Luis Bantim

REPENSANDO A REPRESENTAÇÃO DE ESPARTA PARA A PESQUISA E O ENSINO DE HISTÓRIA

Luis Filipe Bantim de Assumpção



A História é o produto dos questionamentos e demandas do nosso tempo. Esta afirmação pode soar bastante equivocada para aqueles indivíduos formados em um modelo tradicional de conhecimento historiográfico, no qual o passado era compreendido como um dos sinônimos da História, que por ser transmitido em uma instituição de ensino ou em livros “especializados” tornava-se algo inquestionável.

Atualmente, em pleno século XXI, a ideia de uma “Historia Magistra Vitae” nos moldes de Tucídides e Marco Túlio Cícero já foi superada e nós, historiadores, temos a consciência de nossas limitações na produção do conhecimento histórico. Martha Howell e Walter Prevenier destacaram que os profissionais da História idealizam o passado em uma proporção muito maior do que o descobrem. Este apontamento não é sem motivo, caso levemos em consideração que os historiadores selecionam os eventos e as pessoas que deveriam constituir a sua “narrativa histórica”, bem como aquilo que merece ser estudado pela importância central que exerce nos interesses contemporâneos (HOWELL; PREVENIER, 2001: 01). Michel de Certeau (2008: 16) clarifica esta premissa ao declarar que o pesquisador realiza uma “triagem” para selecionar o que pode ser “compreendido” do passado e o que deve ser esquecido. Ou seja, cabe ao historiador eleger aquilo que deverá se constituir como História e o que deve ser preterido, tornando o seu ofício algo de importância incomparável no interior de uma sociedade e na consolidação dos mais variados interesses político-culturais.

De modo mais otimista, talvez, Marc Bloch escreveu algo semelhante aos referidos autores, pois, para o referido membro dos Annales, o historiador deveria recortar na miríade de informações do passado aquilo que gostaria de abordar e aplicar o seu método investigativo, haja vista a multiplicidade de informações históricas que detemos (BLOCH, 2002: 52). A perspectiva de Bloch, De Certeau, Howell e Prevenier nos leva a constatar que a História é um processo que lida, não somente, com os eventos do passado, mas, principalmente, com as escolhas e os interesses dos profissionais que pretendem investigá-lo. Também é correto afirmarmos que a pesquisa histórica lida com a afinidade que desenvolvemos com uma dada temática, entretanto, inúmeras outras variáveis se fazem presentes na produção do conhecimento historiográfico e na escolha de nosso tema de pesquisa. Dentre elas podemos destacar o contexto histórico, o lugar social, a nossa formação enquanto sujeitos, bem como as possibilidades documentais. Elementos esses que devem ser levados em consideração pelos professores ao dissertarem sobre um tema em sua prática de Ensino de História.

Imersos nessa ótica de pesquisa histórica, demarcamos que foram tais variantes que nos levaram a Esparta, enquanto objeto de estudo. De imediato, a sociedade espartana nos chamou a atenção pela maneira simplificada com a qual era apresentada por alguns especialistas. Por conseguinte, Esparta era representada como um contraponto a Atenas, esta última tida como o bastião da cultura, da política e da filosofia do Ocidente Moderno. Ora, com tantas sociedades integrando a nossa concepção de Antiguidade, somente a ateniense serviu para edificar os interesses, os valores e as tradições ditas ocidentais? De fato que não. Munidos do breve debate estabelecido nos parágrafos anteriores, também nos questionamos se isso não foi uma construção, e caso a resposta seja positiva, quando isso teria sido iniciado? Estas indagações foram algumas das que nos motivaram a investigar sobre a pólis de Esparta, afinal, como esta sociedade teria sido tão “inferior” a Atenas, se a mesma derrotou esta última na Guerra do Peloponeso?

A tendência com a qual nos deparamos no início de nossas pesquisas foram desenvolvidas em uma tendência historiográfica de cunho atenocêntrico, isto é, um viés investigativo assimétrico que considerou outras póleis da Antiguidade a partir das práticas político-culturais de Atenas. Podemos identificar esta inclinação entre os indícios literários do Período Clássico, sobretudo, entre os autores que escreveram imersos no contexto do conflito entre peloponésios e atenienses. Como via de exemplo, Tucídides e Eurípides poderiam ser tomados como referenciais para essa perspectiva, onde o lugar social que ocupavam no interior da sociedade ateniense influenciou diretamente na maneira como representaram Esparta.

Contudo, ainda que possamos verificar a tendência adotada por estes pensadores antigos – ao relacionarmos os seus respectivos discursos ao período histórico em que viveram – a historiografia contemporânea, em inúmeras ocasiões, se utilizou deste comportamento polarizado para tecer as suas análises acadêmicas. Podemos citar Moses Finley (Grécia Primitiva, 1990), Geoffrey De Ste Croix (The Helot Threat, 2002) e Jean-Pierre Vernant (O Homem Grego, 1994), cujos trabalhos consideraram a pólis espartana como rústica, atrasada e culturalmente estagnada. Todavia, quando situamos estes historiadores em seus respectivos contextos sociais, podemos notar parte da motivação dos mesmos em tomarem Esparta como um algoz do ideal de liberdade promovido pela democracia ateniense e, por vezes, apropriado pelo Ocidente moderno. Desse modo para compreendermos tal assertiva, iniciaremos as nossas considerações para que, por fim, sejamos capazes de perceber os fatores que levaram Atenas a se constituir como modelo para as sociedades ocidentais, enquanto Esparta foi relegada ao segundo plano dos estudos acadêmicos, até a década de 1980. Sendo assim, lançaremos o nosso olhar ao século XIX e o início do XX para percebermos as motivações dos pensadores em disforizarem1 a pólis de Esparta em suas representações2.

