicar algo sobre a metodologia brevemente.
ExcluirOla professora Kalina, a leitura é muito envolvente e nos faz se questionar como agentes históricos de nosso tempo e sem duvidas ver uma temática histórica com outros olhos e com outra pretensão acaba desconstruindo paradigmas e tabus impostos socialmente, gostaria de saber quais os principais cuidados devemos ter ao confrontar uma biografia e quais as propostas podemos absorver após o trabalho com a vida desses indivíduos cósmicos como Hegel dizia ?
ResponderExcluirAcho que o principal cuidado com o trabalho com qualquer biografias é entender que toda biografia é um tipo de heroicização, de celebração de heróis, e como tal propensa a falhas. Precisamos entender que nossa necessidade por heróis é mais profunda do que pode parecer à primeira vista, e isso não é algo negativo. Afinal os heróis são modelos de comportamento e a ausência de heróis leva ao culto a celebridades relâmpagos tão comum em nossa sociedade. O culto dos adolescentes ao superherois é uma forma de tentar encontrar melhores herois. É preciso no entanto entender que, em história, esses heróis também são pessoas inseridas em seus períodos históricos, e por isso propensas às mesmas falhas do período. Essa fronteira entre o herói e o humano é que deve ser cuidada.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Professora, admiro seu trabalho e sempre observo seus escritos para reforçar minhas percepções sobre cultura. Esta pesquisa sobre Biografia Histórica mostra uma direção muito importante. Daniel Munduruku faz trabalhos fantásticos em todos os níveis de ensino. Acredito, que ainda falta muito para a implementação real da lei 11.645/08 se não estivermos dispostos no cotidiano escolar a "abraçar" as perspectivas que o Ensino de História pode oferecer.
ResponderExcluirJoilson Silva de Sousa
Professora e enquanto aos professores? Não seria interessante ouvir o que eles tem a dizer? Já estamos próximo a uma década da promulgação da lei 11.645/08, e poucas são as pesquisas referentes ao contexto da lei no que concerne as práticas do professor em sala de aula.
ResponderExcluirReforçando nos saberes e práticas dos docentes de História (FONSECA, 2006; MONTEIRO, 2007) e outros autores da Educação, seria interessante para relacionar as realidades na sala de aula?
Joilson Silva de Sousa
Olá, Joilson, sou grande admiradora do trabalho de Daniel Mundukuru e da postura do mesmo com relação ao ensino. Recomendo a todos o blog do autor, Mundukurando (http://danielmunduruku.blogspot.com.br/), onde ele traz entre outras coisas uma interessante e acessível definição de indígena contraposta ao conceito de índio. Com relação a ouvir os professores sobre a aplicação da lei, concordo, mas o que tenho visto, sem querer generalizar essa situação para todo o país, é que, apesar de 10 anos da promulgação da lei, a aplicação da mesma na prática ainda está bem longe de ser uma realidade, principalmente devido às dificuldades de associar essa tema´tica com o Enem, como foi lembrado em comentários anteriores, e pelo desinteresse dos professores.
ResponderExcluirObrigado professora,
ExcluirJoilson Silva de Sousa
O povo de goyathlay eram nômades caçadores, desde o século XVII ocupavam os territórios desérticos. Guerreiro aguerridos que desde cedo travavam conflitos.O povo de tinta vermelha sua cultura belicosa era adquirido pela guerra levam a eles a fazerem o que ?
ResponderExcluirNão sei se entendi bem a pergunta, Hiara, mas o povo de Goyathlay baseavam toda sua cultura na guerra, inclusive sendo uma de suas atividades econômicas mais importantes os saques. Assim, a cultura os levava a fazer o que? saquear, principalmente.
ExcluirParabéns professora Kalina pelo seu trabalho. Acredito ser um tema de extrema importância para o debate. Os povos indígenas ainda são vistos como muito preconceito pelos alunos. Diante disso, como valorizar e trabalhar a cultura indígena em sala? Será que os avanços tecnológicos podem contribuir para revisitar a cultura indígena? Ana Makohim Kozelinski
ResponderExcluirAna, eu acho sim que a mídia ajuda, pois é o que os alunos estão acostumados. Se eles querem navegar na internet, então os deixe ir para o Youtube procurar as animações sobre o clássico maia Poppol Vuh, se eles querem filme de ação, então leve-os a assistir Apocapypto, e por aí vai!
ExcluirBoa noite professora.
