Carla Silva

UMA CÂMERA NA MÃO E UMA HISTÓRIA PARA LEMBRAR:
MEMÓRIAS DA EDUCAÇÃO NO VALE DO ITAJAÍ/SC

Carla Fernanda da Silva



O objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta didática, realizada ao longo de três anos no ensino da disciplina História da Educação para os cursos de Pedagogia, História e Ciências da Religião na FURB – Universidade Regional de Blumenau/SC.

Esta disciplina compreende a história da educação da Antiguidade à Contemporaneidade, ou seja, numa perspectiva de longa duração, cuja importância, em um curso de licenciatura, vai além da absorção de fatos e datas, mas na narrativa das continuidades e descontinuidades dos atos de aprender e ensinar.

No primeiro ano em que lecionei a disciplina, percebi que, no decorrer das aulas, o passado distante foi apreendido com curiosidade e admiração, porém o século XX tornou-se um tribunal, em que os acadêmicos acusaram as gerações de professores que os precederam de ministrarem aulas de forma tradicional no ensino escolar, tornando a discussão restrita ao ‘método’ de ensino, sem analisar o seu contexto histórico. Atitude que dificultou a compreensão histórica da educação, em especial no Brasil, onde tivemos duas Ditaduras: do Estado Novo e a Militar, períodos em que a pedagogia defendida e proposta por estes governos eram a tradicional e a tecnicista, respectivamente.

Porém, aula após aula, retomava-se a discussão do ensino tradicional e a culpa das gerações precedentes pelo fracasso escolar na atualidade, atitude que evidenciou um problema conceitual a resolver na disciplina: a concepção de História. Concepção compreendida a partir do positivismo/historicismo, fato respaldado pelo ensino de História que tiveram nos ensinos Fundamental e Médio, pautado em um método tradicional que privilegiou a memorização de fatos e datas, no qual o passado é pensado comoorigem’ numa história em constante progresso, em que alguns personagens, ‘vultos históricos’, lideram e ‘fazem’ a história e os demais, incluindo os acadêmicos, são meros espectadores. Ou seja, a história escrita a partir da lógica dos vencedores, cujos signos são as datas a comemorar e o próprio livro Didático, que impresso em suas páginas tem a trajetória desses poucos personagens e fatos marcantes.  

Portanto, para os acadêmicos repensarem sua compreensão de História, era necessário repensar as aulas e, por se tratar da disciplina de História de Educação, fazê-los se perceberem enquanto sujeitos da história, ato fundamental para a sua ação de ensino.

Assim, a disciplina foi planejada para dois momentos: o ‘Ato de Aprender’, e em seguida, o ‘Ato de Ensinar’, ambos orientados primeiramente pela memória dos acadêmicos, e depois pela pesquisa da História da Educação.

Uma primeira atividade proposta foi a realização de uma ‘Fotobiografia Escolar’, que deveria ser apresentada em PowerPoint, descrevendo os seus anos escolares, relacionando objetos de memória, tais como: cadernos escolares, boletins/cadernetas de notas, diplomas, uniformes e fotografias. Além desses objetos, próprios de sala de aula, os acadêmicos deveriam lembrar-se dos mais diversos espaços da escola, a partir dos 5 (cinco) sentidos, ou seja, buscar os cheiros, sons, texturas, gostos e imagens da memória escolar.

Trabalhar os cinco sentidos da memória tem intuito de deslocar o conhecimento do passado apenas do sentido da visão, comumente ativado por meio da leitura de livros ou fotografias.  Ao narrar sua vida escolar pelos cinco sentidos, objetiva-se torná-los sensíveis à memória das mais diversas formas, e buscar recordações que muitas vezes são relegadas ao esquecimento, como o som das crianças brincando no recreio, o cheiro e sabor da merenda e da lancheira, os pés sobre as pedras ou gramado da escola, a bola chutada, as canções, o suor após a educação física ou recreio, a tinta em contato com a pele, o cheiro do guache, entre outras tantas memórias citadas.

O intercâmbio de experiências entre os acadêmicos foi uma provocação em sua sedimentada conceituação do conhecimento histórico, pretendendo, com essa vivência, uma ruptura no ato aprender, permitindo repensar e problematizar a forma como compreenderam história até o momento, e como podem vir a aprender, viver e ensinar história a partir da memória e do questionamento das fontes históricas. A ‘História de Vida Escolar’ há muito é utilizada no Ensino Superior como atividade didática, em especial nas licenciaturas. Porém, abro um espaço de reflexão para o escopo teórico que motivou o planejamento e aplicação dessa atividade, pois além de compartilhar memórias e usá-las como fonte histórica, buscou-se a inspiração em Walter Benjamin, em seu texto ‘O Narrador’.

Benjamin afirmou que “a arte de narrar está em vias de extinção” (BENJAMIN, 1994), referindo-se sobretudo ao ato de falar e ouvir, a troca de experiência, aprender com o vivido pelo outro. O autor não hierarquiza a narrativa oral ou escrita, mas destaca que “as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos.” (BENJAMIN, 1994) Ao respaldar a narrativa no vivido, o narrador confere a sua história uma dimensão utilitária: a experiência compartilhada. Portanto, não temos uma apresentação de trabalho, uma formalidade acadêmica, mas sim um compartilhar de vidas, em que os acadêmicos se compreendem como um grupo, pessoas que trocaram experiências e sentimentos e se pensaram como sujeitos históricos.

Se os livros nos chegam prontos e acompanhados de explicação, a narrativa nos oferece um espaço de reflexão, tanto pra pensar a experiência, quanto na possibilidade de refletir a ‘sabedoria’ na forma de conselhos ou na ‘moral da história’. Na narrativa, o leitor/ouvinte “é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação.” (BENJAMIN, 1994) Transpor a informação, problematizar o dito e o vivido, de forma que a história seja interpretada e as fontes históricas, que em um longo processo de ensino-aprendizagem foram sacralizadas e detentoras da ‘verdade’, sejam de fato questionadas e analisadas. Para tanto, é preciso uma nova vivência do ato de aprender história, de forma a constituir uma consciência histórica. Narrar sua vida e ouvir a história do outro, pensar a sala de aula como um espaço de memória.