Como havíamos demonstrado em outra ocasião (ASSUMPÇÃO, 2014: 66-72), na Europa do século XVIII, a representação de Esparta idealizada por Plutarco ocupou um lugar proeminente entre os eruditos franceses. Na obra intitulada “Vida de Licurgo”, o autor beócio construiu uma imagem da sociedade espartana que beirava a utopia, onde o mítico legislador Licurgo agia em benefício de todos os cidadãos, promovia a igualdade política entre os homens, a divisão de bens materiais e o ideal da “bela morte” em prol da pólis. Mediante estes indícios da documentação de Plutarco, a grande maioria destes intelectuais da França moderna defendia que as práticas culturais dessa pólis poderiam servir de exemplo para a Europa do XVIII. Podemos citar os casos de Montesquieu (no Espírito das Leis, de 1748), Gabriel Bonnot de Mably (Observações sobre os Gregos, de 1749; Dos Direitos e dos Deveres do Cidadão, escrito em 1758) e Jean-Jacques Rousseau (Do Contrato Social, de 1762), cujas análises se utilizavam das sociedades da Antiguidade Clássica – sobretudo, Esparta e Roma – como um instrumento de crítica ao Antigo Regime francês e o seu despotismo.

No final do século XVIII, por sua vez, com o desencadear da Revolução Francesa, a representação euforizada3 da Esparta Clássica sofreu algumas modificações. Nos dizeres de Paul Christesen, Maximilien de Robespierre – um dos maiores expoentes da Revolução de 1789 – chegou a elogiar a pólis espartana como um modelo de “comunidade de bens”. Entretanto, após o período histórico conhecido como o Terror, os opositores de Robespierre passaram a criticar as práticas político-culturais dos cidadãos de Esparta (esparciatas), como um instrumento para contestar a realidade da França, posteriormente a 1789 (CHRISTESEN, 2012: 181, 184). Ademais, Elizabeth Rawson amplia tais considerações ao destacar que passada a Revolução de Independência Norte-Americana e concomitantemente a Revolução Francesa, grande parte das sociedades europeias concluíram que um governo republicano poderia ser empregado em larga escala na modernidade. Desse modo, a liberdade política dos atenienses do século V a.C., somada ao seu desenvolvimento artístico e à “disciplina igualitária” de seus exércitos foram elementos identificados como adequados à nova realidade da sociedade francesa entre o final do XVIII e início do XIX (RAWSON, 1969: 270). Mediante o apresentado, observamos que parte dos valores políticos, sociais, econômicos e militares da pólis de Esparta, manifestados pelo discurso de Plutarco, seria adequado ao pensamento dos opositores do Antigo Regime e à sua típica opulência. No entanto, com o advento dos excessos revolucionários, os seus opositores tomaram a liberdade promovida pela democracia de Atenas como um referencial para a edificação de um governo republicano, tornando Esparta e seu modelo monárquico um exemplo inadequado aos intelectuais franceses do XIX.

Já nos “oitocentos”, figuras emblemáticas na França e Inglaterra teceram críticas ainda mordazes ao comportamento espartano na Antiguidade, promovendo elogios às práticas político-econômicas de Atenas. No caso francês temos Numa Denis Fustel de Coulanges, o qual era diretamente contrário aos ideais revolucionários da França, sobretudo à figura de Jean-Jacques Rousseau. Logo, toda a repulsa que Fustel de Coulanges manifestou ao representar Esparta esteve diretamente associada ao pensamento de Rousseau (CHISTESEN, 2012: 192; HARTOG, 2003: 44-46)4. Como nos esclareceu Oswyn Murray, no Reino Unido temos o caso do célebre político Edward Bulwer Lytton que, em seu “Athens – its Rise and Fall” (1837), reprovou a conduta dos esparciatas. Para Lytton os cidadãos de Esparta agiriam por conta própria, sem respeitarem as determinações do governo, e estavam submetidos a atividades “obscuras”, cuja intenção seria manter a sua tradição e bases econômicas fundamentadas na escravidão (MURRAY, 2002: 383-384). Ampliando as considerações de Murray, Ian Macgregor Morris (2004: 347) pontuou que os intelectuais franceses e ingleses do XIX, defendiam que a “inércia” política e comercial de Esparta, aliada à forma como os esparciatas tratavam os seus escravos (hilotas) seriam indícios suficientes para ressaltar que esta pólis era rústica e não correspondia ao modelo de sociedade que se almejava construir na Europa Moderna.

Em contrapartida, grande parte destes pensadores europeus passou a defender que os atenienses da Antiguidade puderam alcançar um amplo poder e autoridade junto às demais regiões do Mar Egeu por meio do aprimoramento marítimo e comercial, bem como através da liberdade que detinham para pensar e deliberar sobre as suas questões políticas. Sendo assim, podemos declarar que o contexto político-social da Europa no século XIX, o qual se mantinha imerso no desenvolvimento industrial, na prática do imperialismo e no combate ao Antigo Regime, levou os intelectuais franceses e ingleses a considerarem Atenas como um exemplo do passado, cujas práticas político-econômicas poderiam justificar as ações que a Europa promovia em outras áreas do globo.

