Itamar Freitas

VALORES COMO OBJETO DE APRENDIZAGEM HISTÓRICA

Itamar Freitas



Suponhamos que você fosse convidado a participar da elaboração de um currículo para escolas da educação básica e que o coordenador solicitasse a inclusão de “valores” como objeto de aprendizagem histórica. Como iniciaria a tarefa? Pensando em uma possível dúvida da sua parte, elaborei algumas sugestões que podem ajudá-lo a se desincumbir dessa tarefa.

Em primeiro lugar, eu definiria objeto de aprendizagem do modo mais simples e mais geral. Objeto é a “coisa” que temos por meta.[i] É a coisa do nosso desejo (uma suculenta uva), a coisa da nossa percepção (uma frondosa parreira), a coisa do nosso pensamento (o espaço de plantio como relação entre quatro pontos fixos do parreiral), a coisa da nossa imaginação (uma renda de 1.000.000 de reais mensais com a vinicultura), e a coisa do nosso dever (respeitar o direito ao salário acordado com o trabalhador que vai viabilizar a minha renda).

Objeto, pelos exemplos, são uma fruta, uma árvore, uma ideia, a imagem de uma soma em dinheiro e um direito. Se estamos elaborando um sistema de coisas que o aluno tem direito a aprender e que o Estado tem o dever de fazê-lo adquirir, isto é, se estamos produzindo um documento chamado currículo prescrito, destinado aos alunos e aos pais e responsáveis, obviamente, teremos que nomear esses objetos – as coisas que serão a finalidade da aprendizagem escolar. Como fazê-lo, então?

Aqui surge a segunda tarefa: significar e elaborar o “objetivo”. Objetivo, nesse contexto e em nos dicionários de sinônimos, literários ou generalistas da língua portuguesa, é o fim pretendido. Assim, objeto e objetivo são a mesma “coisa” em situações diferentes: o objeto é a coisa estática e também a expressão da nossa intenção de realizá-la. Tomemos como exemplo a seguinte frase: “O aluno deve conhecer as causas e as consequências da acumulação de 90% da riqueza nacional nas mãos de 9% da população brasileira na última década do século XX”. Nessa proposição, objeto são “as causas e consequências da acumulação” e o objetivo é a sintaxe que viabiliza a expressão do interesse de quem o produz – “O aluno deve conhecer as causas e consequências da acumulação...”. Nada muito distante do que afirmou o comportamentalista Robert Mager (1923/...) ao apresentar uma ordem para os elementos constitutivos de qualquer objetivo educacional: o que aprender, as condições e as qualidades da aprendizagem.[ii]

Objetos de existência e objetos de valor

Definida a sintaxe que medeia nossa intenção (o objetivo), é hora de partir para a seleção das coisas (objetos) a serem aprendidas. Aqui também o caminho mais pragmático é categorizá-los em dois tipos. Voltando aos exemplos do primeiro parágrafo – “uva”, “parreira”, “renda de 1.000.000 de reais por mês”, “ideia de espaço” e “direito a salário” –, podemos concluir que eles possuem qualidade bem diversa. Em relação à uva, por exemplo, dizemos que ela existe ou que não existe na propriedade. Podemos também dizer que ela é bonita e adocicada. Quanto ao “direito ao salário”, podemos até dizer que ele existe ou não existe na vinícola em questão. Mas não seremos tão precisos na fala, como ao formularmos as seguintes variantes: O “direito ao salário” “é respeitado” ou “não é respeitado” pelo patrão; O “direito ao salário” “vale” ou “não vale” para o patrão.[iii] O direito ao salário digno é, portanto, um objeto de valor e não um objeto de existência, assim como a beleza e o doce da uva – são objetos de valor e não de existência. Resumindo, dizemos que o “direito ao salário” é um valor conservado pelo patrão e empregado na sua vida de gestor. O “belo” e o “adocicado”, por sua vez, são também valores conservados pelo patrão e empregados na classificação de alguns frutos produzidos eu sua propriedade.

Na produção dos objetivos de aprendizagem histórica essa classificação pode ser seguida, como nesses exemplos: O sujeito Chico Mendes existiu. O assassinato de Chico mendes ocorreu, as ideias de Chico Mendes foram materializadas em discursos e entrevistas. Isso implica dizer que a trajetória de Chico Mendes, o acontecimento da sua morte e as suas ideias de sustentabilidade são objetos de existência. São substantivos. São conteúdos históricos. Por outro lado, o respeito que ele dedicava aos povos da floresta não é um acontecimento, não teve existência. O respeito aos modos seringueiros de tratar a floresta é um valor. E esse valor é também conteúdo histórico, só que de outro tipo.

Chegamos finalmente à principal tarefa prometida que é a discussão sobre os valores como objetos de aprendizagem histórica. Então devemos ensinar valores? A resposta mais geral é sim. Valores são aprendidos. Eles não nascem conosco. São adquiridos ao longo do tempo das nossas vidas e por isso dizemos que os valores são históricos e não transcendentes. Observem que essa resposta só foi elaborada porque partilhamos de dois valores: humanidade e historicidade. Ao afirmar que os valores são históricos e não transcendentes[iv] eu revelo filiação à uma crença de que não é possível verificar se o valor à vida foi mesmo anunciado por um deus criador, já que a regra para eliminar os sujeitos tem sido modificada nos últimos 500 anos ou, ainda, que matar uma pessoa é um direito concedido ao indivíduo ou ao Estado, a depender da cultura da qual você se refira ou na qual esteja imerso. O valor da vida, enfim, não é o mesmo (não vale) para todas as sociedades contemporâneas. 

Essas considerações nos levam a outra questão: para que servem tais valores? A resposta, dentro de uma visão antropocêntrica, evidentemente, é a seguinte: valores funcionam como parâmetros empregados pela nossa faculdade de julgar. Se solicito que o aluno aponte as causas e consequências da concentração da maior parte da renda nas mãos de menor parte da população brasileira, ele responderá de modo lógico, buscando informação, por exemplo, na introdução, no infográfico ou no resumo do capítulo do livro didático: x / y = z. Contudo, se perguntamos ao aluno: “O que você pensa sobre as causas apontadas no livro didático?” “Você concorda ou discorda da explicação do autor?” “O que acrescentaria ou descartaria da informação colhida no manual?” “Em que medida aquelas respostas o auxiliam a compreender a sua situação/condição socioeconômica?”, se forem essas as indagações, a atividade lógica sozinha de buscar a informação por palavra-chave e submetê-la ao esquema “se..., então...” com as informações sobre Brasil, elites, riqueza e pobres, provavelmente, o aluno não dará conta do objetivo a ser alcançado.