A importância da narrativa despertou para a segunda atividade da disciplina: a realização de entrevistas com professores das mais diversas décadas do século XX. Essa atividade objetivou, também, transpor os alunos de um exercício de memória pessoal, para a busca de narrativas além da sala da aula, apresentando depoimentos de professores de gerações passadas. A História da Educação passou a ser discutida a partir do ato de ensinar, cuja compreensão se fez partir da vivência de professores entrevistados, pela metodologia da ‘história oral’.

Deslocar o ensino da História da Educação dos livros para a ‘história oral’ é uma forma de vivenciar o aprendizado e o “desafio de contemplar a multiplicidade do mundo e sua indeterminação para auxiliar nossos alunos a construir sua memória e suas identidades a partir de uma História que considere as rupturas, conflitos, crises públicas e privadas, em suas infinitas diferenças.” (MONTEIRO, 2007) Ou seja, perceberem que os documentos e livros são construções, e que estes contém uma representação da História da Educação, não uma ‘verdade’ sedimentada. Faz-se necessário dizer, ainda, que a maior parte dos escritos refletem a História a partir das instituições e estão inseridos num contexto nacional e global, com pouco espaço para a reflexão em nível local, e sem pensar em pesquisar a História da Educação a partir daqueles que são partícipes: professores, alunos, funcionários escolares, pais, entre outros. Os manuais didáticos, em sua oficialidade, discorrem sobre a História da Educação numa ótica do Estado, inserida em meio aos fatos históricos consagrados e as mudanças de regime político e legal do governo brasileiro. Nesta escrita generalizante da história, as pessoas que constituem a história da educação (professores, alunos, pais e funcionários escolares) não tiveram visibilidade alguma, e de certa forma foram silenciadas.

Possibilitar o uso e conhecimento da ‘história oralcomo método de trabalho da História da Educação é de fundamental importância, pois:

pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Pode ser usada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de investigação; pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerações, entre instituições educacionais e o mundo exterior; e na produção da história (...) pode devolver às pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar fundamental, mediante suas palavras. (THOMPSON, 1992.)

A história oral propicia ao entrevistado a oportunidade de relembrar a sua própria história, de narrá-la e perceber-se enquanto sujeito histórico.

A teoria e método da história oral permitiu uma mudança de ênfase nas pesquisas historiográficas, em um caminho que pertencia ao indizível, ampliou e criou novas áreas de investigação, ao construir uma representação da história a partir da narrativa daqueles que a vivenciaram.

Em 1936, Benjamin refletia sobre a possível extinção do narrador, quando o romancetoma’ o lugar do ‘contador de causos e histórias’. Thompson, anos mais tarde, possibilita o retorno deste narrador, não o contador de ‘causos’, mas o sujeito da memória, desta vez pautado na tecnologia, com uso de gravadores, e fundamentado numa historiografia pós Annales, que problematizou as fontes documentais e, para o autor, a história deve tratar de vidas individuais – e todas as vidas são interessantes; e baseia-se na fala, e não na habilidade de escrita, muito mais exigente e restritiva.” (THOMPSOM, 1992)

Com a concepção de que toda história de vida é importante e que é preciso possibilitar as pessoas um retorno à narrativa, foi planejada a segunda etapa da disciplina, pautada no ‘ato de ensinar’. Foram entrevistados professores utilizando câmeras digitais, com a finalidade pedagógica dos acadêmicos se apropriarem do uso das novas mídias e, através dessa tecnologia, aplicar os conceitos teóricos problematizados em sala de aula.

O audiovisual é uma ferramenta interessante para trabalhar novas propostas de ensino da História da Educação, pois permite estudar e analisar os conceitos que norteiam essa concepção, ou seja, a história oral e a narrativa, a partir de uma perspectiva benjaminiana. O acadêmico não pode ser um espectador passivo da história, e para se compreender sujeito histórico é preciso assumir uma postura de interação com a construção do saber. Por meio do audiovisual é possível trazer voz e imagem de diversos professores para a sala de aula, possibilitando a estes narrarem sua experiência escolar.

Neste trabalho, o audiovisual não é apenas uma reprodução de imagens em um aparato tecnológico, mas sim ‘cinema’ – luz em movimentoliteralmente. A imagem são feixes de luz projetados, onde também se projetam emoções, dúvidas, alegrias, vida, história. Se é possível afirmar que o cinema ficção “organiza a realidade de uma maneira artística”, em que “a vida aparece transfigurada pela visão cinematográfica, que a concentração da ação, no cinema, elimina as esperas, impaciências e tédios da vida” (COSTA, 2010); o que podemos dizer então do documentário e da história oral, a partir da filmagem? Sem dúvida o trabalho com memória é uma forma de organizar a história, mas é preciso destacar que a memória, enquanto fonte, é uma forma democrática de escrever a história, como também de realizar sua leitura. As novas possibilidades tecnológicas, a facilidade do uso de câmeras digitais e edição de vídeo, permite-nos a interação do cinema e da memória em sala de aula. Para além do depoimento destes professores, teremos sua imagem, a percepção de suas emoções, o seu ambiente de trabalho registrado. Os acadêmicos poderão, em diversas oportunidades, visualizar e debater a história/memória das gerações precedentes, e assim compreendê-los como sujeitos da história.

