Carlos Mizael

O DESENVOLVIMENTO DO PENSAR NA INFLUÊNCIA DA SOCIOLOGIA NA SÉRIE DIDÁTICA HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL DE CLAUDIO VICENTINO E GIANPAOLO DORIGO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO SÉCULO XXI

Carlos Mizael dos Santos Silva



O desenvolvimento do pensar na questão que esse texto menciona surgiu após a necessidade de tentar me adentrar no programa de mestrado em Ciências Sociais na mesma universidade a qual  me formei. Uma das linhas de pesquisa desse programa se chama Sociabilidades, conflito e processos identitários. Essa linha de pesquisa foi escolhida por mim pelo fato de que ela me faz refletir a minha formação enquanto professor/historiador. Não buscava o conhecimento apenas dentro da universidade mas também fora dela. Um dos exemplos mais marcantes foram os movimentos sociais, pois aprendi direta e indiretamente a importância de pensar numa narrativa histórica que inclua todas as pessoas silenciadas da melhor forma possível, independente de sua etnia, religião, segmento social, e etc.

Nas minhas aulas buscava, na medida do possível, fontes que me ajudassem a tirar alguns silêncios que rumavam nesse sentido: sites, documentários e etc, e aplicava isso em uma sala de aula dentro de um planejamento prévio. Porém, na pós acadêmica, que se difere da pós profissional, existe uma diferença muito grande entre investigar um problema social e ser um problema social. Portanto, não seria fácil encontrar um problema para investigar que não tivesse ligado ao campo de Ensino de História. A solução estava então em pensar na História do Ensino embasado na História, pois já havia trabalhado com isso antes em minha monografia ao pesquisar sobre o ensino da História do Brasil no fim dos oitocentos e início dos novecentos no Colégio Pedro II.

Buscando então a fonte nos meus arquivos de livros didáticos acabei encontrando uma coleção que me chamou atenção. Essa coleção se chama História Geral e do Brasil, editora Scipione e foi escrita pelo Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo. A razão por me sentir atraído pela obra foi pelo fato da mesma ter como um dos autores um graduado em Ciências Sociais (Vicentino) e professor de História em redes privadas de ensino. Outra coisa que atentou-me a essa obra foi a naturalidade com que a obra, no manual do professor, trata de assuntos que geralmente só se encontravam em discussão de grupos sociais:

"Precisamos também ter claro que cada sujeito articula várias identidades que respondem a aspectos diferentes da vida (sexualidade, lazer, política, economia, classe) e não é aceitável, no processo de autoconstrução que cada criança ou adolescente executa, o constrangimento a assumir papéis que decorrem de estruturas e processos opressivos, como o racismo, o machismo, a homofobia, os preconceitos de classe, os regionalismos excludentes, entre outros. A formação para a cidadania é também tarefa da História, e significa a politização dos sujeitos - Desde seu surgimento como disciplina escolar, cabe à História uma parcela expressiva da tarefa de preparar os futuros cidadãos para a vida em sociedade, sobretudo para a participação na esfera política." (VICENTINO;DORIGO, 2013, p. 07)

No próprio manual do aluno encontrei uma determinada citação:

"No Brasil, especificamente, vários grupos tidos como oprimidos passaram a buscar, escrever e valorizar suas histórias: os negros nas sociedades (aberta ou veladamente) racistas, as mulheres nas sociedades patriarcais e machistas, os trabalhadores, as minorias étnicas, os homens e as mulheres com diferentes opções sexuais, etc. Desse modo, várias transformações na maneira de compreender a história como ciência, dentro e fora do Brasil, exigiram que ela fosse construída e ensinada de novas formas. Em termos políticos, a emergência das reivindicações dos operários, trabalhadores rurais, negros e mulheres - entre outros sujeitos históricos - propiciou novos focos para a história, seu registro, sua escrita." (VICENTINO;DORIGO, 2013, p. 14)

Desde então percebi que essa coleção didática para ensino médio tinha muito a me ensinar. Pelo fato de mostrar, por exemplo, de que pensar a História sob essa perspectiva não é algo novo, embora mesmo assim devamos pensar numa forma eficaz de executar essa dinâmica de ensino. De onde vem esse diálogo todo? Havia pensado a princípio com Vicentino, uma vez que ele é cientista social, porém ele não escreveu essa obra sozinho. Dorigo, por sua vez, é bacharel e licenciado em História e esse curso, como sabemos, costuma lidar também com esses tipos de problemáticas, dentro das suas possibilidades.

