Carlos Eduardo Campos

UMA HISTORICIZAÇÃO SOBRE O CONCEITO DE IMPÉRIO E IMPERIALISMO ROMANO PARA A PESQUISA E O ENSINO DE HISTÓRIA ANTIGA DE ROMA

Carlos Eduardo da Costa Campos



As práticas imperialistas romanas foram, ao longo do tempo, alvo de análises, de várias apropriações e reformulações pelas sociedades contemporâneas. Do século XIX ao XXI, tal eixo teórico sofreu uma variedade de modificações em suas formas de estudo, devido às transformações no campo histórico. Através do debate historiográfico de cunho cronológico, temos como objetivo refletir sobre os discursos formulados sobre o conceito de imperialismo romano e com isso apresentar duas de suas vertentes: a defensiva e a ofensiva. Observamos que tais elementos são propiciadores de debates tanto para o âmbito da Pesquisa e do Ensino de História Antiga. Dessa maneira, também almejamos expor a interação entre o objeto, os pesquisadores e o seu contexto social de produção. 

Moses I. Finley (1978, p.1) e Maria Auxiliadora Schmidt (2004, p.64) evidenciam que em diversos momentos, utilizamos os conceitos sem refletirmos sobre eles de forma prudente. Os resultados de tais descuidos são as “famosas” generalizações históricas, as quais não levam em conta as particularidades do tempo e espaço dos objetos analisados pelo historiador e ensinados para os discentes. Nesse bojo, os termos império e imperialismo romano frequentemente são utilizados em pesquisas e materiais didáticos sem nítidas reflexões que auxiliem aos receptores desses discursos compreenderem a sua historicidade. Entretanto, devemos estar atentos para os significados dos dispositivos teóricos que apresentamos, assim garantindo uma eficaz transposição didática a qual respeite a singularidade de cada sociedade abordada. No que tange à prática do magistério devemos considerar o próprio conhecimento prévio do aluno, mesmo que generalista, para assim, através da reflexão, possibilitar a construção do saber e desconstrução do senso comum quanto a esses conceitos centrais para Roma (SCHMIDT, p. 61-64).

O termo latino imperium, por exemplo, é indicado como a matriz das palavras "império" e "imperialismo”. Craige Champion e Arthur Eckstein frisam que, em latim, havia o verbo imperare para designar a ação de comandar e que o imperium era o poder de comando concedido a um magistrado (CHAMPION;ECKSTEIN, 2008, p.01-02). Andrew Erskine corrobora com Champion e Eckstein ao pontuar que a palavra imperium representava – em seu primórdio republicano – a emissão de ordens ou comando que determinados magistrados, como os consules, detinham sobre Roma ou as províncias (ERSKINE, 2010, p.05). Logo, a vinculação entre império e imperador não é diretamente válida para a história de Roma. Afinal, a sociedade romana foi capaz de formular um império durante a fase da Res Publica (República), mesmo sendo dirigida por dois consules, por um longo tempo. Contudo, com o avanço das conquistas romanas, emergiu a necessidade da figura de um comandante, propriamente dito, para a organização dos conflitos sociais internos e os confrontos externos.

O historiador Pierre Grimal (1990, p.29) argumenta que o imperium na Antiguidade romana fornecia a seu detentor um poder considerado como absoluto, o que inclui, nesta esfera, a decisão do direito de vida e morte sobre os demais cidadãos romanos.  Também ressaltamos que, com o passar dos tempos, o sentido foi se ampliando e, no século I a.C., o termo passou a designar o próprio poder e a autoridade romana sobre os outros povos, como vemos na expressão latina Imperium Populi Romani. Esta sentença denota que o poder romano estava relacionado com a ordem que Roma exercia sobre outras sociedades, em vez de possuir uma conotação estritamente territorial.

Para Andrew Erskine (2010, p.5-6), somente no século I d.C. o termo imperium agregou o sentido de extensão territorial. A partir dos pensamentos do autor, percebemos que o novo significado atribuído à terminologia imperium estava relacionado com a concepção de que havia uma área na qual os desígnios e autoridade romana eram influentes sobre os demais povos, possibilitando integrá-los à sua dinâmica de poder. Outra evidência do poder romano atrelado aos espaços geográficos pode ser apontada nos escritos de Tácito (ca. 55-117 d.C.). Na obra Histórias, o autor clássico evidencia que o princeps, no sistema do principado formulado por Augusto, acabou por deter o poder de imperium sobre o immensum imperii corpus (imenso corpo imperial), em nome da sociedade romana (Histórias I, 16).

Vale mencionar que o conceito de imperialismo está fortemente vinculado aos estudos sobre as práticas de expansão política e econômica que as potências europeias e os EUA desenvolveram no século XIX e no começo do século XX. Edward Said (1995, p.135) pontua que as ações norte-americanas do final do século XX foram cruciais para se manter vivo o debate sobre as práticas imperialistas no cenário acadêmico. Segundo Craige B. Champion e Arthur Eckstein (2008, p.02), desde 1870 se nota o emprego recorrente da palavra “imperialismo” com a conotação de expansionista europeia. Entretanto, as aplicações conceituais ganharam projeção a partir de 1902, com o economista inglês John Atkinson Hobson (1981, p.92-100), pois o mesmo elaborou a obra Imperialism: A Study, na qual notamos diversas críticas às práticas imperialistas, devido às suas implicações econômicas. Mediante a leitura dos estudos de Hobson, fica evidente que o imperialismo moderno foi o resultado da busca de mercados e ampliação das riquezas de um grupo industrial que, por sua influência, poderia levar um Estado a interferir em outras regiões.

Vladimir I. Lênin (c. 1916) seguia a visão de que as práticas político-econômicas europeias do século XIX possuíam um caráter imperialista e que as mesmas eram um resultado da Revolução Industrial. Para o autor, o imperialismo era um estágio superior ao capitalismo por seu potencial de influência, intervenção e exploração, além da possibilidade de existirem vários impérios disputando pela formação de um monopólio comercial - o que os difere da fase considerada “pré-capitalista” (LÊNIN, 1987, p.86-90). Logo, verifica-se em Hobson e Lênin uma inclinação para se compreender o termo imperialismo de forma estritamente ligada às sociedades modernas.

Entretanto, a terminologia não se limita à Era Contemporânea, podendo ser empregada à Antiguidade, desde que respeitadas suas especificidades. Para endossarmos nossa assertiva, recorremos aos estudos de Joseph Schumpeter (1919), que, apesar de tecer críticas às práticas imperialistas econômicas modernas, pontua que o militarismo e a política intervencionista poderiam ser percebidos como elementos constituintes do imperialismo desde a Antiguidade (2007, p. 23-54;107). Logo, torna-se perceptível, na escrita do autor, que a adoção das práticas imperialistas pautadas na agressão e na interferência em territórios estrangeiros foi um retrocesso para o capitalismo moderno. Por meio dos estudos sobre Schumpeter, verificamos que o imperialismo pode ser visto como a disposição de um Estado em expandir-se territorialmente de forma ilimitada - em muitos casos, com o uso da força para alcançar tal finalidade.

Complementando Schumpeter, podemos frisar os argumentos do francês Henri Berr (1926) sobre o imperialismo antigo e moderno. Para o autor, o sentimento expansionista que está contido no imperialismo integra as características humanas pela busca da soberania. Segundo Berr (1926, p.X), as práticas imperialistas emergem de um esforço não somente dos dirigentes de uma Cidade-Estado, pois a força e o poder da ação expansionista necessitariam de uma ação coletiva para sua concretização. Na visão do autor, nenhum império foi tão eficiente quanto Roma em organizar uma sociedade para a sua expansão e buscar a manutenção dos territórios submetidos. Através das leituras de Moses Finley no artigo Empire in the Greco-Roman World (1978), pontuamos que há convergências com os escritos de Schumpeter e Henri Berr, pois Finley (1978, p.01) argumenta que as práticas imperialistas são mencionadas como um processo pelo qual uma nação ou Cidade-Estado submete outros povos através do uso da força ou de qualquer outro tipo de coação – além da cooptação – e, devido a isso, aproveita-se da parte submetida de acordo com os seus próprios interesses. Uma convergência entre os autores é a aplicabilidade do conceito de imperialismo para a Antiguidade. Todavia, Finley nos possibilita pensar que o imperialismo é um conjunto de medidas tomadas, por uma dita “potência”, que não se esgota no uso da violência.