Sandra Costa afirma que “o cinema, à solta, é perigoso.” A pesquisa com memória também, pois a possibilidade das pessoas expressarem suas lembranças e opiniões sobre o passado pode revelar uma outra história, muitas vezes não contada nos livros. Mas acima de tudo, pode ajudar os alunos compreenderem o passado à luz de uma nova perspectiva. A interação entre cinema e memória pretende exaltar esse perigo, para que o passado seja questionado em sua linearidade historicista e para que os acadêmicos compreendam que “...o presente é algo a ser problematizado, à luz da História. É pela problematização que se pode fazer vir à tona novos saberes, provocando rachaduras nos territórios aplainados pela lógica do até então presente.” (KRAEMER, 2010)

No ano de 2010, deu-se destaque aos professores que lecionaram durante a Ditadura Militar, bem como foram assistidas e debatidas as entrevistas dos anos anteriores e o documentário Sem Palavras (KLOCH, 2009), para discussão da Era Vargas. Período bastante difícil para o Vale do Itajaí, pois a educação estava em meio às transições e embates políticos dos anos trinta, no qual o pangermanismo local, o integralismo e a política autoritária e nacionalizadora do governo Vargas disputaram os espaços de poder. Para os grupos políticos, o domínio dos diversos espaços de produção de saberes se fazia necessário, visto que “o controle da significação e a imposição do sentido são sempre uma questão fundamental das lutas políticas ou sociais e um instrumento maior da dominação simbólica.” (CHARTIER, 2002.) Assim, a cooptação de intelectuais foi fundamental para a manutenção do discurso político na escola. A figura do intelectual era pensada a partir das restrições do período histórico, e compreendida como umprodutor de bens simbólicos, especialista no processo de criação e transmissão cultural, e que desperta a atenção dos envolvidos noscírculos de poder político’.” (GOMES, 1996. p. 39. Grifo da Autora)

Quando Vargas assumiu o poder, muitos desses intelectuais ocuparam cargos públicos nas escolas, seja como professores ou inspetores escolares, de modo a dar legitimidade intelectual a proposta  educacional do governo.

Destaca-se nesse período o projeto de nacionalização do ensino, fato que marcou as regiões de colonização alemã e italiana em Santa Catarina. Em Blumenau, a proibição do idioma alemão afetou muitas pessoas, em especial as crianças em idade escolar, pois aqueles que falavam o alemão eram castigados física e psicologicamente nas escolas. (KLOCH, 2009). Portanto, a educação na região do Vale do Itajaí, viveu dois períodos repressores numa seqüência ininterrupta, conforme relata o professor Bruno Cipriani:

Muitas pessoas pensam que no período dos militares tinha uma pressão para que houvesse uma disciplina militar. Mas essa disciplina militar ela existia antes. Quando eu fui à escola, o aluno que cometesse algum ato de indisciplina, ele era castigado. Ele levava reguada, tapa, ficava de joelho, tinha que assinar o chamado Livro Negro, livro que marcava as faltas mais graves do aluno. Ele poderia ser suspenso ou expulso. Isso antes dos militares, no período dos militares isso continuou, não vou dizer com um agravo, mas um adendo, ali deveria existir aquela disciplina patriótica. O aluno deveria aprender os hinos, inclusive, ensinávamos aos alunos a maneira correta de dobrar a bandeira. (CIPRIANI, 2010)

Essa continuidade disciplinar, por vezes não é percebida pelo acadêmico, pois esses fatos históricos são estudados separadamente. Enquanto em alguns estados brasileiros a Ditadura Militar representou uma ruptura na história da educação, marcada principalmente pela luta dos estudantes universitários, no Vale do Itajaí constatamos uma continuidade disciplinar. E, ao trabalharmos a partir da memória dos professores, percebe-se que a luta contra os militares praticamente não existiu em nossas escolas. De fato, a escola foi o espaço de legitimação do poder ditatorial dos militares por meio das práticas disciplinares. Os professores também estavam submetidos a estas práticas, principalmente em relação aos conteúdos trabalhados em sala de aula, conforme relato: “O conteúdo que você ministrava vinha de Florianópolis. [...] vinha tudo pronto. Como você ministra essa aula não interessa, mas o conteúdo é esse aqui. Pode fugir? Não! É esse aqui.” (CIPRIANI, 2010) A educação não estava apenas regida pelo aparato legal, mas sim por todo um corpo técnico de funcionários, vigilantes à atuação dos professores, conforme o depoimento de D. Dorvalina:

Uma ou duas vezes por ano, o inspetor visitava a nossa escola. que ele visitava de surpresa, não dizia o dia e a hora, nada. E tinha um Livro de Atas próprio, onde ele escrevia como encontrava a escola, como encontrava a professora. Ele olhava as tarefas das crianças, como nós fazíamos as tarefas para dar aula. Todos os cadernos que nós tínhamos, o nosso plano de aula. Ele sempre olhava, e graças a Deus eu sempre ganhei notas boas. (ZANCANARO, 2010.)

Ao controlar o conteúdo percebe-se uma interligação entre o poder e a construção de uma ‘verdade’. Ou seja, poder e verdade estão ligados numa relação circular, se a verdade existe numa relação de poder e o poder opera em conexão com a verdade, então todos os discursos podem ser vistos funcionando como regimes de verdade. (SILVA, 1995) As relações disciplinares de poder-saber são fundamentais aos processos pedagógicos, sejam elas auto-impostas, impostas pelos professores, ou impostas pelos governos, como expôs Foucault: “Uma relação de fiscalização, definida e regulada, está inserida na essência da prática do ensino: não como uma peça trazida ou adjacente, mas como um mecanismo que lhe é inerente e que multiplica sua eficiência.” (FOUCAULT. In SILVA, 1995)

Nas discussões em aula, após assistirmos as entrevistas, foi perceptível que a escola, enquanto espaço de construção de subjetividades, ao sujeitar alunos e professores ao processo de disciplinamento do Estado, contribuiu na manutenção do poder ditatorial, fato evidenciado na fala do professor:

Então, não se falava mal do governo, isso. Você podia falar do governo, mas não falar mal. Agora, nenhum aluno chegava e dizia: _ Professor, o meu pai disse que o Presidente é um assassino, é um ladrão, ele é isso... Não, não... o aluno não falava e o professor fazia questão de dizer que o Presidente era boa gente. (CIPRIANI, 2010)

Destaca-se que os professores eram os sujeitos mais disciplinados em sala de aula, pois para disciplinar os corpos, mentes e conhecimentos dos alunos, professores precisavam ter corpos, mentes e conhecimentos disciplinados. Para o Estado, o controle do que era ensinado tornou-se essencial para sua manutenção, portanto as práticas pedagógicas estavam sujeitas ao disciplinamento do conhecimento. Regularmente eram ministrados cursos, cujo objetivo não era discutir e construir uma educação em conjunto e problematizada, mas sim oferecer um método de ensino, por manuais, conforme relato: “Eles falavam sobre o comportamento das crianças, e como nós tínhamos que ensinar. E a maneira que tínhamos que ensinar. Eles davam muitos cartazes e muitos livros para nós e, com esses livros a gente ia preparando [a aula].” (ZANCANARO, 2010)