ResponderExcluirDiante do preconceito ao povo indígena que vem sendo construído na mentalidade de toda a sociedade desde a época do "descobrimento". Gostaria de saber como o professor(a) deve trabalhar na desconstrução dessa mentalidade que foi e esta sendo passada de geração em geração?
Vilma Zagonel Pacheco
Bom, no texto eu proponho o uso do nosso culto aos herois para fazer isso. Mas uma maneira boa é, por exemplo, independente da metodologia, sempre se referir ao povo sobre o qual vc está falando pelo nome, astecas, tupi, kaiapó, etc, e não pelo conceito genérico de índio. Ou seja, devemos começar cuidando de nossas próprias palavras.
ExcluirBoa noite,
ResponderExcluirAmbas a biografias são interessantes e é sempre bom deixar de lado a visão eurocêntrica e focar mais na visão indígena. Comecei a ter aula de História do Brasil 1 esse semestre e já sei pra qual área seguir. Em sua opinião, sobre o brasileiro desprezar sua cultura pensando que a do exterior, quais fatores forma essenciais para criação dessa mentalidade? Como podemos fazer para mudar essa mentalidade do povo brasileiro e mudar a concepção de cultura apresentando os aspectos indígenas?
Obrigado
Vinicius Sales Barbosa
Boa noite professora, o sujeito indígena precisa aparecer nos conteúdos discutidos em sala de aula pois fortalece ainda mais o conhecimento do aluno.Na sua percepção porque ainda há professores que ainda não discutem sobre assuntos relacionado ao povos indígenas em sala de aula?
ResponderExcluirMikaela de Sousa dos Santos
Mikaela, duas razões: uma é o desconhecimento mesmo. Tem muito professor com boa vontade, que no entanto não tem treinamento para discutir esse tema. A outra é o preconceito mesmo que faz com que alguns não saibam e não queiram saber!
ExcluirOlá professora!
ResponderExcluir-Seu texto fez-me refletir sobre os filmes do velho oeste e o tanto de preconceito que nos passavam em relação aos índios americanos.Gostaria de saber se há algum site ou livro que possas indicar para uma pesquisa séria sobre o povo Inca?
-Há uma noção do % indigena que morreu após a colonização na América devido a guerras,perseguições e doenças?
Desde já grato!
Alfredo Coleraus Sommer
Alfredo, adorei a reflexão sobre os faroestes! E é verdade, os filmes de faroeste clássicos reproduziam todos os discursos da conquista do oeste norte-americano. Sobre os incas, não existe muita coisa atual publicada no Brasil, mas alguns clássicos são importais como o livro do Metraux sobre os incas, e existe uma ótima compilação de textos do cronista Garcilaso Inca (ele mesmo meio inca) chamado O Universo Incaico, muito bom. Além disso se vc conseguir colocar suas mãos nos livros da Maria ROSTWOROWSKI eu recomendo muitíssimo, principalmente a biografia do Pachacutec. Mas muito cuidado com a legião de porcarias 'místicas' sobre os incas publicada no Brasil!
ExcluirBom dia,
ResponderExcluirAmbas a biografias são interessantes e é sempre bom deixar de lado a visão eurocêntrica e focar mais na visão indígena. Comecei a ter aula de História do Brasil 1 esse semestre e já sei pra qual área seguir. Em sua opinião, quais fatores foram essenciais para a criação da mentalidade do brasileiro de desprezar a cultura indígena considerando melhor a dos outros povos? Como podemos fazer para mudar essa mentalidade e a concepção de cultura apresentando os aspectos indígenas?
Obrigado
Vinicius Sales Barbosa
*Favor desconsiderar a questão anterior feita por mim, pois a mesma ficou confusa e faltando alguns pontos
Olá, Vinícios, vou responder de qualquer jeito! Como fomos uma colônia, essa mentalidade vem do próprio processo de colonização que impõe uma inferiorização dos nativos como ferramenta para o controle do território colonizado. Se quiser refazer a pergunta, fique à vontade.
ResponderExcluirOlá,Kalina! Sua temática é dez e faz-nos refletir que,realmente,dezenas de docentes não têm base e nem abordam a educação indígena em sala.Já ouvi docente em curso de história dizer que,não se discute muito sobre índios porque eles são poucos no país e vivem diferente de nós os civilizados).O que dizer diante disso? E os alunos como ficam? Merecem saber isso?