Para que isso ocorra, será necessário que ele já tenha introjetado o conceito “igualdade” como um valor, isto é, que ele não somente retenha a definição de igualdade na memória (“igualdade é a condição na qual os sujeitos...”), bem como o seu antônimo – a desigualdade. Será também fundamental que ele tenha desenvolvido a capacidade de empatia em relação aos sujeitos excluídos da riqueza do país para efetuar a crítica (o julgamento – atribuição de valor) e a posterior tomada de posição em relação às respostas oferecidas pelo livro didático e à provocação disparada por nós. Por esse raciocínio, será necessário que apresentemos ao aluno um objetivo anterior para promover as duas citadas capacidades: conhecer a definição sumária de igualdade e imaginar-se um outro no passado distante ou no presente recente, submetido a situações nas quais se possa identificar os atributos que constituem a definição de igualdade.

A valência dos valores

Até aqui, tentei convencê-los de que os valores são históricos e funcionam em nosso cotidiano como fundamentos da crítica. Mas os valores são também elementos passíveis de hierarquização. Em outros termos: valores também valem mais uns que os outros. O respeito a vida humana, por exemplo, na maioria dos grupos sociais brasileiros, é um objeto que vale mais que o respeito à vida de um felino em extinção – uma onça. Mas quem estabelece essa hierarquia – quem institui a valência?

Qualquer resposta a essa pergunta também revela os valores em ação. O respeito à vida humana pode ser estabelecido, por exemplo, pela Igreja ou pelo Estado. O estabelecimento desse valor a ser cultivado por determinada sociedade é obra de eleição / acordo que emerge de várias situações. Exemplos: ele pode ser fundado no resultado de experimentos científicos (o código genético do animal selvagem indica a propensão ao ataque, mesmo que tenha sido criado em ambiente doméstico); no conforto psicológico provocado por um costume não contestado por gerações a fio (pais não devem ser desobedecidos pelos filhos); em certo dogma milenar (a crucificação de Jesus Cristo foi o maior ato de amor ao próximo). Em quaisquer dos casos, o valor (respeito ao instinto predador, respeito a autoridade paterna, respeito ao sacrifício divino) é sempre, apesar da aparente contradição, uma imposição assentida pela maioria.

Relembrando o assassinato de uma pessoa ou o abate de uma onça, podemos concluir que um código penal (instrumento punitivo, fundado em alguns valores), discutido e votado, por exemplo, foi produzido, obviamente, por um conjunto de sujeitos e não por um bando de onças. Por outro lado, dois outros conjuntos de pessoas já reivindicam tanto o respeito à vida das onças como o respeito à vida de um seringueiro que abateu determinada onça como valores a serem considerados, principalmente quando um animal for abatido no interior de uma reserva e ou se a vida do seringueiro estiver em risco.

Deixemos as onças e a crucificação e vamos direto ao ponto: Que valores deveremos selecionar como objeto de aprendizagem histórica? Aqui, pela terceira vez, percebemos a valência da hierarquização. Podemos elaborar os objetivos segundo os valores que recebemos da família, do credo religioso, da ideologia política etc.? Podemos, recorrentemente o fazemos, mas não devemos assim proceder. E não devemos por que somos professores e não apenas pais, irmãos, tios ou responsáveis. Somos a materialização do Estado democrático de direito. Assim, na educação pública (regrada pelo Estado), somos submetidos a algumas normas das quais podemos até discordar, mas não temos força moral e autoridade jurídica para desobedecer. Estados que regem interesses entre grupos sociais de forma democrática conservam o seu conjunto de valores, normatizando o seu emprego e indicando os responsáveis por seu cultivo. É para esse rol de valores que devemos dirigir nossa atenção.

Os valores na Constituição de 1988 e na LDB de 1996

No caso brasileiro, esses objetos estão listados na Constituição de 1988. Já no preâmbulo da Carta, nos deparamos com a expressão “valores supremos”. Eles são: os direitos à “liberdade”, “segurança”, “bem-estar”, “desenvolvimento”, “igualdade” e “justiça”. Valores também estão prescritos nos “fundamentos do Estado de Direito”, como os “valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. Estão no capítulo relativo aos direitos políticos a exemplo da “igualdade de direito de voto”.

No que diz respeito ao papel da União, estados e municípios, a Constituição prescreve que eles devem ocupar-se da proteção de obras e bens de “valor histórico, artístico e cultural”, do impedimento da “evasão, destruição descaracterização de obras e bens valor histórico, artístico e cultural”, da responsabilização por “dano a bens de valor histórico, artístico e cultural” e do incentivo à “valorização e a difusão das manifestações culturais”. O mesmo documento solicita a elaboração de um “Plano Nacional de Cultura”, orientado pelo respeito aos “valores culturais”

Ao Estado, em sua instância formadora obrigatória que é a escola, a Constituição prescreve como “conteúdo” o respeito aos “valores culturais, artísticos, nacionais e regionais”, aos “direitos culturais” e à “diversidade étnica e regional”.

As emissoras de rádio e televisão também têm regrados os seus sistemas obrigatórios de valores, inscritos no capítulo referente à comunicação social. O documento afirma que, em suas programações, elas devem respeitar “os valores éticos e sociais da pessoa e da família”.

Às instituições ligadas à preservação cultural, por fim, são legadas orientações para a seleção de seus objetos de trabalho. Assim, bens de “valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico” são elementos passíveis de serem categorizados como “patrimônio cultural”.