O sujeitamento dos professores não permitia que estes construíssem seu próprio conhecimento ou refletissem sua prática pedagógica. Importante destacar também que não existem práticas pedagógicas inerentemente libertadoras ou inerentemente repressivas, pois qualquer prática é cooptável e qualquer prática é capaz de tornar-se uma fonte de resistência. Afinal, se as relações de poder são dispersas e fragmentadas ao longo do campo social, assim também o deve ser a resistência ao poder. (SILVA, 1995) Portanto, o controle da prática e do saber em sala de aula era visto como necessário pelo Estado ditatorial como meio de evitar opiniões e ações divergentes, assim o controle sobre os professores se fez ao longo do regime militar. Isso não quer dizer que eles eram alheios à violência, porém tinham medo de uma possível ação de repressão, conforme o professor Bruno nos conta:

Entre nós professores, às vezes, comentávamos que a gente havia ouvido falar que houve excessos disciplinares. Pessoas que foram presas aqui em Blumenau, levadas embora... não sei para onde. Eu lembro de um advogado, ele era contra a ditadura, ele foi preso, desapareceu de Blumenau. Mas a gente não comentava. Sabia que não estava certo, sabia que liberdade de expressão não havia. (CIPRIANI, 2010)

A repressão exercida pelo regime militar no Vale do Itajaí de fato existiu, porém não se destacou por passeatas de alunos e professores ou por exílio e luta. A repressão que aqui se fez foi de forma sub-reptícia, apoiada numa estrutura de poder consolidada na Era Vargas. Os militares, em sua ação de exercício do poder e controle das ações escolares, preferiram a ‘invisibilidade’, uma ação quase sempre discreta, onde as ações de poder tornam-se mais eficazes, ao serem emaranhadas ao cotidiano, como elucida o professor Bruno: “Com o povo pequeno os militares não mexeram. Eles simplesmente [disseram]: na escola agora vamos ensinar assim e assim... pronto.” (CIPRIANI, 2010) Porém, o ordenamento das ações passavam por toda uma estrutura hierárquica até chegar aos professores, ação que muitos compreendiam como inerentes à educação.

Aos professores havia uma possibilidade de resistência ao controle exercido pelo Estado, pois não existem práticas pedagógicas inerentemente repressivas ou inerentemente libertadoras. Qualquer prática é cooptável e qualquer prática é capaz de tornar-se uma fonte de resistência. Afinal, se as relações de poder são dispersas e fragmentadas ao longo do campo social, assim também o deve ser a resistência ao poder. (SILVA, 1995)

Muitas vezes esta percepção do cotidiano escolar escapa às leituras da história da educação generalizante. A ‘história oral’ proporciona um olhar de alteridade, a percepção do outro como um outro diferente daquele que indaga, pois experiências são compartilhadas, por meio das entrevistas. Portanto, a realização das entrevistas permitiu ao acadêmico/professor uma nova consciência em relação à História da Educação, construindo um outro olhar a partir da vivência dos professores, e uma aproximação de gerações de alunos/professores.

A escrita deste trabalho privilegiou a discussão da memória e da concepção de história problematizadas no ensino de História de Educação, com o intuito de questionar a história linear, e perceber as continuidades e descontinuidades históricas. Por meio das entrevistas foi possível ir além das discussões permeadas pelos livros e, através do vivido compreender a História da Educação local a partir de um novo olhar, e dessa forma problematizar, questionar e compreender outra concepção de História. Importante destacar que foram escolhidos poucos depoimentos em detrimento da discussão proposta, mas o conjunto de entrevistas nos permite diversas discussões, tais como: disciplinamento, cotidiano escolar, valorização dos professores, entre outras. Estas atividades pedagógicas representam novas possibilidades no ensino de História da Educação, em que uma ação pedagógica diferenciada contribuiu para novas concepções teóricas e compreensão dos professores e alunos enquanto sujeitos históricos.


Referências

BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. SP: Brasiliense, 1994.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
CIPRIANI, Bruno. Entrevista em História Oral concedida a: GASPERI, Veronice. RETKE, Solange. SGORLA, Ewerton. Blumenau, outubro de 2010.
GOMES, Ângela de Castro. História e Historiadores. RJ: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 39.  (Grifo da Autora)
KLOCH, Kátia. Sem Palavras. 2009. (Documentário)
KRAEMER, Celso. Paulo Freire e Michel Foucault: pontos de convergência. In. SILVA, Carla Fernanda da (org). Clio no Cio: escritos livres sobre o corpo. Blumenau/Itajaí: Ed. Casa Aberta, 2010.
MONTEIRO, Ana Maria. Professores de História: entre saberes e práticas. RJ: Mauad, 2007.
SILVA, Carla Fernanda da (org). Clio no Cio: escritos livres sobre o corpo. Blumenau/Itajaí: Ed. Casa Aberta, 2010.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O Sujeito da Educação: estudos foucaultianos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
THOMPSON, Paul. A Voz do Passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

ZANCANARO, Dorvalina. Entrevista em História Oral concedida a: SILVA, Evander Ruthieri da. Rodeio, outubro de 2010.

48 comentários:

  1. Em que medida o professor de história pode promover entre seus alunos o uso da metodologia da história oral? - João Gilberto Solano.

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  2. Pode o professor de história, desde que devidamente preparado, estimular atividades entre seus alunos no sentido de lhes apresentar a metodologia da História Oral? - João Gilberto Solano

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    1. João, sempre procurei trabalhar com história oral desde o 6º anoa, sempre pensando em como cada turma poderia absorver e aplicar a metodologia. Uma simples pergunta para avós, vizinhos, pais no qual eles têm que transcrever a resposta e apresentar na escola, pode ser pensado como um princípio para iniciar o aprendizado da história oral. Porém, ressalto que nós professores precisamos fazer bem o processo de problematização das entrevistas, comparar com o livro didático e textos, imprensa, entre outros documentos, fazer com que os alunos questionem os testemunhos, não no sentido de duvidar deles. Mas para que comecem a compreender como se dá a produção de documentos.