ResponderExcluirAs comunidades indígenas estão crescendo em população, não decrescendo. Contra esse argumento, podemos usar os próprios dados dos censos nacionais. Logo na primeira página do IBGE-Indígenas encontramos essa informação. E sim, os alunos merecem saber disso, e de que os docentes que afirmam o contrário estão alimentando falsas informações.
ExcluirBoa tarde,
ResponderExcluirFaltou responder essa: Como podemos fazer para mudar essa mentalidade e a concepção de cultura apresentando os aspectos indígenas?
Obrigado
Vinicius Sales Barbosa
Contra qualquer tipo de preconceito a melhor arma, creio eu, é a educação.
ExcluirOlá,
ResponderExcluirEu gostaria de criar uma biografia da rede que eu trabalho, e está completando 200 anos. Gostaria de saber como eu começaria a criar o banco de dados de uma instituição.
Bruno Roque Younes
Bruno, nesse caso não seria uma biografia, já que se trata de uma instituição, mas a própria história da instituição. Comece procurando documentos e informes sobre as origens da mesma, e criando uma lista de possíveis entrevistados. E depois parta para estudar os métodos sobre entrevista, etc. Um banco de dados também é algo diferente, mas existe muitos artigos em revistas no Scielo sobre isso.
ExcluirBoa noite!
ResponderExcluirAchei muito interessante a possibilidade metodológica aqui apresentada, uma vez que realmente temos muita carência de material para trabalhar essa temática. Em relação ao estudo da história e em especial da crença indígena, sinto muita dificuldade de desenvolver essa temática, uma vez que trabalho em uma comunidade muito fechada à discussões de cunho religioso. Pela sua experiência, que possibilidades de abordagens poderia ajudar a derrubar tais barreiras? A biografia poderia ser uma estratégia para abordar esse tema também?
Atenciosamente,
Franciele Oliveira Gomes de Oliveira
Ah, sei como é ter que discutir diversidade religiosa em comunidades fundamentalistas! Sempre um problema. Meu conselho? Não discuta religião diretamente, mas cultura, sociedade, personagens. Mostre as pessoas e o cotidiano no qual viviam, apelando assim para a empatia dos alunos. Muitos podem discordar, mas sempre achei nesses casos que devemos começar familiarizando os alunos com as pessoas de culturas diferentes, com as similaridades deles no cotidiano com todas as outras pessoas do m undo, e só depois partirmos para temas polêmicos (quando os alunos já vão estar mais simpáticos a nossos personagens).
ExcluirOlá Professora, achei muito interessante o uso de biografia para o ensino de história. Que achas de utiliza-la no formato de atividade de pesquisa de árvore genealógica com alunos indígenas com o objetivo de estreitar a propagação da história oral bem como sua interação junto a comunidade?
ResponderExcluirAtt,
Leônidas Luiz Rubiano de Assunção.
Ótima ideia! Levar os alunos a procurarem suas próprias origens, valorizando-as, sim, muito boa sugestão!
ExcluirOlá professora, parabéns pelo texto tão bem elaborado. Minha pergunta se dirige a partir do lugar e tema que pesquiso, o tema é o mesmo, o ensino de história (indígena e não-indígena), algo que nos traz problemas na conceituação, como explorado no vosso texto, história indígena como disciplina, como apêndice da história do Brasil ou da América, como uma etnociência, ou como historiadores e antropólogos parecem pacificar, um método interdisciplinar de pesquisa? O lugar não é o das escolas "dos brancos", é o da educação escolar indígena, nas aldeias, processo de escolarização que diferentemente do anterior, tem o discurso de uma escola diferenciada, bilíngue e intercultural, buscado pelos próprios povos indígenas que tendo a escola como direito dentro do contexto de organização e luta, diante dos contatos com a sociedade nacional, resultando no reconhecimento das identidades indígenas, o que traz direito a manutenção de saberes tradicionais e modos próprios de ensinar e aprender na Constituição de 1988, pondo fim oficialmente ao paradigma da assimilação ou integração destes povos a unidade nacional. Portanto, entendendo a revisão metodológica do uso da biografia no ensino de história, do uso do culto ao herói em sua potencialidade de representação de um tempo e de uma sociedade. Esse ensino a partir de biografias no contexto das salas de aulas, nas escolas das comunidades indígenas, tem maiores dificuldades, mesmo que seja com professores indígenas e biografias de personagens indígenas? Não se corre o risco de certos povos, mais bibliografados, com maior quantidade de fontes se destacarem em seus personagens, criando na diversidade de culturas e histórias indígenas certa hegemonia de alguns povos como os da literatura, mitologia tupi ou guarani? Posto que das centenas de etnias que temos no Brasil, muitas escolarizadas, material didático escrito pelos próprios indígenas é uma realidade ainda distante.