Devemos relembrar que o exemplo apresentado concerne ao caso britânico e francês, isto significa que não podemos generalizá-lo a toda a Europa. Nas sociedades de matriz germânica, por exemplo, a representação de Esparta seguiu um ideal de euforização, voltado ao enaltecimento dos valores e práticas nacionais. Nos dizeres de Volker Losemann, no início do XIX, Karl Otfried Müller produziu a obra “Os Dórios” (1820), cuja escrita romântica influenciou o pensamento germânico da época e o modo como estes representavam a sociedade de Esparta (LOSEMANN, 2012: 254-255). Em suas análises, Müller demonstrou que os esparciatas descendiam dos dórios, sendo estes representados como o coração e a alma do mundo helênico. Losemann complementa e enfatiza que a imagem difundida por Müller sobre a pólis de Esparta estava carregada de elementos antidemocráticos, e refletia a preocupação do autor com as guerras de libertação que a Prússia travava com Napoleão I. Desta maneira, Esparta passou a ser vista como o arquétipo da estrutura hierárquica e da organização militar do reino prussiano. Losemann continua e destaca que foram nos escritos de Müller que a ideia de uma relação “primordial” entre os gregos antigos e o povo germânico foi estabelecida, levando a comparações entre a antiga pólis de Esparta e a Prússia Moderna. Por fim, Losemann expôs que a concepção de uma minoria de esparciatas que controlavam um amplo contingente de populacional hilota, acabou fascinando os germânicos modernos fazendo com que os valores da Antiguidade espartana se tornassem atuais para a realidade político-social da Prússia no século XIX (LOSEMANN, 2012: 253-255).

Conjeturando a partir de Losemann (2012), notamos que o amor por seu território, sua sociedade e o sacrifício em prol de seu governante foram elementos que permearam o ideário dos guerreiros da Prússia, com base nas representações da pólis de Esparta. Nesse contexto, as práticas culturais dos esparciatas também foram elementos dos quais os intelectuais germânicos se utilizaram para fomentar os seus valores e consolidar a sua “tradição esparto-prussiana”.

Com a consolidação da Alemanha, como Estado (1871), e a implementação do Império Alemão (ou Germânico) chefiado pelo Reino da Prússia, as representações dos valores esparciatas acabaram se difundindo por toda a área de influência imperial, o que não pressupunha a adesão de todos os seus membros. Após a Primeira Guerra Mundial e a instituição da República de Weimar, Esparta permaneceu no pensamento de parte dos intelectuais alemães, os quais continuaram apropriando-se das representações das práticas político-culturais espartanas.

Quando o partido nazista chegou ao poder na Alemanha, notamos a presença de parte das ideias defendidas pelos intelectuais de matriz germânica do século XIX e por aqueles que vivenciaram a emergência do Império Alemão e sua subsequente derrocada, fazendo com que os discursos sobre a superioridade germânica motivassem a tomada de novas decisões políticas após a Primeira Guerra Mundial. Dialogando com Volker Losemann, ao relacionarem a matriz cultural dos antigos helênicos com a dos germânicos, os nazistas passaram a construir uma base identitária – política, social e étnica – entre os seus membros, o que possibilitava a ratificação de todo um conjunto de práticas sociais (LOSEMANN, 2012: 273).

Volker Losemann expôs que o modelo de conduta esparciata foi um exemplo de estrutura antiga que os nazistas se apropriaram e ressignificaram para sua implantação na Europa Oriental. Desse modo, Hitler teria se remetido a Roma e Esparta por essas sociedades fornecerem a “condição arcaica para a unidade racial, com base em uma sociedade agrária” (LOSEMANN, 2012: 273). Interagindo com Jacqueline Christien e Yohann Le Tallec, Hitler teria grande fascinação pelos escritos e pela tradição da Antiguidade Greco-Romana, onde a instrumentalização de valores e práticas espartanas esteve atrelada ao seu interesse particular, mas também a toda carga cultural advinda dos ideais filo-helênicos da Prússia de Frederico II (CHRISTIEN; LE TALLEC, 2013: 246-247). Retomando Losemann, percebemos que os ideais de Adolf Hitler tiveram o suporte de Richard Darré, cuja perspectiva política defendia que assim como os esparciatas, os alemães deveriam preservar a sua raça, os seus corpos e a sua terra (ancestral). Entretanto, o ministro da Educação de Hitler, Bernhard Rust, teria desenvolvido um programa educacional baseado nas práticas culturais dos esparciatas, por volta de 1933, no qual aqueles que não quisessem integrá-lo não deveriam ser reconhecidos como cidadãos alemães (LOSEMANN, 2012: 285). Helen Roche complementa e explicita o argumento de Volker Losemann, pois, segundo a autora esse programa educacional – denominado Nationalpolitische Erziehungsanstalten (Institutos Nacionais de Educação Política) – foi fundado por Bernhard Rust, como um presente de aniversário para o Führer, tendo como objetivo formar a futura geração de líderes do Terceiro Reich. Nas palavras de Roche a seleção para este instituto de educação era extremamente rigorosa, haja vista que somente aqueles de descendência ariana, dotados de um caráter inquestionável, com uma saúde racial pura, plena habilidade física e uma alta capacidade intelectual poderiam ser eleitos para estas escolas (ROCHE, 2013: 180-181). Roche ainda definiu que a pedagogia nazista interpretava a história de acordo com os seus princípios políticos, incutindo nos jovens o pensamento de que a vida era feita de conflitos, nos quais a raça, o sangue e a terra eram essenciais para que os objetivos do Estado fossem realizados (ROCHE, 2012: 321).