São muitos valores a cultivar, você dirá. Como diferenciar os indispensáveis dos secundários? Como saber com qual intensidade devemos inserir cada valor “supremo” ao longo da vida escolar? Como traduzir “valores culturais” se a palavra cultura possui mais de 300 sentidos entre os cientistas sociais? Não cabe, nesse momento, a crítica detalhada ao anúncio dos valores na Carta Magna. Partilho, porém, da sua angústia, mas afirmo ser necessário atentar para a ausência de clara hierarquia entre os valores, como também à falta das atribuições de cada sujeito nomeado na Carta. Se os valores supremos são os direitos à liberdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade, e justiça, porque os valores de responsabilidade do “ensino” escolar são apenas o respeito aos valores culturais e artísticos nacionais e regionais? Porque a valorização da diversidade étnica e regional, incluída dezessete anos após a promulgação da Constituição, está inserida na seção relativa à cultura e não à educação? Porque o Estado tem necessidade de reservar valores “éticos e sociais” da pessoa e da família se estes sujeitos podem ser dissolvidos no grande sujeito que é o Estado?

Uma saída para produzir o currículo respeitando a Constituição de 1988 seria, em primeiro lugar, conhecer o processo e compreender os condicionantes do processo (empatia) de elaboração da Carta. É um documento fruto de debates e negociações. Não poderia mesmo estar isento de contradições e equívocos. Além disso, como Carta maior, o documento não poderia definir cada vocábulo indicador de valor. Esse trabalho coube, em teoria, à legislação complementar. No caso da matéria constitucional “educação”, a complementariedade configura-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Na LDB a referência explícita aos valores está na definição dos conteúdos curriculares da educação básica. Ela explicita: conteúdos devem difundir “valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”.

Os valores também são citados como elemento mediador da “formação básica do cidadão”. Eles são conteúdo, da mesma maneira que os “conhecimentos”, “habilidades” e “atitudes”. A LDB também prescreve esse conteúdo específico: os “valores em que se fundamenta a sociedade. ”

A última referência a valores está nas disposições transitórias que tratam da educação dos povos indígenas. Prescreve a lei que a União deverá desenvolver programas de ensino e pesquisa que valorizem as “línguas” e “ciências” indígenas.

Comparando os valores citados com os anunciados na Constituição, percebemos que a as ocorrências são menos numerosas e mais coesas. Valores são conteúdo obrigatório e tais conteúdos privilegiam, para toda a população, a formação para a cidadania e a democracia – isso porque não entendemos as expressões “interesses sociais” e “valores em que se fundamenta a sociedade” como direitos sociais. Para os povos indígenas, têm valência as línguas e ciências na formação bilíngue.

Valências implícitas (Conclusão)

Vimos que os documentos-macro reguladores dos objetos de aprendizagem para a educação escolar básica dos brasileiros são bastante gerais como prescritores de valores a serem aprendidos / introjetados. Para você que inicia a produção de um currículo, tal generalidade pode ser uma barreira ou uma livre avenida. Se ficar na dependência do uso explícito do vocábulo “valor”, no tópico “educação” da Carta ou no assunto “conteúdo” da LDB, certamente terá dificuldades para transformar o objeto-valor em objetivo de aprendizagem histórica.

É necessário fugir à essa armadilha. Um exemplo ajuda a esclarecer a profundidade desse equívoco. Vimos que os gestores de emissoras de rádio e TV, dos órgãos de preservação do patrimônio cultural, dos legisladores, juízes e autoridades do executivo são agentes aplicadores de valores estabelecidos pela Constituição. A pergunta retórica, então, é a seguinte: em qual instituição empresários, radialistas, jornalista, apresentadores de TV, museólogos, arquivistas e historiadores vão conhecer esses valores, na Constituição lacunar? Não. Eles serão formados na mesma instituição-escola da qual você faz parte. Então, os valores prescritos para esses sujeitos são também os valores a serem aprendidos na escolarização básica.
Como de costume, as Cartas estaduais e municipais, os projetos pedagógicos da escola são o seu Norte na constituição de currículos. Contudo, elas possuem o mesmo vício de origem: a generalidade e a falta de hierarquia. Sugerimos, então, que você migre da palavra “valor” para as palavras “direito” e “princípios”. Essa mudança lhe permitirá detalhar os substantivos que expressam os valores prescritos pelo Estado. Apesar dos possíveis equívocos, você encontrará um glossário comum, tanto aos documentos quanto às obras clássicas que tratam dos recorrentes valores requeridos sob a rubrica de “cidadania” e de “democracia”.[v] Esses substantivos, ainda que não se configurem numa abordagem habermansiana (direitos civis para a efetivação de direitos políticos e sociais) estão anunciados na Constituição como direitos de três tipos: 1. Direitos individuais e coletivos – direito à vida (não haverá pena de morte), liberdade (expressão, crença religiosa, convicção política, trabalho, de ir e vir, se reunir, associar-se), igualdade (entre homem e mulher, entre raças) e propriedade; 2. Direitos sociais (educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados); 3. Direitos políticos (votar, filiar-se a partidos e ser votado).

Se você discorda da valência de alguns desses objetos, pode promover ações junto ao sistema representativo no sentido de atribuir maior coerência e ordem aos enunciados compreendidos como valor, nos documentos que regulam a educação básica no país. Se esse não for o seu caso, já pode iniciar a elaboração dos objetivos de aprendizagem sobre os conteúdos substantivos em história – acontecimentos, processos etc. – enfatizando determinadas ideias e sujeitos, buscando a importância, causas e consequências de determinados eventos, processos, ideias e sujeitos. Mas deve lembrar que a referência aos valores não, necessariamente, deve ser literal. A elaboração de um objetivo que combine a mobilização de uma habilidade (Tomar posição sobre...), um conhecimento substantivo (o significado do assassinato de Chico Mendes...), e uma descrição contextualizada (para a ampliação do interesse dos brasileiros sobre questões socioambientais) já traz implícitos, por exemplo, três objetos insertos na Carta e na LDB, que podem ser introjetados como valor: os direitos à vida, à livre expressão de ideias e à livre associação política.

Mãos à obra!!