Convergindo com Schumpeter e Finley, ressaltamos os estudos do classicista Erich S. Gruen (1984, p.07). O autor evidencia que o conceito de imperialismo advém das práticas políticas das quais as sociedades, em diversas temporalidades, se utilizaram para ampliação dos seus territórios - com isso, tal conceito foi englobado nos debates acadêmicos. O historiador espanhol José Roldan (1987, p.266) possui uma análise histórica aproximada à de Finley e Gruen no que tange às práticas imperialistas. Para o autor, o imperialismo era/é uma disposição consciente e programada de uma Cidade-Estado ou Estado para uma política expansionista. A ação era baseada em causas complexas, que envolviam metas de expansão e estabilização do império adquirido e, por conseguinte, a dominação de grupos, povos e territórios submetidos, ou seja, havia a tendência de uma dominação universal. Contudo, pontuamos a necessidade de resguardar-nos das modificações espaço-temporais inerentes ao imperialismo.

Ao adaptarmos os estudos referentes ao conceito de imperialismo pelo viés teórico de Edward Said e Émile Perreau-Saussine, fica perceptível que toda unidade política, seja uma Cidade-Estado ou um Estado-Nação, almeja manter sua soberania territorial mediante práticas que podem ser consideradas imperialistas. Tanto Said quanto Perreau-Saussine complementam nosso debate historiográfico ao ressaltar que o imperialismo apresenta múltiplas faces, devido às singularidades de cada período e região (SAID, 1995, p.46; PERREAU-SAUSSINE, 2008, p.280-281). Logo, podemos frisar que, quando a procura pela soberania sai da esfera local e da preservação da segurança nas fronteiras, para o âmbito universal, desenvolvendo práticas de conquista e manutenção de domínios de outras regiões, ali se encontra um império constituído por meio de ações imperialistas. Nesse sentido, o imperialismo está relacionado à tendência expansionista das sociedades, seja ela de forma ativa ou potencial, na busca por englobar novos territórios aos seus domínios.

No campo historiográfico, é possível verificar o uso da conceituação de imperialismo defensivo e ofensivo com certa frequência. Autores como Andrew Erskine (2010) e Claude Nicolet (1991, p.21-48) salientaram que o imperialismo defensivo foi uma ação romana pautada na conquista e manutenção da segurança nos primórdios da República, configurando-se como o ponto de partida para a expansão. Entretanto, é necessário frisar que tais ameaças destacadas pelos romanos poderiam ser tanto reais quanto imaginárias, devido ao crescimento ou ao papel de outras sociedades que se colocavam como ameaçadoras para Roma.

Um dos pioneiros de tal abordagem defensiva romana foi o inglês Tenney Frank, em Roman Imperialism (1914). Para o historiador, o imperialismo romano teria ocorrido inconscientemente, devido às necessidades de preservação territorial dos romanos e de possíveis ataques externos (FRANK, 2003), configurando-se por uma questão de defesa da região. Maurice Holleaux, no livro Rome, La Grece et les monarchies hellenistiques (1921), apresenta uma visão aproximada à de Frank. O autor calca-se nas relações de poder estabelecidas por Roma no Mediterrâneo Antigo para validar a sua tese. Devido ao processo de não intervenção direta em algumas regiões, estabelecendo assim relações políticas com os governantes locais, o autor refuta a possibilidade de uma ação romana baseada essencialmente nos interesses econômicos.

O inglês R. H. Barrow, em sua produção intitulada The Romans (1949), segue a linha defensiva romana já apontada por Frank e Holleaux. O interessante nos estudos de Barrow (1950, p.30-34) são os seus apontamentos de que Roma foi levada indiretamente à expansão devido à necessidade de lutar por sua sobrevivência.  O autor menciona que tal hegemonia de poder ocorreu contra o seu próprio desejo. Entre os teóricos do imperialismo defensivo, indicamos os estudos do inglês Ernest Badian, no livro Roman Imperialism in the Late Republic (1967). Na obra, o autor procura explicitar os cuidados com as análises econômicas que possamos vir a desenvolver sobre o imperialismo romano. Os escritos de E. Badian (1968, p.16-60) nos possibilitam perceber que as medidas imperialistas romanas poderiam ocorrer das mais variadas formas, como por meio de alianças e do exercício de uma hegemonia de poder de maneira indireta nas regiões conquistadas, para assegurar os interesses romanos e os seus territórios.

Paul Veyne, no livro L'Inventaire des Différences (1976), apresenta uma visão mais radical e considerada controversa referente ao caso da expansão romana defensiva. Na ótica do autor, no período arcaico de Roma, o que se nota é uma tendência ao isolacionismo. Veyne apresenta o pressuposto de que Roma negava a autonomia de outros grupos, atuando como a única Cidade-Estado organizada na região do Lácio (VEYNE, 1989, p.12-13). A partir de tais apontamentos, para o classicista, Roma iniciou um processo de expansão visando a alcançar a segurança definitiva para seu território. O desejo desmedido de segurança total teria levado Roma a iniciar um processo ininterrupto de conquistas que, no primeiro momento, ateve-se à Península Itálica, passando para o Mediterrâneo Ocidental e, posteriormente, o Oriental, além da África, Ásia, Gálias e Britânia.

O historiador inglês William V. Harris, em War and Imperialism in Republican Rome (1979), retoma a discussão sobre o tema do imperialismo defensivo romano como sendo uma prática de Roma até o século III a.C. Contudo, Harris (1989, p. 160-250) chama a atenção para as ambições econômicas romanas. Harris se vale, documentalmente, dos escritos de Políbio para materializar a sua perspectiva como vemos a seguir: “Nenhum homem que esteja dominado pela razão faz guerra aos seus vizinhos somente para derrotar a estes (...). Todos os atos são empreendidos pela busca de benefício”. (Histórias, III, 4,10-11).

A partir de Harris e dos indícios de Políbio notamos que além da vertente defensiva, também havia no meio acadêmico o viés ofensivo, que se relacionava com o âmbito do econômico, o qual Badian e Holleaux vieram a criticar, como pontuamos anteriormente. Tal concepção foi desenvolvida devido às ações imperialistas modernas com base mercantil. Historiadores da Antiguidade dos séculos XIX e XX muitas vezes empreenderam, no campo historiográfico, um olhar baseado neste sistema para Roma. A linha ofensiva destaca que a expansão foi o resultado do desejo aristocrático por glória, honra, riqueza e, até mesmo, segurança, e pela conquista/manutenção das áreas de influência. Logo, os fatores econômicos eram apenas um ponto no interior do amplo conjunto das práticas imperialistas. Andrew Erskine (2010, p.46-7) menciona que as ações romanas não devem ser enquadradas no perfil “mercantilista” moderno, como vemos em muitos materiais de instrução. Todavia, percebemos que o desenvolvimento da expansão produziu uma parcela de oportunidades para elementos como os mercadores e o estabelecimento do comércio entre o centro de poder e as terras subjugadas. Possivelmente, o pensamento ofensivo romano e economicista se origina nos escritos de Caio Salústio Crispo, em especial na obra Conspiração Catilina (I a.C.).  O autor indica que, após a vitória romana sobre Cartago, Roma teria ampliado o seu poder no Antigo Mediterrâneo. Todavia, para além do crescimento da área de influência, Roma passou a enfrentar os problemas sociais oriundos da constante entrada de riquezas, que levou à corrupção e à busca pelo enriquecimento ilícito, além das desmedidas dos magistrados (Conspiração Catilina, 10). Logo, o discurso salustiano se inclina para uma denúncia sobre as competições políticas devido à ambição pelo poder, assim como a falta de respeito ao mos maiorum por seus contemporâneos.

No bojo do pensamento imperialista ofensivo, notamos os estudos de Joseph Schumpeter (1919). Ao longo de suas análises, Schumpeter destaca que o objetivo do militarismo antigo era promover a expansão e conquistar privilégios e riquezas e, por isso, denominou as sociedades da antiguidade como “máquinas de guerra” (2007,p.23-54). A linha intervencionista romana sobre a qual o autor partilha a sua visão pode ser evidenciada através da assertiva de que: “Não havia em nenhum canto do mundo conhecido, algum local que pudesse estar livre de perigo ou de um ataque real, a ser estabelecido por Roma. (...) e se Roma não tinha aliados em alguma parte, então o poder romano ali criaria os seus colaboradores” (SCHUMPETER, 2007, p.51). Craige B. Champion e Arthur Eckstein (2008, p.05) pontuam que os trabalhos de Schumpeter foram vitais para as análises da sociedade romana. Para os autores, a perspectiva shumpeteriana influenciou diversos historiadores sobre Roma, como o próprio William Harris, na obra War and Imperialism in Republican Rome, 327-70 B.C..