Desta maneira, em 1941, a política de dominação nazista ampliou-se após o ataque à União Soviética, quando os adeptos do nazismo passaram a defender a ideia de que – assim como os esparciatas – os alemães deveriam formar um pequeno grupo aristocrático governando muitos escravos, devido à sua natureza conquistadora. Finalmente, em 06 de fevereiro de 1945, quando a derrota alemã era eminente, Hitler discursou ressaltando o exemplo dos guerreiros esparciatas nas Termópilas. Tais combatentes, mesmo sabendo do destino que lhes aguardava, morreram pelo bem-estar e pelos ideais da pólis. Losemann nos chamou a atenção para o fato de que, após a Segunda Guerra Mundial, somente em 1983 apareceram novos estudos sobre Esparta, entre os intelectuais alemães (LOSEMANN, 2012: 291-298).

Estendendo as considerações de Volker Losemann, Stephen Hodkinson (2006: 112-113) afirmou que devido ao contexto da Segunda Guerra Mundial e à apropriação das representações de Esparta pelo partido nazista, a imagem dos esparciatas como membros de uma sociedade estritamente belicosa acabou sendo difundida na historiografia do século XX. Imersos nesse viés, tornou-se comum entre os pensadores socialistas e liberais do Reino Unido representar a Grã-Bretanha como o equivalente à Atenas democrática, enquanto a Alemanha se aproximaria dos ideais de Esparta, pensamento este que influenciou os escritos historiográficos na Europa pós-guerra.

Tomando como referencial o exposto, podemos concluir que a sociedade de Esparta da qual temos conhecimento foi o resultado de inúmeros processos de apropriações e ressignificações discursivas, os quais tomaram por base os escritos da Antiguidade. Com isso, a sociedade espartana que se encontra presente nos livros didáticos, destinados ao ensino fundamental e médio brasileiros5 manteve-se alinhada aos rumos do Ocidente após a Segunda Guerra Mundial. Logo, a representação de uma pólis brutal, rústica e estagnada visava corresponder aos interesses das potências europeias que se saíram vitoriosas contra o nazismo alemão.

Ao retomarmos as figuras de Moses Finley, Geoffrey De Ste Croix e Jean-Pierre Vernant, todos estiveram inseridos no contexto da Segunda Guerra e atuaram em posições opostas à Alemanha, tornando plausível a adoção que estes fizeram de um ideal “atenocêntrico” em seus escritos historiográficos. Sendo assim, a lógica de uma História Tradicional e dos vencedores – típica do século XIX – ainda se faz presente no nosso modelo de ensino, cuja matriz remonta os interesses político-econômicos da França e da Inglaterra dos “oitocentos” e a representação germânica que se cunhou de Esparta. Seguindo essa ótica, a historicização dos temas de abordagem historiográfica clarificam os rumos tomados pela disciplina de História, enfatizando as influências dos eventos contemporâneos no ordenamento do passado.

Notas

1.A disforização seria a atitude de desqualificar práticas políticas, culturais e sociais de um dado grupo de sujeitos (GREIMAS; COURTÉS, 1987: 130).
2. Ao tomarmos os pressupostos teóricos de Pierre Bourdieu podemos definir a representação como uma imagem construída de grupos e práticas sociais, bem como de objetos, no intuito de interpretar/explicar as ações desempenhadas em uma dada sociedade. Logo, as representações desenvolvidas em um meio social objetivam corresponder aos interesses dos segmentos que as elaboraram (BOURDIEU, 2009:46). Desta maneira, nos convém destacar que este conceito será aplicado em nossa abordagem no decorrer deste artigo.
3. Nos dizeres de Algirdas Greimas e Joseph Courtés, o ato de euforizar visa à valorização positiva de um sujeito ou objeto de interesse, com ênfase à exaltação discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 1987: 170).
4. O discurso de Numa Denis Fustel de Coulanges é emblemático à medida que tenta desconstruir a representação euforizada de Esparta. Dentre os seus argumentos temos uma oposição à ideia de divisão igualitária de terras, bem como a tentativa de demonstrar que Licurgo não detinha nada de único frente a outros legisladores antigos, e o fato da maneira rústica com a qual os cidadãos espartanos tratavam os segmentos sociais à margem da Lacedemônia (COULANGES, 2013, passim). Com isso, verificamos que a perspectiva de Coulanges poderia ser identificada como o oposto daquilo que Rousseau tentou propagar no século XVIII, na França.
5. Podemos citar o exemplo do livro “História: sociedade & cidadania”, elaborado por Alfredo Boulos Júnior e publicado pela editora FTD, no ano de 2012. Nesta ocasião, o livro do 6º Ano apresenta apenas duas páginas sobre a pólis de Esparta e adota uma perspectiva comparada com a intenção de diferenciá-la de Atenas. O viés empregado é eminentemente “atenocêntrico” e caracterizou Esparta como uma sociedade belicosa e oligárquica (BOULOS JÚNIOR, 2012: 212-213). Já o livro organizado por Ronaldo Vainfas (et. al.) segue uma premissa distinta, embora o resultado seja aparentemente idêntico à obra anterior. No trabalho intitulado “História: das sociedades sem Estado às monarquias absolutistas”, os responsáveis chegaram a priorizar uma interpretação relativamente renovada sobre Esparta, porém, ao analisarem os hilotas (escravos) os autores primaram por uma via tradicional e “atenocêntrica”, típica dos escritos de Tucídides, além de comentarem que a educação dos jovens em Esparta valorizava apenas as questões guerreiras (VAINFAS (et. al.), 2010: 62-64).


