MÃE ÁFRICA DESFIGURADA: CONSIDERAÇÕES
ACERCA DA DOCÊNCIA E AS QUESTÕES ÉTNICOS-RACIAIS
Antonio José de Souza
Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios
O Brasil, segundo censo do IBGE de 2002, tem a maior população negra fora do continente africano, procedente de uma ruptura populacional imposta, ou seja, somos um agrupamento humano, organizado em sociedade mantido e sustentado pela África. Ainda assim, as culturas africanas permanecem desconhecidas para grande parte dos brasileiros e, talvez por isso, estejam colocados, negros e negras, numa posição desigual diante aos demais grupos étnico-raciais partícipes da identidade e cultura brasileira. É também obscurecido o estudo de que antes mesmo da chegada dos negros escravizados ao Brasil, o continente africano manteve com a Europa um longo acordo. Foram séculos “de amizades e hostilidades várias, o bom e o mau, lucros e perdas [...], numa tessitura cada vez mais apertada” (DAVIDSON, 1981, p. 3). O continente africano foi integrado ao sistema internacional de comércio e colonização desde o século XV, através de contatos comerciais que faziam crescer vertiginosamente os interesses capitalistas europeus.
Para tanto, era
necessário que sucedessem manobras desonestas e atrozes com o objetivo de
desviar os sentidos dos registros históricos que narravam uma África fidedigna,
por esse motivo, mitos e preconceitos, retiraram das sociedades africanas o
direito de terem uma historiografia notável. Assim, descrições agradáveis e
apaziguadoras sobre a África passaram a ficar nebulosas, afinal de contas só
com a divulgação de cenários horrendos, pestes violentas e uma população capaz
de barbáries, poder-se-ia defender a expedição civilizadora protagonizada pelos
colonizadores ocidentais. Isto implicou no desenvolvimento espantoso da alva e
astuciosa Europa que, com propósitos imperialistas, expandiu os seus tentáculos
para outras terras, despontando para a História Oficial como sendo o ‘Berço da
Humanidade’, em detrimento de uma África preta, empobrecida e degradada.
Portanto, a “Europa acreditava ser um povo superior desde o nascimento: pessoas
da raça branca” (COTRIM, 1999, p. 46), irrompendo para o mundo numa perspectiva
eurocêntrica, isto é, uma concepção que entroniza os interesses e a cultura
europeia como sendo as mais respeitáveis e avançadas, colocando-se num patamar
proeminente às demais e, por isso, com direito de conquistar o resto do mundo.
Assim, chegava ao fim o intercâmbio euro-africano, pois, definitivamente, na
ótica eurocêntrica o negro (homem e mulher) tinha o status de ‘gado humano’,
despido das vestes dignas da humanidade.
À vista disso, vários
segmentos institucionalizados da sociedade brasileira (tais como igrejas,
Universidades, escolas, cenário político e midiático) influenciaram a
representação e posicionamento vexatório do negro na estrutura social, afinal a
partir desse lugar de poder e controle, foi possível, numa articulação de vozes
e silenciamentos, construir a imagem do negro como um ser humano inferior e
‘coisificado’ por meio de uma engrenagem sistêmica, elaborada para negligenciar
os conhecimentos que são transmitidos desde o nosso nascedouro, no tocante aos
acervos culturais, educacionais, religiosos, dentre outras questões que
envolvem os povos negros. Lamentavelmente, ainda predomina a insistência em
manter o negro despojado de sua humanidade, assim como foi feito quando o
Atlântico serviu de travessia para as importações contrabandeadas de africanos
que forçosamente foram obrigados a participarem da corrente migratória,
intitulada pela história por ‘diáspora’, que vem a ser o deslocamento
descontínuo, responsável pela instabilidade populacional e o rompimento com a
população‑mãe-África. Assim, aportaram no Brasil, na condição de escravos, a
fim de trabalharem no desenvolvimento da colônia, imersos num processo de
intensa e verdadeira dominação.
Este cenário hostil é
reforçado pelas influências advindas das correntes de pensamento racistas do
século XIX, como o Darwinismo Social, o Racismo Científico, a Antropometria e
as Teorias Evolucionistas que influenciaram no Brasil as reproduções simbólicas
pejorativas atribuídas à figura do negro, como o mito da “vadiagem”, da
“preguiça” e o mito da “mulata sensual” que estiveram arraigadas à estrutura
social brasileira daquela época, a tal ponto de penetrar as estruturas
contemporâneas que permanecem categorizando o negro como uma raça inferior;
portanto, legado deixado pela experiência da diáspora, causadora da
desarticulação dos modelos identitários e culturais dos povos negros africanos
no Brasil colonial.
Sendo assim, o negro é
transfigurado num espectro, visto que nas representações sociais existem
elementos determinantes para a classificação no regime de castas que, para tal,
considera o desembarque pretérito dos africanos, desenvolvendo um imaginário de
degenerações culturais, sociais e também biológicas, por isso a participação na
formação do povo brasileiro com a cor da pele, crenças, costumes e a mestiçagem
com as populações brancas e indígenas, significava, para as já mencionadas
doutrinas raciais da segunda metade século XIX, uma descendência corrompida.
Com efeito, o afastamento da eminente ameaça viria pelo branqueamento da
sociedade brasileira, por meio da eliminação gradativa do sangue “subalterno”,
resolvendo sumariamente a questão da formação identitária nacional, considerada
incômoda por conta da pluralidade racial.
Por outro lado, no
percurso histórico brasileiro, homens e mulheres negras estiveram resistindo
política e culturalmente a toda forma de opressão e discriminação, de tal modo
que ações no intuito de promover a igualdade de oportunidades entre os grupos
étnicos constituem conquistas reais na atualidade. No entanto, o reconhecimento
dessas genuínas retratações e eventos antirracistas não elimina a memorável
atrocidade diante das bizarras ideologias raciais e discriminatórias que na
hierarquia conjuntural atual, ainda desloca o sentido ancestral africano para a
centralização do processo estigmatizante do negro, personificado como o ‘outro’
estranho, escravo, dominado e vítima permanente de miríades formas de exclusão.