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  3. Com a metodologia de história oral empregada na sala de aula, os alunos podem criar narrativas que problematizem o que esta escrito no livro e assim com suas próprias experiências construam seu conhecimento histórico. Mas como então fazer com que esses alunos possam organizar em suas mentes o seu próprio conhecimento e o conhecimento que esta no livro já que percebemos que até hoje essa história vista de baixo é pouco empregada em livros didáticos e cobram apenas conteúdos de ensino global, ou seja, como deve ser feita essa problematização entre professor e alunos ? Gislaine Adelino Lopes

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    1. Gislaine, sempre entendi que é papel de nós professores questionarmos a produção do conhecimento, a quem ela serve, quem ela representa, entre todos os debates que temos na discussão historiográfica. A História Oral pode ser esse incômodo necessário para ampliar as discussões. Para além das entrevistas feitas por nossos alunos, a problematização destas é o mais interessante de todo o processo.
      Sei que sempre estudamos por livros didáticos e temos o conteúdo histórico linearmente disposto em nossas mentes de professores, mas entendo que para os alunos mais importante que esse conhecimento 'organizado' é ele saber problematizar, discutir os acontecimentos. E, em nosso cotidiano, as 'emergências' da discussão dos acontecimentos são aleatórias a organização do conteúdo, por isso o processo de problematização é muito mais importante.

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  4. Hoje em dia o professor é livre em sua metodologia de ensino com seus alunos , ou ainda existe casos em que o professor deve seguir um disciplinamento semelhante ao que era empregado no período da Ditadura Militar em que o ensino era controlado ? Gislaine Adelino

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    1. Gislaine, como professora da História da Educação entendo que a pior metodologia de ensino foi o tecnicismo, método defendido pela Ditadura Militar. Decorar conteúdos e ganhar prêmios por isso, não ajuda o aluno em nada, será apenas um conteúdo a ser esquecido com as emergências da vida. Problematizar os conteúdos e o mundo que nos cerca é fundamental para sermos cidadãos.

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  5. A história oral como fonte se faz se suma importância, principalmente ao se tratar da concepções de pessoas que vivenciaram um período em que era proibido registrar seus anseios de forma explícita. Assim, a memória nessa metodologia de pesquisa enriquece o trabalho do historiador.

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  6. A história oral como fonte se faz se suma importância, principalmente ao se tratar da concepções de pessoas que vivenciaram um período em que era proibido registrar seus anseios de forma explícita. Assim, a memória nessa metodologia de pesquisa enriquece o trabalho do historiador.

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    1. Concordo plenamente! Essa pesquisa em história de educação me ensinou muito.

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  7. Até que ponto os professores estão refletindo suas práticas e enfrentando o desafio de trazer novas abordagens e provocando seus alunos à reflexão entre as continuidades e rupturas no ensino de História e a atualidade histórica?
    Kétina Aparecida de Melo .

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    1. Kétina, também sou professora do ensino médio, e ainda vejo muitos colegas centrados no 'conteúdo' do livro didático, alheios ao mundo ao redor. Como entendo isso? Bom, acho que muitas vezes os acadêmicos de licenciaturas criam uma barreira para as discussões sobre didática e, sobretudo, os diálogos entre historiografia e didática, ou seja, o ensino de história. Quando fechados ao diálogo - e acontece muito - após algum tempo em sala de aula, tendem a repetir a didática usada por seus professores, nesse sentido, temos uma perpetuação dos métodos tradicional e tecnicista, em que não há espaço para discussões sobre as continuidades e rupturas na história, pois ambos os métodos entendem a história como linear ou cíclica. Entendo que os professores precisam urgentemente compreenderem a sua responsabilidade social e quando falamos isso em história o cerne é a problematização do conhecimento histórico.

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  8. Alfredo Coleraus Sommer7 de março de 2016 às 12:00

    -Qual a visão de professores mais antigos que foram entrevistados sobre a "história oral"?
    -qual a sua opinião sobre o cinema como ferramenta didática no ensino de História?
    grato, Alfredo Coleraus Sommer

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    1. Alfredo, os professores mais antigos não têm uma compreensão da história oral enquanto método. MAS, é impressionante como se sentem valorizados quando alguém vai entrevistá-los. Penso que nós professores-historiadores temos um papel importante na valorização daqueles que estavam em sala de aula antes de nós. Por isso, que desenvolvi a pesquisa de história oral em educação, para valorizar professores e a memória da educação.
      Entendo que o cinema pode ser usado amplamente como ferramente, mas não apenas a exibição de filmes. O título deste artigo é uma câmera na mão, mas hoje podemos falar em 'Um celular na mão', usar a tecnologia como ferramenta didática é fundamental. Ao invés de lutarmos contra os celulares, vamos usá-los como ferramentas e o cinema-criação entra perfeitamente nessa concepção. Ah! Os alunos adoram criar seus próprios filmes.

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  9. Temos acesso a uma gama de novas fontes (fotografia, cartas, obras de arte, cinema, literatura, música, etc), de novos referenciais teórico-metodológicos (história oral e micro-história, por exemplo) e diversas possibilidades de narrativas mais voltadas aos aspectos do cotidiano, da vida privada e da cultura, dando voz ao excluídos da História oficial. Levando todos esses aspectos em consideração como o professor do ensino fundamental e médio pode dialogar adequadamente com essas fontes em sala de aula , sendo que muitas das vezes estamos “amarrados e engessados” na lógica castradora que visa o vestibular e o famoso programa a cumprir? Gagarin da Silva Lima

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    1. Gagarin, tenho acompanhado as provas do ENEM nos últimos anos, para além da 'decoreba' elas exigem reflexão, problematização e discussão, não mais as famosas 'pegadinhas'. Nesse sentido, quando elencamos os conteúdos que entendemos muito relevantes para a discussão histórica, faz-se essencial trabalharmos eles a partir de suas múltiplas fontes, pois se a sua preocupação maior são os vestibulares e ENEM, note que eles trazem questões de análise de quadros, fotografias, literatura, imprensa, etc. dentro do contexto histórico. Não acho que estamos 'amarrados e engessados', penso que devemos acompanhar as transformações das provas de vestibulares e ENEM, sobretudo, e entender que elas estão cobrando que nós professores trabalhemos as diversas fontes em sala de aula. Sugira ainda que você dê uma olhada nas Olimpíadas Brasileiras de Histórias, as questões são fantásticas.