Referências

ASSUMPÇÃO, Luis Filipe Bantim de. Discurso e Representação sobre as práticas rituais dos esparciatas e dos seus basileus na Lacedemônia, do século V a.C.. Dissertação apresentada, como requisito para a obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, O ofício de historiador. Trad.: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 6º Ano. 2ª Ed. São Paulo: FTD, 2012.
BOURDIEU, Pierre. O Senso Prático. Trad.: Maria Ferreira. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad.: Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
CHRISTESEN, Paul. Treatment of Spartan Land Tenure in Eighteenth and Nineteenth-century France: from François Fénelon to Fustel de Coulanges. In: HODKINSON, Stephen; MACGREGOR MORRIS, Ian. Sparta in Modern Thought. Swansea: The Classical Press of Wales, 2012.
CHRISTIEN, Jacqueline; LE TALLEC, Yohann. Léonidas: histoire et mémoire d’un sacrifice. Paris: Ellipses Édition Marketing S.A., 2013.
COULANGES, Numa Denis Fustel de. Leçons sur Sparte. Édition établie et présentée par Hervé Duchêne. Paris: Éditions EHESS, 2013.
GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix, 1987.
HARTOG, François. O século XIX e a história: o caso de Fustel de Coulanges. Trad.: Roberto C. de Lacerda. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
HODKINSON, Stephen. Was Classical Sparta a Military Society? In: HODKINSON, Stephen; POWELL, Anton. Sparta and War. Swansea: The Classical Press of Wales, 2006.
HOWELL, Martha; PREVENIER, Walter. From Reliable Sources: na introduction to historical methods. Ithaca; London: Cornell University Press, 2001.
LOSEMANN, Volker. The Spartan Tradition in Germany, 1870-1945. In: MACGREGOR MORRIS, Ian; HODKINSON, Stephen (Ed.). Sparta in Modern Thought: Politics, History and Culture. Swansea: The Classical Press of Wales, 2012.
MACGREGOR MORRIS, Ian. The Paradigm of Democracy: Sparta in Enlightenment Thought. In: FIGUEIRA, Thomas (Ed.). Spartan Society. Swansea: The Classical Press of Wales, 2004.
MURRAY, Oswyn. British Sparta in the Age of Philhellenism. In: BIRGALIAS, Nikos; BURASELIS, Kostas; CARTLEDGE, Paul. The Contribution of Ancient Sparta to Political Thought and Practice. Athens: Alexandria Publications, 2002.
RAWSON, Elizabeth. The Spartan Tradition in European Thought. Oxford: Oxford University Press, 1969.
ROCHE, Helen. Spartanische Pimpfe: The Importance of Sparta in the Educational Ideology of Adolf Hitler Schools. In: MACGREGOR MORRIS, Ian; HODKINSON, Stephen (Ed.). Sparta in Modern Thought: Politics, History and Culture. Swansea: The Classical Press of Wales, 2012.
_____. Sparta’s German Children: The ideal of ancient Sparta in the Royal Prussian Cadet Corps, 1818-1820, and in National Socialist elite schools (the Napolas), 1933-1945. Swansea: The Classical Press of Wales, 2013.

VAINFAS, Ronaldo (et. al.). História: das sociedades sem Estado às monarquias absolutistas. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2010.


31 comentários:

  1. Caro Luis,
    parabéns por seu texto! Você entende que hoje há uma releitura [ou, uma reconstrução] estereotipada do Espartano [como feita no filme '300'] dentro de um novo tipo de discurso ideológico? [militarista, ocidentalista, etc?]
    saudações!
    André Bueno

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    1. Olá André,
      Fico lisonjeado pelo seu elogio e agradeço pela oportunidade. Quanto a apropriação da imagem de Esparta e do "ser espartano" eu, particularmente, não acredito que seja algo novo, afinal, o que pude perceber ao longo de minhas pesquisas é a reconstrução - tal como você citou - de um discurso ideológico já existente, mas servindo a propósitos distintos dos de outrora. Logo, podemos definir que todas as representações modernas de Esparta serviram aos interesses específicos do Ocidente, onde o militarismo integrou essa imagem.
      Saudações!
      Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  2. as Civilizações Antigas mencionadas foi (ou ainda é) uma alusão feita por historiadores acerca dos acontecimentos politicos, sociais e economicos do pós-guerra?
    Rogerio Santos da Silva

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    1. Estimado Rogério,
      Posso afirmar que a apropriação de Esparta com um interesse de cunho político e econômico já na Europa do século XVIII. Logo, não seria adequado limitarmos essa perspectiva somente ao pós-Segunda Guerra, ainda que esse período seja a culminância de um longo processo, cujos efeitos presenciamos na maneira como essa Antiguidade Grega tem sido ensinada em nossas escolas.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  3. a impressão de que o modelo espartano foi efetivo pelo menos no caso alemão na forma como enxergavam um ideal de identidade, está de alguma maneira presente no que se refere ao periodo de Hitler?
    Rogerio Santos da Silva