Ao prosseguirmos no viés ofensivo, frisamos os estudos de Michael Rostovtzeff. No livro The Social and Economic History of the Roman Empire - Tomo I (1926) e na obra Rome (1960). Rostovtzeff não descartou a guerra defensiva que foi empreendida por Roma na Península Itálica. Contudo, o autor apresenta o processo de expansão e conquista do território através dos interesses belicistas e econômicos dos grupos “dominantes” para a legitimação do seu poder. Rostovtzeff (1983, p.11-42) nos fornece interpretações, por exemplo, sobre as cidades antigas como centros produtores de manufaturas, não se limitando apenas à obtenção dos produtos rurais. Em tal perspectiva, o núcleo urbano direciona-se para a obtenção do lucro.

Nos trabalhos de Gaetano de Sanctis (1932) em Problemi di Storia Antica, através de sua perspectiva militar e econômica, o autor acabou por produzir um olhar “mercantilista” sobre as etapas do imperialismo romano e seu militarismo. Tal vertente analisa Roma a partir das teorias imperialistas de cunho econômico do século XIX. Um crítico sobre a referida perspectiva imperialista foi o húngaro Karl Paul Polanyi. Polanyi ficou conhecido por suas produções sobre a economia na Antiguidade e na Contemporaneidade. Nas produções intituladas The Great Transformation (1944) e Trade and Market in the Early Empires (1957), o autor chamou a atenção para o emprego da visão sobre os mercados nos estudos sobre a economia antiga. Para Polanyi (2001, p.45-59), o sistema citado não deveria ser visto como a principal fonte da organização econômica romana. Imbuídos da perspectiva levantada, ressaltamos que o pensamento “mercantilista” para o imperialismo de Roma – pela proposta do autor – não seria apropriado para o período, assim como a economia na sociedade romana estava submetida às relações sociais, não se constituindo como um campo autônomo.

Nos escritos de Moses I. Finley (1973), A Economia Antiga, notamos um profundo diálogo com as ideias polanyianas acerca da economia, quando o mesmo destaca que “[...] é óbvio que estou de acordo em que temos o direito de estudar tais economias, de colocar questões sobre essas sociedades que os próprios antigos nunca colocaram. [...]”. Contudo, Finley alerta que “[...]a linguagem e os conceitos econômicos a que todos nós, mesmo os leigos, estamos acostumados, [...] tendem a arrastar-nos para uma falsa perspectiva” (1980, p.27). Em tal apontamento de Finley, percebemos que o mesmo rebate a vertente modernizante que ganhou intensidade no campo historiográfico durante a primeira metade do século XX. Para Finley, os historiadores não deveriam enquadrar o modo de funcionamento da economia antiga nos parâmetros da economia moderna devido às singularidades de cada uma.

Ademais, verificamos que o campo do imperialismo ofensivo, apesar das críticas, continuou em plena atividade, como na obra de Richard Duncan Jones, que, em 1974, publicou o seu livro intitulado Economy of the Roman Empire. Na obra, o autor traz problematizações em torno da expansão e dos benefícios financeiros obtidos por ela para os senadores e magistrados romanos. Jones fornece a visão das negociações e taxações de Roma com as suas províncias, como o caso da África. A sua abordagem é pautada nas questões financeiras como motriz da sociedade romana. Com uma abordagem aproximada à de Richard D. Jones, podemos citar a vertente imperialista de Arnold Hugh Martin Jones, em The Roman Economy: Studies in Ancient Economic and Administrative History (1974). Nesta obra, o autor analisa a relação da sede de poder romana com as cidades, na perspectiva de que Roma veio a enriquecer a partir da entrada dos recursos oriundos de sua expansão. Logo, Jones reitera a visão de relações desiguais entre centro de poder e áreas submetidas.

Na vertente historiográfica de Erich S. Gruen (1973, p.273-275), os antigos romanos não deveriam ser concebidos enquanto totalmente imperialistas, nos termos de um expansionismo ofensivo. Para Gruen, os romanos perderam, ao longo de sua expansão, algumas oportunidades de explorar economicamente as sociedades conquistadas. Entretanto, Moses Finley nos possibilita pensar que nem sempre a política imperialista romana visava à intervenção direta, e que a formação de uma área de influência romana poderia ocorrer com a cooptação da elite nativa. Com novos postulados sobre a expansão romana, Moses Finley, em Empire in the Greco-Roman World (1978), foi considerado como o autor que inovou o campo teórico envolvendo a economia e o imperialismo. Para Finley, tal empreitada de Roma pode ser dividida em fases que se pautam na organização das conquistas e no tipo de vantagens advindas da ação imperialista (1978, p.02-10).

O primeiro fluxo seria delimitado pela conquista da Península Itálica central e meridional, o que assegurou o território de Roma e produziu presas de guerra, além da aquisição de grandes extensões de terra confiscadas. O segundo ocorre desde a guerra com Cartago até o fim da República. Neste contexto, deu-se a formação do sistema provincial, gerando um grande aumento das presas de guerra e implantação de taxas regulares das províncias. Na terceira fase, durante o principado, a pax romana reduziu enormemente as presas de guerra, mas as taxas e requisições provinciais aumentaram constantemente e houve o processo de manutenção do controle dos territórios conquistados. Ao cotejarmos a perspectiva de Finley com os escritos de Diodoro da Sicília, em sua obra Biblioteca Histórica, indicamos as possíveis bases dos estudos sobre a diferenciação da ação romana ao longo do tempo com os povos submetidos: “Os romanos, quando decidiram aspirar ao domínio do mundo, conquistaram o império com o valor de suas armas, mas, para seu próprio benefício, trataram com benignidade os povos vencidos (...) e a ninguém mostraram mais rancor do que era necessário” (Biblioteca histórica, XXXII, 4).

O húngaro Géza Alföldy, em Römische Sozialgeschichte – História Social de Roma – (1984), problematizou a questão da expansão romana apresentando-a em duas etapas. Até meados do século V a.C., Roma teria estabelecido uma ação defensiva em suas guerras. A medida buscava manter a integridade da região contra possíveis ataques dos etruscos e como uma forma de assegurar seu poder nos territórios vizinhos.  Entretanto, a partir da segunda metade do século V a.C., com a subjugação de Fidena e de Veios, Roma veio a desenvolver uma característica expansionista – que podemos considerar como ofensiva –, com objetivo de sanar conflitos sociais internos entre a aristocracia e a plebe, além de obter ganhos econômicos (ALFOLDY, 1989, p.36-42).

Para os historiadores Mary Beard e Michael Crawford (1985, p.74-76), o tema da expansão perpassa por um emaranhado de fatores de cunho econômico, político, militar e social. Segundo os autores, dois eram os elementos fundamentais para a construção do processo expansionista romano: o primeiro seria a disputa política entre a elite ávida pela obtenção de prestígio e riquezas, com as suas ações frente aos postos de comando; o segundo fator reside nas alianças realizadas na Península Itálica, onde, em troca de não impor uma tributação, Roma havia solicitado contingente humano para integrar as suas legiões.

De acordo com Norberto L. Guarinello (1987), questões políticas e econômicas são indissociáveis para pensarmos o imperialismo na Antiguidade. Logo, o autor nos ressalta que nos estudos sobre o imperialismo, devemos nos centrar sobre as estruturas internas, a organização da economia e do sistema político, para que se possam compreender as causas da expansão e as formas de sua organização (1994, p.43-46). Prosseguindo, ressaltamos a abordagem da romanista Norma Musco Mendes (1988, p.42), publicada em seu livro Roma Republicana, que, apesar de não descartar as pressuposições defensivas do imperialismo romano em sua fase inicial, amplia os debates sobre a fase ofensiva, relacionando-a com o contexto político e econômico. A autora menciona que a Cidade-Estado em questão foi impulsionada, em seus primórdios republicanos, a expandir-se para a obtenção de necessidades consideradas vitais. Entre elas, podemos destacar a defesa do próprio território, a aquisição de terras e a preservação de lugares estratégicos e comerciais. Além do que fora apontado pela busca de segurança e sobre as questões político-econômicas, podemos acrescentar ainda as ambições da aristocracia como dispositivo propulsionador para a expansão romana na República Média.