Referências

BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.294, de 20 de dezembro de 1986. [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional]. Disponível em:
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 16 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2008. [Primeira edição – 2001].
DROYSEN, Johan Gustav. Grundriss Der Historik. Boston: 1897.
FREITAS, Itamar. Didática para licenciaturas. Aracaju: Criação, 2014.
HEATER, D. What is Citzenship? Cambridge: Polity Press, 1990.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos, liberdade e cidadania. In: PINSKY, Jaime; ABBAGNANNO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
MAGER, Robert F. A formulação de objetivos de ensino. 5ed. Porto Alegre: Globo, 1983.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. [Primeira edição inglesa – 1963].
MONTAINI, Marco. O respeito aos direitos dos indivíduos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2010. p. 114-136.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1978.
ODALIA, Nilo. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2010. P. 158-189.
RAMIREZ, Francisco O. From citzen to person? Rethinking education as incorporation. California: Center on Democracy, Development, and the Rule of Law – CDRL/Stanford Institute for International Studies – IIS, [2004].
RÜSEN, Jörn. Direitos humanos e civis como orientação histórica sugestões para a interpretação e para a análise didática. In: Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A., 2012. p. 193-220.


Notas



[i] “É o fim a que se tende, a coisa que se deseja, a qualidade ou a realidade percebida, a imagem da fantasia, o significado expresso ou o conceito pensado” Abbagnano (2014, p. 243).
[ii] Em 1962, Robert Mager elaborou um manual para auxiliar os professores a construírem objetivos educacionais. Ele afirmava que um bom objetivo educacional deveria responder a três perguntas: 1. O que quero que os alunos sejam capazes de fazer? 2. Quais as condições importantes, ou mesmo as limitações, dentro das quais o desempenho deve ocorrer? 3. Qual a qualidade (precisão, velocidade, padrão etc.) que espero do desempenho do aluno para considerá-lo competente? (Mager, 1962, p. 4, 87). Apresento abaixo um exemplo de objetivo educacional onde as três condições estabelecidas por Mager foram cumpridas. Tente produzir um ou mais objetivos educacionais dentro das orientações comportamentalistas e comente
sobre a sua pertinência em nosso tempo. Modelo - O estagiário de prática de ensino deverá ser capaz de observar os momentos didáticos de uma aula de Química (1), numa classe do 9º ano do ensino fundamental e durante 50 minutos (2), produzindo um relatório claro e coerente que deverá conter entre 3000 e 4000 caracteres com espaços (3). Freitas (2015, p. 66).
[iii] Valência, objetividade, polaridade e passividade à hierarquia são algumas das principais características do valor. Mora, 1978.
[iv] Uma das primeiras formulações sobre a historicidade dos valores,ou seja, a classificação dos valores como radicada na história foi efetuada pelo historicista Gustav Droysen (1882).
[v] É consenso entre os pesquisadores das ciências humanas e sociais que o termo “cidadania”, ou seja, “a qualidade de ser cidadão” incorpora a necessidade de as pessoas praticarem e, obviamente, conhecerem os direitos e deveres para atuarem na cena pública. É também consenso que tais direitos sejam aquisições ocidentais datadas, configurando uma sequência lógico-cronológica que compreende os direitos civis (século XVIII), direitos políticos (século XIX) e direitos sociais (século XX) (Marshal, 1967; Heater, 1990) – isto é, a “participação do cidadão no governo da sociedade” e na “riqueza coletiva” (Carvalho, 2008, p. 9-10). Quem assim o  faz, costumeiramente, chama a atenção para o significado de documentos-chave como o “Bil of Rights” [Carta de direitos] da Revolução Inglesa – 1698 (Montaine, 2010), a “Declaration universelle des droits de l’homme et du citoyen” [Declaração universal dos direitos do homem e do cidadão] da Revolução Francesa - 1789 (Odália, 2010; Rüsen, 2012), “The Rights of Man” [Os direitos do homem] da Independência dos Estados Unidos (Karnal, 2010) e a “Déclaration universelle des droits de l’homme” [Declaração universal dos direitos do homem] das Nações Unidas – 1948 (Ramirez, [2004]), na cofiguração daquilo que entendemos home como cidadania plena.

40 comentários:

  1. Prezado Itamar,

    Primeiramente parabenizo pelo texto. A abordagem do tema foi novidade para mim e por isto escolhi este trabalho para começar a participar do Simpósio.

    Entendi seu texto como um apelo para a incorporação dos valores no ensino de história e por tal acredito que o senhor tenha em sua trajetória o acompanhamento da elaboração de currículos, planos de cursos e exames. Neste interim, pergunto:

    Quais são os entraves para adoção dos valores no ensino de história no Brasil? O conteudismo seria uma delas? O tipo de abordagem para tanto pode ser rechaçada pelos colegas por ser vista como tema da sociologia? (ocorreu-me isto)

    Pedro Francisco Campos Neto
    Professor de História da rede estadual do Rio de Janeiro na cidade de Angra dos Reis

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    1. Olá Francisco,
      Escrevi o texto para precisar um pouco mais a palavra valor e também para informar (dentro dos sentidos que apresento) que os valores estão presentes no ensino de história, queiramos ou não. Você tem razão quando sugere que o conteudismo (no sentido de conteúdos substantivos - sujeitos, ideias, artefatos, acontecimentos e processos), de certa forma, obscurece os valores como objeto de aprendizagem. Não pensei nisso, mas concordo com você quando supõe que alguns colegas estariam situando os valores na esfera da sociologia. Se estivermos corretos na impressão, talvez isso ocorra por que a sociologia não se ocupa, objetivamente, da transferência dos clássicos acontecimentos e sim de categorias não necessariamente datadas em termos de tempo, espaço e circunstâncias.
      Obrigado pela participação!

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  2. Boa noite, Itamar Freitas e aos colegas participantes!
    Parabéns pela conferência!

    De que maneira podemos inserir os valores como objetos de estudo nas nas aulas de história? Na sua opinião, é importante trabalharmos nas aulas de história como esses valores são pensados e postos em prática ou não e porque tanto pelo Estado como pela própria sociedade ao longo do tempo?