Não podendo me render única e exclusivamente na análise do livro didático, precisava entender a possível influência da sociologia nessa obra para saber se o uso de determinados autores e determinadas obras discutidas em Sociologia (MARX, WEBER, ELIAS, FERNANDES) poderiam ter feito que os autores escrevessem a Historiografia Didática da maneira que escreveram. Mas será que a Sociologia foi a principal responsável pela atual configuração dessa escrita? Como o programa do mestrado em Ciências Sociais fala de sociabilidades, não podemos nos esquecer dos movimentos sociais enquanto possíveis espaços de sociabilidade e como os volumes 1, 2 e 3 da obra foram publicadas em 2013, constatamos que seria imprescindível a análise conjuntural dos movimentos sociais no século XXI. A partir daí, concluímos que dessa forma atribuiríamos um recorte temporal em nossa pesquisa. Trabalharemos com artigos que falavam sobre os movimentos sociais para fazermos um levantamento inicial desses movimentos e tentarmos fazer um comparativo disso com o momento em que o livro foi publicado para sabermos se há uma ligação entre uma coisa e outra. De que forma essas situações se conectam?

Para pensarmos uma linha de pensamento resolvemos dialogar com Pierre Bourdieu, pois ele trata a da questão do Poder Simbólico, de como ele se manifesta em um determinado Espaço Social através das "Propriedades Atuantes", provocando uma determinada reação a cada agente influenciado por essas propriedades. O mesmo autor afirma que para entendermos sobre as propriedades devemos entender, por exemplo, sobre a origem de cada instituição. Entendendo sobre a origem das instituições poderíamos entender, por exemplo, sobre o fenômeno dos porta-vozes (pessoas que falam em nome da instituição que representam).

Ao buscarmos o contexto dessa discussão em nossa pesquisa que tal pensarmos da seguinte forma: Vimos que os autores falam de estruturas e processos opressivos como machismo, por exemplo. Se pesquisarmos talvez sobre o movimento feminista no Brasil e no Mundo, poderemos entender como foi criada a propriedade atuante sobre os(as) ativivistas desse movimento, que os fazem se movimentar contra essa opressão específica, e pensarmos também de que forma são escolhidos(as) os(as) seus(as) porta-vozes para essa militância. Em qual Espaço Social eles (as) se manifestam? Seriam Dorigo e Vicentino os porta-vozes desse movimento no espaço da educação histórica?

Para encerrar queremos afirmar, que dessa forma, acreditamos atribuir tanto para o campo do Ensino de História quanto para o de Ciências Sociais no que diz respeito à metodologia de um ensino mais igualitário para todos os tipos de cidadãos e cidadãs, e também para o mapeamento das manifestações do pensar identitário.

Referências bibliográficas

Livros didáticos:
        
VICENTINO, Claudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. Manual do Professor. Vols 1, 2, e 3. 2ª Edição. Scipione. São Paulo. 2013.

Outros:

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
CHOPPIN, Alain. ‘O historiador e o livro escolar’. Tradução de Maria Helena Camara Bastos. História da Educação. ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas (11):5-24, Abr. 02.
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. ‘O livro escolar como fonte de pesquisa em História da Educação’. Cadernos Cedes, ano XX, no 52, novembro/2000.p. 11-24.
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993, vol. 1.
FERNANDES, Florestan. O Que É Revolução? Brasiliense, Distrito Federal,. 1981.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Boitempo, São Paulo. 2005.
MOREIRA, Kênia Hilda. ‘Livros didáticos como fonte de pesquisa:
um mapeamento da produção acadêmica em história da      educação’. Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.2, n.4, p.129-142,  jan/abr. 2012.
SALLES, André Mendes. ‘O livro didático como objeto e fonte de pesquisa  histórica e educacional’. Revista Semina V10 - 2º semestre. 2011.
SCHERER-WARREN, Ilse. ‘Dos movimentos sociais às manifestações de rua: o ativismo brasileiro no século XXI’. Política e Sociedade. Florianópolis. Vol.13. Nº 28.   Set./Dez.de 2014.p. 13-34.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 14ª Edição. Pioneira. São  Paulo. 1999.

3 comentários:

  1. Caro Mizael,
    pq vc escolheu especificamente esses dois livros, e não outros?
    obrigado
    Victor Pena

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    1. Victor Pena. Obrigado pela pergunta.

      Caso esteja se referindo ao título do livro (História Geral e do Brasil) ele é apenas um. Escolhi esse livro por perceber que ele contém descrições de percepções de mundo que se compara muito aos movimentos sociais, e se permitir dizer, à minha visão de mundo também.

      Obrigado pela pergunta novamente.

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    2. Apesar de que você pode estar se referindo às três obras né!? Então devo dizer que pretendo notar isso de alguma forma em todos os volumes.

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