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  10. A música, a literatura de cordel, a poesia, a história oral já se tornaram fontes "clássicas" da pesquisa e do diálogo dos historiadores com essa massa documental. Os selfies e as redes sociais como facebook podem servir de ferramentas educacionais em sala, tais como o cinema e a música? Sendo possível como proceder metodologicamente? Agradeço pela gentileza da futura resposta. Gagarin da Silva Lima.

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    1. Gagarin, também atuo no ensino médio, em um curso técnico em química, no qual temos temos um programa de iniciação científica o Conectando Saberes. Nos projetos que estou orientando estamos usando as redes como fontes. Cada testemunho utilizado exige uma análise, usamos muito de todo processo metodológico de análise do discurso, mas entendo que didaticamente é fundamental, pois o virtual, as redes sociais são uma realidade para o nosso aluno e ele aprender a desenvolver um pensamento críticos destas é essencial. Não podemos rejeitar essas fontes, temos que agregar criticamente estas fontes ao nosso trabalho. Temos poucas cartas hoje, mas temos muitos blogs e muitas páginas no face, temos uma grande quantidade de fotos, vídeos e etc., precisamos dialogar com essas fontes e problematizá-las.

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  11. Olá!
    Qual a sua percepção com relação ao impacto deste trabalho na atividade dos futuros professores participantes da ação?

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    1. João, difícil pensar no devir... como professores, sempre temos muitas expectativas. No youtube há um vídeo de Deleuze sobre a compreensão dele do que é uma aula, cada participante apreende algo, da mesma forma que cada leitor cria seu mundo do livro que leu.
      Da minha parte tenho muitos objetivos, mas gostaria muito que cada alunx refletisse criticamente, e generosamente, sobre os professores que atuaram antes de nós, entender que eles também foram sujeitos da história.
      Em específico ao tem central: ditadura militar, entender que - vergonhosamente - nós professores ao ensinarmos nossxs alunxs a obediência, a 'servitude voluntária' contribuímos com a Ditadura. É difícil, sei. Mas a maioria dos professores não foram rebeldes à Ditadura, mas cordatos. E isso foi um grande impacto em sala da aula, mas precisamos refletir os fatos históricos a partir de uma realidade local, também. E os textos que temos sobre a Ditadura, enquanto macro-história, não dá conta da realidade que vivenciamos em Santa Catarina. É uma história de São Paulo e Rio nos livros didáticos.

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  12. Maria do Carmo Pinto7 de março de 2016 às 16:39

    É possível desenvolver com estudantes do 6° ano do Ensino Fundamental atividades que valorizam a história oral, de modo que eles compreendam que a oralidade é uma fonte de pesquisa confiável? Como posso fazer?

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    1. Maria do Carmo é possível sim. Mas precisamos entender que é uma dinâmica diferente, precisamos apreender o método da historia oral não em sua rigidez, mas pensado como etapas a serem aprofundadas a cada ano do ensino fundamental. O importante é entender que as pessoas são a fonte principal da história e seus relatos precisam ser problematizados.
      Quando trabalho o conteúdo do 6º ano do fundamental gosto muito de trabalhar com micro-entrevistas - 1 ou 2 perguntas - que envolvem os conteúdos relacionados à medicina, pois a medicina da pré-história e da antiguidade está muito relacionada a nossa cultura de chás, rezas e benzedeiras, traçar esse paralelo, problematizá-lo tem sido algo muito proveitoso.

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  13. Maria do Carmo Pinto7 de março de 2016 às 16:46

    Quais as formas apropriadas de construir uma consciência histórica nos nossos estudantes, uma vez que hoje eles preferem a informação já pronta ao invés da formulação e questionamento do que lhes é apresentado?

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    1. Maria do Carmo, minha experiência atual com ensino médio demonstra que os alunos estão longe de preferir 'uma informação pronta'. Muito pelo contrário gostam de debater, questionar, por vezes, indignarem-se, revoltados em apreender que na história aconteceram tantos fatos injustos. Mas daí vem uma compreensão do que é ser professor/a. E vejo que muitos colegas preferem ser detentores de uma 'verdade' transmitindo tão somente informação pronta, ao invés de serem mediadores, problematizadores. Pois, por vezes exercitar o papel de mediador exige de nós um grande comprometimento, naquilo que entendo também como o comprometimento social dos professores para com esses alunos, sobretudo, nas escolas públicas.

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  14. Maria do Carmo Pinto7 de março de 2016 às 16:57

    É possível desenvolver com estudantes do 6° ano do Ensino Fundamental atividades que valorizam a história oral, de modo que eles compreendam que a oralidade é uma fonte de pesquisa confiável? Como posso fazer?

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  15. Qual o ano a teoria e o método da história oral permitiu uma mudança de ênfase nas pesquisas historiográficas?
    Larissa Landim

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    1. Larissa, no que se refere a metodologia da Historia Oral, os anos 1960, quando temos uma maior difusão das formas de gravação de áudio é que a história oral tem uma maior difusão.
      Mas isto é uma parte técnica, penso que em termos historiográficos após os escritos de Marc Bloch e da Escola dos Annales há uma preocupação no que se entende como fonte documental. Nos anos 1960 não temos apenas um avanço tecnológico, mas também uma problematização dos documentos historiográficos, daí os testemunhos orais tornam-se extremamente importantes. Sugiro a leitura do livro A Voz do Passado para compreender esse momento do anos 1960. E as publicações da Marieta de Moraes Ferreira para compreender como ocorre os desdobramentos da compreensão da história oral enquanto método.