    Isabela da Silva Dias

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    1. Bom dia colega,
      A minha posição é a seguinte: os valores são um objeto de conhecimento presente no ensino, independentemente do nosso desejo ou da nossa intenção. Sigo a sua ideia de que a problematização dos valores partilhados pelos alunos, disseminados ou não por prescrições estatais, direta (legislação educacional) ou indiretamente (livros didáticos etc.), é uma boa estratégia a ser empregada. Discutir valores por si sós, sobretudos nos primeiros anos da escolarização, é a estratégia do catecismo, algo com o qual não concordo muito quando feito em ambiente escolar.
      Obrigado pela participação.

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  3. Olá Itamar! Parabéns pelo texto e pesquisa. Já fiz um curso sobre a construção de valores na escola, mas confesso que não havia pensado que ensinamos isso de maneira implícita. Em sua opinião quais podem ser as mudanças no cotidiano dos alunos se os valores forem introduzidos e trabalhos de maneira mais sistemática?

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    1. Oi Larissa,
      Agradeço as belas palavras.
      Que bom que o texto ajudou você a pensar sob outra perspectiva. Quanto à questão que apresenta, a resposta vai depender do projeto pedagógico da escola, rede ou da sua ideia de formação escolar. Como afirmei no comentário anterior (a outro colega participante neste Simpósio), não sou entusiasta da tentativa de transmissão de valores de maneira isolada e sistemática. Penso que eles vão junto com outros objetos do conhecimento, como princípios e práticas de ciência, informação sobre acontecimentos etc. Lembra da antiga estratégia das fábulas? Pois é, continua valendo. Tem gente que rotula a fábula como estratégia conservadora. Penso que a fábula é apenas um gênero. Você pode criar uma história que contemple os valores que deseja partilhar com os alunos. Solicitar ao aluno que tome posição sobre x, y ou z ou questionar por que tomou assumiu determinada atitude, no passado ou no presente, já é uma boa forma de empregar os valores como objeto de aprendizagem.
      Sempre à disposição e obrigado por colaborar.

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  4. Boa tarde!! A historiografia tem várias correntes, mas hoje em dia, usamos aparentemente, apenas a História Nova? Você concorda ou discorda? OU já estamos criando novas correntes historiográficas?

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    1. Bom dia, Adriane!
      Depende do lugar de onde você fala. Sem me informar o ambiente (escola, idade, nível de ensino, suporte etc.) não há como opinar. Como você não estabeleceu um contexto, estou livre para responder.
      Veja, no livro didático de história, distribuído pelo PNLD, por exemplo, não vejo uso de apenas uma tendência, paradigma, corrente, escola ou teoria. Ele é um objeto híbrido. Os autores incluem elementos de várias abordagens teórico-metodológicas para tornar o material utilizável em diferentes ambientes de aprendizagem. Não esqueça que livro tem que vender. Quanto mais marcado por uma rubrica (história cultural, por exemplo), menor o potencial público a ser atingido. Por isso, também, autores narram uma história da humanidade a partir, por exemplo, de estruturas de modo de produção (marxismo) e, ao mesmo tempo, rotulam determinados acontecimentos e processos constituintes dessa estrutura como de longa duração e duração conjuntural (annales - Braudel) ou exploram a vida privada de famílias brasileiras no século XIX (história cultural de terceira geração, antropologia histórica etc.). Esse é o caso do livro. Em sala de aula, outras variáveis pesam na seleção da abordagem: as diretrizes da escola, os fins dos exames em escala nacional, o interesse dos pais, questões de crença etc. Obrigado pela participação.

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  5. Boa Tarde Professor, primeiramente saudações desde o Perspectivas do Ensino de História em MG. Gostaria que fosse possível dialogarmos na perspectiva de que muitos valores presentes na sociedade brasileira (indígenas por exemplo) são pouco difundidos. Vemos que mesmo depois da lei 11.645/08 história e cultura indígena na sala de aula de escolas não-indígenas são pouco abordadas e muitas vezes de maneira equivocada por professores, materiais didáticos e etc.

    Joilson Silva de Sousa

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    1. Olá Joilson, já estive naqueles prédios três vezes depois do Perspectivas. Saudações.
      Veja, costumo pensar, como um pesquisador paulista já falecido, especialista em legislação educacional, que a lei aponta um desejo ou legitima uma prática. Ela, sozinha, não muda o real. Ás vezes é preciso cadeia (como a que proíbe relações sexuais com menores). Outras pegam com multa e campanha na grande mídia (cinto de segurança). Com a 11.645, penso que ocorre o mesmo. Nesse caso, ela antecipa o desejo e a pressão de um grupo restrito, mas influente socialmente. Então, não esperemos que um dispositivo ganhe o assentimento imediatamente, quando não há elementos de coerção (é claro que não estou pregando a adoção desses elementos). Depende de mudança nas sensibilidades.
      Em todo caso, penso que a recepção da lei é bastante variada, a depender da região (se há ou não grupos indígenas reconhecidos legalmente), da orientação da rede e da formação docente. Por outro lado, não há consenso sobre o que seria a maneira não equivocada. Sabemos, apenas, em grandes linhas, o que não se deve fazer, por exemplo: abordar o passado e o presente das populações indígenas sob perspectivas providencialistas, evolucionistas ou funcionalistas. Em todo caso, digo sempre que esse tipo de luta é ganha dirariamente, pois depende da predisposição de cada profissional e predisposição é uma qualidade pouco transmissível durante o processo de formação inicial docente.
      Grande abraço e continua na lida!

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  6. Alfredo Coleraus Sommer8 de março de 2016 às 13:37

    Olá Prof.Itamar!
    -Gosto de ensinar História do tempo presente para os alunos e aí acho que esta questão dos valores se encaixa bem,o que achas?
    -Sua abordagem fez-me refletir sobre a necessidade urgente de novas formas de ensinar História,outras abordagens e a questão dos parâmetros e das prioridades,o que achas?
    Grato,Alfredo Coleraus Sommer.