Norma Musco Mendes prossegue advertindo-nos de que a expansão também estava relacionada com instrumentos ideológicos romanos, como o desenvolvimento de um patriotismo exacerbado e a procura pela glória militar. Tal aparato fazia parte da formação do jovem aristocrata romano, como pontuado por William Harris, até o século I a.C. Para o autor, a gloria e a laus eram dois preceitos essenciais para a aquisição da dignidade e da autoridade como meios para ascender-se socialmente no período da República. Logo, um dos elementos constituintes da expansão estava atrelado à competição aristocrática pela obtenção de cargos e prestígio públicos, sem deixar de lado seu enriquecimento próprio (HARRIS, 1989, p.09-34).

Imersos nas respectivas vertentes sobre a expansão romana, corroboramos os pressupostos de Norberto Guarinello (2006, p.14-16) sobre a complexidade que envolve o tema do imperialismo romano. A constituição do império pode ser vista como o resultado de um lento processo de conquista militar e centralização política, primeiramente da cidade de Roma sobre a Itália; depois, da própria península sobre o Mediterrâneo Antigo.

A partir do que foi debatido, podemos compreender a expansão como um objeto complexo no qual as ações variavam de acordo com o contexto histórico. Assim, a economia, a política e determinadas práticas aristocráticas devem ser problematizadas em conjunto, ampliando a visão dos estudantes sobre o conceito de imperialismo romano. As visões sobre a referida conceituação, no que tange à defesa territorial e ao fluxo ofensivo para conquista de territórios e benefícios econômicos, não devem ser analisadas de forma antagônicas na prática de ensino e pesquisa, como em muitos casos pode parecer para os pesquisadores da cultura romana. Em nossa visão as ações defensivas e ofensivas eram complementares e seu emprego variava de acordo com o contexto político-cultural de Roma. Dessa forma, ao levarmos o tema da expansão romana para a sala de aula é importante tomarmos uma atitude reflexiva, a qual possibilite ao jovem compreender Roma através de suas múltiplas interações culturais, alianças e tensões referentes a manutenção do seu poder no Mediterrâneo Antigo.

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POLANYI, Karl Paul. The Great Transformation: the political and economic origins of our time. Boston: Beacon Press,2001, p.45-59. Publicado Originalmente em 1944.
ROLDÁN, José Manuel. História de Roma. Tomo II – La República Romana. Madrid: Cátedra, 1987.
ROSTOVTZEFF, M. Historia de Roma. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1983, pp. 11-42. Publicado originalmente em 1960 _____. História Social y Economica del Imperio Romano. Tomo I. Madrid: Espasa-Calpes S.A., 1937, passim.  Publicado originalmente em 1926.
SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora.  Ensinar História. São Paulo Scipione, 2004.
SCHUMPETER, Joseph. Imperialism & Social Classes. Auburn, Alabama: Ludwig von Mises Institute, 2007. Publicado originalmente em 1919.
VEYNE, Paul. O Inventário das Diferenças. Lisboa: Gradiva, 1989,p. 12-3.



71 comentários:

  1. Boa tarde, professor. Sou estudante de Filosofia na UERJ e pouco douto nos assuntos referentes ao período romano antigo, não obstante, gostaria, se possível fosse, que o senhor pudesse esclarecer-me um ponto que o texto trouxe no final: A questão do expansionismo pela cultura, e pela imposição de práticas (políticas, diárias, religiosas, e outras). É possível falar na Antiguidade de uma pretensão de "Globalização Cultural"? Os modelos antigos, tal qual o grego, que viam todo e qualquer outro indivíduo como bárbaro, fato esse que influenciava muito em seu modo de enxergar sua política e sua economia. Nesse sentindo que veio esse questionamento: Podemos falar de uma pretensão de expansionismo cultural antes mesmo de olharmos para as considerações políticas e econômicas, ou de fato há que se abordar todas essas vertentes como complementares e integralizadas?

    Douglas Fortunato dos Santos Silva

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    1. Estimado Douglas,
      quando pontuas que ao olharmos as considerações políticas, culturais e econômicas pelo viés complementar que estamos chegando ao ponto desse imperialismo romano. Muitas vezes, analisamos tais práticas em separado, assim criando a imagem de que um elemento prevaleceu sobre o outro. Porém, quando vemos a prática romana, o que pretendo chamar atenção, vemos claramente o uso de diversos dispositivos incluindo a cultura romano e até mesmo grega para a manutenção e controle das áreas provinciais. Logo, a complementação era essencial como foi bem demarcado por ti. Prof. Carlos Campos.

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  2. Caro professor Carlos Eduardo Campos, a questão do imperialismo romano sempre será um tema complicado a meu ver, no entanto, desejo compartilhar de sua opinião final quando o senhor escreve "Em nossa visão as ações defensivas e ofensivas eram complementares e seu emprego variava de acordo com o contexto político-cultural de Roma". Sendo assim, desejo levantar a questão se as ações ofensivas realizadas contra Roma na península Itálica, seja por Breno, Pirro ou Aníbal, tenham contribuído para a ideia de Tenney Frank, Roman Imperialism (1914), de que o imperialismo romano teria ocorrido de forma inconsciente devido a necessidade de preservação territorial ou ataques externos, assim como fora da própria península itálica vemos "conquista defensivas", como no caso das guerras Mitridáticas..
    Att, Lucas Cabral da Silva, graduando Uerj.

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  3. Outra questão que me chamou a atenção é quando o senhor afirma que "(..) o conceito de imperialismo está fortemente vinculado aos estudos sobre as práticas de expansão política e econômica que as potências europeias e os EUA desenvolveram no século XIX e no começo do século XX." Nesse sentido, acabei por lembrar das críticas feitas por Renata Garraffoni em seu livro "Gladiadores na Roma Antiga: Dos combates às paixões cotidianas" ao modo como foi abordada a questão do panem et circences durante o final do XIX e início do XX por historiadores como Mommsen, que estava vinculado aos ideias burgueses da época e aplicou à realidade romana conceitos de sua época aos quais até hoje herdamos, como costumamos enxergar a plebe romana como "ociosa, apática e morta de fome". Sendo assim, a questão que desejo levantar é até que ponto os anacronismos podem afetar a produção historiográfica à cerca do mundo antigo e se não estamos fadados a sempre cometermos tais tipos de "erros".

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    1. Att, Lucas Cabral da Silva, graduando Uerj.

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    2. Caro Lucas,
      O conceito como ele foi pensado no XIX, não é como o mesmo é analisado para Roma no XXI. Quando a Profa Garrafoni, o Prof. Funari e o Prof Guarinello falam sobre os conceitos, eles se referem principalmente a essas questões. O conceito é mutável e se transforma, assim cabe ao historiador acompanhar essas transformações ao empregar ao nosso objeto, tal como estamos apontando no nosso texto. A partir de leituras atualizadas.

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  4. Alfredo Coleraus Sommer7 de março de 2016 às 12:42

    Prof.Carlos Eduardo,
    -Seria válido do ponto de vista didático e atual relacionarmos o imperialismo Romano com o imperialismo exercido hoje pelos Estados Unidos?
    -Sempre que estudo Roma parece-me que esse império não teve uma dominação cultural marcante sobre seus subjugados mas parecia querer sempre o dominio econõmico e deixava os povos dominados com seus valores culturais e inclusive mantinha algumas lideranças locais mesmo que como fantoches .Seria isso realidade ou não?
    Grato,Alfredo Coleraus Sommer.

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    1. Estimado Alfredo,
      Eu diria que era necessário o uso de forma complementar tanto econômico como cultural para esse controle territorial. Contudo, essa dominação ela também é baseada na negociação e na autonomia em determinados pontos. Por essa questão, creio ser mais profícuo pensar em viés de complementação entre as esferas. Prof. Carlos Campos.

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    2. Observação: Sobre o Imperialismo Americano há diversos pesquisadores, através da História Comparada, os quais desenvolvem esse tema. O objetivo é ver a convergência e divergência entre esses sistemas. Todavia, não é uma perspectiva que sigo em meus estudos. Prof. Carlos Campos.

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  5. Professsor,
    Podemos dizer q um dos braços da intolerância social e a crise migratória que vive a Europa é consequência desa política imperialista iniciada pelos romanos e consolidada pelos EUA e Europa no século XIX e XX?
    Johny Menezes Loiola(Graduando - UVA/Ce)

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    1. Estimado Johny,
      Há muitos anos de distância, transformações culturais (sociais, religiosas e políticas) entre tais ações e sociedades em questão. Incluindo a mudança nas estruturas desses grupos. Baseado nas especificidades de cada época, creio que essa visão não seria pertinente, principalmente, pela diferença também religiosa das épocas que estamos tratando na Antiguidade para do mundo atual. Todavia, obrigado pela pergunta que se faz muito importante nesse contexto de conflito no Oriente e migrações para Europa. Prof. Carlos Campos

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  6. Na sala de aula parece-me que a historiografia ofensiva romana é mais pautada do que a defensiva. Seria devido ao desconhecimento dessa teoria historiográfica ou por uma escolha arbitrária que o docente resolveu estabelecer furtando um aprofundamento de tal processo?