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  16. A partir de qual idade e série eu posso trabalhar o audiovisual? Em qual conteúdo você me indica passar?
    Larissa Landim

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    1. Larissa, o audiovisual hoje é cotidiano de nossos alunxs, a partir de 6º ano podemos trabalhar qualquer conteúdo. O celular e o smartphone são ferramentas interessantíssimas, use-os como aliados. Provoque os seus alunxs a tirarem fotos, fazerem vídeos, entrevistas usando estes aparelhos. Cada conteúdo pode ter algo que seja interessante relacionar com o presente. Importante fazer a problematização de como era no passado e o que mudou, ou seja, fazer os alunos perceberem as rupturas.

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  17. Gostei muito de suas colocações (tanto no texto quanto nas respostas), Prof. Everton, principalmente na ênfase que você dá à paixão necessária pra que se ensine História, não só o conteúdo curricular que se exige que os alunos assimilem, como também “os modelos de pesquisa e a riqueza teórica presentes no conhecimento histórico”. Mas considerando que na sociedade em geral, na cabeça de muitos pais e mesmo de educadores, a ideia do ensino da História está cristalizada (em diversas formas e medidas) à formação de ‘algum’ espírito cívico, como desnaturalizar conceitos para que o ensino da história não seja confundido com quaisquer supostas ‘ideologias’?
    Agradeço desde já.
    Katia Krause

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  18. O passo mais importante seria utilizar também os cursos de formação de professores nos seus estados para viabilizar o uso das fontes na sala de aula. Qual a sua opinião sobre utilizar a formação de professores para aprender a usar esta e outras metodologias?

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    1. Fábio, vou entender aqui a formação de professores como os cursos que prefeituras e governos estaduais promovem a cada ano e não o ensino nas licenciaturas. E, nesse sentido, entendo que o tempo disponibilizado é muito curto. Já tentei trabalhar em formação continuada a história oral, produção de vídeos, fotografia, etc., mas os professores, por vezes, mostram-se resistentes. Mas a resistência está relacionada também ao pouco tempo, às vezes, de não termos a possibilidade de desenvolver um trabalho a longo prazo. Algo bem diferente quando trabalhamos em uma disciplina ao longo de um semestre, em que uma pesquisa é apresentada e debatida.

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  19. Professora Carla Silva
    Seu posicionamento quanto ao uso da História e Memória Oral é muito pertinente. Assim como você, também leciono História da Educação e tenho alguns alunos pesquisando sobre História das Instituições Escolares. Porém, algumas dessas instituições já possuem a sua história linear publicada, entretanto o intuito é resgatar justamente, as recordações, que muitas vezes, são relegadas ao esquecimento. A partir dessas novas experiências, torna-se possível, reescrever a História das Instituições Escolares, entrelaçada com fontes bibliográficas. Qual é a sua opinião sobre essa nova História que surge e a validade científica que apresenta?
    Roseli B. Klein

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  20. Olá, parabéns pela escolha do tema História Oral, antes de ser escrita a História era falada, a memória pois de grande significado em um mundo midiático em que vivemos.
    Gostaria de saber o que seus alunos perceberam ao realizar tal trabalho de pesquisa uma vez que foram organizadores e criadores de memórias.

    Jacinta Kupczi

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    1. Jacinta, foi um grande impacto para os alunos, pois nosso livros didáticos foram escritos no eixo rio-sp e quando falamos de era vargas e ditadura militar Santa Catarina diverge daquilo que é relatado em seus aspectos de uma história do cotidiano. A vivência e a percepção destas duas ditaduras é diferente daquilo que nos é relatado na macro-história. Mas o processo de problematização foi maravilhoso, tanto no sentido de crítica ao livro didático, quanto na compreensão de que um documento histórico também é algo construído.

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  21. Num mundo onde a imagem é supervalorizada, a utilização de áudios visuais no processo aprendizagem – ensino se torna bastante pertinente. Ao invés de uma pesquisa em livros, internet, revistas, etc. o aluno tem a oportunidade de ampliar seu ponto de vista realizando uma pesquisa de campo, colhendo relatos, entrevistando diversas pessoas envolvidas no tema proposto. Essa metodologia amplia a visão crítica do jovem, que tem mais uma ferramenta para agregar a outras que já utilizava. Além de fazer do aluno peça importante na construção da história, podemos dizer que a valorização dos relatos orais traz à tona algo que vem se perdendo cada vez mais: a interação entre pessoas de gerações diferentes. Concluindo: práticas inovadoras podem fazer “renascer” antigas tradições?

    Debora Shizue Matias Takano

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    1. Débora, gosto muito do texto O Narrador do Benjamin e penso que ele foi por muito tempo interpretado de forma incompleta ou mesmo equivocado aqui no Brasil. Benjamin é um autor de muitas camadas. Acho que neste texto ele começa a refletir que a narração - que envolve essa relação entre gerações que vc ressalta - estava/está em processo de mudança. Para além de dizer que a narração é extinta, precisamos entender que a narração mudou, ela não acabe apenas nos livros, nos folhetins. Hoje ela cabe no blog, no face, no youtube, etc. Usar estes meios como ferramentas é essencial. Repensar a narrativa por meio de outros meios para além da roda de conversa, do livro e do folhetim, hoje nossas narrativas estão nos blogs, faces, twitter e etc. Ao invés de rejeitar essas ferramentas, precisamos aprender a problematizá-las.
      Quanto a 'renascer antigas tradições', tenho minhas restrições. Vamos pensar Heráclito aqui, 'não nos banhamos duas vezes no mesmo rio', as práticas do passado não serão renascidas, mas elas serão ressignificadas em novas práticas. O fato de sermos historiadores não nos faz saudosistas de um passado, talvez muito pelo contrário.
      A história oral pode ser uma nova prática, sobretudo quando ela é problematizada a partir de outros documentos. A história oral pode ser pensada a partir de uma gravação de áudio e/ou vídeo via celular, portanto ela une gerações nas dicotomias de experiência e tecnologia que vivenciamos hoje. Mas ela também pode surpreender no que se refere a questionar o relato oficial que temos no livro didático, na imprensa, entre outros.
      Não acho que a historia oral venha a renascer antigas tradições, acho que ela pode unir gerações, no sentido de que ela pode criar espaços de diálogos. Quer dizer nos ajudar a entender os impasses vivenciados por algumas pessoas no ato de vivenciar a macro-história.