Do âmago dessas
reflexões, brota a convicção de que as mudanças oriundas da contemporaneidade
têm, inevitavelmente, respingado nas velhas e retorcidas estruturas escolares,
advertindo-a sobre o surgimento da diversidade cultural como fundamento
estruturante da educação nacional, rompendo, conforme Macedo (2007, p. 26), com
a despropositada “história de alijamentos e de silenciamentos de vozes advindas
de segmentos socioculturais não hegemônicos [...]”. Neste ponto, evidencia-se a
desigualdade racial, perpassando o arcabouço educacional brasileiro, gerando
disparidades que, no contexto das escolas, são ainda mais patentes, tendo em
vista a lastimável herança de precariedades no tocante a formação inicial e
continuada dos docentes.
Recordo do quanto me
sentia atraído pela majestosa África, ao passo que folheava o livro-didático de
história. Nessa época, eu era apenas uma criança estudando no antigo ginasial,
sentando na carteira da frente, vestindo uma farda branca de escudo no peito
com o nome do patrono, emprestado aquele colégio estadual, escrito em azul. Os
olhos curiosos daquele menino pousavam por sobre o mapa-múndi não por que
conheciam os encantos do imponente continente africano e as fascinantes
histórias dos povos negros, nossos ancestrais vindos de lá. Ele apenas sabia o
que via e lia sobre a África, banhada ao norte pelo Mar Mediterrâneo, ao Oeste
pelo Oceano Atlântico e ao Leste pelo Oceano Índico. Eram imagens
estrategicamente ilustrativas que serviam ao objetivo de “verbalizar”
informações acerca das dimensões cartográficas, relevos, flora e fauna do
continente negro, mas que tinha também a tática de manter desconhecidas
importantes visualizações, truncando as leituras sobre as identidades, as
culturas, as existências e a origem da humanidade.
Vivemos num país com grande diversidade
racial e podemos observar que existem muitas lacunas nos conteúdos escolares,
no que se refere às referências históricas, culturais, geográficas,
linguísticas [sic] e científicas que deem [sic] embasamento e explicações que
possam favorecer não só a construção do conhecimento, mas também a elaboração
de conceitos mais complexos e amplos, contribuindo para a formação,
fortalecimento e positivação da auto-estima [sic] de nossas crianças e jovens
(ROCHA; TRINDADE, 2006, p. 55-56).
Em vista disso, o meu
repertório sobre a África não recebeu contribuições expressivas da escola, na
verdade foi por meio da sua antiga ideia de currículo que, erroneamente,
“aprendi” a respeito de uma África aprisionada a um passado forjado por outros
e ancorada a um presente marginalizado. Foi através da prática docente serva e
obediente ao sistema reprodutor da simplificada diversidade africana que eu
‘mordi a isca’ e subliminarmente foi atribuindo a Europa o que de fato é da
África: o título de berço da humanidade.
Como se pôde ver, o
percurso desse trabalho revelou a dívida que a educação básica brasileira vem
acumulando em relação à população negra, visto que, durante muito tempo,
determinou-se a aplicação de um currículo único, sob o pretexto de oferecer uma
educação “igual” para todos, ignorando os estudantes afrodescendentes, ou
indígenas, e se esses viviam em comunidades rurais ou em grandes centros
urbanos. Com isso, as características singulares de cada grupo ficaram
excluídas e ocultas durante décadas, resultando, entre outras coisas, na
aversão do negro a sua etnia e ancestralidade. Revelando que, de modo geral,
quando os negros (homem e mulher) chegam e permanecem nos bancos escolares,
aprendem uma história brasileira forjada, onde os heróis, ou melhor, os
principais personagens são marcadamente branco-europeus.
Como já se sabe, após
a homologação da lei federal nº 10.639/2003, o ensino da História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana passou a ser obrigatoriamente inclusa no currículo
escolar, oportunizando a construção de uma imagem positiva do povo negro a
partir da história brasileira, superando a visão de passividade tão difundida,
evidenciando as muitas formas de resistência negra ao longo dos séculos. No
entanto, o repertório de muitos alunos/as acerca do continente africano
continua sem receber contribuições expressivas da escola, pois ainda vigora o
currículo que, erroneamente, apresenta uma África aprisionada a um passado
adulterado por outros e ancorada a um presente marginalizado.
Assim sendo, como, por
exemplo, uma criança negra se enxergará nesse quadro? Ela se reproduzirá no
negro escravizado, marcado e espancado da senzala ou no branco nobre? É difícil
ser descendente de seres humanos escravizados e forçados à condição de
utensílio, assim como é difícil perceber-se descendente daqueles que, por
muitos séculos, têm sido marginalizados e massacrados. Torna-se importante tal
adendo, pois, certamente, não é fácil estudar em uma escola que por incultura
ou segregação consciente, ignora a descendência negra e se desinteressa pelo
estudo da África, demonstrando descaso por sua história e persistindo na
legitimação da relação tensa, devido às diferenças na cor da pele e traços
fisionômicos que estão atrelados à raiz cultural plantada na ancestralidade
africana.
À vista disso, a
escola é impelida a assumir outra proposta, visto que já não é possível
caminhar na contramão da história, restringindo-se ao aspecto de uma educação
mancomunada com os mecanismos de padronização e homogeneização. Evidentemente,
as concepções acima apresentadas, com relação ao estudo da identidade e cultura
afro-brasileira são suscetíveis a críticas. Nesse sentido, o objetivo maior é
de estimular o debate para que se configure uma rede de discussões e reflexões
de forma a enfraquecer ideologias homogeneizantes que pretendem solidificar o
‘outro’, ameaçando as diferentes identidades. Neste sentido, percebemos que o
estudo iniciado já sinaliza a necessidade de uma política de formação para a
diversidade, contemplando sobretudo a perspectiva da identidade e da cultura
afro-brasileira que historicamente é marcada pelo silenciamento e pela negação
nas escolas brasileiras. Considerando que o estudo se encontra em andamento,
pretendemos ampliar as análises sobre a temática no cenário da educação,
buscando subsídios para o estudo mais aprofundado acerca da referida temática.
Referências
BRASIL. Censo Demográfico 2010. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <http://censo2010.ibge.gov.br/>, acessado em 02/05/2015.
Referências
BRASIL. Censo Demográfico 2010. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <http://censo2010.ibge.gov.br/>, acessado em 02/05/2015.