    Johny Menezes Loiola.

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    1. Estimado Johny,
      penso que em muitos casos a vertente ofensiva prepondera sobre a historiografia que é usada em sala de aula, muitas vezes, também levado até para o período da monarquia (defensivo). Um dos primeiros motivos é o resumo feito para explicar a expansão romana, assim demonstrando todas as etapas - desde a fundação de Roma - como se fossem iguais. Segundo motivo: a escassez de materiais online que possibilitem capacitar ao professor conhecer essas fases da sociedade romana e os conceitos. Terceiro: o senso comum que representa Roma como sanguinária e agressiva. Tais, elementos acabam sendo reproduzidos ao ensinar antiguidade em sala de aula. Parabéns pela excelente reflexão. Abraços. Prof. Carlos Campos

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  7. Professor.
    O senhor cita que a expansão estava relacionada com instrumentos ideológicos romanos, segundo Norma Musco Mendes. Isso no período da república. Essa forma de instrumento ideológico prosseguiu até o final do Império?

    Atenciosamente,
    Paola Rezende Schettert

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    1. Estimada Paola,
      Bom dia! Paola, creio que esse fluxo expansionista sempre está vinculado com alguma ideologia de sua época. Contudo, essa ideologia ela foi modificando-se com o período e interesses políticos de cada governante. Grande abraço. Prof. Carlos Campos.

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  8. Por que há tanta dificuldade na hora de expormos esse tipo de assunto para uma classe? O que pode é atualmente ensinado dentro da sala de aula é correto, ou abreviar o conteúdo traz prejuízos ao entendimento da Roma antiga como um todo social, político e histórico?

    CRISLLI VIEIRA

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    1. Estimada Crislli Vieira,

      Bom dia! Penso que muitas vezes é o desconhecimento de História Antiga, por alguns professores e certos preconceitos que geram essa grande dificuldade. O processo de transposição didática, como é feito em grande parte, acaba por abreviar e formular uma imagem de Roma: Aquela que chega destrói e anula o outro. Tal representação está ligada com essa historiografia do XIX e começo do XX. Creio que ao demonstrarmos uma Roma que negocia, a qual também recebe esses influxos das áreas provinciais e que necessita conceder autonomia para as províncias, enquanto professores vamos ampliar os horizontes dos alunos sobre as especifidades desse período. Não deixando de mostrar também os conflitos e tensões, logicamente.
      Um grande abraço, Prof. Carlos Campos.

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  9. Professor, o senhor cita vários autores que diferem entre a concepção defensiva e ofensiva do Império Romano, podemos analisar que em sua construção histórica pode ter tido tanto uma característica como a outra como dominante em determinados períodos?
    Grata Andréia Cordeiro

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    1. Estimada Andréia,
      Justamente esse é o ponto central dependendo do período. Assim, apesar de certa preponderância de uma vertente, não podemos esquecer os usos da outra prática concomitantemente. Um abraço, Prof. Carlos Campos.

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  10. Professor, acredito que este contesto está ligado ao período em que o domínio Romano e tá restrito a peninsul ibérica, porém qual seria sua opinião quanto ao domínio conhecido como egito Romano?
    Acredito que neste contexto a política de dominação era mais branda, concorda?

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    1. Boa pergunta Rafael Andrade,

      as relações romanas com o Egito são distintas ao longo de sua expansão pelo Mediterrâneo. Desde uma autonomia, até a tomada do controle por Augusto é possível notar diversas políticas de aliança e negociação entre Roma e o Egito. Após, a batalha do Ácio que temos maior controle sobre essa província. Observo que a política romana não é de forte austeridade com as áreas provinciais, justamente esse seria o principal motivo de conseguir essa integração com essas áreas. Ter maior controle não significa aculturar e acabar com as práticas cotidianas de uma sociedade. Podemos pensar em acomodações e inserções nessa vida social. Grande Abraço, Prof. Carlos Campos.

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  11. Olá, gostaria de tirar uma dúvida. O que seriam as presas de guerra? Seriam os territórios conquistados?
    Jonathan Evangelista de Araujo

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    1. Bom dia Jonathan,
      quando pensamos em presas de guerra, nesse contexto, estamos falando desde pessoas que foram escravizadas, por perda da batalha, até mesmo os espólios que eram levados para Roma. Observação: Um termo referente a vertente de análises que sigo. Um grande abraço, Prof. Carlos Campos

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    2. Bom dia Jonathan,
      quando pensamos em presas de guerra, nesse contexto, estamos falando desde pessoas que foram escravizadas, por perda da batalha, até mesmo os espólios que eram levados para Roma. Observação: Um termo referente a vertente de análises que sigo. Um grande abraço, Prof. Carlos Campos

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  12. Após a leitura da conferência acima e dos esclarecimentos por meio desta,através dos estudos e da explicitação da opinião crítica dos autores, creio que seja um equívoco comparar - e de certa maneira inferiorizar - o viés mercantilista e econômico do imperialismo romano com o imperialismo empreendido pela Europa e EUA sobre os continentes Africanos e Asiáticos. Em termos fundamentais os dois imperialismos apresentam semelhanças - expansão territorial, mercado, mercadorias - mas em termos essenciais são incompatíveis; tanto por questões anacrônicas, culturais, sociais, territoriais, carga histórica, enfim...
    A minha questão é pautada no seguinte caso: que houve expansões de cunho defensivo e ofensivo é inegável, sendo ambas como o próprio texto diz, complementares, integradoras; porém é possível estabelecer e até que ponto, que a expansão de cunho ofensivo se apresenta de maneira mais crucial que a defensiva? Será que a Civilização Romana teria se expandido tanto, mesmo possuindo um grande aparato estrutural, se não fosse esse incremento do sentimental - patriotismo, glória, prestígio?
    E tendo em vista a complexidade do estudo, plausível de gerar diversos erros, equívocos, e até mesmo a perda do ponto principal da discussão, é necessário trazer essa discussão para a educação básica? Até que ponto? tendo em vista a estrutura tanto física quando acadêmica das escolas brasileiras, o fato do(a) professor(a) lidar com vários assuntos etc.
    Desde já, obrigada!
    Karolliny Joally das Neves Miranda

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    1. Estimada Karolliny,

      Boa noite! Suas reflexões são muito interessantes. No primeiro ponto, creio que é possível percebermos uma certa seleção em se trabalhar mais com o viés ofensivo, pelo foco na expansão do século III A.C. sobre o Mediterrâneo, pelos professores em sala. Uma seleção que da conta das inúmeras necessidades que detemos no magistério. Sem dúvidas! Contudo, porém que muitas vezes é assumida pela própria falta de conhecimento do outro viés também. O outro ponto, sobre o uso dos símbolos e valores culturais, tais como você salientou, são extremamente importantes, porém não se limitam a eles. O melhor, em minha humilde opinião, é pensamos em conjunto de ações romanas. Para a discussão em nível básico, não necessariamente precisamos elaborar um longo debate para os alunos. Contudo, o professor ao deter o conhecimento sobre esse tema fica munido sobre as informações sobre o processo que ele vai ensinar. Até mesmo, sendo capaz de fazer pequenas ressalvas as diferenças inerentes as formas da expansão romana. Obrigado e parabéns pelas reflexões que são inquietantes e ajudam também a pensar como aplicar essa reflexão. Prof. Carlos Campos

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  13. Bom dia, quanto ao texto acima, gostaria que tirasse uma duvida; O Imprerialismo Norte Americano e Europeu, seria um refinamento do que foi o Imperio Romano do primeiro seculo?

    Leonardo Jose Alves Costa.