ResponderExcluirSurpresa feliz, pelo tema que tenho grande interesse e da autora, minha professora na UPE - Nazaré da Mata. Grande abraço!
Dhiogo Rezende Gomes.
Olá, Dhiogo! Você tem razão, meu texto olha a partir das escolas da rede comum brasileira, e não a partir das escolas das comunidades indígenas, que têm toda uma outra realidade. No caso, a perspectiva oferecida aqui tenta refletir como valorizar a história indígena (o que já é uma tremenda generalização, com certeza), a partir de fora das comunidades indígenas. Mas reflito agora, será que valorizar heróis indígenas de qualquer etnia não é bom para os alunos indígenas atuais? Será que não pode ser um começo para que eles se interessem por construir os próprios herois de sua comunidade, através de genealogias, como sugerido no comentário do Leônidas Rubiano acima? Só uma reflexão.
ExcluirAcredito que qualquer recurso, por mais simples que seja, deve ser utilizado para ensinar a história indígena, no entanto, as biografias constituem um rico material desde que devidamente utilizadas e orientadas. A FUNAI possui algum material nesse sentido para ajudar o professor? Onde o professor pode encontrar ferramentas que o auxilie com a metodologia desse tipo de ensino? - João Gilberto Solano.
ResponderExcluirJoão, o site da Funai tem documentos governamentais, mas existem outros acervos melhores, como o IBGE, por exemplo, e melhor ainda, vários escritores e comunidades indígenas possuem sites com material disponível como o Daniel Munduruku
ExcluirBoa tarde ! Gostaria de parabenizá-la pela problemática levantada.
ResponderExcluirDurante a minha graduação ao estudar História da América, tive contato com obras que abordavam a colonização da América espanhola através da visão do homem europeu. Talvez a única obra que acredito, tenha sido um pouco imparcial foi a do filósofo Tzvetan Todorov “A conquista da América: a questão do outro”. A senhora acredita que ainda hoje, em plena era da informação, muitos professores ao trabalharem com os seus alunos ainda reproduzem essa visão europeia ? Ou viveremos “reféns” dos escritos dos religiosos que acompanhavam essas expedições ?
Júlio Cézar Torres da Silva
Júlio, acredito, infelizmente, que a maioria dos professores, principalmente longe dos grandes centros, ainda reproduz a visão tradicional da conquista da América. Recomendo para vc o livro Sete Mitos da Conquista da América, do Matthew Restall, que atualiza as críticas de todorov. É um grande livro que todos nós deveríamos ler e trabalhar em sala de aula.
Excluirolá, boa tarde.
ResponderExcluirprimeiramente gostaria de lhe parabenizar por seu trabalho.
no quesito ensinar a história indígena no Brasil envolve muitos desafio, visto que nosso país tem dimensões continentais e muitas etnias habitavam aqui antes da vinda dos portugueses, visto que esse ensino aos indígenas é fruto de sua própria luta.
não seria mais fácil um trabalho baseado em romances como Macunaìma, Iracema ou o Guárani?
Visto que um antropológico remontando a partir da memória desses povos e então constituir essa biografia exige maior tempo e investimento dos interessados.
att
Luiz, acho que se você quer trabalhar com história indígena a partir da literatura, o que é uma ótima proposta, seria mais interessante trabalhar a partir de escritores indígenas, que são muitos no Brasil. Iracema e O Guarani, apesar de grandes livros, são visões de personagens europeus transformados em índios, Ou seja, José de Alencar escreveu sobre damas e cavaleiros medievais no lugar de personagens realmente indígenas. São visões coloniais dos nativos americanos.
ExcluirKalina em termos de Brasil como a visão do indígena se apresenta? A lei 11.645/08 trouxe um novo enfoque? Att Jose Roberto Gomes
ResponderExcluirCreio que o que a lei trouxe foi a necessidade de nós construirmos um novo enfoque, mas esse ainda vai levar tempo para ser formulado.
ResponderExcluirAs biografias históricas são, certamente, as minhas leituras favoritas. Porém, sobre a utilização delas no ensino de História na educação básica, sempre esbarrei no seguinte dilema: como trabalhar biografias sem que os alunos construam percepções anacrônicas sobre determinados aspectos da vida do biografado, especialmente sobre a cultura? Por isso, pergunto: o uso de biografias no ensino de História não demandaria uma discussão prévia sobre a interface História e Antropologia?