COTRIM, G. História e consciência do Brasil. São
Paulo: Editora Saraiva, 1999.
DAVIDSON, B. Mãe Negra: África: os anos de provação.
Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1981.
MACEDO, R. S. Currículo, diversidade e eqüidade: luzes
para uma educação intercrítica. Salvador: EDUFBA, 2007.
ROCHA, R. M. de C.;
TRINDADE, A. L. da. Ensino fundamental.
In: BRASIL, Ministério da Educação/Secretaria da Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade. Orientação e ações para a educação das relações
étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.
Boa tarde, achei muito importante, pois sabemos que o negro ainda luta na sociedade para fazer valer seus direitos, a sociedade brasileira ela possui uma grande miscigenação. A lei 10639 /2003 promulgada pela 11645/2008 atualmente vem tentando fazer com que muitos assuntos relacionados a população negra (e também indígena) que foram ocultados na sociedade seja repensados e ensinados nas escolas. Apesar da promulgação da lei 11645/2008, você acha que a referida lei tem sido trabalhada de maneira eficiente nas escolas?
ResponderExcluirOlá, Ronilson!
ExcluirTudo bem?
A publicação da Lei nº 10.639, deu-se no dia 9 de janeiro de 2003 , alterando a Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, reconhecendo a necessidade de se inserir ações afirmativas no currículo oficial da rede de ensino, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica.
Já se passaram mais de dez anos da promulgação da lei nº 10.639, tempo suficiente para reconhecer que muito vem sendo desenvolvido e recriado por diversas pessoas, em distintos lugares do Brasil, avançando no sentido da promoção de reais transformações nas relações sociais em prol da igualdade racial.
No entanto, é preciso continuar adotando iniciativas que visem, em especial, à formação continuada dos/as docentes da educação básica para que possam superar os desafios impostos às suas práticas pedagógicas a partir da lei 10.639.
Definitivamente, ainda é preciso investir maior esforço para que seja possível realizar um significativo salto no intuito de minorar o fosso histórico, responsável, entre tantas coisas, pela ausência de qualidade na educação dos negros no Brasil, pois quando se analisa o povo negro, no campo educacional, sua desvantagem também é destacada, o que condiciona seu estatuto de cidadania como de ‘segunda classe’.
Ronilson, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Boa tarde,
ResponderExcluirDentro da perspectiva do trabalho apresentado a cima, vocês acham válido a eliminação das obras de Monteiro Lobato do currículo escolar?
Vinícius Carlos da Silva.
Olá, Vinícius!
ExcluirTudo bem?!
Ressalto que a relação estabelecida entre as reproduções preconceituosas do/a negro/a e determinadas obras infantis de Monteiro Lobato, segue o propósito de sinalizar o desafio de ensinar a partir do reconhecimento das diferenças dentro das diferenças, que nesse artigo é definido pelo aspecto da Identidade negra. Diante disso, é importante deixar registrando que o fascínio de ouvir e contar histórias não devem ser negligenciados; deve, na verdade, ser priorizado, mas há que se escolher histórias que valorizem os múltiplos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, a população negra. Pois, como percebemos são trechos de obras que trazem referências ao negro com estereótipos fortemente carregados de sentidos racistas.
Portanto, as obras literárias de Monteiro Lobato, (“Caçadas de Pedrinho” – 1933; “Histórias de Tia Nastácia – 1937 e “Reinações de Narizinho” – 1931), utilizadas como pano de fundo desse estudo, devem ser manipuladas como prática pedagógica, mediante determinados cuidados em relação à contextualização das obras, levando em consideração os avanços e mudanças sociais e políticas ocorridas ao longo da nossa história, esclarecendo o contexto conjuntural em que a obra foi produzida.
Vinícius, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Olá Antonio e jane,
ResponderExcluirGostaria que vocês comentassem sobre o compromisso dos professores de História na atualidade para trabalhar com essa temática, visto a importância de tal. Vocês acreditam que no geral os professores estão preparados para construir uma abordagem consciente com os seus alunos ou estão preocupados com o cumprimento da lei?
Elis Paulina de Quadros Elger
Olá, Elis!
ExcluirTudo bem?!
Eu estou concluindo um estudo que, entre outros objetivos, busca identificar como a identidade e a cultura afro-brasileira emergem nas histórias de vida, formação-profissão dos docentes. E os resultados prévios desvelam o que se tornou escondido e marginalizado nas relações familiares, na inicialização escolar e por todo o percurso da educação básica, culminando nos espaços intrínsecos e formativos da profissão docente.
Por certo, tal omissão, concernente ao estudo da identidade e cultura afro-brasileira, ganha longevidade deixando o passado para se instalar também no presente das salas de aula de professores/as que não conseguem fazer de suas práticas pedagógicas, exímias oportunidades para o desencadeamento de processos afirmativos das identidades e da historicidade negada, tal como distorcida do povo negro.
Com efeito, ouso afirmar que a prática docente carente de experiências e reflexões sobre uma educação antirracista, torna-se proclamada não apenas por uma hipotética mediocridade. Afinal, de que modo o/a professor/a auxiliará na superação dos mecanismos que subjugam, violentam e negam os direitos garantidos pelas políticas públicas educacionais e curriculares se lhes faltam a formação e os conhecimentos necessários?
Elis, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
O Brasil possui a maior população negra fora da Africa, mesmo assim suas culturas permanecem desconhecidas pelos brasileiros, talvez por isso eles sejam colocados em posição de desigualdade em grupos étnicos-raciais.
ResponderExcluirNão seria mais viável a inserção de programas de incentivos a cultura afro principalmente nas escolas?
Ronison Francisco da Silva.
Olá, Ronison!
ExcluirTudo bem?!
A escola não pode se enclausurar na indiferença, optando por se abster de uma realidade explicitamente segregada dentro e fora dos seus muros. Esses/as cidadãos/cidadãs que também são alunos/alunas, continuam sofrendo os mecanismos sutis, no entanto eficazes do racismo e da discriminação. Nesse caso, toda e qualquer iniciativa é válida, se estiver erguida sobre bases conscientes e a partir do entendimento de pertença e de integração, portanto um dos objetivos da escola que tem condições e espaços propícios para favorecer no seu cotidiano o foco nas interações, nas relações entre as pessoas, nas atitudes e comportamentos.