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    1. Estimado Rogério,
      De fato, a ideia de um modelo de cidadão e guerreiro nos moldes espartanos, tal como verificamos na "Vida de Licurgo" da autoria de Plutarco, foi empregada na tentativa de se formar os jovens alemães em concomitância a esse processo e servindo aos interesses do Estado nazista. Entretanto, esse posicionamento e apropriação de um dito "modelo espartano" já se fazia presente na Prússia do século XIX, onde os escritos de Karl Müller contribuíram bastante para essa visão.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  4. Em que medida a hermenêutica formal, de determinada vertente historiográfica, cuja exegese acerca do Outro se faz a partir de um liminar discursivo de ruptura, ou seja, o Outro enquanto ininteligível em sua plenitude e, por conseguinte inapreensível, exclui as perspectivas multiculturais, ao mesmo tempo em que privilegiam, ao cristalizar e encerrar os modos de compreensão e interpretação a um eurocentrismo hermético?
    Rafael Watanabe

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    1. Estimado Rafael,
      Acredito que essa pergunta seja imensamente específica quanto a tendências historiográficas e filosóficas que lidam com questões de signo e a maneira como este nos permite comparar, perceber e representar o "outro". Contudo, devemos considerar que, independentemente do período, ao adotarmos um conjunto de signos e símbolos, de tal maneira que sejam introjetados em um grupo e/ou sociedade, somos capazes de cristalizar a interpretação dos sujeitos em conformidade aos nossos interesses, tal como a perspectiva eurocêntrica.
      Espero que a resposta tenha sido adequada.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  5. Evidentemente podemos depreender, desde os aspectos simbólicos – como a adoção da águia enquanto símbolo nacional – culminando no postulado pragmático de que “um pequeno grupo deve governar devido à sua natureza conquistadora” nos fornece um modelo de estudo comparativo para pensarmos a história alemã hitleriana e a sociedade hodierna norte americana cujos aspectos assinalam, assim como na Alemanha nazista, tendencias totalitárias?
    Rafael Watanabe

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    1. Estimado Rafael,
      Acredito que o seu posicionamento não seja inviável, no entanto, a perspectiva por você citada se enquadraria na lógica romana. Todavia, não seria incorreto pensarmos essa interação entre a política de "dominação" nazista e a norte-americana de hoje em conformidade a uma ideia de "herança cultural" do Ocidente. Sendo assim, o ideal romano poderia ser empregado conforme o interesse e a necessidade das sociedades ocidentais sem que para isso partilhem da mesma perspectiva política.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  6. Alfredo Coleraus Sommer9 de março de 2016 às 04:21

    Bom Dia Prof.Luis!
    -Achei seu texto muito pertinente pois mostra bem como os historiadores e aqueles que interpretam seus estudos podem manipular para seus interesses.
    -Gostaria que informasse um bom livro para conhecermos mais sobre a sociedade espartana e que seja baseado em fatos e pesquisas e não suposições?
    -Existe algum livro em portugues que mostre essa proximidade entre o Nazismo e a manipulação dos estudos sobre Esparta nesse viés militarista?
    Desde já Grato,
    Alfredo Coleraus Sommer

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    1. Estimado Alfredo,
      Agradeço pelo seu elogio, no entanto, eu não saberia informar nenhum texto em português que versasse sobre a temática. Caso tenha o interesse veja os autores da minha bibliografia, a grande maioria tem perfil no "academia.edu" e disponibilizam artigos recorrentemente. Do mesmo modo, você pode acessar o site da "rede sirius" (biblioteca da UERJ) e procurar a minha dissertação de mestrado.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  7. Através de que recursos didáticos e/ou metodológicos podemos despertar nos alunos essa percepção da história como construção do presente acerca do passado? Como instrumentá-los criticamente nessa questão, de modo a fazê-los perceber os usos da história no presente, especialmente pela mídia/internet? E seus objetivos.

    Allan Themístocles Galdino Ferreira

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    1. Estimado Allan,
      Não existe um modelo básico de quesitos didáticos e metodológicos, ao meu ver, que suscitem o interesse dos alunos. Entretanto, o que você pode tentar buscar são os "usos do passado", enfatizando que a História - enquanto Ciência e disciplina - se elabora através dos questionamentos atuais que lançamos ao passado, geralmente, na tentativa de respondermos aos nossos anseios como historiadores. Talvez auxilie neste processo se você se utilizar de ferramentas mais modernas, como filmes, jogos e HQs tentando contextualiza-los, ressaltando a intencionalidade discursiva de cada meio.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  8. Olá, Felipe,

    Grande parte da documentação antiga sobre Esparta foi produzida através da visão dos atenienses, que não economizaram em suas críticas e essa é geralmente a visão repassada nos livros didáticos e nas escolas. Existe outras documentações que não passaram por esse filtro para se estudar a sociedade espartana?

    Abraços,

    Jhan Lima

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    1. Estimado Jhan,
      Enquanto historiadores temos que nos utilizar do material que dispomos, porém, contextualizando as obras e os seus respectivos autores almejando a sua possível intencionalidade discursiva. Logo, a documentação ateniense teria "filtros" como qualquer outra. Em suma, todo documento detém algum tipo de interesse e parcialidade, seja ele proveniente de Atenas ou qualquer outra pólis. A problemática levantada por você lida com outras questões, tais como: o uso de Atenas como modelo de cultura ocidental; o fato desta sociedade manifestar práticas que foram valorizadas por potências político-econômicas a partir do final do XVIII; o emprego do discurso de Tucídides e/ou dos trágicos sem um olhar crítico. Enfim, se você busca documentos distintos procure Xenofonte (Helênica; Agesilau; Constituição dos Lacedemônios), pois embora seja imensamente parcial a Esparta acaba servindo de contraponto para uma representação atenocêntrica de parte das sociedade gregas.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  9. Olá Professor Luis, interessante forma como o tema foi abordado. Toda e qualquer fonte é passível de manipulação, seja por quem a cria, seja por quem a interpreta, e não poderia ser diferente no caso da Grécia, onde praticamente tudo o que nos restou de documentos escritos veio de Atenas, principal rival de Esparta.