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    1. Estimado Leonardo,
      muitas vezes, o imperialismo romano foi apontado como uma matriz do americano ou inspiração do mesmo, por alguns pesquisadores antigos. Tenho muitas ressalvas quanto a essa visão, principalmente, por quase estabelecer uma lógica de continuidade direta da antiguidade para a modernidade, assim ignorando longos séculos de transformações, inovações e até de rupturas. Logo, como pontuo no texto, há no Imperialismo moderno um discurso de fundamentação desse passado romano. Ou seja, creio haver mais uma apropriação desse passado para legitimar as ações modernas que de fato uma continuidade. Obrigado pela pergunta. Prof. Carlos Campos

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  14. Bom dia Professor Carlos,
    O império romano ao conquistar um território, como forma de dominação impunha o uso do latim e de práticas romanas. Mas até que ponto houve, e se existiu o oposto, ou seja, a influência dos povos conquistados à cultura romana?
    Ana Paula Uhdre

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    1. Prezada Ana Paula,
      Boa Noite! Essa visão do uso do latim através das relações sociais ocorre gradualmente e não de forma abrupta, como pode parecer nos livros. Outro fator interessante é o uso do grego, nas regiões que consideramos como orientais. Ou seja, nessas províncias em que o grego já era usado, o mesmo continua sendo utilizado, bem como o sistema de administração. Logo, a chave é pensar na cultura e nas entidades culturais como um processo e não imposição direta e que elimina a cultura local. Assim, ao passar para o segundo ponto, os próprios romanos devido as interações culturais também vão se apropriar de práticas culturais que eram de suas províncias: deuses, construções, objetos e etc. Até mesmo práticas mágicas. Prof. Carlos Campos.

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  15. Bom dia, professor.
    sou acadêmico de licenciatura História, muito interessante o viés do imperialismo defensivo de roma. Viste que em sala, esse eixo temático, quando ministrado, é muito inclinado para o ofensivo.No Brasil, há indícios, em algum momento histórico, de imperialismo ofensivo ou defensivo regionalmente?
    Fabricio rodrigues sozar.

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    1. Estimado Fabricio,
      Boa Noite! De fato é um tema que os livros ao resumir, por vezes, ignoram e o professor também acaba desconhecendo. No caso do Brasil, em meus estudos não vi a utilização desses conceitos para se referir as questões territoriais do período imperial. Não quer dizer que não possa ser refletido e analisado se possível de emprego futuramente, porém, ainda não conheço tal emprego. Obrigado pela questão e uma análise interessante pode surgir dela. Abraços, Prof. Carlos Campos

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  16. O texto é bastante claro sobre a importância do entendimento do conceito e suas contextualizações. Entretanto refletindo sobre a questão da generalização de conteúdo, o que de fato muitas vezes acontece em sala de aula, me pergunta como a partir do conhecimento geral do aluno abordar estas questões em tão pouco tempo que dispomos em sala de aula? Que tipo de atividades poderíamos realizar para aprofundar estes temas?
    Ana Paula de A.L. de Jesus

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    1. Querida Ana Paula,
      uma forma que penso ser profícua para explicar essa questão da expansão: são jogos de tabuleiro tomando como base o mapa de Roma e expondo os avanços; demonstração das práticas e debates junto aos alunos; teatro ou jogos cênicos pensando as duas propostas e como elas eram importantes para Roma, no final mostrando que elas acabam por se complementar... Muitos são os caminhos que levam a Roma (rs) Um grande abraço e obrigado pelo elogio. Prof. Carlos Campos.

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  17. Olá, professor
    Parabéns pela pesquisa
    Bem, em sala de aula é muito comum a construção de ressignificações sobre práticas da sociedade romana, tais como o Imperialismo, as colônias romanas na África,ou o "Imperator" julio Cesar. Essas simplificações, muitas vezes escondem uma complexidade de fatores que envolviam a cultura e a sociedade romana. Mas pergunto: como superar isso especialmente com o espaço minúsculo que temos para atuar em sala de aula?
    Isaias Holowate

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    1. Estimado Isaias, obrigado! De fato é um caminho espinhoso superarmos essas simplificações. Todavia, creio que é possível uma transposição didática que não caia em anacronismos. Talvez, a seleção mais cuidadosa dos temas de aula e as pequenas observações já ajudem nesse processo. Outra necessidade é o professor conhecer o assunto através de uma literatura especializada. Isso o ajudará a repensar aquilo que deve ser passado. Um grande abraço, Prof. Carlos.

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  18. Olá, Carlos,

    Falar sobre "imperialismo romano" sempre será uma tarefa que deverá dar muitas voltas explicativas para compreender esse termo, já que de fato, ele não existia na antiguidade. Uma características dessa discussão, é que quase nunca abordam o imperialismo romano na sua fase Republicana, ou quando o fazem, demonstram, direta ou indiretamente, que os conflitos armados e expansão do território romano, foram realizados de modo defensivo. Isso não é verdade, pois desde sua fundação, podemos dizer que Roma se envolveu em diversas guerras, pelos mais variados motivos e não simplesmente "defensivos". Isso não lhe parece uma omissão deliberada para não "manchar" o modelo político republicano no qual Roma se encontrava e que muitos governos atualmente orgulhosamente alegam possuir?

    - Outro ponto que você mencionou, o cuidado com as generalizações. Você não acha mais proveitoso em vez de procurar uma definição para o imperialismo romano, apontar suas nuanças, em como sua prática foi diferente em determinadas regiões e épocas, como nas situações de fundação de colônias, criação de províncias, direito a cidadania, importação e exportação cultural, o que a doutora Norma Musco Mendes gosta de dizer "mundialização" na antiguidade?

    Jhan Lima

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    1. Querido Jhan,
      Boa noite! Suas questões são altamente importantes e as quais tenho muitos pontos de convergência, apenas divergindo em pequenos pontos. O texto está voltado para a historicização do conceito e como ele foi empregado entre esse período do XIX e XX, assim demonstrando algumas das novas abordagens. No caso do imperialismo ofensivo e defensivo, há muitas vezes um interesse em construir uma visão apensas defensiva ou ofensiva (para legitimar grupos, partidos, ações bélicas e etc). Penso, que as duas práticas existiram, muitas vezes, de forma concomitante por interesses de variadas ordens. Todavia, nossa divergência esta na necessidade de criar um novo conceito para Roma, se vemos muitas vezes na História dos Conceitos que eles são fluídos e que variam ao longo do tempo. Penso que na verdade há muito mais uma busca de tecermos um nome diferente de acordo com a vertente teórica que seguimos, porém que no fundo abordam de forma bem próxima os mesmos fatos, em alguns casos. Tanto que na própria vertente anglofona que sigos, também temos várias nomenclaturas para o que chamo de práticas imperialistas. A vertente da Profa Mendes é bem interessante e valiosa para Roma, tanto que se reparar nas produções que detenho, boa parte dos trabalhos dela se faz presente, assim como foi a matriz para meus estudos. Entretanto a nossa perspectiva se diferencia muito mais na parte conceitual e no objetivo que tenho de análise para Sagunto e a dela para Lusitânia. Um grande abraço meu nobre amigo. Bons estudos! Prof. Carlos Campos

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  19. Boa tarde, professor!
    Seu texto sem dúvidas é um assunto para se discutir por muitas horas, pois não deixa de ser interessante. Mas lendo e refletindo um pouco fiquei com uma dúvida. Com a Expansão Territorial Romana na região do Mar Mediterrâneo, muitos soldados, agricultores...homens livres, eram recrutados a fazerem parte do exército, pois ficavam cada vez maior em território. Então por outro lado penso que deixaram de realizar seus afazeres e entrar no exército, por isso a escravidão ficou evidente, muitas pessoas eram forçados a realizar trabalhos das outras, pois se as que faziam parte da mão de obra não estava lá para ajudar, outras tinham que fazer assim como outras eram forçadas?


    Jéssica Batista de Mel

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    1. Carlos Eduardo da Costa Campos9 de março de 2016 às 06:43

      Estimada Jéssica,

      Fico contente que o texto tenha despertado essa inquietação e reflexão. A minha proposta é justamente abrir um debate para como empregar e/ou transpor isso para a sala de aula. Jéssica seu pensamento está corretíssimo e também é uma decorrência da expansão romana. O aumento do número de escravos e também as propriedades rurais sofreram com essa modificação social. Muitos eventos como a Revolta dos irmãos Gracos e os problemas politico-sociais vivenciados no século I a.e.c. se conectam com essa situação. Recomendo você ler sobre o tema: Maria Luiza Corassin, com o livro a Reforma Agraria de Roma. Outra obra excelente é Geza Alfoldy em História Social de Roma. Tais indicações vão te ajudar muito no aprofundamento dos seus apontamentos. Um grande abraço, Prof. Carlos.

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    2. Olá, professor!
      Quero agradecer seu tempo para comigo e agradecer especialmente nas recomendações, que com certeza irei me aprofundar.