ResponderExcluirFernando Santana de Oliveira Santos
Qualquer abordagem a ser usada em sala de aula exige do professor um preparo prévio. Por exemplo, o trabalho com cinema com os alunos mais jovens exige que o professor se prepare, a partir de leituras teóricas, e não simplesmente apresente o filme aos estudantes sem nenhuma discussão. O mesmo pode ser dito das biografias: é preciso que o docente estude o tema e a abordagem e então decida a melhor maneira de apresentar aos seus alunos.
ExcluirBoa noite, professora... A literatura de José de Alencar idealizava o indígena, caracterizando-o como herói __ basta lembrarmos de Iracema, Ubirajara... Na sua opinião, essas leituras poderiam servir de motivação para a escrita de biografias indígenas?
ResponderExcluirDonatília Duzolina Rocha de Paula
Como disse em comentário anterior, a literatura indigenista, apesar de a primeira vista apresentar Iracema e Peri como heróis, na verdade é bem mais complexa do que isso, pois Alencar construiu Peri como um herói da cavalaria, como era típico do romantismo, e Iracema é o típico retrato do que as elites escravistas queriam que os indígenas fossem: subservientes e dependentes e dispostos a dar a vida pelo colonizador. Então, é preciso cuidado antes de apresentar esses textos aos alunos.
ExcluirOlá professor boa noite!
ResponderExcluirMuito interessante a sua conferência, durante muito tempo as obras didáticas passaram a retratar o indígena de forma caricata principalmente nas séries iniciais retratando o encontro entre os índios e portugueses. Umas das novas propostas para o ensino de História conforme o PC divulgado recentemente pelo MEC tem proposto um estudo mais aprofundado da história e cultura indígena e africana, porém ainda assim o documento a meu ver apresenta uma visão muito simplista sobre essas questões. Do seu ponto de vista qual seria a melhor forma de construir, apresentar e integrar o estudo da cultura indígena nas salas de aulas, estabelecendo uma relação entre essa cultura e a formação da nossa identidade nacional, sem porém do ponto de vista caricato como é atualmente?
O uso de biografia é uma abordagem sugerida, mas em comentários anteriores apresento, e discuto com os comentaristas, várias outras. O trabalho com cotidiano e heróis, o uso de filmes, etc. Mas o mais importante é que o professor estude conceitos e se aprofunde teoricamente. Ai ele será capaz de escolher a melhor abordagem para seus alunos.
Excluirlá professor boa noite!
ExcluirMuito interessante a sua conferência, durante muito tempo as obras didáticas passaram a retratar o indígena de forma caricata principalmente nas séries iniciais retratando o encontro entre os índios e portugueses. Umas das novas propostas para o ensino de História conforme o PC divulgado recentemente pelo MEC tem proposto um estudo mais aprofundado da história e cultura indígena e africana, porém ainda assim o documento a meu ver apresenta uma visão muito simplista sobre essas questões. Do seu ponto de vista qual seria a melhor forma de construir, apresentar e integrar o estudo da cultura indígena nas salas de aulas, estabelecendo uma relação entre essa cultura e a formação da nossa identidade nacional, sem porém do ponto de vista caricato como é atualmente?
Tiago Henrique Leal da Silva (repostando pois havia esquecido de assinar)
Olá prof!
ResponderExcluirGostaria de saber, de que maneira devemos apresentar os lideres Indígenas e seus respectivos costumes, sendo que em algumas regiões ainda à um preconceito muito grande com essas sociedades?
Igor Roberto Carvalho Brito.
Olá, Igor, discuto minha proposta para essa apresentação tanto no texto da conferência, quanto nos comentários anteriores, inclusive sugerindo material didático e paradidático!
ExcluirAdriano da Silva.
ResponderExcluirBoa tarde, Professora Kalina.
Em nosso país que não damos a devida atenção aos índios, Gostaria de saber qual a metodologia adequada para se usar com alunos sem caricaturarmos os indígenas?
Adriano da Silva.
Como disse em comentários anteriores, não existe UMA metodologia adequada, mas várias. Nosso problema não é tanto metodologia quanto despreparo e preconceito. Mas entre as metodologias, na conferência atual discuto as potencialidades do uso de biografias, e nos comentários algumas outras possibilidades, como as entrevistas, cinema, etc.