Ronison, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
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ResponderExcluirBoa tarde.
ResponderExcluirDe que forma podemos trabalhar a educação étnico racial na Educação de Jovens e Adultos?
Estou procurando livros para orientar professores da EJA.
Aline Nunes Rangel
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Aline!
ExcluirTudo bem?!
Os/as alunos/as atendidos/as pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) são, notadamente, um público distinto em relação aos do ensino regular. Na maioria das ocorrências, são pessoas há um tempo fora das salas de aula, que já compõem o mundo do trabalho e têm responsabilidades pessoais. Sendo assim, o estudo da História tem função social, isto é, contribuir para a formação de um cidadão crítico, ético e comprometido com os valores humanos. Finalmente, a prática crítica deve proporcionar aos/as alunos/as uma visão mais ampla do ambiente em que vivem.
Aline, os fatos devem ser contextualizados, discutidos e abordados para que possam construir uma História que fuja ao lugar-comum das datas e heróis. Ou seja, a História assume outra conotação, de propor um olhar crítico e consciente sobra a realidade.
Por exemplo, o artigo: MÃE ÁFRICA DESFIGURADA: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DOCÊNCIA E AS QUESTÕES ÉTNICOS-RACIAIS, traz marcações acerca das teorias racistas do século XIX que influenciaram no Brasil, as reproduções simbólicas pejorativas atribuídas à figura do negro, inclusive na atualidade.
À vista disso, os estudantes da EJA precisam entender que o preconceito racial contemporâneo tem uma gênese histórica oriunda da diáspora. Nesse caso, torna-se salutar estudar as civilizações africanas, a relação com a Europa, as explorações, a travessia, a chegada ao Brasil colônia e a sofreguidão cotidiana e sistemática dos/as negros/as escravizados/as, fazendo os/as alunos/as refletirem a partir dos contextos nos quais os/as negros/as estão inseridos/as (ou excluídos/as). Por que os/as negros/as são maioria nos presídios, sinaleiras, nas filas de hospitais públicos, nas filas da fome, miséria e assassinatos? A resposta encontra-se na História.
Aline, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços
Antonio José
P.S.: Este livro é apropriado: MUNANGA, K.; GOMES, N. L. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global: Ação Educativa, 2006.
Boa tarde, Toni.
ExcluirMuito obrigada pela orientação.
Aline Nunes Rangel
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite.
ResponderExcluirQuero aqui ressaltar que a população brasileira possui um exorbitante número de componentes negros,e que dessa forma o mais consciente é trabalhar, valorizar e reconhecer a história afrodescendente.
Mas para abordar essas questões devemos resgatar a sua história e sua própria identidade. Mas nós docentes não estamos preparados para trabalhar com tal fato, pois a nossa história nos remete a contornar essa temática. Para tanto que hoje é obrigatório o ensino da história afrodescendente. Mas não há uma formação para docentes nessa área e sim, algo imposto a guela abaixo pelos nossos "superiores" que querem mostrar que o currículo está sendo executado. Devemos trabalhar a tolerância e a igualdade dentro da diversidade cultural.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Flávia!
ExcluirTudo bem?
Obrigado pelos pontos ressaltados. gostaria que você verificasse as respostas dadas as participantes: Sara Araújo e Ivanize Santana (logo abaixo), acho que são pertinentes e ajudam na sua reflexão. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Ola! É importante destacar que quando o assunto é África geralmente os professores de História são incumbidos de "puxar"Projetos , mas penso que deveria existir cursos por meio de formação continuada para todos os professores, pois a tarefa é de todos conhecer a historia afrodescendente em todos os aspectos.Há carência de materiais didáticos também.E como conscientizar as novas gerações??? Sara Araujo
ResponderExcluirOlá, Sara!
ExcluirTudo bem?!
A sua pergunta me fez pensar e assinalar as dificuldades intrínsecas do processo ensino-aprendizagem nas escolas que, em larga escala, comprometem a qualidade da ação educativa desses espaços. Sim, é verdade, foi destinada a essas escolas uma lastimável herança de precariedades no tocante a formação inicial e continuada dos docentes. Afinal, isso se faz necessário para que a escola contribua com o solver da desproporcional dívida, com a respectiva cultura, a partir da capacidade de acolher dignamente a diversidade. Isso significa que a cultura escolar, a prática docente e as políticas de formação de professores não poderão debater a questão da diversidade, se não dentro de um quadro mais amplo.
Isto é, a diversidade já faz parte do cotidiano escolar, visto que está devidamente marcada e representada pelas experiências trazidas pelos estudantes de outros espaços, culturas, vivências e experiências. Assim, além da formação, o/a professor/a precisa está atento/a a diversidade de sua sala de aula, considerando-a na sua prática educacional. Do contrário, a formação e os materiais didáticos (que não são poucos) serão ineficazes.
Sara, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços
Antonio José
Sara, quanto ao aspecto da conscientização, é importante que o professor/professora, não trate a diversidade de maneira pontual e sucessiva, por exemplo, aproveitando-se de uma data no calendário (ex: 20 de novembro), como se aquele evento fosse uma ‘atração turística’ que precisasse ser visitada esporadicamente e de onde, volta e meia, trazem-se ‘souvenires’, como se tivesse sido devidamente conhecida e aprofundada de maneira global em toda a sua complexidade por meio de ações concretas. Pois, já se sabe, que tais práticas não serão suficientes para desfazer os padrões de homogeneização do funcionamento escolar, responsáveis por tornar culturas negadas, silenciadas e submetidas a mecanismos sutis de normalização. Assim, as ações de conscientização precisam partir da concretude, isto é, são aquelas que contribuem no desenvolvimento da consciência coletiva dos/as estudantes, motivando-os/as a empreenderem ações úteis para vida e participação em suas comunidades.
ExcluirAbraços!
Antonio José
Obrigada!
ExcluirE quando boa parte de docentes não se aceita negra mesmo lendo e relendo a lei afro?E os educandos,que exemplo terão? Crer eternamente no "branqueamento"?
ResponderExcluirOlá!
ExcluirAcho que a resposta dada a professora Ivanize Santana, responde a sua questão também. Verifique-a abaixo, do contrário escreva solicitando uma resposta específica. Obrigado e abraços!