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    1. Caro Alfredo,
      Sou entusiasta de mudanças nas formas de ensino, mas desde que essas mudanças estejam justificadas pelas novas perspectivas em termos de finalidades na formação dos alunos. O ato de mudar por mudar, e imagino que não seja esse o seu caso, revela, entre outras coisas, a ideia de que O PROBLEMA de os alunos não gostarem de estudar história do Brasil, por exemplo, tem a ver com as técnicas enfadonhas e ultrapassadas empregadas por alguns professores. Essa atitude eu não apoio. Nem todos os alunos vão gostar de história do Brasil, assim como nem todos os professores gostam de tudo o que ensinam. O ensino tem que preencher uma carência na vida dos envolvidos.
      Sobre o tempo presente, eu sou um ardoroso defensor. É algo muito óbvio entre professores que os alunos não se interessam sobre as questões absolutamente desconhecidas para ele ou demasiadamente distantes da sua vida prática. Mesmo o presente que nós professores entendemos como importante para a formação dos alunos, ele já pode ser muitíssimo desinteressante e não familiar para os nossos interlocutores. A relação que você estabelece entre HTP e valores é muito boa. Do mesmo modo que a produção da HTP obriga um esforço redobrado do historiador no estabelecimento da distância, para o professor e o aluno da escolarização básica, estudar HTP envolve sistematicamente o conhecimento, a comparação e a crítica de valores, pois envolvem também sistemáticas tomadas de posição.
      Grande abraço.

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  7. Professor, muito interessante o assunto.
    A transmissão de valores nao corre o risco de envolver e disseminar entre alunos suas próprias ideologias? A transmissão de valores caberia ao professor de história?

    Raquel de Souza Martins Lima

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    1. Olá Raquel
      Concordo com você. Mas é algo inevitável.
      Veja, se educação escolar é constituída no diálogo entre pessoas (professor e aluno, aluno e aluno, aluno e autor de livro didático etc.), é impossível perder a dimensão de que a escola é ambiente de transmissão de valores. Percebo um certo receio da sua parte, como senti há muitos anos, no momento de escrever um texto didático para milhares de alunos. Fiquei questionando se teria ou não legitimidade para disseminar determinadas teses sobre sujeitos história local. Mas não tem jeito (rsrsrsrs). Essa é a dinâmica da vida. Partilhamos valores com nossos familiares, professores, colegas de trabalho o tempo inteiro. Também questionamos, criticamos e muitas vezes conservamos determinados valores por toda a vida. Os historiadores disseminam valores o tempo todo quando defendem determinada posição sobre o acontecido. Os professores, da mesma forma, quando criticam as proposições desse autor no livro didático, quando comentam o comportamento de um aluno em sala. Se esse profissional está a frente do aluno e se lhe cabe contribuir com a formação (socialização etc.) desse sujeito, não há como fugir à função. Daí a minha preocupação em tocar no assunto "valor". Boa maneira de livrar-se de parte desse incômodo é conhecer os valores que a Constituição prescreve para a escolarização básica, já que a Carta foi produzida a partir de um acordo e em ambiente democrático.
      Até breve.

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  8. O grande desafio é definir quais são e para que servem tais valores, entretanto, o professor necessita antes de qualquer abordagem nesse sentido, conhecer a realidade de seus alunos, ainda que superficialmente, pois corremos o risco de propor determinados valores a quem de fato nem sequer tinha conhecimento sobre o "valor" positivo ou negativo de alguma coisa. Essa incumbência, ou seja, a tarefa de transmitir determinados valores necessitam ser responsabilidade de todos dentro do ambiente escolar, e não apenas do professor de história, pois muitas vezes nem ele mesmo carrega consigo tais valores, sendo assim, como o professor de história pode se preparar para um desafio tão exigente? - João Gilberto Solano

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    1. Gilberto,
      Plenamente de acordo com suas posições. Esse, provavelmente, será o meu mais curto comentário por aqui. E eu reforço: não é "muitas vezes" que o professor "carrega consigo", é sempre! O que sugiro é a reflexão do professor sobre os valores que ele conservou, oriundos da sua formação (familiar etc.) e aqueles que o projeto pedagógico da escola prescreve.
      Obrigado por participar.

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  9. Existe alguma material especifico para este fim que o professor pode consultar antes de tentar qualquer tipo de abordagem no sentido de apontar quais valores devem ou não ser seguidos e praticados? - João Gilberto Solano

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    1. Gilberto,
      O melhor material são as prescrições estatais.
      Veja, eu defendo que três são os atores mais influentes na programação de conteúdos disciplinares: o próprio professor, o Estado e os especialistas de área (historiadores, geógrafos etc.). Dos três, o menos sujeito a controvérsias intermináveis é o Estado. O imperativo jurídico é superior ao imperativo moral. Em última instância, é no judiciário que as questões serão resolvidas (em Estado democrático de direito, é claro). Então, conhecer, inicialmente, o que o Estado prescreve em matéria de valores, é o início do trabalho de planejamento educacional.
      Até breve.

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  10. Professor, Em sua opinião como devemos abordar valores nas disciplinas de humanas? O senhor acha que isso é função obrigatória de professores, se sim como devemos abordá-los?

    Josielia Moura Soares

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  11. Boa noite, professor Itamar!
    Você se refere aos valores como "indispensáveis" e "secundários" e questiona: "Como saber com qual intensidade devemos inserir cada valor “supremo” ao longo da vida escolar?". Minha preocupação é a seguinte: como inserir valores na escola se a maioria de nossos educandos não vivenciam valores básicos em casa?
    Silvana Valéria Juliani

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    1. Olá Silvana,
      Por inserção de valores na escola não entenda, por favor, inserção, pela primeira vez, de valores na formação dos sujeitos. E você sabe disso quando afirma que os alunos já trazem valores partilhados em família. O que defendo é a ampliação e a problematização de alguns valores construídos em ambiente familiar. Exemplo: o aluno tem um pai racista e, por isso, põe os colegas em graus diferentes segundo a cor. Com um professor que pergunta "por que não sentar com fulano...?", esse aluno pode refletir, indiretamente, sobre o quanto de desconhecimento tem o seu pai sobre a relação entre cor da pele e caráter e introjetar um princípio de igualdade, a partir de sua própria vivência. E isso pode ocorrer sem que o professor tenha dito que segundo tal lei, é proibido a discriminação de cor etc. etc. etc. O conhecimento e a problematização de valores é a tarefa do professor. O aluno, certamente, não é uma tábula rasa (e nem o professor, antes de passar por um curso de graduação).
      Grande abraço.