      Um abraço... Jéssica Batista de Mel

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  20. Boa Tarde, professor!
    Bom, mais no inicio do texto o senhor menciona o Magistério. Como de fato o senhor conseguiria introduzir esse assunto tão abrangente no Magistério que agora é Formação de Docente em tão poucas aulas semanais?


    Jéssica Batista de Mel

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    1. Estimada Jéssica,
      Boa Noite! Sobre a questão do tempo para ensinarmos antiguidade, uma possível solução para a falta de tempo pode ser a questão dos conceitos centrais, ao invés da detalhada narrativa cronológica. Outra possibilidade é a seleção dos temas de forma conectada com uma abordagem central: Crise da República Tardia, Expansão Romana e etc. Um grande Abraço, Prof Carlos.

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  21. Cristiane Aparecida Fontana Grümm8 de março de 2016 às 16:32

    Carlos,

    Em primeiro lugar parabenizo-o pelo texto. O pouco que conheço da Antiguidade são materiais que reuni ao longo do tempo que atuo como professora. Sem dúvidas, a internet facilitou muito o acesso a informações e materiais sobre diversos assuntos, inclusive o período romano. No entanto, reforço que nada melhor que ler um texto como o seu que traz uma revisão bibliográfica sobre um conceito que em sala de aula utilizamos (Império e Imperialismo) e quando não o fazemos os estudantes fazem por nós. Como bem chama a atenção no início do seu texto, precisamos cuidar com o uso dos conceitos para não abusarmos deles ou forçarmos sua utilização de maneira imprudente. É justamente pensando nesse aspecto (e com bastante preocupação) que levanto meus questionamentos:
    1) já aconteceu comigo, algumas vezes, ao trabalhar com Grécia Antiga, os estudantes afirmarem ou questionarem se Esparta e Atenas são imperialistas. Nesse sentido, você considera imprudente considerar o conceito para estas duas cidades-estados? E por outro lado, se sim, considerando as peculiaridades de cada uma, é possível generalizar esse conceito para as duas localidades? (Pergunto porque quando trabalho com o assunto na educação básica, costumo reforçar o conceito de pólis e geralmente os estudantes fazem essa relação com o imperialismo).
    2)Quando trabalho com Roma Antiga, principalmente nas fases da República e do Império, é comum os estudantes da educação básica, principalmente no ensino médio, considerarem o Império Romano como uma era de globalização na antiguidade (peço desculpas pelo anacronismo, mas é exatamente assim que classificam). Sei que seu texto é sobre imperialismo, mas como apresentou inúmeros autores, algum deles ou outro de seu conhecimento chega a discutir tal uso do termo?

    Cristiane Aparecida Fontana Grümm

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    1. Bom Dia Cristiane,
      Estou muito feliz que o texto propicie tais reflexões. Respondendo ao seu primeiro questionamento, de fato há pesquisadores que utilizam o termo de imperialismo para Atenas e Roma. Contudo, essa questão veio sendo repensada para uma perspectiva de Hegemonia e não Império ou Imperialismo. Devido as especificidades em termos e práticas de controlo, mesmo com autonomia, eu tendencio a ver as ações gregas como de hegemonia política sobre os territórios e não de formas imperialistas. Todavia, ainda necessito de maiores reflexões sobre Atenas e Esparta para tomar um posicionamento mais fundamentado para essas regiões. Sobre esse tema referente aos povos helênicos recomendo a leitura de nosso colega Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção (também conferencista aqui): A Hélade no Período Clássico, entre o Imperialismo Ateniense e a Hegemonia Espartana - um estudo conceitual (Você consegue baixar pesquisando no google).
      Quanto a segunda questão da globalização ou de mundialização, não costumo utilizar esses termos em minhas pesquisas, porém há muitos estudiosos como Norma Musco Mendes, Patrick Le Roux e Richard Hingley que aplicam essa perspectiva de forma brilhante e chamando atenção para as convergências e divergências do termo (São textos que você encontra disponíveis na internet, usando os nomes dos autores o termo que você deseja: globalização, mundialização, imperialismo na Roma Antiga).Logo, não penso ser anacrônico. Apenas é necessário definir e conceituar de acordo com as especificidades dos mesmos. É preciso deixar claro que há certas diferenças e que seria digamos que uma das primeiras experiências dessa ação, para que eles possam entender de forma salutar. Um grande abraço, Prof. Carlos Campos.

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  22. O material didático disponibilizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo traz esse questionamento sobre império e imperialismo, mais especificamente no Ensino Médio. Os alunos tendem a concluir que o conceito de império relacionado às conquistas territoriais é mais evidente, perceptível. Já o imperialismo, não ocorreu de forma tão eficaz em todo Império Romano. A possibilidade dos diversos povos conquistados continuarem vivendo segundo suas crenças e tradições podem ser considerados fatores relevantes para o desgaste e fim do Império Romano?

    Debora Shizue Matias Takano

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    1. Estimada Debora,
      Boa Tarde! Talvez a autonomia, em certa medida, pode ser pensada como aquilo que possibilita a própria integração ao invés da desfragmentação. O império necessita de ações que visem abrandar o uso da força, pois a violência gera resistências e em algum momento a queda do poder. Penso que autonomia e o uso de cultura por Roma foi o que manteve esses povos na lógica romana. Quando a desfragmentação creio que isso foi um processo inerente a própria expansão e transformações culturais que o império perpassou desde III a.C. Por isso, muitas vezes pensamos que essas práticas imperialistas não foram tão eficazes. Afinal, é comum aguardarmos uma política de intervenção direta e que aculture os povos nativos.Um grande abraço, Prof. Carlos.

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  23. Boa noite professor! Obrigada pelo texto claro e estruturado.
    Compreendo que em se tratando de Roma, a diferenciação conceitual e prática entre Império e Imperialismo seja determinante para uma compreensão mais adequada do desenvolvimento romano.
    De forma prática e didática, com alunos de 6ºs anos do ensino fundamental, do 1º ano do ensino médio ou na revisão pré-vestibular:
    1) Há que se pensar que o imperialismo precede o império (mesmo não se tratando da forma política de administrar o território)?

    2) Quando as autoridades romanas se lançam sobre o Mediterrâneo, em especial sobre Cartago, observamos a dupla posição defensiva-ofensiva?

    3) A Antiguidade, inclusive romana, não se absteve de confrontos que, se não são denominados tecnicamente de imperialistas, podem ser analisados sob esse viés dada a violência empregada, a escravização dos povos subjugados, o saque da riqueza encontrada e muitas vezes a anexação do território em questão?

    Agradeço sua atenção.

    Ana Lúcia de Cinque Furini

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    1. Carlos Eduardo da Costa Campos10 de março de 2016 às 06:06

      Estimada Ana Lúcia,

      Bom dia! Eu diria que as práticas imperialistas surgiram em decorrência da formação desse império. Primeiro para manter o controle e depois para expandir para novos territórios. Agora lembre-se, Roma tinha um império antes de se ter um imperador tal como vemos posteriormente. O poder ficava na mão do Senado e dos consules.
      Questão 2 - Sim, a questão cartaginesa envolve tanto a defesa do território já conquistado, bem como a necessidade ofensiva de poder ter novas regiões sob influência romana.
      Questão 3 - Sua perspectiva está parcialmente correta. Apenas, mostraria que não houve esse único viés de ação. Essa é a perspectiva tradicional de Roma. Contudo, nenhum império se mantém apenas pela força, ele precisa da negociação, da aliança e de trocas culturais. Talvez, seja importante demonstrar como a cultura também é um fator de dominação.
      Um grande abraço e ótimas questões levantadas.Prof. Carlos

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  24. Caro Carlos Eduardo da Costa Campos, é possível você sintetizar em rápidas palavras para que eu tenha uma melhor compreensão dos conceitos "Império e Imperialismo" no contexto desse artigo em estudo?
    Ass.: Ivo Silva - Licenciando em História

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  25. O Império Romano conseguiu expandir o seu domínio mundialmente ou o seu domínio se limitou só a alguns países "inferiores" a este Império?
    Ass.: Ivo Silva - Licenciando em História.

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    1. Carlos Eduardo da Costa Campos10 de março de 2016 às 06:11

      Estimado Ivo,

      ele dominou praticamente boas extensões territoriais daquilo que era o mundo conhecido da época. Cordialmente, Prof. Carlos.

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    2. Obrigado professor Carlos pela resposta e atenção.
      Ivo Silva.

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    3. Obrigado professor Carlos pela resposta e atenção.
      Ivo Silva.