Antonio José
Muito complexo estudar e ensinar sobre a questão afro,num país onde ainda se acredita muito na visão do branqueamento.Diante de docentes que ainda não se sentem negros,mas moreninhos,café com leite ou pardinhos?Como ficam os alunos nesse mar de pré+conceitos?Será que só formações acadêmicas resolvem essas posturas seculares??
ResponderExcluirOlá, Ivanize!
ExcluirTudo bem?
Definitivamente, tornar-se desafiante imergir no "mar de águas" traiçoeiras e bestiais das discriminações e preconceitos. E, infelizmente, tal constatação se confirmar nas pequenas e, às vezes, insignificantes coisas, como: piadas, comentários e palavras mal ditas, inclusive, saídas da boca de professores e professoras.
Fui uma criança negra, mas que não sabia que era negra e nem podia ser diferente, afinal foi, principalmente, a escola que me ensinou por meio dessas veiculações e reproduções imagéticas do ‘ser’ negro estereotipado e subordinado o inconsciente recalcamento e inferiorização diante do ‘outro’, fazendo com que essas apresentações e supressões se tornassem mais eloquentes do que se pode compreender no primeiro contato. Isto é, o meu ingênuo imaginário infantil foi facilmente assolapado pela capciosa ideologia do branqueamento que destitui a minha identidade negra.
Nesse caso, a formação docente significa um importante veículo para que a prática do/a professor/a possa auxiliar na superação dos mecanismos que subjuga, violenta e nega os direitos garantidos pelas políticas públicas educacionais e curriculares. Mas, sobretudo, é preciso se reaproximar da identidade e cultura negra, reconhecendo-se como parte desse "caldeirão" cultural.
Ivanize, muito obrigado pela pergunta. Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços
Antonio José
Nós nos prendemos tanto aos preconceitos que esquecidos da história de luta Nelson Mandela e Martin lutter King que passaram por cima de qualquer preconceito e venceram em suas vidas.
ResponderExcluirPorque nas escolas não se fala tanto desses dois líderes africanos orgulho de sua nação e se prendem somente ao passado de escravidão?
Ronison Francisco da Silva
Olá, Ronison!
ExcluirTudo bem?!
Concordo com você, acho que essas personalidades são faróis nos direcionando para conquistas reais. No entanto, chamo atenção para os nomes de homens e mulheres negros e brasileiros que notadamente entregaram suas histórias individuais para a resistência negra e, por consequência, tornaram-se emblemáticos exemplos contra a escravidão e a colonização do passado, bem como contra a subalternização dos povos negros no presente, contudo foram homens e mulheres vitimizados pelo anonimato da história oficial, mas que precisam achar-se nas nossas escolas, gozando do reconhecimento da sociedade brasileira na sua amplitude. Tais quais: Carolina Maria de Jesus, Clementina de Jesus, Francisca da Silva, Milton Santos, Luís Gama, José do Patrocínio, entre outros e outras.
Qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços
Antonio José
Olá, Jane e Antônio!
ResponderExcluirGosto muito desse debate e principalmente da repercussão causada por ele.
Acredito que o trabalho de conscientização docente para temáticas como esta é indispensável para que possamos reconhecer definitivamente o racismo como problema social e parar de ratificar que a escola age como mera reprodutora desse problema. Se a escola é um espaço de reflexão e contestação temos que considerar que o trabalho docente precisa ser atuante nos novas demandas da sociedade. Falar de negras e negros, de suas contribuições, percursos e lutas é fundamental para que possamos nos perceber/identificar como sujeitos históricos e partícipes das dinâmicas da sociedade.
A minha pergunta, Antônio, é se você já teve a oportunidade de trabalhar com o tema em sala de aula e queria, se puder, que você fale como foi a experiência para você e para os educandos.
Cordialmente,
Graziella Fernanda Santos Queiroz
Olá, Graziella!
ExcluirTudo bem?!
Claro, será um prazer compartilhar com você uma das muitas experiências vivenciadas com os meus alunos.
Realizei, certa feita, uma atividade que tinha como foco central o estudo da identidade e ascendência negra com base na construção de autorretratos, com um grupo de 31 alunos/as correspondentes aos 6º e 7º anos, na faixa-etária de 09 a 12 anos de idade.
Os/as alunos/as foram orientados/as a fazerem o autorretrato, com giz de cera, a partir de como eles se viam no espelho. E depois que fizessem um outro desenho de como gostariam de ser, focando nos aspectos físicos.
Os estudantes do 6º e 7º anos, traziam o entendimento de que a cor da sua pele, sua raça era herança dos seus descendentes. Elas sabiam que sempre parecemos com os nossos pais e que somos parte de uma história, continuação de um passado, ramificação de um só tronco. Essa consciência é valorosa, ela nos situa pertencentes a um grupo, membro de uma conjuntura rica em elementos culturais, simbólicos e rítmicos. Portanto, tornou-se necessário ouvir esses jovens, para tentar enxergar suas concepções de raça e se elas, de alguma forma, negavam os traços da negritude, presentes em nossa constituição física, cultural e social.
As observações e análises dos desenhos, revelaram que apenas dois alunos deixaram explícito o reconhecimento de sua etnia, nesse caso, eles se percebiam negros nos cabelos, na cor da pele e nos traços de sua raça. Eles demonstraram não terem vergonha da cor que traziam, pelo contrário havia um orgulho presente nos desenhos, feitos com traços próprios de adolescentes que pouco sabem dos ardis da existência, porém são capazes de sustentar sua negritude, revelando uma satisfação.
No entanto, analisando os demais autorretratos, na maioria de meninas, foi possível verificar um desejo, quase que subliminar, pelo impossível de se tornar branca/o. Deixando escapar uma rejeição aos cabelos, ao nariz, a cor dos olhos ou a insatisfação da raça. Os desenhos falavam de adolescentes, que inconscientemente ou não, passaram por uma negritude dolorosa e agressiva que ver na beleza branca fagulhas de um deus, negando raízes negras.
Os autorretratos demostraram o quanto a abordagem da identidade racial é uma elaboração feita a partir de encaixes culturais, ou seja, ela se caracteriza pelos vários elementos culturais que vão sendo agregados pelos indivíduos no decorrer das experiências vividas e através da herança cultural recebida. Portanto, a identidade estabelece os limites responsáveis pelas diferenças entre os grupos humanos, ela se revela pelo âmbito da consciência da diferença pessoal, frente ao contraste do outro.