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  12. O tema valores é muito importante, porém você acha que hoje com tantos escândalos fica fácil para o professor abordar esse tema principalmente em história?

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    1. Oi Rita,
      Veja outro comentário feito nessa mesma página. Eu penso que esse é o melhor momento para discutirmos esse tipo de objeto de aprendizagem. Vários escândalos noticiados pela mídia nos últimos anos são matéria riquíssima quando cruzados às práticas pouco éticas de pais, alunos, professores na vida cotidiana. Que valores estão ausentes em cada político ou empresário envolvido nesses escândalos? Que atitudes semelhantes os alunos vivenciam no cotidiano dos pais (desrespeito à lei seca, fraudes no seguro do carro, propina ao guarda de trânsito, compra de lugar na fila, tráfico de influência para fazer um exame médico muito caro) ou no convívio escolar (jogar a merenda escolar pública no teto da sala, levar para casa o lápis do colega, vender o livro didático etc. etc.)? Como podemos modificar tais práticas, consideradas escandalosas?
      Grande abraço.

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  13. Como os valores podem ser trabalhados na disciplina de História dentro dos mais variados conteúdos, de modo que seja possível trazê-los ao mesmo tempo para um contexto atual?

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  14. Como devemos abordar o tema valores nas escolas, uma vez que trabalhamos com grupos de estudantes cada vez mais individualistas, que recebem uma educação familiar, por vezes, totalmente destoante dos valores que conhecemos como essenciais para uma boa convivência em sociedade?

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  15. Como devemos abordar o tema valores nas escolas, uma vez que trabalhamos com grupos de estudantes cada vez mais individualistas, que recebem uma educação familiar, por vezes, totalmente destoante dos valores que conhecemos como essenciais para uma boa convivência em sociedade?

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  16. Como os valores podem ser trabalhados na disciplina de História dentro dos mais variados conteúdos, de modo que seja possível trazê-los ao mesmo tempo para um contexto atual?

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    1. Olá Maria do Carmo,
      Suas questões estão respondidas aqui nesse Simpósio, nos comentários que fiz sobre a participação dos seus colegas. Mas vou sintetizá-los. Eu empregaria a própria experiência individualista dos alunos como objeto de problematização. Aprendi muito com os professores da escolarização básica que sistematicamente questionam: "E se fosse com você?" "Vamos tentar nos colocar na situação dele?".
      Também valem as exposições sobre a experiência dos outros bem distantes, um vídeo, um relato escrito etc. Alguma coisa vai tocar o "coração" do espectador. E se ele der o sinal de que foi tocado, aí o professor tem uma mar para navegar.
      Quanto aos valores em variados conteúdos, se você estiver falando de acontecimentos e processos, a resposta é muito fácil. Todos eles tratam de experiências humanas, portanto, todos eles são constituídos a partir de valores. E esses valores podem ser objeto de discussão - a sua valência no tempo vivido e os desdobramentos dessa vivência no tempo presente.
      Até breve.

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  17. Boa noite ,professor.
    Excelente texto>
    Surge uma pergunta:
    Por valores,ou melhor,ensinar valores na escola,nao corremos o risco de passar a sermos além de educadores,pais ,mães e tutores de nossos alunos?
    Muito se tem dito sobre a carga extra que se coloca nas costas dos professores que além de ensinar tem que educar filhos problemáticos de pais sobrecarregados.
    Como balancear essa tênue linha divisória entre valores a serem ensinados e valores a serem assimilados no âmbito familiar?
    Muito obrigado.
    Wander Alexandre Araújo Miranda

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    1. Oi Wander,
      No caso brasileiro, há duas décadas que grande dos professores da escola pública já tem assumido o papel de pai, mãe e tutor dos alunos. É uma mudança social. Especialistas afirmam que as mudanças na estrutura familiar privaram as crianças desse primeiro ambiente de socialização. Crianças, sobretudo para a classe média, transformou-se em um estorvo. Quem tem dinheiro logo matricula numa creche.
      Gosto de tratar do que é e não do que deveria ser. Então, o que existe é esse problema aí. Temos que resolvê-lo, se formos professores. O que você fará ao encontrar um garoto que desconhece o direito à propriedade? Você vai entregá-lo à polícia? É uma decisão política apresentar um novo valor ou julgar o aluno por um valor que ele não partilha (ou que não foi partilhado pelos pais ou responsáveis).
      Quanto à tarefa do professor, concordo com você que a sobrecarga atrapalha. Eu até avanço: a sobrecarga e a multiplicidade de demandas explode algo que chamaríamos de identidade profissional. É um problema de países ex-colonizadores e ex-colonizados. No Brasil o problema é bem maior porque tivemos escravidão e, na república, exclusão escolar dos pobres. Nos últimos 50 anos estamos pagando várias dívidas com a maior parte da população, simultaneamente. A saída, por ora, é a denúncia, discussão do tema e a organização dos professores. Em algum momento, os mais atingidos (os da escolarização básica) terão que dizer: "Basta! Se a família não vai voltar para fazer o seu papel, criemos outras especialidades. O que não dá é permanecer cumprindo mal as funções de psicólogo, nutricionista, agente de segurança... e mediador de conhecimentos produzidos por historiadores, geógrafos etc.)".
      Obrigado por participar do evento.

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  18. Parabéns Professor! Fiquei aqui pensando com meus botões, pode-se aplicar praticamente a todo conteúdo histórico abordado em sala de aula.Estarei fazendo estágio em menos de um mês, e ainda estou pensando em como apresentar minhas 6 aulas... seria muita maluquice tentar abordar juntamente com o conteúdo designado pelo professor regente? Como poderia fazê-lo de uma forma agradável? Adriana Weber

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    1. Olá Adriana,
      Obrigado pelas palavras.
      Eu concordo com você: podemos abordar objetos de valor em qualquer etapa do programa. Quanto à compatibilização do estágio com as aulas do regentes, penso que essa seria uma maneira oportuna para conseguir, não só o assentimento do mestre mas também oferecer-lhe a possibilidade de criticar o seu trabalho com grande conforto (já que ele domina a matéria objeto das suas seis aulas).
      Sobre o agradável, eu, infelizmente, não o ponho em primeiro plano (A escola foi sempre um ambiente agradável para você? Por não ser um objeto do seu desejo imediato, você a abandonou? Se seus pais não exercessem alguma autoridade, ao menos no início, obrigando você a frequentá-la você terminaria a escolarização obrigatória? A vida, na maioria das vezes, não é uma imposição?). Eu penso que o útil tem maior valência, embora o útil junto ao prazeroso tenha maior assentimento. Eu penso sempre em identificar as carências (demandas) do aluno na vida prática. Tem coisas que ele quer aprender (necessita) mas tem consciência de que não é tão fácil. Usar um jogo eletrônico pela primeira vez pode não ser fácil, mas o seu interesse vai mobilizar alguma atenção e ele tentará ler as instruções e trabalhar no esquema de erro e acerto. Eu iria por aí.
      Grand abraço.