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  23. Bom dia Professora, sou graduando do curso de História, e achei super interessante o modo que aborda a temática, creio sim que hoje com fontes orais e visuais sejam de suma importância para o ensino aprendizagem, trabalhar de forma "diferente" em sala, creio eu, aguça e instiga o educando a buscar e crescer seu senso crítico. Minha duvida: como podemos incluir o aluno de forma integral para obtenção de conhecimento sem que ele crie superficialmente conceitos, mesmo estando num meio digitalizado onde tem o fácil acesso, em que o professor torna-se "quase" conteudista?

    Adinan Roberto Fidelis

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    1. Adinan, precisamos nos revoltar contra as imposições curriculares que querem nos tornar conteudistas, pois o conteudismo é uma forma de simplificar o conteúdo histórico e subvalorizar o papel dx professorx. Em relação aos meios e conteúdos digitais precisamos ser criativos e perspicazes tanto no problematização destes em sala aula, mas também no seu uso.
      Vamos pensar que um diferencial do ser humano do século xxi é o uso que ele faz dos meios digitais. Voltamos a ideia do saber fazer, como isso se materializa hoje? Para muitos é o virtual, então vamos problematizar o uso do virtual e não rejeitá-lo.
      Também façamos um mais além do virtual e criemos espaços de experiência sensorial no aprendizado.

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    2. Professora Carla, desculpe minha imaturidade nessas questões, seria correto fazer do conteúdo a base da piramide e o topo dela seria a forma que isto é passado? podendo unir novas tecnologias (meios/ formas) para o ensino aprendizagem, fazendo o educando vivenciar/ trazer memorias para o cotidiano escolar?

      Adinan Roberto Fidelis

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    3. Adinan, não gostaria de pensar na forma de pirâmide, pois sempre nos evoca uma concepção hierárquica. Penso que deve haver um amálgama entre os dois, acho interessante pensares a educação pela ótica da 'ordem do discurso', nesse sentido 'meios/formas' também são conteúdo. Uma fala libertária com um método de ensino tradicional faz com que entre em confronto com o outro e o conteúdo se perca. Então, o ato de preparar a aula deve vir acompanhado com a ideia do discurso imbricado. Estou dizendo isso? E o meu corpo, meus gestos dizem o quê? Para pensar...

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  24. Quando aliamos as possibilidades metodológicas sugeridas, vemos a inserção da produção audiovisual (entrevistas e documentários). O ano passado meus alunos e alunas criaram vídeos sobre um determinado assunto que estávamos estudando. A variedade de recursos tecnológicos aliados ao tradicional não seria o equilíbrio no processo ensino aprendizagem? Quando você coloca uma câmera na mão dos alunos a visão de fazer história muda?

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    1. Fábio, vou responder de forma semelhante à pergunta anterior, também precisamos analisar a 'ordem do discurso', pois tecnologia necessariamente não é revolução de ideias, é apenas um meio, um instrumento, portanto esse instrumento pode ser usado de forma tradicional também. Pois a educação tradicional não é apenas 'forma' é também um discurso da docilização dos corpos e mentes dos alunos e dos professores. Então, como toda tecnologia pode ser usada de forma tradicional.
      Com certeza, uma câmera/celular muda a visão da história, pois o aluno passa a ser o articulador, de certa forma o/a 'escritor/a' da história. Por que a considero importante, pois está mais próxima dos alunos, hoje é quase uma linguagem anterior a escrita em seu sentido formal/acadêmico.

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  25. Boa noite professora.
    Como o professor poderia usar a história oral, para que os seus alunos fossem mais sensíveis ao cotidiano de pessoas comuns, no qual tem tantos relatos reais para ser apresentados, principalmente aqueles que viveram tempos difíceis como uma Ditadura Militar ?
    Thereza Cristina Kling Bandeira.

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  26. Bom dia prof. Carla.
    Existe uma gama muito grande de ferramentas que podem ser utilizadas para o ensino como: filmes, fotografias, jornais, documentos... E a História Oral vem para somar muito com o ensino, a partir de atividades onde utilizamos qualquer uma dessas ferramentas os alunos sentem-se mais instigados a participar das aulas, e tudo passa a fazer mais sentido, um exemplo é utilizar a história Oral para trabalhar com a história da cidade, com entrevistas com pessoas da família. Os alunos sentem-se pertencentes ao que estamos trabalhando. E ao fazer esse tipo de trabalho com professores em formação gostaria de saber como foi a receptividade deles, se é possível notar um entusiasmo em levar essa metodologia para a sala de aula no momento em que forem atuar?

    Camila Rola Alves

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  27. Cara Professora Carla,
    Concordo com você quando diz que a problematização da História e sua contribuição para a reflexão e ação no cotidiano é o verdadeiro cerne da nossa disciplina. Busco relacionar os acontecimentos históricos às mazelas da sociedade contemporânea, levantando questões a fim de proporcionar momentos de reflexão, e por diversas vezes acreditei que obtinha êxito... Para poucos meses (ou até semanas) depois descobrir que eles nem mesmo remotamente lembram de absolutamente nada! É nítida a falta de interesse da juventude em tudo que exija maior esforço intelectual - considerando, é claro, que existem muitas exceções. Pode haver algo a mais a ser feito para significar ainda mais, para acordá-los para a importância de se assumirem enquanto personagens históricos? Qual é a sua opinião?
    Antoniela Acosta Rodrigues

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  28. A iniciativa de se repensar a compreensão sobre história, realmente parte do princípio de repensar as aulas. De que modo pode ocorrer tais mudanças se ainda há principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, onde se inicia o processo de construção do conhecimento histórico com opiniões e questionamentos, a apresentação pelo professor de fatos históricos trazidos pelos livros didáticos com versos prontos à respeito da história. Como mudar esse panorama?

    Rosemar Candido de Oliveira de Souza

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