A gênese da nossa história, na qual a colonização se faz pungente, a escravidão racial e a hegemonia branca colaboraram para a construção do sentimento de inferioridade do negro brasileiro. O ideal de branqueamento, a ideologia perversa da degeneração do mestiço, e o mito da democracia racial funcionaram como amarras da ascendência e tirania ideológica capazes de provocar, ainda hoje, prejuízos no imaginário social, o que dificulta a ascensão social do negro, uma vez que este é enxergado como indolente e incapaz intelectualmente.
Infelizmente nos desenhos dos estudantes, havia respingos dessa política sutil do branqueamento que tem como principal objetivo turvar a relevância do negro para a formação cultural, história e social do Brasil, propagando aspectos negativos e depreciativos do negro, na tentativa de erradicá-lo pelo processo de branqueamento, projetando o afã em construir uma nação radicalmente branca.
Essa reflexão em torno dos ideários de negação e submissão do negro, desponta a certeza de que ser negro, ser negra, exige um ânimo descomedido. Entretanto, uma vez que há a aceitação de sua história e que já não há dor em reconhecer-se membro deste copo negro; vem o esforço para combater as barreiras discriminatórias e auxiliar no desenvolvimento de um novo ser humano, capaz de se elevar à altura de seu destino numa sociedade de identidade plenamente unificada, completa e segura.
ExcluirGraziella, qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Antônio,
ExcluirMuito boa a atividade proposta por você! Apesar das adversidades acredito que nós enquanto educadores que propomos trabalhar essa temática em sala de aula contribuímos para cada vez mais meninas/os possam se identificar como negras/os e se orgulharem da história que os acompanham.
Abraços!
Graziella Queiroz
Abraços, Graziella!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia Antonio e Jane. Na minha realidade docente, vivencio alguns dramas ao trabalhar com conteúdos relacionados não só com a História da África, mas com as heranças africanas na cultura brasileira, em especial, as religiões como umbanda, candomblé, tambor de mina, xangô, dentre outras. Enfrento por vezes resistência da própria equipe pedagógica e de alunos no tocante ao trabalho com religiões afro. A resistência em grande parte vem da demonização dessas religiões, algo que se iniciou na colônia, com a atuação da Igreja Católica e atualmente vem sendo reforçado por determinados segmentos ditos evangélicos, embora, claro, não sejam todos. Como professora, pergunto o que fazer quando me vejo diante desse tipo de resistência. Como vocês vêem a questão?
ResponderExcluirGrata!
Jeane Carla Oliveira de Melo
Olá, Jeane!
ExcluirTudo bem?
É bastante compreensível que as minhas antigas professoras quisessem, com as melhores intenções, inseri-me no universo literário através dos personagens lobatianos. No entanto, nunca saberei se elas tinham lucidez quanto as imagens postas que, de modo geral, estampavam o negro serviçal e submisso, representando uma marca vexatória no enredo. Digo isso, pensando nos seus colegas e na resistência que eles têm com relação a religiosidades de matriz africana.
Eu estou concluindo um estudo que, entre outros objetivos, busca identificar como a identidade e a cultura afro-brasileira emergem nas histórias de vida, formação-profissão dos docentes e os dados prévios têm revelado que a negligência de determinados professores não acontece por serem “ordinários”, mas por terem aprendido no âmbito familiar e no seu percurso formativo, inclusive na formação docente, estereótipos que marginalizam a expressão cultural negra.
É fato, no início da minha carreira eu não tinha a destreza que eu tenho hoje e, nesse caso, a formação foi importante, pois não damos aquilo que não sabemos. Sendo assim, como a prática do/a professor/a poderá auxiliar na superação dos mecanismos que subjuga, violenta e nega os direitos garantidos pelas políticas públicas educacionais e curriculares se a formação não contribui?
Nesse caso, fico feliz que você tenha essa consciência e disposição. Animo-a a fazer sua parte, sei que deve ser difícil “andar na contramão”, mas se você sabe fazer diferente, então faça! Esteja certa de que não se arrependerá!
Forte abraço e obrigado!
Antonio José.
Talvez um dos maiores problemas para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira é um curriculo ainda eurocêntrico e docentes formados academicamente por esse viés, que reduz a África a uma "grande feitoria de mercadoria humana", um estereótipo. Esse eurocentrismo que perpassa a questão serve para que se aumentar a distância entre o prescrito e o vivido em sala de aula. Mais do que pensar no ensino de história africana e afro-brasileira seja igualmente importante pensar o viés da abordagem e a formação docente. Como vocês vêem a questão?
ResponderExcluirGrato!
José Lucas Góes Benevides
Olá, Lucas!
ExcluirTudo bem?!
Por isso, a formação de professores deve ser encarada como uma das principais metas das políticas públicas governamentais, bem como das ações empreendidas por instituições de fomento educacionais. À vista disso, a formação docente, revela-se um salutar procedimento para subsidiar a resolução dos inconvenientes causados pela omissão das questões raciais, étnicas e da História e Cultura da África e Afro-brasileira, na formação inicial de muitos/as professores/as.
Lucas, qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Olá Antônio e Jane,
ResponderExcluirNo tocante aos alunos, sabemos que eles veem sofrendo com um currículo onde muitas vezes o próprio livro didático influencia em uma visão deturpada, ou o tempo em sala de aula é insuficiente e não permite que seja visto um outro contexto sobre a África negra. Minha pergunta e uma curiosidade é: qual a principal (visão equivocada) que vocês mais puderam perceber que marcou os alunos nos períodos de aprendizado anteriores ou mesmo no conhecimento adquirido no cotidiano fora da escola através da oralidade?
Grato.
Daniel Costa Lisboa
Olá, Daniel!
ResponderExcluirTudo bem?
Como ainda estou trabalhando nos dados,não me sinto tão seguro para expô-los. Então, tentarei lhe responder através das minhas experiências enquanto aluno de escola pública.