ResponderExcluirBoa tarde, profe Kalina!
ResponderExcluirConsiderando os planos de estudo e a BNCC que vem por aí... conteúdos obrigatórios.. vestibular-enem... como conciliar, junto aos conteúdos, as biografias?
Seria possível priorizar as biografias e a partir delas trabalhar os conteúdos? Sempre tentei fazer o contrário (temendo a heroicização!) e por isso, muitas vezes, acabava deixando de lado as biografias... devido ao tempo, e a falta de interesse que muitas vezes os alunos acabavam demonstrando sobre as temáticas...
Então, é possível ensinar História tendo como ponto de partida a biografia e a partir dela, desenvolver as informações do contexto? Ou não, são necessárias algumas informações antes?
Boa tarde,Kalina
ResponderExcluirPartindo da formação que a grande maioria dos profissionais das disciplinas humanas tem recebido não é incomum que o estudo das minorias seja relegado a um posto de inferioridade diante de outros conceitos ou temas tradicionalmente estudados.Não se tem uma formação suficientemente clara e um trabalho efetivo,no que tange as minorias ou mesmo aos grupos historicamente subordinados de forma social,econõmica,política,etc. Em geral ainda temos a história contada pelo dominador, pelo vencedor,pela elite,etc... Concordo que o estudo através de biografias possa servir de meio para que o estudo da temática indígena ocorra efetivamente no ãmbito escolar.Entretanto é fundamental que exista uma parceria entre os teóricos da academia e o profissional do chão da escola,caso contrário o indígena ainda será lembrado apenas um dia do ano e de forma folclórica e pejorativa.
Sidinei Sganzerla
Boa tarde,Kalina
ResponderExcluirPartindo da formação que a grande maioria dos profissionais das disciplinas humanas tem recebido não é incomum que o estudo das minorias seja relegado a um posto de inferioridade diante de outros conceitos ou temas tradicionalmente estudados.Não se tem uma formação suficientemente clara e um trabalho efetivo,no que tange as minorias ou mesmo aos grupos historicamente subordinados de forma social,econõmica,política,etc. Em geral ainda temos a história contada pelo dominador, pelo vencedor,pela elite,etc... Concordo que o estudo através de biografias possa servir de meio para que o estudo da temática indígena ocorra efetivamente no ãmbito escolar.Entretanto é fundamental que exista uma parceria entre os teóricos da academia e o profissional do chão da escola,caso contrário o indígena ainda será lembrado apenas um dia do ano e de forma folclórica e pejorativa.
Sidinei Sganzerla
olá, como explicar ao aluno que o "índio" continua sendo "índio", mesmo tendo acesso a internet, se formando na faculdade etc., fazendo "coisas de não indígenas"?
ResponderExcluirO texto cita que os os professores tem um certo despreparo para lidar com o tema História Africa, por desinteresse e uma erronia percepção de que os índios são todos iguais e todos igualmente primitivos, quais as ferramentas podem e devem ser usadas para a mudança desta perspectiva alem de filmes.
ResponderExcluirLélio de Castro Torres
De que maneira a Historia oral pode contribuir para o inrequecimento do estudo do tema.
ResponderExcluirLélio de Castro Torres
Olá, Professora Kalina, seu trabalho dimensiona o tamanho do desafio para alcançarmos a nossa identidade cultural plena. Precisamos conhecer em profundidade o indígena para promover essa inclusão que nos valoriza enquanto nação multicultural. Separamos as etnias como se fossem dissociadas do povo brasileiro... Fica evidente que a falta de equidade em relação às diferentes culturas tem conduzido ao apagamento de etapas importantes de nossa história. No entanto, considerando que muitas populações indígenas foram dizimadas, compondo aproximadamente 5% da população do país, e que essas pessoas, em sua maioria, vivem em situação precária, sofrendo discriminação étnica, social, econômica, quais seriam as perspectivas de futuro e de inclusão para elas?
ResponderExcluirDonatília Duzolina Rocha de Paula
Boa Noite, excelente texto Kalina.
ResponderExcluirInteressante essa utilização sobre a biografia de "pessoas comuns" para se entender o todo social em que o indivíduo está inserido, percebendo que o indivíduo carrega consigo características do social, econômico e político nas suas atitudes. Na sua opinião isso ajudaria o aluno a ter consciência sobre seu papel histórico/fonte histórica, mesmo não sendo o "herói" no âmbito em que vive?
Att, Luciana Vargas Jardim.