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  26. Poderia-se dizer que assim como Roma já foi um imperio dominante e explorador, e mesmo assim veio a queda do império, isto pode vir a acontecer um dia com os EUA que hoje é considerado uma grande potência que de certa forma é dominante, claro que não usando dos mesmo artíficios que os romanos, um dia também ele irá pecar por sua arrogância e vir a perder a coroa?

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    1. Carlos Eduardo da Costa Campos10 de março de 2016 às 12:19

      Prezado José,

      Boa Tarde. Manter uma supremacia política, econômica e militar é um processo que gera desgaste com o passar do tempo. Em alguns casos rapidamente e outro demora séculos. Isso faz parte da História Humana. Diversos foram os impérios que já tivemos em nosso mundo. Um livro que reflete essa questão é chamado de Todo Império Perecerá de Jean Baptiste Durosselle. Abs, Prof. Carlos

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  27. Como traçar um paralelo entre o Império romano e a hegemonia exercida pelos E.U.A sem, no entanto, cometer anacronismos? - João Gilberto Solano

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    1. Carlos Eduardo da Costa Campos10 de março de 2016 às 12:22

      Estimado João,
      Boa tarde! Uma coisa é analisarmos proximidades de ações e outra é buscarmos um traço contínuo e idêntico. Muitas vezes dizemos que tais medidas eram iguais e esquecemos de ver que são outros povos e com mentalidades bem distintas. Compreender as especificidades sociais é o primeiro passado. Prof. Carlos.

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  28. O domínio de Roma sobre seus subordinados se limitava a esfera politico econômica ou alcançava, inclusive, o âmbito cultural? - João Gilberto Solano

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  29. Não é necessariamente uma pergunta mas apenas um ponto de vista com base no texto:
    Ao verificar o conceito de Berr (1926, p.X) sobre a eficiência do Império Romano com relação a expansão territorial e a disseminação da sua cultura, diria que tal império não foi tão eficiente quanto se imagina, pois ao mesmo tempo em que o império romano do ocidente cai, e o seu controle sobre os conquistados perde força, a cultura imposta pelos romanos também se extingui, pois a cultura de um povo não pode ser imposta e sim adquiria ao bel prazer do tempo.
    Ao analisar o imperialismo dos EUA em comparação a de Roma, de fato é um grande império com pode de fogo comparável a época das grandes batalhas romanas, contudo observa-se que esse método de conquista através da força está defasado e fora de "moda". Porque fora de "moda"? - Eis a questão: Roma mesmo após sua queda deixou grandes avanços sociais e culturais e sem a menor das intenções GEROU um "primogênito" através do Edito de Milão com traços semelhantes só que mais evoluído e presente até os tempos atuais, estou falando sobre a Cidade-Estado do Vaticano governado através do sistema de Monarquia Eletiva (Papado) e guiado pelos princípios basilares da Igreja Católica, esse império atual teve o inicio de sua ascensão em 313 d.C. e foi consolidado na vigência do imperador romano Dionísio I, como todo império a Igreja Católica utilizou a força e levantou a bandeira da Inquisição para expandir seu domínio sobre diversos estados, cabe obtemperar que o seu sistema de dominação é diferente do Romano pois o mesmo exerce seu poder com um magnifico corpo diplomático que desde o tempo de São Pedro já funcionava perfeitamente. Atualmente o Vaticano mantem seu imperialismo sobre 170 países, através do corpo diplomático da Santa Sé e do conglomerados de Organizações Mundiais que possui representação como convidado ou membro. - JOSÉ BARBOSA SILVA NETO

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  30. Olá Professor, após ler seu texto o parabenizo pela escrita, no entanto, conforme eu iria o lendo foi alimentando ainda mais um questionamento meu, e, que talvez possa me ajudar. No que concerne a crise do Império Romano temos várias vertentes historiográficas que vieram se construindo desde o fato mencionado, alguns, como Salviano, alegam o Império ter se desestruturado pela instalação do cristianismo como religião oficial, outros como Santo Agostinho defendem a ideia de que a causa da fragmentação do império foi dada a partir do paganismo, temos também outros que argumentam acerca de um assassinato do império e outros acerca de uma morte natural. Diante tantas incógnitas no que concerne ao declínio do Império Romano temos alguns debates entre historiadores da História Antiga e Medieval, que tentam delimitar até onde vai o campo de estudo de um e onde começa o de outro, variando seus segmentos por diversos campos da história de análise, ou seja, História Social, Econômica e Política. Para tanto, o meu ponto de indagação após expor este emaranhado de situações, é como trabalhar com alunos do ensino fundamental essa transição de História Antiga para História medieval, ainda que, reconhecemos que existe o período tardo-antigo neste contexto? Outro ponto de indagação permeia está em como levar esta temporalização aos alunos de modo a ficar claro a eles os acontecimentos?
    Att,
    José Walter Cracco Junior.

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  31. Estimado José, em primeiro lugar é importante debater com a área de história essas escolhas da sua escola. Segundo você pode trabalhar a perspectiva cronológica de evento com o fundamental e com o médio inciar uma reflexão mais conceitual sobre esse tema de passagem de uma época para outra: demarcando que os período não mudam de forma instantânea; seguir uma perspectiva de análise para se fundamentar; usar debates, jogos e imagens que possibilitem via tecnologia e questões lúdicas apresentar esse mundo para os mesmos. Muito obrigado e um grande abraço. Prof. Carlos

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  32. Carlos Eduardo da Costa Campos10 de março de 2016 às 06:10

    Alguns materiais de História Antiga podem ser acessados através de minha página:
    https://uerj.academia.edu/CarlosEduardoCampos

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  33. Estimado professor,
    excelente texto,rico em referencias,bastante construtivo.
    Sou estudante do primeiro ano de Historia e recentemente estudei sobre Imperialismo e seu texto veio enriquecer meus conhecimentos.
    Pergunto:
    o termo Imperialismo não foi um termo criado mais como manobra politica dos poderosos ,no século XIX,para justificar o domínio sistemático de outras nações???
    Obrigado,
    Wander Alexandre Araújo Miranda

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  34. Boa noite, professor.
    Gostaria da sua opinião, o termo imperialismo, é um termo usado em vários fatos ocorridos na história, assim como a escravidão, que ocorreu de formas diversas no decorrer da história, como construir nos alunos esses conhecimentos sem cometer o anacronismo ?
    Thereza Cristina Kling Bandeira

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  35. José Petrucio de Farias Júnior11 de março de 2016 às 05:45

    Bom dia, Carlos Eduardo

    Que bom acordar e deparar-me com um texto tão bem escrito, claro e objetivo. Certamente vai facilitar nossas práticas de ensino tanto no ensino superior quanto na educação básica.

    Ultimamente defendo a importância de o professor utilizar fontes históricas na sala de aula, mas não meros recortes de fontes, porque tal procedimento pode perpetuar a falsa ideia de que os documentos representam reduto de informações 'fidedignas' sobre o passado.

    É muito importante, além de usar as fontes, estabelecer as circunstâncias históricas e as condições de produção do discurso. Esse procedimento metodológico instrumentaliza os estudantes a pensar sobre o que está por trás do texto ou os possíveis interesses e objetivos que motivaram a escrita e a adoção de determinada perspectiva.

    Diante disso, para você, que cuidados o professor, na educação básica, adotaria para elaborar situações de aprendizagem alicerçadas no uso das fontes históricas que você menciona em sue texto?




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    1. Estimado Prof. Petrucio,
      fico imensamente feliz com a sua visão sobre o texto.Também, concordo com a sua perspectiva sobre o uso documental nas pesquisas e no ensino. Creio que ao longo das aulas que passamos podemos citar essas fontes para gerar uma familiaridade. Outro ponto, as atividades em sala baseadas no estudo dirigido e debate com o prof de um documento referente ao tema da aula. Em pequenas ações o jovem vai familiarizando se.
      Um grande abraço,
      Prof Carlos !!!

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  36. Boa tarde professor,eu queria saber.Por que alguns autores dizem que o imperialismo existia várias faces?

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  37. Este comentário foi removido pelo autor.

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  38. Professor, acredito que não exista uma separação temporal entre o imperialismo defensivo e ofensivo, mas sim, que um foi parte do outro, moldando e auxiliando Roma em determinadas situações e/ou suposições. Porém, na faculdade, até agora (2° ano) nenhum aprofundamento desse tipo de abordagem foi tratado, sendo o conteúdo sempre mantido de forma clássica, apesar de mostrar vários pontos e conteúdos novos. Está correta essa minha maneira de pensar, ou realmente houve diferença temporal entre uma fase e outra? Obrigada,

    Crislli Vieira

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