As minhas primeiras experiências de exclusão e negação foram ambientadas na escola. Ali, andando pelos corredores, nas aulas de educação física, na fila da oração ou da merenda eu pude conhecer o êxito da mentalidade racista e discriminatória que me lançava ao lugar inferiorizado seja por ser filho de mãe solteira, por ser pobre, por meus trejeitos efeminados, ou ainda por ser negro. A escola me ensinou as baixas classificações que eram atribuídas a mim a partir de uma escala de desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero, pois conhecer esses sistemas classificatórios significa conhecer os nossos pertencimentos, os lugares que ocupamos na hierarquia social e as estruturas básicas de nossa personalidade.
Dessa forma, aprendi, como aluno, a repugnância por todas as formas de rejeição e descarte da dignidade humana e, assim, aprendi que ser professor é ser algo a mais.
Daniel, qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Boa tarde, qual seria a opinião de vocês em tratar o assunto discriminação racial nos primeiros anos da educação básica?
ResponderExcluirAtenciosamente
Leandro da Silva Zimmermann
Olá, Leandro!
ExcluirTudo bem?
Para responder-te, lanço mão da citação retirada das Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais que diz:
"Independentemente do grupo social e/ou étnico-racial a que atendem, é importante que as instituições de Educação Infantil reconheçam o seu papel e função social de atender às necessidades das crianças constituindo-se em espaço de socialização, de convivência entre iguais e diferentes e suas formas
de pertencimento, como espaços de cuidar e educar, que permita às crianças explorar o mundo, novas vivências e experiências, ter acesso a diversos materiais como livros, brinquedos, jogos, assim como momentos para o lúdico,permitindo uma inserção e uma interação com o mundo e com as pessoas presentes nessa socialização de forma ampla e formadora.[...] Considerando a diversidade étnico-racial, sabemos
que existe uma concentração maior de crianças negras em instituições como creches comunitárias e filantrópicas. Portanto, não podemos desconsiderar que a desigualdade racial no sistema educacional apontada em várias pesquisas está presente na Educação Infantil, considerando-se o acesso a
essas ofertas de atendimentos, a qualidade do trabalho realizado, as condições de trabalho dos(as) profissionais que ali atuam e principalmente a sua formação (BRASIL, 2006, p. 37).
Referência:
BRASIL, Ministério da Educação/Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientação e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.
Abraços!
Antonio José
Olá, gostei muito do tema apresentado e gostaria de fazer alguns questionamentos. Sabemos que por ser uma lei nova o ensino de história da Africa chega com dificuldade as escolas de ensino fundamental e médio, ainda é abordada por professores com formações mais antigas como algo exótico ou desnessário na criação da identidade do aluno, sei que existe desafios para o ensino de história, mas em sua opinião como conseguiriamos romper com preconceitos etnocentricos e como demonstrar a cultura de povos africanos em nossa sociedade? Romper aquela visão que só o que vem da Europa é bom.
ResponderExcluirRoger Augusto Granado Castilho
Olá, Roger!
ExcluirTudo bem?
A superação desse estigma virá pelo prazer de ser negro, de carregar em seus traços, no crespo dos cabelos, no nariz achatado, nos lábios grossos e na cor firme, sinais genuínos de sua história. Pois, ser negro é orgulho, é seguir em frente sabendo que legiões resistiram para que existisse, enfim, uma identidade negra gestada no ventre da África, a ‘Mãe negra’ dos primórdios. De tal modo, é papel da escola, dos seus gestores e professores compartilhar uma visão de escola como ambiente que pode ser de felicidade, de satisfação, de diálogo, onde possamos de fato desejar estar. Um lugar de conflitos, sim, mas tratados como contradições, fluxos e refluxos.
Roger, qualquer dúvida pode escrever mais.
Abraços!
Antonio José
Excelente texto e reflexão.
ResponderExcluirNós enquanto professores de história precisamos levar cada vez mais essa reflexão aos nossos alunos para que se construa em nossa sociedade um pensamento e encorajamento diferente do atual, estamos só no início da caminhada e ainda temos um longo caminho a percorrer até que tenhamos cessado o preconceito velado que está presente em nossa sociedade.
Exatamente Rodrigo!
ExcluirEndosso suas palavras!
Obrigado por prestigiar o nosso trabalho!
Forte abraço!
Antonio José
Trabalho muito interessante!
ResponderExcluirGostaria de perguntar sobre: Atualmente as ciências biologicas teve um desenvolvimento imensuravél comparados a séculos anteriores, sendo que está ciência não "gostam" de usar o termo raça, porém como a ciência humana lida como este tema? Ou seja, ainda utiliza o conceito de "raça" ou conceito "etnico-racial" o que diferencia um do outro?
Rogério Silva de Mesquita
Olá, Rogério!
ExcluirTudo bem?
De acordo com SILVA; SILVA (2009, p. 346): “Há atualmente duas discussões em torno do conceito de raça no Brasil: a discussão acadêmica, que cada vez mais tende a considerar a inexistência de diferenças raciais, esvaziando a ideia de raça como conceito; e o imaginário social, para o qual raça é uma realidade, ainda que o discurso dominante nesse imaginário seja o da miscigenação. Se a ciência hoje tende a afirmar que só existe uma única raça humana, o conceito de diferenças raciais está tão arraigado na sociedade brasileira que talvez ainda demore bastante tempo para que essa nova crença científica seja incorporada ao senso comum. [...] A palavra, na Idade Moderna, com outros significados, era conhecida no mundo europeu, e dizer que se pertencia a uma raça era afirmar o pertencimento a uma linhagem.
Desse modo, embora a Biologia hoje conteste de modo arrebatado a existência de uma raça negra, tanto a sociedade brasileira crer que tal raça existe quanto os próprios entes negros se reconhecem como tais, assumindo um estandarte racial como uma maneira de se identificar como grupo social e cultural. Logo, o conceito de raça beira o conceito de etnia. Salvaguardando a diferença de que enquanto etnia é uma construção conceitual dos acadêmicos, raça é um termo plenamente incorporado pelo senso comum que percebe a dantesca e bestial inferiorização de seres humanos com base na questão biológica, embora sejamos todos fisiologicamente iguais (SILVA; SILVA, 2009).
Rogério, muito obrigado pela inteligente pergunta!
Abraços e até a próxima edição do simpósio!
Antonio José
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2009.
Olá, boa noite!