    Foi mencionado ao longo do texto as visões existentes acerca de Atenas e Esparta desde o final do século XVIII, na França revolucionária, e do início do XIX, na Prússia invadida por Napoleão. O texto logo avança para o período da Primeira Guerra, e posteriormente para a visão Nazista de como utilizar o modelo militarista espartano. Nesse meio tempo, tivemos a guerra franco-prussiana, em meados da década de 70 do século XIX se não me falhe a memória, no qual a Alemanha conquista territórios franceses, desencadeando um nacionalismo exacerbado em ambos os países, usados como motivos para uma guerra iminente, que foi a Primeira Guerra. Nesse sentido, gostaria de saber se suas fontes de pesquisa indicam se nesse período a França manteve sua visão de Atenas, e a Alemanha de Esparta.

    Outra pergunta que me surgiu, é que mencionastes que os estudos históricos sobre Esparta na Alemanha foram interrompidos do pós-guerra à década de 1980. Gostaria de saber como procederam as pesquisas de Esparta no restante do mundo, como Inglaterra, EUA ou outros, e se essas pesquisas sempre focassem no elemento militarista de Esparta, relacionando ou não com a Alemanha Nazista, ou também investigassem outras perspectivas dessa Pólis, como culturais e políticas.

    Caio Yuzo Dias Nobushige ,Licenciando em História.

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    1. Estimado Caio,
      Vamos por partes. Quando, no final do seu primeiro comentário, você afirmou que Esparta e Atenas eram rivais eu poderia sugerir que essa visão depende do momento histórico. Na verdade, grande parte dessa interpretação polarizada e excludente se desenvolveu na modernidade europeia. No que concerne a sua primeira pergunta, para uma parte significativa dos intelectuais franceses após a Revolução de 1789 e que valorizavam questões acerca de liberdade e propriedade privada, Esparta era um ideal abominável. Todavia, para a realidade da Prússia, a imagem de Esparta que empregavam defendia grande parte daquilo que almejavam, ou seja, o sujeito ser subtraído em prol da pólis, os guerreiros morrerem em benefício de seu governante e de seu território, mas sobretudo a questão da ordem e da disciplina que teria se iniciado na juventude dos espartanos. Com isso, Esparta se tornou um ideal que se refletia nas ações da Prússia e, dessa forma, deveria ser combatida em virtude da liberdade (atrelada a democracia de Atenas). Por isso, no pós-guerra Franco-prussiana uma parcela dos intelectuais franceses estavam mais propensos a se identificarem com Atenas. Para responder a sua segunda pergunta preciso esclarecer que as pesquisas desenvolvidas na Alemanha, a partir da década de 1980, teriam considerado Esparta pela sua especificidade, enquanto que o discurso característico do período tentava ressaltar o quanto os valores espartanos eram inadequados como algo semelhante aos ideais nazistas. Boa parte dos pesquisadores europeus e norte-americanos, devido aos efeitos do pós-segunda guerra, também representavam Esparta como algo que deveria ser evitado. Para verificar esta perspectiva, basta procurar pelos textos produzidos nesse período, onde uma das exceções mais célebres seria François Ollier. Moses Finley, Claude Mosse, Victor Ehrenberg, Chester Starr, entre outros, tomaram a sociedade espartana como algo terrível e, recorrentemente, produziam análises para endossar essa perspectiva e legitimar a supremacia ateniense no "mundo ocidental".
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  10. Quais são os melhores ou mais renomados autores que trabalham com história de Esparta? E também, quais são os que melhor podem ser usados para preparar uma aula sobre o assunto? - João Gilberto Solano

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  11. Estimado Gilberto,
    Se você está buscando manuais sobre o assunto, eu poderia te sugerir o Paul Cartledge com "Sparta and Lakonia", o Cesar Fornis em "Esparta– Historia, Sociedad y Cultura de un Mito Historiográfico", o Massimo Nafissi com "La Nascita del Kosmos – Studi sulla storia e la società di Sparta", Nigel Kennell em "The Spartans - A new history", Jacqueline Christien e Françoise Ruzé em "Sparte – Géographie, mythes et histoire", por fim, Ernst Baltrusch com "Sparta: Geschichte, Gesellschaft, Kultur". Todos os citados dão um panorama geral do desenvolvimento de Esparta do Período Arcaico ao Clássico (alguns até o Romano). Do mesmo modo, você pode procurar os meus textos na internet, pois, embora eu não tenha versado sobre todos os aspectos inerentes a sociedade espartana, eu cheguei a trabalhar com muitos dos autores citados.
    Cordialmente,
    Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  12. Professor umas das tantas diferenças e características da sociedade espartana e da ateniense, é referente a participação das mulheres. Não seria um dos motivos pela escolha da valorização da sociedade ateniense, a falta de participação das mulheres? Justificando assim uma sociedade dominada por homens? Noeli Zettel