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  19. Bom dia Professor. O Objeto da história é o Homem no tempo. Seria possível fazer com que o aluno entenda essa logística sem que se torne um tormento?
    Marcia Maria da Conceição

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    1. Oi Marcia, que tarefa!!
      Eu gosto de inverter as questões: por que o aluno tem que aprender que o objeto da história é o homem no tempo? Não sei se Marc Bloch ficaria contente ouvindo você dizer isso, sem justificar a intenção.
      No seu lugar, eu pensaria sobre as razões que podem fazer com que um aluno se interesse por discutir a experiência dos homens no tempo. Se ele tem carência de passado - se manifesta ou se você consegue fazer com que ele reconheça tal carência - aí sim podemos iniciar a busca pelas estratégias. Sempre será um tormento para o aluno aprender qualquer coisa que não tenha utilidade alguma na sua vida prática. Eu sei que é triste ouvir isso. Mas vou repetir: nem todo mundo será historiador em idade adulta. Você, se for professora ou aluna de graduação em história, é quem tem a necessidade de reter essa definição: "O objeto da história é o homem no tempo" para, em determina situação, tentar convencer o aluno de que o objeto da história não é, por exemplo, tudo o que aconteceu, das cavernas ao terceiro milênio.
      Grande abraço.

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  20. boa tarde Professor?
    no atual momento em que nossa sociedade passa, tentar passar uma transmissão de valores caberia ao professor de história, ou ao Estado?

    Renan Augusto Gonçalves Costa

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    1. Boa tarde Renan,
      Obrigadíssimo pela questão. É exatamente no atual momento (talvez esteja se referindo às crises econômica, política e social brasileira dos últimos dois anos) que o conhecimento e a discussão sobre os valores pode produzir os seus mais benéficos efeitos na formação de brasileiros. Veja um exemplo bem caricato, mais didático: tornou-se lugar comum associar determinado partido à determinada prática de corrupção. Se o professor estiver predisposto a discutir o tema, pode começar identificando os sentidos de corrupção partilhado pelos alunos, grande mídia etc. Ele pode também apresentar outros sentidos não tão correntes. Ele pode mobilizar a experiência do próprio aluno em seu convívio escolar, fazendo-o ampliar a noção do valor "respeito ao bem público" para além dos desvios de verba na Petrobras, quando o faz refletir sobre os desdobramentos da não devolução do livro didático (PNLD) ao final do ano letivo ou mesmo a venda do livro didático em benefício próprio ou dos seus pais. Um lembrete, a minha posição é a de que o professor, em pleno exercício do cargo público, é sim a representação do Estado.

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  21. Olá Professor, Boa Tarde, Eu Curso o primeiro período de história e gostaria de saber como o ensino de valores pode se encaixar nos planos de aula?
    Att. Pedro Wallan Machado Soares

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    1. Olá Pedro,
      Depende da estrutura do seu plano. De início, pode inseri-los na rubrica "objetivos": "Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de opinar sobre... reconhecendo os benefícios da ideia de igualdade de direitos para a convivência no ambiente escolar etc.". Em geral, pode também informar os valores problematizados na aula na rubrica "conteúdos", simplesmente, listando-os. Você também pode não fazer referência direta, mas produzir um objetivo educacional (como trato ao final do meu texto) onde a relação entre conteúdos substantivos e as habilidades sugere a introdução de algum valor.
      Grande abraço.

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  22. Boa noite professor!
    Trabalhar valores é uma temática recorrente dos projetos escolares, principalmente em comunidades periféricas e carentes.
    De que maneira podemos conduzir metodologicamente a abrangência desta temática tão importante com nossas crianças e adolescentes no Ensino Fundamental para que esta seja uma abordagem reflexiva e não "conselheira"?
    Atenciosamente,
    Franciele Oliveira Gomes de Oliveira

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    1. Oi Franciele,
      Veja, vou complicar sua questão: qual a distância entre a abordagem "reflexiva" e a abordagem "conselheira"? Trabalho muito com alunos na faixa etária dos 17 aos 25. Quando um aluno, em sala, discutindo sobre o suicídio dos Gurarani, por exemplo, questiona sobre o sentido da vida e pede a minha posição (e normalmente eu a apresento), o que você acha que eu fiz, pus o aluno a refletir ou aconselhei? O que fiz agora com você foi pô-la em reflexão ou aconselhar?
      Talvez o objeto da sua preocupação tenha a ver com uma suposta prática moralista - do tipo: "Você deve fazer porque eu estou dizendo que é o certo!" ou "O aborto é um crime e está encerrada a discussão". Se estiver falando sobre essa atitude, aí eu posso opinar. Eu sou contrária, dependendo da idade é claro. Não vou exigir reflexão sobre regras de convívio no trânsito com uma criança de 5 anos. Ao primeiro sinal de perigo, vou dizer, enfaticamente: "NÃO ATRAVESSE"!.
      Em outra situação, minhas sugestões, ainda que gerais são: conheça sobre o que está ensinando - e o conhecer é sempre reter o maior número de perspectivas possíveis sobre determinado valor e o maior número de exemplos e de consequências que puder reunir no entorno do aluno. A segunda orientação é por em questão: os seus, os dele, os do autor, os dos pais etc. (sempre que tiver oportunidade, evidentemente).
      Grande abraço e obrigado por participar.

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