ResponderExcluirAdorei o trabalho, mas como sempre observo no meio acadêmico, essas temáticas estão sempre sendo levantas ou estudadas por estudantes de História. Porém a lei que obriga o ensino de " História da África e Cultura Africana e Afro-brasileira", abrangem não só o curso de licenciatura em História, mas também em outras áreas. O desafio é que essa disciplina não é obrigatória em outros cursos, ficando a cargo somente ao professor de História levantar todas essas reflexões acerca do assunto. Isso afeta de certo modo, a inserção de tais conteúdos feitas somente pelo professor de História, afeta em algo o aprendizado do aluno???
Att
Williany Ferreira da Silva
Olá, Williany!
ExcluirTudo bem?
Lançando mão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, perceberemos que: “O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a educação das relações étnico-raciais, tal como explicita o presente parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, como conteúdo de disciplinas, particularmente, Educação Artística, Literatura e História do Brasil, sem prejuízo das demais, em atividades curriculares ou não, trabalhos em salas de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, na utilização de sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca, áreas de recreação, quadra de esportes e outros ambientes escolares” (2005, p. 21).
Sendo assim, se o trabalho acontece de maneira isolada e inóspita pelo/a professor/a de História, evidentemente que os/as alunos/as terão prejuízos, afinal, o/a professor/a de História não é polivalente. A História nos conduzirá por veredas específicas, por isso é salutar o trabalho interdisciplinar.
Williany, muito obrigado pela pergunta!
Abraços e até a próxima edição do simpósio!
Antonio José
BRASIL, Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC, SECAD, SEPPIR, 2005.
Gostaria de parabenizar a Comissão Científica do evento e dizer que tenho interesse de inserir artigos nos próximos simpósios.
ResponderExcluirmail - mcarvalho73@yahoo.com.br
MARCOS ANTONIO DE CARVALHO - Doutor em História - FL/UNIV DO PORTO-PT
Aproveito a oportunidade para também parabenizar!
ExcluirBoa tarde Antônio e Jane,
ResponderExcluirSou coordenador do NEABI da Faculdade Municipal de Palhoça, em SC, e a temática me interessa muito. Gostei muito do texto. A pergunta que faço é se vocês conseguem observar um movimento para que as lacunas existentes no ensino de História da África e dos africanos,possam ser preenchidas? Se não, o que estaria faltando? Investimento em formação, material didático, pesquisas?
Abraços
Jackson Alexsandro Peres
Olá, Jackson!
ExcluirTudo bem?
Sim, existem genuínos movimentos que estão contribuindo muito com a disseminação do estudo da tradição africana e afro-brasileira. Mas, para que isso continue vívido é preciso, como você salienta, o investimento em materiais didáticos, pesquisas e na formação docente que produzirá um outro percurso de conscientização e superação de uma dada hegemonia, responsável por rechaçar os elementos basilares da identidade negra, omitindo a história, a cultura, a personalidade, a capacidade intelectual e o valor estético do negro, pois, ainda que tantas vitórias e avanços sejam realidades, o preconceito racial se alicerça na escola, através da recusa mais pungente ou do incômodo discreto em oferecer informações que elevem a autoimagem, a autoestima dos negros, promovendo o respeito, a convivência e o reconhecimento por parte de todos/as com relação à importância da população negra.
Jackson, muito obrigado pela pergunta!
Abraços e até a próxima edição do simpósio!
Antonio José
Nós nos baseamos muito em livros de historia,agora com a iserçao de tablets em sala de aula não conseguiríamos inserir novas atividades e personagens da cultura afro pois com tecnologia nao temos fronteira e nao ficamos muito presos a livros que só dizem as mesmas historias?
ResponderExcluirRONISON FRANCISCO DA SILVA
Olá, Ronison!
ExcluirTudo bem?
Claro, as novas tecnologias são possibilidades reais e bem-vindas para as práticas pedagógicas. Inclusive, existem casos de racismo e discriminação com personalidades conhecidas do público no âmbito das redes sociais. Essas notícias infelizes, devem fazer parte do debate em sala de aula.
Ronison, muito obrigado pela pergunta!
Abraços e até a próxima edição do simpósio!
Antonio José
Boa noite,
ResponderExcluirO texto é bem instigante e me proporcionou algumas reflexões e questões, por exemplo quando pensamos na Lei de 2003 sobre o ensino da cultura e história afro-br e em algumas vertentes atuais do movimento negro acadêmico percebemos que estes ainda tem a sua atuação engessada e, de certa forma, restritas a um público x. Digo isso porque a Lei ainda não é garantia de que tais conteúdos sejam trabalhados e discutidos em sala de aula, uma vez que professores de determinados grupos religiosos podem não trabalhar tais temas ou fazer de maneira superficial devido ao que acreditam em relação a fé; e o que se dá com as vertentes do movimento negro que mencionei ainda é mais impactante já vez que o discurso destes gira em torno de uma imagem e da representatividade, o poder de fala, assim outros aspectos não ganham a devida atenção, aspectos como as questões de religiosidade/mitologia, por exemplo, e muito em breve esse tipo de militante vai para a sala de aula com um embasamento menos aprofundado. Como você percebe essa atuação acadêmica no cumprimento da lei para o ensino de história e cultura afro-br, seja por parte das instituições de ensino quanto por parte dos discentes?
Geison Vicente de Oliveira
Olá, Geison!
ExcluirTudo bem?
A escola só cumprirá o seu papel de tratar os conhecimentos de todas as disciplinas de acordo com as orientações legais descritas na lei 10.639, quando os órgãos de fomento à pesquisa e formação entenderem que esse movimento depende de condições concretas relacionadas ao contexto de formação e trabalho dos docentes na educação básica. Sem formação o/a professor/a continuará esboçando dificuldades de inclui nas atividades da sala de aula os conteúdos relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira em disciplinas, tais como: História, Artes, Língua Portuguesa e Geografia. Pois, acredita-se que oferecendo mais informações e promovendo o conhecimento sistematizado, proporcionará que os/as estudantes tenham uma visão mais crítica sobre as diferentes realidades, contribuindo para alterar as relações entre as pessoas.
Geison, muito obrigado pela pergunta!
Abraços e até a próxima edição do simpósio!
Antonio José