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    1. Estimada Noeli,
      Através de minhas pesquisas eu poderia afirmar que esta perspectiva é um tanto complexa, haja vista que as mulheres de Esparta não eram "livres" como muitos pensam. Temos que reconhecer que as mulheres espartanas legitimavam as práticas político-sociais de seus homens, mas, ainda assim, não seriam capazes de representar uma ordem social distante do universo masculino em que se encontravam. Logo, não consigo perceber esse uso da maneira polarizada como você sugeriu.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  13. Professor umas das tantas diferenças e características da sociedade espartana e da ateniense, é referente a participação das mulheres. Não seria um dos motivos pela escolha da valorização da sociedade ateniense, a falta de participação das mulheres? Justificando assim uma sociedade dominada por homens? Noeli Zettel

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  14. Professor umas das tantas diferenças e características da sociedade espartana e da ateniense, é referente a participação das mulheres. Não seria um dos motivos pela escolha da valorização da sociedade ateniense, a falta de participação das mulheres? Justificando assim uma sociedade dominada por homens? Noeli Zettel

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  15. É interessante perceber a manipulação do passado em prol da criação de um modelo, de uma identidade que valorize e apoie certos comportamentos contemporâneos. A crença numa raça superior justifica a apropriação do passado de povos que se sobressaíram, como a Grécia e o Egito. Até hoje há quem não saiba que o Egito fique no continente africano, pessoas ditas “estudadas” se espantam com a descoberta. Num mundo em que algumas pessoas ainda tem uma visão dicotômica da realidade, como fazê-las entender que vivemos num momento em que o multiculturalismo se faz cada vez mais presente?

    Debora Shizue Matias Takano

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    1. Estimada Debora,
      Acredito que esse seja um processo em que nós, educadores/professores, devemos nos esforçar mais para promover. Com o multiculturalismo podemos empregar meios e informações, que outrora estariam distantes ao nosso acesso, para o enriquecimento de nosso trabalho. No entanto, partilho da ideia que discutir com o aluno a função e a viabilidade da História atualmente seja um grande desafio para os professores.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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  17. Bom dia, excelente texto, Através de alguns teóricos que o senhor trouxe no texto, ficou explicito que o texto historiográfico parte do presente e, que este presente influencia sobremaneira nestas produções, assim como a formação e o local onde está inserido o historiador que realizara este trabalho. Pensando desta maneira a historiografia seria uma literatura baseada em documentos, selecionados e organizados pelo historiador, onde fica a verdade histórica?

    Erivaldo da Silva Pereira

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    1. Estimado Erivaldo,
      De fato, existem historiadores que acreditam que o nosso ofício se insere na condição de texto literário, no entanto, outros partem da dicotomia clássica da Europa no XIX de que a História e a Literatura são áreas distintas, pois a primeira lida com a verdade enquanto a segunda seria o reflexo da capacidade inventiva de seu autor. A referida tendência é bastante debatida até os dias de hoje, haja vista que interagimos com uma parte muito pequena do passado e somos levados a exprimir a nossa habilidade enquanto "escritores" para tornar o nosso trabalho sedutor e digno de veracidade pelos pares e leitores. Nesse contexto, também verifico que o literato se encontra diretamente influenciado pelo seu próprio contexto histórico, fazendo do seu trabalho um dos mecanismos mais adequados para tentar se perceber as tendências culturais de uma época. Com isso, o nosso trabalho detém uma técnica muito semelhante aos textos literários, onde as nossas ideias são articuladas em conformidade a um documento literário, arqueológico, epigráfico, imagético de modo que possamos responder as nossas hipóteses. Logo, a verdade é relativa e o historiador há muito vem se distanciando da "verdade histórica" e buscando interagir com um princípio de verossimilhança. Acredito que você deveria ter cuidado com a "verdade histórica", afinal, levantamos hipóteses acerca de possíveis formas de se enxergar o passado, as quais estão atreladas ao nosso contexto histórico e lugar social de fala.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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  18. Olá Luis, gosto do seu trabalho principalmente porque ele discute a influência do historiador e do presente na história por meio de um caso específico e instigante, que é Esparta. Para isso, você recorreu a nomes de "peso", tais como Finley e Vernant, para demonstrar a relação entre a pólis e o século XX. Ainda que essas relações lamentavelmente não sejam com frequência levantadas pelos historiadores, perguntei-me ao longo da leitura, se não estaria construindo neste caso uma visão utilitarista para a história? Essa é a impressão que se tem ao ler o texto, ou seja, que os historiadores estavam, de fato, construindo visões de mundo com um propósito específico. Você defende essa ideia?

    Beatriz Rodrigues

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    1. Estimada Beatriz,
      Acredito que não seria um problema classificar esta minha abordagem de utilitarista, contudo, me questiono quem dentre nós - historiadores - não se utiliza desta perspectiva? Afinal, a todo momento o nosso texto parece defender um objetivo específico, cujo utilitarismo pode estar associado as nossas escolhas, ao nosso lugar de fala, ao contexto histórico em que vivemos, etc. Em linhas gerais, o historiador é um formador de ideias, ao ponto de muitos alunos até hoje acreditarem que tudo dito pelo mesmo seria uma verdade, haja vista que o "passado é uma realidade inquestionável". Sendo assim, posso afirmar que defendo esse posicionamento, e que o mesmo é realizado até os dias de hoje.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção

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